Embora tivesse acompanhado por toda a temporada anterior a jornada de Peggy para ser reconhecida na Sterling Cooper -- o que incluiu um susto no final --, nunca imaginei que ela teria tanto destaque a partir de agora. Mas ainda que esse título esteja relacionado com a transformação de Peggy, o episódio consegue dar um ótimo panorama da situação da mulher na sociedade americana dos anos 60. Ou seja, se Manoel Carlos assistisse, estaria apaixonado. Porque, afinal, as mulheres sofrem ainda mais por até aqui ainda estarem sob a sombra dos homens. E o elenco feminina é sempre um destaque a parte da série e já deveria ter sido reconhecido no Emmy dessa ano. Em meio a todas essas mudanças, algumas mulheres ainda buscam sua independência, e outras não resistem à pressão, como podemos ver na primeira aparição de Rachel na temporada, agora já casada. A reação triste de Don a essa novidade durante o jantar é evidente, ao mesmo tempo que ele mostra-se fascinado pela forma que Bobbie assessora seu marido.Então, não poderia haver forma melhor de trazer todas as memórias de Peggy à tona do que Don ter de confiar sua fragilidade a ela. A partir daí já ficava flagrante que havia alguma dívida maior a acertar e que essa ajuda iria muito além do respeito pela figura de Draper como chefe. Em seu flashback, vemos sua irmã Anita grávida e poderíamos até concluir que ela não estaria cuidando realmente do filho de Peggy, mas acho que não faria sentido por ela parecer cercada de culpa ao dar "boa noite" ao garoto em Flight 1. A visita mais importante vem logo depois, com Don Draper aparecendo para instruir sua comandada a esquecer tudo que aconteceu e seguir em frente, seu método preferido de lidar com a vida. Porém, para Peggy não é tão simples esquecer aquilo que todos a sua volta tentam lembrá-la e isso a aproxima muito mais de Bobbie, que diferentemente do publicitário, aprende com suas dificuldades ao invés de tentar esquecê-las. Bobbie aconselha Peggy não para fazê-la de possível amante, mas sim para tomar o lugar de Don. Ela enxerga que profissionalmente, uma mulher pode ir muito mais longe quando usa aquela sexualidade reprimida por tanto tempo a seu favor.
No escritório, principalmente em relação às secretárias (entre elas a nova secretária de Don), temos diversos exemplos disso. Uma dessas cenas marcantes é a conversa de igual para igual entre Roger e Joan, tentando mostrar como seria seu casamento depois de um ano. Enquanto as reclamações de Roger deveriam servir de conselhos para a moça, o mais irônico é que Joan entende que ela mesma seria capaz de exercer seu controle no casamento. E se a mulher de Pete ainda não consegue se ver livre dessas amarras, é cada vez mais interessante acompanhar Betty reagindo aos mistérios que envolvem Don Draper e perguntar-se até que ponto ela ainda suportará ficar ao seu lado.

e.fuzii
Desde que Peggy visitou sua família em
Já na campanha da American Airlines, a situação acaba fora de controle quando o contato de Duck acaba demitido antes da apresentação. Mais uma vez muitas divergências acabam surgindo daí. Enquanto Don mantém sua opinião de que são eles a oferecer a solução e não os clientes a escolher, Duck prepara um "banquete" com três opções diferentes para os executivos da AA. É uma das tradições que começam a mudar e que, infelizmente, perduram até hoje em grande parte do mercado publicitário: quem detém o dinheiro, detém o poder de decisão. Após o fracasso, é Roger quem demonstra um perfil arrojado, sempre atrás de novos desafios e Don responde que eles ainda deveriam mostrar lealdade com seus clientes. E nesse perfil perseguidor de Roger, chega a ser engraçado como depois de todos os seus problemas na temporada passada ele arrumou formas de "contornar" seus prazeres, sejam os cigarros — pegando dos outros como se não fosse sua culpa — ou o sexo na forma de uma prostituta — que é uma profissional e não constitui uma traição para ele — nesse episódio. A escolha por não mostrar a apresentação talvez foi acertada, porque não acredito que Don tenha feito uma de suas mágicas mais uma vez, principalmente pelo nervosismo que tomava conta dos publicitários enquanto faziam os últimos preparativos.
Esse terceiro episódio de "Mad Men" poderia facilmente ser inserido em qualquer outro momento da história. Afinal, o único indício óbvio de que acontece num momento posterior é Salvatore alterando um dos rascunhos da Mohawk para a American Airlines. Durante grande parte do episódio acompanhamos Harry tentando encontrar sua função e importância na Sterling Cooper, oferecendo espaço publicitário no controverso episódio tratando de aborto da série "The Defenders", que -- adivinhe -- tem exatamente o mesmo título "The Benefactor". Como já era de se esperar (por todo o cuidado histórico da produção) esse episódio realmente aconteceu nessa época, e teve de fato seus patrocinadores recuando pelo assunto abordado. A série por si só já era controversa, tratando de forma ambígua muitos dos casos defendidos nos tribunais, mas obteve reconhecimento ao ganhar três prêmios Emmy seguidos entre os anos de 1962 e 1964. Para maiores informações, recomendo lerem sobre a série no
Pelo envolvimento entre os dois ser puramente sexual, Draper pega em seu ponto fraco (literalmente falando) e consegue a desculpa que precisava. Foi uma cena controversa, bastante comentada em fóruns de discussão e censurada por muita gente (principalmente pelas mulheres), mas não posso negar que Bobbie pediu por isso. Para quem não viu e ficou curioso, a própria AMC usou 

Costumo sempre dizer que considero Mad Men muito mais do que uma simples série de época. Chego a brincar que é até uma série da época, já que poderia facilmente servir de retrato da sociedade na televisão dos anos 60. O que para mim é o principal mérito de Mad Men é seu roteiro e personagens serem apenas conseqüências do que aconteceu naquela época. Era interessante, por exemplo, perceber como as pessoas lidavam com a eleição de Kennedy e Nixon -- com cada candidato simbolizando um ideal -- ou nesse episódio acompanhar a reação dos funcionários ao trágico acidente aéreo em Nova York, no
Só para completar, não acredito que Joan tenha sido exatamente racista ao confrontar Paul. Sim, não posso deixar de concordar que na festa e até na casa dos Draper com sua empregada, a maneira como os negros são tratados -- e até aceitam ser tratados -- demonstra que a sociedade é racista. Mas nesse caso específico, Joan parece mirar diretamente em Paul, como uma vingança por revelar sua vida pessoal. Se ela atingiu a garota foi apenas resultado, para condenar o namoro de Paul com uma negra só para parecer de vanguarda.
Pois é, sei que não sentiram minha falta, mas estou de volta. E nada melhor do que voltar comentando minha menina dos olhos entre as séries de televisão no ano passado: Mad Men. Talvez uma das poucas séries que ainda consiga desenvolver um roteiro intrigante e sutil, sempre respeitando a inteligência do telespectador. Foram tantas manobras de marketing, maratonas de reprises e críticas positivas (entre elas as indicações ao Emmy) que a série re-estreou em sua segunda temporada 