
O season finale da temporada passada setou o professor Cannon como o grande vilão da série. Seu ataque a Naomi foi realmente surpreendente, e se restavam dúvidas de qual seria sua participação nessa nova temporada, rapidamente ela foi sanada, com ele escolhendo sua nova vítima: Silver. É notório meu descontentamento com os rumos que a personagem tomou há um bom tempo. Assim, vê-la sendo arrastada para a teia do professor maníaco definitivamente não me causou o mesmo impacto que teria se, por exemplo, isso acontece no primeiro ano da série, quando Silver era uma das melhores personagens. Mas de qualquer jeito, são novos ares, que a afastam de Teddy (ainda que os dois tenham protagonizado mais cenas ruins aqui também), e esse jogo de caçador e caça foi um dos bons momentos do episódio, como na cena da foto acima, cuja enquadramentos iniciais alternaram um dos personagens em primeiro plano e o outro em um monitor, denotando o incômodo da situação (além do que enfocar Cannon em destaque e Silver reduzida, e limitada pelas laterais da televisão dá uma sensação de que ela está presa, submissa a ele). Hal Oszan vem fazendo um trabalho competente, consegue passar muito bem a impressão de lobo em pele de cordeiro.
Infelizmente essa sutileza não ocorre em Jen. Parece que a gravidez só a deixou mais histriônica, exagerada e caricata. Ela parece um pouco perdida desde seu retorno, afinal agora todos sabem de seus golpes, não controla mais o dinheiro de Naomi (daí que vem o nome desse capítulo)...enfim, não representa mais nenhuma ameaça a ninguém, restando sua gravidez, uma muleta para Ryan ter com quem contracenar na série. Talvez essa proximidade forçada dos dois sirva para redimi-la, mas sua trama nesse episódio foi completamente desinteressante, inclusive tendo uma péssimas cenas com elas insultando todos os seus assistentes/subordinados.
E como disse acima, agora Naomi é responsável pelas próprias finanças - enfim seu aniversário de 18 anos chegou, e para comemorar ela deu uma festa que (literalmente) foi a sua cara. Seu egocentrismo é definitivamente sua característica mais marcante, e nesse capítulo se manifestou em todos os cantos - pelas paredes, bebidas, comidas, tudo. Mas a sombra de Cannon ainda paira sobre sua cabeça, e o conflito que se estabeleceu entre ela e Silver por causa dele foi bem interessante, muito melhor do que meras brigas por ciúme de Teddy (ainda que isso tenha servido ao propósito maior aqui).

E com apenas dois capítulos, Oscar já vem se destacando rapidamente, roubando a cena sempre que aparece, mesmo com seu caráter altamente duvidável. Afinal, não é sempre que vemos um personagem em uma série adolescente cujo objetivo é pegar mãe E filha. Seu jeito de Don Juan com sotaque australiano deu uma dinâmica nova à vários personagens, como Ivy, Laurel e Dixon (e foi especialmente engraçado o modo como ele foi enganado e passado para trás por Oscar sem nem desconfiar). E que bom que ele também já começou a interagir com mais gente, assim quem sabe onde seus planos o levarão? Nada como alguém carismático para trazer ares novos à série.
E ainda no campo das novidades, Age of Inheritance marcou a estreia de um novo personagem: Charlie (Evan Ross). E já apareceu passando aquele discurso espertinho/tirado a intelectual em cima de Annie, que tendo brigado com Liam durante o capítulo, deu uma chance ao novo rapaz. Até aí nada fora do padrão que se esperaria em 90210, mas eis que Charlie é nada mais, nada menos que (meio?)irmão de Liam! E pelo desenrolar da cena entre os dois no final, NÃO FOI uma mera coincidência ele ter encontrado Annie, pois deu a entender que sabia do relacionamento do irmão com ela. Não sou muito favorável a essa prática de parentes que surgem convenientemente do nada nas séries (e isso acontece em quase todas, de dramas a comédias). 90210 parece estar sempre desesperado atrás de elenco masculino, já que os disponíveis não emplacaram direito, sendo as garotas os destaques da série (vejam só Ethan, pretenso protagonista que saiu após a primeira temporada). E Charlie é mais uma dessas apostas. Que tenha a mesma sorte de Oscar.

