Já dizia alguém logo no começo de Lost que tudo seria resolvido se os pais e filhos vistos na série sentassem para conversar e entrassem num acordo. Muito se especulou também quantos desses pais seriam de uma outra geração de habitantes da Ilha, o que eventualmente se confirmou para a maioria deles. Portanto, não seria na temporada final que essas questões deixariam de ser centrais para algumas dessas tramas. Se na semana passada Locke parece ter desenvolvido uma relação bem melhor com seu pai durante toda vida -- ou que aparentemente não chegou a quase lhe custar a vida quando jogado por uma janela --, dessa vez acompanhamos Jack encarando a conturbada relação com seu filho David. Nem perderei meu tempo especulando quem seria a mãe, porque continuo achando que isso não fará diferença quando as duas linhas se juntarem, mas para mim o mais intrigante foi ver Jack encarando sua cicatriz no espelho, antes de certificar-se com sua mãe que havia sofrido uma operação de apêndice quando criança. Talvez seja outro indício de que já exista uma fina conexão vigente entre essas duas realidades. Mesmo assim, ainda acho que essa realidade alternativa precisa mostrar-se mais efetiva além de dar um sentido de resolução para esses personagens, como se fosse para amenizar um possível final trágico da série. Mas apesar de Jack conseguir de certa forma atingir um momento de redenção frente ao seu filho no final, ele ainda vive ressentido pela relação com seu falecido pai, aquele que ele sempre procurou por aprovação e seguiu como guia em sua vida. E continua a seguir (ou procurar) mesmo depois de morto. Nada mais simbólico, em um episódio com esse título, do que Jack ser levado por Hurley através das tortas instruções de Jacob até um farol da Ilha em busca de sua verdade.
Antes disso, tenho de ressaltar que esse roteiro não funcionou mais uma vez pra mim, principalmente pelas eternas cenas de passeio pela floresta e a visitação à caverna sem propósito algum. Fora isso, parte dos diálogos da breve interação Kate-Jack e Jack-Hurley foram sofríveis. Nada que se compare, claro, com a condescendente reação de Jack e Hurley diante do farol que ninguém havia visto. Como se fosse uma situação tão absurda que os próprios roteiristas precisassem pedir desculpas para que esse fato fizesse o mínimo sentido. Entendo esse esforço saudosista em trazer de volta a aura que envolvia a primeira temporada, ou nas palavras de Hurley o aspecto "old school", com seus mistérios, descobertas, flashbacks reveladores. Até a ordem dos episódios na temporada faz par com o princípio da série -- episódio geral, depois focando em Kate, Locke e finalmente em Jack. Porém, sinto que tudo isso está sendo forçado em nome de revelações de impacto no final, com base nas já tradicionais perguntas imprecisas (ou às vezes idiotas mesmo) e nas longas jornadas de seus personagens separados, exigindo que certas revelações sejam explicadas mais de uma vez. Entre todo esse sentimento nostálgico, o que achei mais interessante foi a semelhança de Claire com a Rousseau apresentada no começo da série, não mais só na aparência mas também pelo seu estado mental, procurando desesperada por Aaron em toda a Ilha. Aquela desconfiança de que ela teria morrido, assim como na infecção de Sayid, parece desaparecer quando ela revela estar vagando por 3 anos na Ilha e sendo instruída por Christian e seu "amigo" Un-Locke, o que sugere que talvez consiga vê-lo além de sua forma física. Até então acreditava que fossem manifestações de entidades diferentes, mas Claire está convencida por ambos de que Aaron está com os Outros, ou nesse caso aqueles que estão no Templo. Se nem Jin contando a verdade é capaz de salvar um dos Outros de ser torturado até a morte, ele acaba obrigado a mentir para não colocar Kate já em perigo. Essa situação é especialmente interessante quando levamos em conta o passado de Jin, que com seu trabalho aprendeu quais as condições de ser manipulável ou manipulado por alguém. Aliás, agora que já sabemos quem manda de fato na Ilha, a questão nesse início de temporada vem sendo revelar a cada um desses personagens a razão de serem manipulados até ali. Na semana passada foi Sawyer quem ficou sabendo dos prováveis candidatos de Jacob na caverna e agora foi a vez de Jack descobrir pelos espelhos do farol que todos já haviam sido escolhidos há muito tempo atrás. Mas como os dois estão sendo manipulados pelos opostos da Ilha, tudo leva a crer que também teremos aí um grande embate em breve.
