terça-feira, 30 de março de 2010

[LOST] 6x09 Ab Aeterno

por e.fuzii
A primeira vez que Richard Alpert apareceu em Lost foi recrutando Juliet Burke fora da Ilha, no episódio Not in Portland da terceira temporada. Desde então, seu personagem mostrava-se cada vez mais intrigante, principalmente por sua misteriosa condição de não envelhecer. Cercado por imensa expectativa, Alpert ganhou seu esperado episódio apenas nessa última temporada -- que segundo os produtores é o momento "certo" -- e tinha toda a responsabilidade de ser um acertar de contas desse passado remoto da Ilha. Com mais de 150 anos de existência, histórias interessantes não faltariam. Porém, chega a ser triste constatar que escolheram um período sem apelo algum, mostrando os acontecimentos que levaram Ricardo até aquela Ilha "maldita". Sua história começa em Tenerife, que não por acaso é uma das Ilhas Canárias em que ocorreu o maior acidente aéreo de todos os tempos (como citado por Walter White no episódio de Breaking Bad da semana passada). Além disso, entre o povo local corre uma lenda que garante a existência de uma ilha fantasma, conhecida como San Borondón, que muitos confessam ter visto mas nunca ninguém conseguiu provar. Porém, esse fato não seria suficiente para prender minha atenção nessa história ingênua da época Vitoriana, relatando um caso de amor e perda na vida de Ricardo, tantas vezes vista em outras oportunidades. A questão não é a simples repetição, mas não me garantir envolvimento suficiente para, por exemplo, acreditar nesse caso de amor. Aliás, só mesmo o talento de Nestor Carbonell, que passou por tantos problemas para decididamente voltar à série, para salvar esse longo flashback do desastre completo.

Após ser condenado por um assassinato acidental e buscar pelo perdão nos caminhos da fé, sua grande oportunidade surgiu no "Novo Mundo" (que já nem era tão novo assim), embarcando como prisioneiro no navio Black Rock. Mas sua conturbada chegada à Ilha, em meio a uma dramática tempestade, não foi o final de seu sofrimento. Acompanhamos todo o intrigante suspense vivido por Alpert enquanto ainda preso no porão da embarcação. Provavelmente o momento mais interessante do episódio (além da discussão sobre "o que é a Ilha?" que tratarei mais adiante), quando todos os mistérios da Ilha apresentavam-se diante de seus olhos, mas ele continuava absolutamente imóvel sem poder explorar nada além de seu cativeiro. Um teste de fé, que depois converte-se no seu principal motivo para manter-se por tanto tempo nessa Ilha. Depois de batizado por Jacob, Alpert decide servir como seu representante e pede pela vida eterna, podendo assim finalmente redimir-se de seus pecados. No entanto, em razão de revelações insatisfatórias e um roteiro pouco inspirado, esse episódio infelizmente não conseguiu me cativar. Em respeito à série acabei até reassistindo antes de escrever, principalmente depois de tantos elogios que li da crítica especializada. Não costumo fazer isso, mas para manter uma certa organização e concisão, citarei aquilo que mais me incomodou em tópicos:

1) "Estamos no Inferno". Desanimei assim que Alpert disse que todos estavam mortos, o que provavelmente se estendeu pelo resto do episódio. Essa foi uma das primeiras teorias que surgiu por parte dos fãs -- apenas substituindo por Purgatório -- e nem consigo acreditar que a essa altura alguém ainda ouse brincar com isso. Mais inacreditável ainda é ver Alpert depois de 150 anos regredir a esse ponto, principalmente quando já vimos ele mesmo recrutando Juliet no mundo exterior e até visitando John Locke durante a infância. Fora isso, é no mínimo estranho que Alpert cogite mudar de lado repentinamente, quando há poucos dias atrás estava disposto a desistir de viver. Óbvio que essa crise só serviu para motivar seu flashback.
2) Richard Alpert é apenas outro peão. Depois de tantos anos ao lado de Jacob, minha última esperança era que pelo menos Alpert tivesse alguma noção do propósito de cada um ali. Mas ele decidiu surtar e sair correndo pela floresta. Pra dizer a verdade não chega a me incomodar esse jogo milenar, ou mesmo que Jacob e seu antagonista tenham sido introduzidos tão tarde nessa história. Até por dedicarem tanto tempo a essa realidade alternativa já é indício que os personagens tem importância nessa conclusão. Afinal, foi na geração deles que Jacob sucumbiu. Mas nesse ritmo não sei mais em quem confiar, se o próprio UnLocke parece continuar com suas manipulações. Se só nos resta confiar no que Widmore estiver disposto a revelar, aí sim estamos definitivamente todos perdidos.

