Duas semanas se passaram na vida de Alice desde que ela chegou a São Paulo, e agora parece evidente a diferença de tom na narrativa. Aquela atitude irresponsável de querer voar e ser livre no episódio piloto transformou-se numa vontade de se auto-conhecer e lidar com assuntos mais importantes para sua vida. A cidade não é só festinha todo dia e Alice vai caindo na real quando seu dinheiro começa a encurtar e a disputa pela justa herança de seu pai parece ser longa e desgastante. Afinal, na primeira tentativa de resolver as coisas amigavelmente com Erislene, já cria-se um abismo enorme entre as duas, com Alice sendo culpada por tanto tempo estar longe de seu pai. Essa decisão, aparentemente tomada pela própria Alice, é o que pretende ser reavaliada nessa sua estadia em São Paulo. Afinal, como seria sua vida se tivesse ficado ao lado de seu pai? Seria a falta dela um dos motivos para sua depressão? E mais, o que seria de sua juventude e da sua própria vida adulta se morasse em São Paulo?Para tentar responder a essas perguntas, a personagem fundamental é sua meia-irmã Regina Célia. Primeiro porque a menina sabe o quanto seu pai sentia falta de Alice, ao contrário do que Erislene havia dito para despistá-la. Em segundo lugar, como é mostrado no anagrama que envolve as duas personagens, elas tem muito mais do que o pai em comum. Célia é seu reflexo em São Paulo, a garota que ela poderia ter sido, provavelmente criada com o amor que sempre lhe faltou. Depois de tanta indiferença e orgulho, Alice troca lembranças do passado com sua irmã na padaria e descobre que ela detém o tesouro que poderá completá-la.
Entretanto, o caminho para chegar nessa bela cena foi bastante tortuoso. Nunca vi tantos telefones deixarem de ser atendidos em tão pouco tempo. E quando um objeto começa a ter função contrária à original -- que nesse caso é fazer um personagem comunicar-se com o outro --, temos um grave problema. Lembrar que existem telefones passa a ser simples desculpa para que o roteiro possa se desenvolver. Só a tia de Alice já detém a incrível média de um telefonema por episódio: na semana passada não atendeu Alice e dessa vez foi a vez de ignorar Erislene. Enquanto isso, era desenvolvido um romance lésbico irrelevante para a trama até então. Não é à toa que mesmo indo para a casa da tia, Célia nem carrega o número de telefone dela...
Acho que é louvável situar as personagens em contextos e locações reais, como acontece com a abertura da Mostra de SP no Auditório Ibirapuera, mas o que preocupa é que esse senso de realidade precisa ser constante em todas as cenas. Célia perdida na Praça Roosevelt, por exemplo, lembrou produção de novela das oito. Até porque, prostitutas e travestis talvez fossem as "melhores" coisas que ela encontraria por ali. O churrasco na cobertura também parece absurdo demais para pessoas tão moderninhas como os amigos da Alice. Por outro lado, acho um pouco cedo para julgar a participação da atriz que interpreta Célia, até porque exigiram demais da garota em dois episódio -- choro no velório, discussão acalorada, tapa na cara e cena emocionante --, mas a insegurança que ela passa às vezes até confunde-se com a da própria personagem.
Esqueci de comentar na semana passada que gostei bastante da abertura da série, intercalando uma Alice transformando-se e algumas cenas de caleidoscópios que remetem ao espelho, assunto tratado com freqüência tanto aqui como na história de Lewis Carroll citada no episódio.

e.fuzii
Eu juro que não foi por coincidência, mas o nome do episódio da semana passada acaba sendo um bom motivo para parabenizar Matthew Weiner, sua equipe e todo o elenco de Mad Men pela conquista dos seis prêmios Emmy, incluindo o de melhor série de drama do ano. Enquanto a televisão aberta americana vive um período turbulento -- de todas as séries que estrearam até agora, não pretendo seguir com nenhuma --, as produções nas redes a cabo tem ganhado cada vez mais importância. Tanto é que o Emmy foi dominado por essas produções e só foi abafado mesmo pela vitória arrasadora de 30 Rock, que ironicamente sobrevive na televisão com uma audiência ridícula. Acho que já passou da hora de voltarem a investir em série roteirizadas e deixarem de lado seus horrendos reality shows.
Mas vamos ao episódio:





