Assim, quem acaba ficando no meio do caminho é o simpático Hurley, que não consegue cumprir a missão que foi designado por Jacob originalmente: orientar aquele com o número 108 a chegar na Ilha. Embora estivesse escrito Wallace ao lado desse número, basta lembrar de um tal de Jeremy Bentham para continuar torcendo pelo retorno de Desmond. Também entendo quem possa taxar de anti-climático o repente de Jack de destruir todos os espelhos, principalmente por estragar (convenientemente) mais uma fonte de respostas. Mas sua reação ao descobrir que havia sido observado por grande parte de sua vida me pareceu bem condizente. Podem até condená-lo por mais uma decisão estúpida, mas sendo o homem da ciência e percebendo que sua vida segue esse destino inexplicável, óbvio que ele continuaria lutando contra essa verdade e pouco importaria quais respostas o espelho ainda poderia lhe dar. Afinal, ele voltou para a Ilha em busca da cura, de seu próprio conserto, e que talvez seja encontrar sua maneira de abraçar esse destino. Sentado diante do imenso mar perdendo-se no horizonte, Jack pondera sobre sua vida buscando aqueles momentos que tomaram rumos inesperados, fugindo de seu controle. Tudo que Jack precisa agora é de uma nova luz, ou um novo farol, para que ele enfim possa se guiar.
Fotos: Reprodução.
e.fuziitwitter.com/efuzii
Manter-se em pé com fé. Era esse o lema de John Locke na sua primeira passagem pela Ilha. Longe dali, esse episódio acompanha um homem completamente diferente daquele visto nas temporadas anteriores, provando que o acidente foi determinante para sua mudança de postura, após se ver livre da cadeira de rodas e podendo mover seu pé novamente na praia. Era praticamente seu sonho tornando-se realidade, num misto de alegria e perplexidade diante de um milagre, mas que contribuiu para aumentar sua confusão cada vez mais. Atingiu seu ápice quando John Locke foi brutalmente assassinado por Ben Linus no quarto de hotel, assim como Un-Locke revelou há alguns episódios atrás. Era essa confusão também que fazia transparecer todo esse medo percebido por Sawyer, simplesmente porque John Locke era refém também dessa nova "chance", sem saber se sua desobediência às ordens da Ilha poderiam acabar com esse sonho. Porém, a situação de John Locke em Los Angeles é completamente diferente. Mesmo ao lado de Helen e já planejando seu casamento, ele se mostra cada vez mais frustrado, a ponto até de ter mentido sobre sua jornada na Austrália. Talvez o encontro mais significativo tenha sido no estacionamento com Hurley, opostos na sorte e azar nesse caso, quando Locke mostra todo seu complexo em não aceitar sua condição. Ele não quer ser tratado diferente dos outros assim como não quer depender da boa vontade deles pelo resto da vida. E mesmo assim Locke desiste de procurar tratamento com Jack, mas encontra conforto nas palavras de Helen, que lhe apoiaria na condição que estivesse. Talvez sua felicidade não se encontrasse em dar sentido ao seu sonho, mas sim à sua realidade. Por essa razão, John Locke encontra nessa relação seu final digno, sem ter afastado a pessoa mais importante em sua vida. É também pela atuação de Katey Sagal -- pós-Sons of Anarchy quase outra personagem pra mim --, que as doces palavras de Helen nunca ameaçam cair no melodrama. Vemos ao final John Locke satisfeito em ser um professor substituto, além de um inusitado encontro com Ben Linus na sala dos professores, premissa essa que renderia várias histórias curiosas, no mínimo.