E por último, Adrianna. Suas letras roubadas de Javier conquistaram Lauren, e deram um gás extra a sua carreira. Quero ver até onde ela vai levar essa mentira. E o anúncio que ela vai cantar uma dessas canções justamente no funeral no cantor deverá ser sua prova de fogo. Prevejo a volta com força da "YES Drama, Adrianna", como sempre foi típico dela. E mais uma vez Navid mal apareceu perto dela - eita namoro sem graça e irrelevante, hein?
Esse capítulo, ainda que tenha introduzido um novo personagem, teve um ritmo mais calmo que a média da série, sem aquele frenesi de trocentos acontecimentos por segundo. Mas nem vou me iludir que ela vai continuar assim, mas foi bom enquanto durou.
Fotos: Reprodução

Rafael S
http://twitter.com/rafaelsaraiva







Na semana passada, comentei
Não poderia concluir este texto sem prestar minha última homenagem a Ida Blankenship, que passou da condição de alívio cômico para sarcástica voz de sua geração. Se logo em sua estreia 
e.fuzii










Com a chegada do verão de 1965 e a mudança de clima, Don Draper finalmente sente a necessidade de também mudar. Nadar, inspirar, expirar. Aproveitar o silêncio confortável quando imerso. Apreciar novos perfumes e sabores. Enfim Don Draper sente-se livre, até mesmo quando dormindo, estirando-se na cama como se estivesse voando em uma asa-delta. A mudança mais significativa, até no tom da própria narrativa, talvez sejam as palavras escritas em seu bloco de notas, procurando entender melhor suas impressões do mundo. Confesso ter certa resistência com esses voice-overs pontuando cada ato, mas entendo como sendo um exercício (e não uma "muleta") para o protagonista. A medida que vai desintoxicando seu corpo, evitando a constante embriaguez, Don passa a ganhar uma maior clareza, sensibilidade. Até um breve convite para apreciar uma bebida gera um efeito de vertigem, através do conhecido dolly zoom de Hitchcock. Mas não espere que será mais fácil desvendar Don Draper neste estado sóbrio e revelando o que se passa em seu interior. Logo de cara ele já alerta para sua pouca habilidade com as palavras, que se traduz no frequente uso de taglines publicitárias ao longo de suas memórias. Finalmente ele tem de encarar as consequências do final de seu casamento quando encontra Henry e Betty num jantar e acaba forçado a buscar suas últimas coisas na antiga casa. Don abandona todas essas lembranças no primeiro lixo que encontra pela cidade, como se quisesse esquecer de todos aqueles anos perdidos. Mas depois de ouvir os conselhos de Faye Miller, ele passa a reconsiderar e provavelmente valorizar aquilo que ainda é capaz mudar: o futuro de seus filhos. Nada mais admirável do que este homem independente aparecer na festa do pequeno Gene, enfrentar os olhares mais suspeitos dos antigos vizinhos e se mostrar disposto a reverter a condição confusa e desesperadora de seu nascimento.
Porém, Betty não foi a única mulher a enfrentar problemas com o sexo oposto neste episódio. Na SCDP, aquela tensão existente entre Joan e Joey desde o início da temporada finalmente veio à tona agora. Joey abusa de sua condição de freelancer para não se prender às antigas e burocráticas convenções de trabalho. Até mesmo sua perplexidade ao ser demitido por Peggy demonstra uma tendência a tratá-la de igual para igual, encarando esta decisão como uma traição a sua amizade. Mas fica impossível justificar qualquer uma de suas pesadas brincadeiras e principalmente a denúncia de que Joan andaria pelo escritório pronta para ser estuprada. Além disso, essa lembrança chega numa péssima hora para ela, justamente quando deveria aproveitar os últimos momentos ao lado de seu marido, preparando-se para ser enviado a um treinamento de guerra. Se já era frustrante perceber que estava perdendo a influência dentro do escritório, Joan chega a se desesperar por sua vida pessoal também estar saindo de seu controle e se sentir cada vez mais sozinha. Quando Joan enfim decide responder à altura, com um discurso atacando o orgulho daqueles rapazes, descarrega também todas as suas frustrações em relação à guerra no Vietnã. Por isso, em qualquer outra série a demissão de Joey seria vista como o triunfo final para essas mulheres. Mas em Mad Men basta um simples encontro de Joan e Peggy no elevador para essa situação transformar-se num delicado anti-clímax. Ponderando sobre a influência dessa decisão precipitada de Peggy, Joan está certa em concluir que ela acabava de admitir tudo aquilo que os outros funcionários desconfiavam. Talvez essa demissão poderia ter sido contornada com atitudes mais sutis e persuasivas para obter os mesmos resultados, conforme a fábula de Aesop citada por Faye Miller durante seu primeiro encontro com Don.