A primeira preocupação que tive quando descobri que seria Karim Aïnouz o diretor de "Alice" era como São Paulo seria revelada na série, tanto por já ter sido retratada diversas vezes na ficção como por ser a minha cidade de nascença. Isso porque um dos mais fascinantes aspectos de "O Céu de Suely", seu último longa, é a forma como a cidadezinha de Iguatu vai sendo montada diante de nossos olhos, enquanto acompanhamos o retorno da personagem principal. Nesse caso, São Paulo é apresentada da forma que já estamos acostumados a ver: panoramas de seus arranha-céus, as luzes de seu trânsito caótico e pelo olhar disperso de seus habitantes. Tudo isso simples o suficiente para conseguir chocar Alice, que já desestabilizada pela morte do pai quer fugir da cidade de qualquer maneira. Mas soa um pouco estranho que alguém que tenha uma passado com a cidade e pareça bem esclarecida seja levada por sua amiga/estranha Dani a uma festa banal, e acabe reduzida ao clichê máximo de "Maria Pick-up". Embora a montagem inicial tente passar o quão estável era a vida dela em Palmas, sua transformação acontece bruscamente, sem dar tempo para que possamos entender quem ela realmente é. Seja pela dor da perda, o isolamento ou mesmo sua aparente ingenuidade, a vida de Alice caiu na armadilha clichê que a cidade preparou. No final, devo confessar que fiquei muito mais interessado por sua vida em Palmas do que em suas desventuras paulistanas.
Pelo visto, teremos Mac Taylor resolvendo crimes em Nova York até 2011, no mínimo. O ator Gary Sinise acaba de renovar seu contrato até 2011 com a CBS Paramount, que produz "CSI:NY". Com a negociação, ele vai receber cerca de US$ 5 milhões por ano da série, o que dá mais ou menos US$ 200 mil por cada episódio de "CSI:NY".

Nesse domingo, além da festa do Emmy, temos a estréia de "Alice" na HBO. O canal já apresentou duas produções retratando o Rio de Janeiro -- as duas temporadas de "Mandrake" e a excelente "Filhos do Carnaval" --, mas essa é a primeira tentativa de uma série ambientada em São Paulo. Segundo a
Desde que assisti ao episódio "The Hobo Code" ainda na temporada passada, na intrigante (e triste) cena em que Salvatore mostra-se retraído durante a conversa com o representante da Belle Jolie, minha principal dúvida era como os roteiristas iriam lidar com seu aparente homossexualismo. Quando ele já aparece casado então, tudo levava a crer que aquilo seria só o início de futuras frustrações e lamentações. Pois Salvatore já começa a mostrar alguns dilemas, agora que uma súbita paixão por Ken parece surgir. Ken mostrou uma sensibilidade nunca antes explorada na série, tanto interpretando a obra na sala de Cooper como por buscar referências e querer eternizar os momentos de seu cotidiano em seus contos. É atraído por esses contos que Sal convida Ken para um almoço em sua casa e chega ao ponto de não conseguir manter sua pose de marido. Mesmo que nenhum dos dois pareça ter desconfiado -- eu acredito que a sua esposa reclame de estar excluída apenas da conversa profissional dos dois --, Salvatore ter mantido o isqueiro de Ken como uma espécie de souvenir mostra que, embora saiba o quanto ele pode magoar sua esposa, ele também não está disposto a colocar essa paixão de lado. Esse conto que resulta no almoço -- e dá também nome ao episódio -- trata exatamente de um violino que, embora belo, não serve para ser tocado. Pela forma como Ken elogia o ambiente na casa de Sal e diz ser aquilo que anseia para seu próprio casamento, é óbvia a relação que se estabelece entre o casal e esse violino. Mas não são só os dois que vivem de aparência nessa sociedade, assim como pudemos ver na outra história desse episódio.
O que você vê quando se olha no espelho? Para os que acreditam, histórias antigas contam que é sua própria alma que aparece refletida. Mas pelo uso da própria palavra no sentido literal, olhar sua própria imagem no espelho é refletir sobre si mesmo, sejam suas experiências do passado, seus segredos mais íntimos ou seus anseios pelo futuro. Já logo de início temos uma montagem envolvendo as mulheres de Mad Men na frente do espelho, vestindo confortavelmente seus sutiãs. É isso que liga as duas idéias desenvolvidas a partir daí: a duplicidade das mulheres, que tem seus momentos Marilyn Monroe e Jackie Kennedy, e a nova propaganda dos sutiãs Playtex desenvolvida por Don e sua equipe. Dessa vez, Peggy sente na pele aquilo que Bobbie se referia no episódio passado. Ela nunca encontrará seu lugar na Sterling Cooper se continuar comportando-se como homem, já que ninguém está disposto a dar essa chance. Mas quando Peggy entra no jogo da sua maneira, apostando na sua sexualidade, ela consegue ser bem sucedida. Ela tem, então, de encarar o ar de reprovação de Peter, bastante semelhante com o instinto protetor que Don tem com Betty, dizendo que seu biquini é uma ato desesperador. Se essa idéia de que toda mulher tem uma Jackie/Marilyn no seu interior, os dois querem manter suas mulheres bem longe disso.