No entanto, com a série agora praticamente correndo contra o tempo, chega a ser preocupante a forma como essa linha do tempo em 2004 vem sendo desenvolvida. Por se dedicar apenas a mostrar o "presente", a ausência de flashbacks deixa algumas lacunas -- que pessimistas poderiam até chamar de furos -- nessas novas histórias. Na semana passada, o leitor Daniel questionou se as motivações que levaram Claire a embarcar no voo 815 eram as mesmas vistas na primeira temporada. Ou seja, se com a Ilha submersa ainda existiu algum vidente para mandá-la até Los Angeles e que, portanto, previu que Aaron deveria ser adotado. Nesse episódio temos mais um caso, quando na maior naturalidade Helen sugere que logo combinassem com seus pais para fazerem uma cerimônia de casamento rápida em Vegas. A questão que fica é se esse pai de Locke é o Anthony Cooper que conhecemos, um alternativo ou se Locke teria sido adotado por uma família diferente. Em todos os casos, fica difícil precisar, por exemplo, quem seria o responsável pelo acidente que deixou Locke paraplégico, a não ser que fosse uma fatalidade nas correções de curso do destino. Quem sabe quando fizer algum sentido essas duas linhas do tempo juntas e que pareçam enfim destinadas a convergir, já não faça a menor diferença o que veio antes. Mas pra mim, é urgente que deem motivos para acompanhá-las ao mesmo tempo, principalmente porque o que acontece na Ilha tem me atraído cada vez menos. Não só pelo fato de surgir um novo personagem no final com todas as respostas, mas porque o grande problema continua sendo na estrutura, estabelecendo cenas ao invés de executá-las.
Afinal, apesar de muita gente reclamar do episódio anterior, não vejo muita diferença na forma de entregar a resposta no final. Claro que a revelação sobre os candidatos à sucessão de Jacob, além de um dos usos dos números, é muito mais recompensadora do que visualizar Claire vagando como louca pela Ilha. Óbvio também que não teria a menor graça se muita coisa já fosse revelada anteriormente. Mas meu receio é que a série caia nessa armadilha de prestar contas no final, assim como aconteceu em Battlestar Galactica que para preencher grande parte das lacunas de sua mitologia acabou apelando para os delírios de um personagem. Enfim, o fato é que perde-se tempo demais no longo caminho pela floresta até que James finalmente perca a paciência e aponte a arma para a cabeça do Un-Locke. E tudo o que ele precisa fazer é garantir que tem todas as respostas, como tantos Outros já fizeram, para continuar sendo seguido. Nesse meio tempo, surge também outro mistério na forma de um garoto loiro, parecendo uma entidade da própria Ilha, censurando Un-Locke por ter matado Jacob. Ele responde com a frase clássica de Locke, mostrando que não apenas tomou sua forma, mas há também uma crise de identidade em seu interior. Pode até parecer confortável demais que ele assuma a forma de Locke, principalmente para ganhar confiança dos personagens e do público, mas o mais interessante é como a história dos dois tem paralelos. O homem de preto, que dizia querer voltar para casa na semana passada, só busca sua libertação também, nesse caso dos domínios da Ilha. Para isso ele encontra no inconformismo de Sawyer alguém que possa servir para seus planos.