3) Black Rock atropelando a estátua de quatro dedos. Como muitos já sabem, minha implicância com essa parte da mitologia pesada é antiga. Mas realmente espero que todos aqueles que gostam sejam ao menos recompensados com resoluções dignas. Essa situação, com certeza, não deve servir de exemplo. Se há alguns meses atrás algum fã tivesse aparecido com a teoria de que a estátua seria destruída na chegada do Black Rock, provavelmente seria ridicularizado. A questão não é dar respostas simples, como muitos tentam defender os produtores, mas ser útil no contexto geral da série. Afinal, antes mesmo do episódio, todo mundo já sabia que ali era a morada de Jacob e um indício de que outra civilização havia passado pela Ilha. Até o final, nada mudou. Mesmo o fato de Richard Alpert ter chegado a bordo da embarcação já podia ser deduzido há alguns episódios atrás, quando ele dizia estar revisitando aquele lugar. Também não me agrada que usem sempre essa mesma justificativa de que tudo foi desejo de Jacob, como no caso da tempestade que "atraiu" o barco. Aí já parece desculpa de roteirista preguiçoso…

4) Isabella. Com o perdão da comparação, essa personagem me lembrou a Harper que surgiu como terapeuta de Juliet em The Other Woman e nunca mais voltou a aparecer. Pelo menos sua aparição naquela ocasião, tentando convencer Juliet que deveria impedir a liberação de gás na estação Tempestade, foi bastante parecida. Sobrou até para Hurley bancar o intérprete sobrenatural e passar a mensagem do além para Alpert, usando a velha fórmula que já estamos cansados de ver: revelar um segredo que só os dois conheciam para assim convencê-lo da aparição verdadeira de sua amada. E antes que venham com pedras, sim acredito em casos assim, então não adianta vir reclamar de má vontade.
Diante de todas essas razões, diria que o episódio praticamente se anulou, deixando um saldo quase zero no final. Fiquei com uma sensação de desperdício, como se tivessem forçado Alpert a surtar pela floresta para no final reestabelecer sua condição inicial. Embora reconheça que seria difícil encaixar esse flashback anteriormente, acho que de certa forma o foco dado até aqui às realidades paralelas acabou sendo desviado também. A única coisa que realmente me pareceu interessante foi saber mais sobre essa dinâmica envolvendo Jacob e o Homem de Preto, revelando a estratégia de cada um para vencer esse duelo. Se não fosse até falta de respeito pedir pela saída de Terry O'Quinn, diria que faz falta ver Titus Welliver atuando também em 2007. Enquanto Jacob tenta trazer novos habitantes para a Ilha e provar que eles escolherão o "melhor" caminho, o Homem de Preto tenta a todo custo corrompê-los e eliminar seu antagonista. Numa inspirada comparação com a rolha que não deixa a maldade espalhar-se pelo mundo, Jacob acredita que mantém isolado o problema na Ilha. Mas falta entender por que estando morto, o UnLocke ainda precisa buscar pelo seu substituto. É interessante também tentar encaixar as histórias que acompanhamos até aqui nas regras desse jogo. Sabemos, por exemplo, que Locke recusou-se a matar seu pai, embora fosse um requisito para tornar-se líder dos Outros na época, e acabou fazendo Sawyer vingar-se de Anthony Cooper. No entanto, vemos que Locke teve seu nome riscado da lista de candidatos e James não. Talvez fosse uma questão de balancear o mal, retribuindo aquilo que sofreu, mas ainda tenho dúvidas se aqueles nomes na caverna são mesmo de substitutos de Jacob. Embora, como disse antes, acredite nesses personagens como peças fundamentais para sua conclusão -- e o plano independente de Sawyer só vem confirmar isso --, meu único receio é exagerarem demais nesse embate de "bem contra mal" e a série descambar para uma lição de moral no final. Seria provavelmente a forma mais frustrante de terminar a série, principalmente por tanto tempo proporcionar tamanha discussão a partir dos mais variados pontos de vista.