Após fazer Peggy chorar com uma de suas broncas mais cruéis, Don Draper só volta a estabelecer este vínculo ao encontrar uma fita com as hilárias memórias ditadas por Roger. A partir deste voto de cumplicidade para guardar este segredo, a relação dos dois vai sendo reparada passo a passo, até mesmo longe das divisórias da SCDP. Don chega a falar de sua época na guerra da Coréia e Peggy revela toda sua insegurança na relação com os homens. Talvez o momento mais íntimo seja quando ambos relembram terem presenciado muito cedo a morte de seus pais. No entanto, é necessário impor certos limites e o roteiro é muito eficaz neste sentido, tanto quando Don decide manter em segredo a identidade de Anna -- e consequentemente sua vida pré-guerra -- como Peggy sinalizando trazer de volta o assunto gravidez até decidir mudá-lo antes de revelar quem seria o pai de seu filho. O mais interessante é como esse episódio recupera grande parte das tramas desenvolvidas na temporada, como todas as implicações do abuso do álcool -- a mais notável delas através da aparição vergonhosa de Duck -- ou o drama da secretária Allison. No detalhe provavelmente mais engraçado, através das memórias de Roger descobrimos a identidade do Dr. Lyle Evans, aquele que ele ensaiava chamar na reunião para provar que Cooper não teria, literalmente, culhões para reagir à "invasão" dos japoneses em
Na manhã seguinte, presenciamos o momento mais afetuoso entre Don e Peggy até hoje, quando ele aperta sua mão e com um simples olhar transmite toda sua admiração. Uma conclusão perfeita se lembrarmos do constrangedor toque de mão ainda no episódio piloto, quando a ingênua Peggy confunde as instruções passadas por Joan. Apesar de criticar (de maneira hipócrita, diga-se) a postura de Muhammad Ali, Don entende o quanto aquela imagem do lutador em pé gritando para o adversário se levantar é de forte apelo ao público. Talvez nem seja sua ideia mais brilhante, tanto é que Peggy parece rejeitar logo de cara, mas o aperto de mão simboliza também sua confiança na garota. Até então Don tinha um domínio bem maior sobre a vida de Peggy, principalmente em relação a sua gravidez secreta. Mas a partir do momento que Don Draper mostra-se fragilizado diante dela e confia seus segredos, ambos passam a ter uma relação mais equiparada. Peggy responde com um olhar tolerante, talvez tudo o que Don procurava após perder a única pessoa que lhe amou incondicionalmente. Algo semelhante aconteceu na temporada passada, quando Don revelou todo seu passado a Betty, que apesar de perdoá-lo, decidiu mesmo assim seguir com o processo de separação. Claro que ele não espera por uma decepção parecida, mas cabe apenas a Peggy perdoar e esquecer as desavenças dos últimos episódios. É afinal o convite para se estabelecer um compromisso, não apenas através de uma simples paixão, mas sim motivados pela admiração mútua.
Assim, com a ausência dos mais experientes, sobra toda a responsabilidade para os garotos prodígio da agência, Pete e Peggy, que também buscavam alcançar o devido reconhecimento. Pete era o único sensato/sóbrio o suficiente para sugerir que adiassem a apresentação aos clientes da Life. E ele nem precisou ouvir um discurso de Don para perceber o potencial desastre. Depois de ficar sabendo que tramavam a contratação de Ken Cosgrove pelas suas costas, Pete vem cobrar de Lane o mesmo respeito que os outros sócios. E dessa mesma maneira, durante sua conversa franca com seu antigo desafeto, Pete mostra que somente através do respeito mútuo essa nova hierarquia poderia funcionar. Já Peggy merece um capítulo à parte nesta temporada, cada vez mais se tornando a personagem preferida do público. Ainda que ela tentasse alertar de todas as formas possíveis o erro de Don Draper, a única coisa que ela recebe em troca é uma reclusão ao lado de um diretor machista num mesmo quarto de hotel. Peggy parece cada vez mais incomodada pelas constantes ameaças de Stan Rizzo ao seu conservadorismo, até que decide finalmente responder ao seu blefe. E a partir daí, com ambos nús, ela vira o jogo apostando na irresistível sexualidade feminina. Mais uma vez Peggy percebe que não vale a pena tentar encarar os homens de igual pra igual, mas sim explorar seu diferencial. Chama atenção também seu ressentimento na campanha da Glo-Coat por não reconhecerem seu devido valor, tornando-se ainda mais intrigante por nunca ter sido abordado seu desenvolvimento, permanecendo até então "fora da tela" -- assim como o apagão de Don por dois dias ou seu sorriso triunfal ao subir o elevador. Se até então Peggy era tratada como uma extensão do próprio Don Draper, sua perplexidade ao ter de providenciar a contratação do novato, representa sua mais profunda desilusão com o chefe. É aquela desilusão de quem acaba de perceber que seu superior pode não ser tão competente ou genial como se esperava, algo que qualquer um é capaz de se identificar. Como disse anteriormente, mérito para mais uma vez explorar um tema universal, capaz de se repetir naquela época, hoje mesmo ou até no futuro.