Já na caverna, e depois de um momento desnecessário de tensão nas escadas (que só me fazia perguntar como eles sairiam depois dali), há a grande revelação do episódio. Un-Locke mostra os nomes de quem seriam os candidatos de Jacob para sucedê-lo protegendo a Ilha, cada um deles com um dos famigerados números assinalados ao lado: 4-Locke, 8-Reyes, 15-Ford, 16-Jarrah, 23-Shephard e 42-Kwon. Esse último apesar de parecer dúbio, acredito ser Jin, tanto por completar a lista apenas com nomes masculinos como por ser uma razão (ainda que rasa) para ter milagrosamente sobrevivido à explosão do cargueiro. Dessa forma, foi revelado que Jacob, assim como visto em
Além do desespero de Richard Alpert, talvez seja ingenuidade demais acreditar que Un-Locke seja menos manipulador que Jacob, vendo agora como ele parece usar James para atingir seus objetivos. Assim como mostrado na balança, desequilibrada por Un-Locke como uma piada interna, talvez Jacob e seu antagonista precisassem chegar a um consenso se quisessem deixar a Ilha e, portanto, encontrar o novo sucessor talvez fosse sua grande chance. Mas esse plano parece simples demais, principalmente levando em conta a situação do candidato Sayid no templo. Enquanto isso, o corpo do candidato Locke é enterrado na praia ao lado dos antigos companheiros. Aquele que foi o primeiro a acreditar em seu destino mas sem nunca ter conseguido correspondê-lo. Afinal, basta lembrar como Locke nunca foi capaz de matar o próprio pai ou mesmo girar a roda de burro. Entre as palavras de Benjamin Linus, ele acredita que Locke foi alguém bem melhor do que ele, um homem de fé, para finalmente lamentar por tê-lo assassinado. Nas palavras de Lapidus, o funeral mais estranho do mundo. Nem poderia discordar de quem esteve ali presente.







"There is law and there is life."
Para minha surpresa -- porque imaginava que essa tensão seria levada pra dentro de campo --, o único personagem que ainda atingiu a redenção nesse episódio foi Vince, que no último instante decidiu pular fora do plano de vingança. Não que isso lhe dê alguma garantia de segurança, ainda devendo o dinheiro da internação de sua mãe e agora marcado por Kennard por faltar com certa "irmandade" em relação ao amigo morto. Enfrentando essa dilema tão sério, Vince contava apenas com o apoio de Jess para não cometer outro crime, o que acaba por desviá-la também cada vez mais do caminho de Landry. Interessante como esse triângulo adquiriu tanta complexidade, e até compaixão de ambas as partes, em apenas dois episódios. Já sabendo da saída de Taylor Kitsch do quadro de regulares da série, também tivemos a chance de aproveitar os últimos momentos cômicos dos irmão Riggins, com Billy aceitando pouco a pouco sua condição de pai na sala de espera até sair correndo pelo hospital para ficar ao lado de Mindy. Além disso, Tim Riggins protagonizou uma linda cena ao lado de Becky constatando que pela primeira vez sua vida tomou algum sentido, diante dos vastos campos de sua propriedade. Mas como toda essa alegria não poderia vir assim de graça, logo os dois são levados para prestar esclarecimentos sobre o negócio dos desmanches. Só espero que Tim não decida assumir a culpa sozinho para liberar Billy -- agora que tem uma família para cuidar --, já que acho injusto terminar sua história num tom tão baixo depois de tanta evolução durante a série. Como destaquei no começo, todas as tramas aqui tem uma razão para existir e sempre deixam consequências. Agora com todos os personagens sob pressão, só nos resta mesmo torcer, e muito.