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sexta-feira, 19 de março de 2010

[LOST] 6x08 Recon

por e.fuzii
Assim que soube que Sawyer teria um episódio como personagem principal, fiquei curioso para saber como encaixariam sua história nesse conceito de realidades "paralelas". Isso porque LaFleur já havia sido, na minha opinião, a mais perfeita forma de redimir um personagem na série e até alcançar sua redenção. Por sorte, foram sensatos em nem tentar por um momento usar dessa carta novamente. Como essa realidade alternativa sempre deixou claro com as constantes referências ao espelho, estamos basicamente diante de um reconhecimento (assim como também sugere esse título), ou seja, tentando perceber aquilo que mudou na vida desses personagens na ausência da Ilha e, muito provavelmente, de Jacob. Não é qualquer série que pode se dar ao luxo de, após cinco temporadas, decidir jogar seus principais personagens nas situações mais inusitadas sem cair numa paródia de si própria e, acima de tudo, não perder a essência de cada um deles. Por isso, não posso deixar de reconhecer os méritos de Lost, em pelo menos arriscar-se a propor uma outra forma de investigar seus personagens, ainda mais tão perto de sua conclusão. Essa semana, acompanhamos um outro James Ford, ainda atormentado pela morte dos pais após o golpe aplicado por Anthony Cooper -- o que só me deixou mais intrigado com sua relação com Locke --, mas que decidiu seguir a carreira de policial para canalizar esse seu desejo de justiça. Mais uma vez uma decisão que muda os rumos de seu destino. Se no passado James chegou a garantir a Charlie que nunca havia feito algo de bom em sua vida, nesse cenário ele não é capaz de sequer encarar sua imperfeita imagem refletida no espelho, carregada pela culpa de ter mentido ao seu parceiro Miles. Confesso que essa trama só ficou mesmo interessante por investir nessa dinâmica dos tempos áureos de Iniciativa Dharma. Desde sua primeira cena, quando James prende uma criminosa num quarto de hotel, acompanhamos intensos jogos psicológicos e de confiança, tanto na Ilha quanto em Los Angeles, como já era esperado num episódio centrado em Sawyer. No entanto, não posso deixar de reconhecer que essa aparição de Charlotte pareceu também outro golpe aplicado nos espectadores. Além da condição absurda de encontrar a pasta com informações confidenciais acidentalmente numa gaveta de James (o último lugar que ele deixaria alguém mexer), sua participação terminou sem propósito algum. Desconfio até que ela estivesse substituindo Cassidy, já que a atriz Kim Dickens está comprometida com as filmagens da aguardada série 'Treme', de David Simmons. Mas a maior frustração foi que, ao contrário da maioria dessas histórias de 2004, essa não me pareceu ter um sentido de conclusão. Podemos até especular que esse encontro final com Kate seja o pontapé inicial para que a conexão entre essas duas linhas do tempo comece a ser revelada, já que quando Sawyer facilita sua fuga no aeroporto, fica a impressão de que os dois possam ter lembranças além daquela realidade. Mas para desespero de alguns esse final talvez seja indício de mais um episódio focado em Kate pela frente…