Última temporada e logo na segunda semana já temos um episódio com o nome de Kate estampado no título. Não poderia ser mais frustrante para alguns. Embora não concorde, entendo as razões para logo de cara torcerem o nariz para os episódios centrados nela. Além do aspecto definidor de sua personalidade (nascida para fugir) sobressair sempre, o que de certa forma independe se ela é o foco principal ou não, a maioria deles pecam por serem irregulares. Mas temos excessões, como o bom
Porém, o grande problema esteve no que aconteceu dentro do Templo, após a ressurreição milagrosa de Sayid. Acho que devo ter olhado pelo menos 12 vezes o contador de tempo, preocupado com o desenrolar dessa história. Não tenho mais paciência para aguentar todo esse mistério aparentemente sem propósito, sejam as torturas que submeteram Sayid ou alguns objetos que tentam desviar nossa atenção, como a bola de beisebol na mão de Dogen. Apesar de pela primeira vez a teimosia de Jack servir para alguma coisa, o episódio parecia arrastar-se até terminar naquele ponto, revelando que Sayid estava infectado com a doença, assim como Claire, pouco antes dela também aparecer para Jin na floresta. O que me incomodou é terem perdido tanto tempo despistando, escondendo informações, para que no final Dogen resumisse dizendo "porque aconteceu com sua irmã". Precisava ser assim tão óbvio? Como sempre as respostas vem tão mastigadas na série que acabam frustrando todo mundo. Por outro lado, o visual Danielle Rousseau de Claire é bastante intrigante, principalmente pela francesa já ter citado uma doença misteriosa anteriormente, além de sua morte ter sido poucos episódios antes de Claire ter desaparecido. Além de espalhar armadilhas, resta saber se ela também vaga pela Ilha procurando pelo seu filho. O que questiono é se isso não seria um ciclo se repetindo -- de acordo com a teoria de "Esau" -- e se esses corpos não seriam as tais peças sendo movidas nesse tabuleiro. Dessa forma, não me precipitaria ainda em descartar que Jacob pode ter se apoderado do corpo de Sayid, como escrevi na semana passada, logo depois de ter morrido. Porque esse sujeito fragilizado, ou nas palavras de Hurley quase um zumbi, não é o Sayid que conhecemos. Talvez a questão seja ainda entender a relação desse povo do Templo com os outros habitantes da Ilha e se suas palavras são confiáveis, ou seja, se essa "escuridão" que toma conta do corpo deles não pode ser apenas uma visão parcial do problema. Resta saber ainda o conteúdo da tal lista, a qual Aldo e Justin questionam se Jin estaria ou não.
Antes de terminar, deixo tudo isso de lado para dedicar um parágrafo a Josh Holloway que, embora não tenha me agradado na premiere, dessa vez foi o grande destaque emocional do episódio. Ainda lamentando a morte de sua amada, Sawyer larga tudo para rever o anel que selaria seu comprometimento com Juliet. Incrédulo, será interessante observar sua postura a partir de agora duvidando dos cursos do destino na Ilha, a ponto de desmerecer com seu sarcasmo o retorno de Sayid do mundo dos mortos. Além de que diante da mais remota possibilidade de unir as duas linhas do tempo paralelas, Sawyer encontrará sua esperança. Como já esperava na semana passada, a cena nas docas mostrou que os caminhos de Sawyer e Kate estão mesmo separados para sempre, ainda bem. Enquanto ele arrepende-se de ter convencido Juliet a ficar, Kate pondera sobre o quanto a volta dos Oceanic Six -- ainda deve-se usar essa nomenclatura? -- foi um desastre a todos que ali estavam. Ao menos uma boa cena solitária em meio a tantas outras que serviram de preparação para o que está por vir. Concordo com grande parte dos mais pessimista que Lost já não pode dar-se ao luxo a essa altura de perder tempo e cadenciar sua trama. Chegou a hora de definitivamente concentrar-se em trazer soluções, elaboradas, e não apenas atirar respostas ao seu espectador.
A sétima pessoa na lista de comentários e vencedora do pôster de Lost foi a Érica, que considera o momento mais marcante para ela aquele em que Jacob e Fake Locke conversam no pé da estátua, principalmente por eles serem as chaves dos mistérios da ilha.



Já é de se esperar muita tensão nos momentos finais da temporada de Friday Night Lights, mas não a ponto da maioria desses personagens terminarem arrasados. Afinal, o céu de Dillon está praticamente desabando sobre a cabeça deles. Enquanto no episódio anterior era momento deles tomarem firmes decisões diante de problemas alheios a sua culpa, agora chegou a vez de encarar as consequências. Os moradores de Dillon esperam ansiosamente pela partida que colocará a equipe dos Lions e Panthers frente a frente e dividirá sua cidade em duas, não apenas em espírito esportivo mas também economicamente. Por mais que Coach Taylor tente controlar os ânimos de seus jogadores, diante de mais uma derrota e com Luke finalmente saindo contundido de campo, as chance são mínimas de um resultado positivo. Apesar de ser injusto comparar situações de personagens diferentes, sinto que Luke teve o arco mais dramático nessa temporada: saindo do time do Panthers, perdendo o posto de líder nos Lions, as constantes pressões de sua família, a contusão e a gravidez de Becky, enfim, foram poucos os momentos de tranquilidade para o garoto. Então, agora que sua mãe descobriu sobre o aborto, Luke fica no meio do caminho entre reconhecer sua culpa e procurar por um culpado nessa história. Quem acaba sofrendo com isso é Tami, que apesar de manter seu emprego e sua licença de conselheira, sabe que seus problemas serão realmente sérios quando esse boato virar escândalo na boca dos pais dos alunos.
Mas é Vince quem mais sofre nesse episódio, vendo seu amigo sendo baleado após um acerto de contas que termina em tragédia. Ele termina sendo consolado por Jess que, embora se esforce para fazer a relação com Landry funcionar, sabe que o passado e a identificação dos dois é forte demais pra ser ignorada. Tivemos ainda uma breve volta de Matt Saracen, ainda que a longa distância, tentando restabelecer contato com Julie, percebendo que seu sonho nunca estaria completo sem ela ao seu lado. Por mais que o histórico nos faça torcer pela volta do casal, estou achando interessante essa possibilidade de Julie se tornar voluntária, e curioso para saber como seus pais vão encarar essa decisão. No mais, a ligação serviu mesmo para Aimee Teegarden mostrar o quanto evoluiu como atriz, explodindo de raiva ao telefone. Já a despedida de Tim Riggins da casa de Becky foi bastante conturbada, embora cercada de previsibilidade e uma falta de sutileza no final. Assim que a mãe de Becky veio com elogios para cima de Tim, logo imaginei que essa história terminaria mal, ainda sem achar que fosse por uma distorção da situação e ciúmes da filha. Aliás, cenário bastante parecido com a vez que Coach Taylor encontra Riggins na cama de Julie. Apesar de ser válida essa proximidade da relação entre Becky e Tim -- a ponto dela até ironizar a fonte de renda para adquirir o terreno --, o discurso final ressaltando todas as qualidades dele pareceu um pouco exagerado. Ainda assim, parece ser um boa preparação para um adeus digno ao personagem que mais amadureceu durante toda a série, Tim Riggins.
"Nada é irreversível", diz Jack Shephard. Tudo leva a crer que essa será a questão crucial dessa última temporada, ponderando principalmente as conexões entre esses personagens se tivessem desembarcado no aeroporto de Los Angeles. Muito se especulava sobre essa possibilidade de reiniciar a história, algo que sempre fui contra por praticamente ignorar tudo que vinha sendo desenvolvido até aqui. Outros acreditavam que com a explosão da Jughead, todos os personagens que estavam no passado simplesmente voltariam ao seu tempo "normal". O que os produtores decidiram fazer? Abraçar as duas causas. Se já vínhamos nos deslocando para frente e para trás nessa linha do tempo e depois junto até dos próprios personagens, chegou a vez de explorar uma linha paralela, praticamente uma realidade alternativa após a detonação da Jughead em 1977. Mas claro que o plano de Jack serve apenas como ponto de partida para as mudanças que vemos a bordo do voo 815, tanto pelos vários personagens faltando como pela presença de Desmond entre os passageiros. Claro, se tudo que vimos na série até aqui parecia determinado a acontecer, nada mais natural do que uma única causa desencadear novas consequências a cada um desses personagens. Deve ser um alívio também para os produtores saberem que essa será a última temporada, até porque não deve ser nada fácil surpreender com um novo formato pra série todas as vezes.
De início, tudo parece ser uma ilusão ou alucinação de algum personagem, mas depois que Juliet manda uma mensagem do além para Miles dizendo que o plano funcionou, e a medida que os acontecimentos em LA passam a ficar sérios, estava confirmado que balançaram novamente as estruturas. Acho que o grande desafio agora é dar importância a essas histórias paralelas fora da Ilha, convencendo o público de que essas duas linhas de tempo, uma em 2004 e outra em 2007, devem convergir em determinado momento. Embora não consiga imaginar como isso pode ser possível -- ainda mais vendo que a Ilha está totalmente submersa numa delas --, espero que a dinâmica vá além de estabelecer motivações ou refletir sobre o comportamento dos personagens em questão, assim como já visto nos flashbacks. Interessante é que dessa vez há uma relação em duas vias: inicialmente não sou capaz de simpatizar com esse "novo" Jack, por exemplo, não já sabendo de toda sua teimosia em qualquer linha do tempo possível. Ou até acreditar que Charlie pode ser muito mais que esse roqueiro otário, ainda que fique curioso para saber como fazer essa ligação com um personagem já morto na Ilha.
Afinal, dead is dead, certo? E nesse primeiro episódio, além da confirmação da morte Juliet, acompanhamos Sayid morrendo após as tentativas frustradas de salvá-lo no Templo. Sinceramente, no primeiro caso nada posso dizer além de lamentar esse descarte de uma das personagens mais intrigantes da série. Nem acho que era necessário escandalizar esse adeus, com ela morrendo nos braços de Sawyer, ainda que vê-lo jurando o doutor de morte tenha sido bem bacana. Não só pelo ato em si, mas também pelo seu comprometimento a ela. Talvez seja a deixa para nunca mais termos de aturar o triângulo mais chato da televisão -- nesse caso torcendo para que não venha nenhuma outra influência de Los Angeles. Creio que essa cena já havia sido gravada, até pelo estranho fato de Sawyer enterrar Juliet antes de pedir para Miles se comunicar com ela. Já a morte de Sayid é um pouco mais complexa. Estou praticamente certo de que Jacob se apoderou de seu corpo, embora a desconfiança de Miles possa indicar uma "simples" ressurreição. Mas o fato é que finalmente conhecemos o Templo secreto e seus habitantes, com os personagens sendo capturados mais uma vez e salvos por uma lista num "biscoito da sorte" em forma de ankh dentro do estojo de violão trazido por Hurley. Mais uma daquelas (d)eficiências de roteiro que só relevamos por respeito ou amor à série.
Para quem exige respostas, tivemos um dos primeiros mistérios da série aparentemente resolvido quando o antagonista de Jacob -- ou como já vi sendo chamado por aí, o Un-Locke -- toma forma do monstro de fumaça e aniquila Bram e seus capangas. O pior é ter gente ainda duvidando disso, mesmo que suas palavras para Ben, "lamento por ter me visto desse jeito", fossem mais do que claras. Desse jeito não tem como o pessoal ficar satisfeito com o final da série mesmo. Ficou esclarecido também a razão do pó ao redor da cabana de Jacob, sendo a única forma rudimentar de se proteger dos ataques do monstro. Mas apesar da história ter trilhado um caminho entre a mitologia e essa nova estrutura, foram duas cenas particulares que me deixaram bastante otimista com essa temporada final. A primeira é a conversa entre Un-Locke e Ben, quando ele revela o alto grau de confusão de John Locke, depois de ter seguido tudo o que lhe foi ordenado, no momento em que é assassinado por Ben. Há toda uma ironia de Terry O'Quinn falando de "si mesmo" que me faz até ignorar essa reutilização do ator num outro personagem. Já o outro momento é o encontro entre Locke e Jack no aeroporto, quando pela primeira vez a posição dos dois aparece invertida, com Locke sendo extremamente pragmático e Jack acreditando nas possibilidades de reverter sua situação. Depois de ver o rosto de Locke cercado de frustrações saindo do avião ao final do primeiro episódio, é Jack quem tenta agora convencê-lo de que nada disso pode ser eterno. Enquanto isso na Ilha, Sawyer resolve poupar Jack justamente para vê-lo sofrendo ao lado de todos eles, depois que seu plano falhou. Essa diferença de perpectivas dos personagens e novos encontros entre velhos conhecidos -- principalmente o mais interessante deles envolvendo Kate, Claire e claro, Aaron --, são o que definitivamente devem mover essa alternância entre dimensões. Para mim, é indício suficiente pra ficar tranquilo e perceber que o que realmente importa para Lost, felizmente, são seus personagens.