Porém, enquanto James relutava em contar a verdade para seu parceiro em 2004, Sawyer abusou exatamente de sua sinceridade para ganhar a confiança tanto do UnLocke quanto de Widmore. E nesse caso, mesmo cumprindo seu desejo de matar Anthony Cooper, sabemos que ele nunca alcançou a paz por conta disso. Muito pelo contrário aliás, já que tentam manipulá-lo de todos os lados agora. Enviado numa missão de reconhecimento na ilha onde se localizava a Hydra, Sawyer se depara com a jaula onde ficou preso frente a frente com Kate, com o vestido dela ainda ali pendurado. Não acredito que essas memórias trouxessem de volta toda aquela paixão, mas talvez fossem a certeza de que ele não precisaria terminar (ou "morrer") sozinho nessa realidade. Ao contrário dos outros sobreviventes, que escolheram um dos lados para praticamente apostarem suas vidas, Sawyer prefere jogar esses oponentes um contra o outro para buscar seu próprio objetivo: partir da Ilha levando aqueles com quem ele realmente se importa. Resta saber quanto tempo ele conseguirá permanecer neutro nessa disputa. Com a chegada de Charles Widmore, mais dúvidas também surgem, principalmente quando lamenta que Sawyer saiba tão pouco sobre ele. Mas chega mesma a ser bastante confuso que após toda aquela disputa com Ben pelo controle da Ilha no passado, ele volte justamente para atrair o UnLocke para uma armadilha. Tudo leva a crer também que Desmond (sozinho ou acompanhado) esteja preso com os cadeados naquele compartimento secreto do submarino, embora minha torcida por isso provavelmente prevaleça sobre uma análise mais sensata.
Já a relação entre Kate e Claire, que vinha a cada semana ficando mais tensa, pode ser resumida para mim na confusa direção (assinada pelo competente Jack Bender, diga-se) de uma cena envolvendo o grupo liderado pelo UnLocke. Quando ele revela àqueles que "resgatou" no Templo que o restante morreu vítima do monstro de fumaça, sua primeira reação é acalmar as crianças, quase como num instinto paterno. Mas nesse momento, a câmera perde totalmente o sentido e decide focar na estranha tentativa de Claire em pegar na mão de Kate. Apesar de achar engraçado o fato de Sayid nem reagir quando Kate estava em perigo, o que me preocupa é essa situação de loucura ser confortável demais para explicar qualquer reação de Claire ou Sayid -- como já aconteceu com ele anteriormente, aliás. E principalmente pelas duas mulheres estarem riscadas na lista de candidatos, essa disputa pela guarda de Aaron acaba sendo um tanto quanto dispensável no contexto geral. Vale a pena talvez pela tentativa do UnLocke de acalmar os ânimos das duas e mostrar até certa humanidade ao revelar a Kate que também sofreu com uma mãe perturbada, ainda que suas lembranças pudessem se confundir com as do próprio Locke. Mesmo suas razões para canalizar o desespero de Claire para fazer o seu bem, deixando-a procurar seu filho inutilmente com os Outros, me pareceram bastante dignas. Mas nada mais interessante do que a forma como ele descreve os problemas que enfrentou durante a vida e que ainda não conseguiu superar, mas poderiam ter sido evitados numa situação diferente. Não são afinal, esses tipos de problemas que todos esses personagens tiveram de lidar durante o decorrer da série? E não é nessa realidade alternativa que muitos deles encontram enfim uma nova chance?

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sexta-feira, 12 de março de 2010

[LOST] 6x07 Dr Linus

por e.fuzii
Para todos aqueles que pediram por mais tempo acompanhando o professor Benjamin Linus em The Substitute -- ou até sugeriram um spin-off dessa premissa -- esse episódio não poderia ter começado mais promissor. Logo de início, Ben narra a seus alunos o exílio de Napoleão Bonaparte na ilha de Elba, privado de seus poderes mas mantendo o cargo de Imperador, que é uma situação bastante semelhante com a que ele viveu durante toda a série, sendo respeitado como líder mas sem poder tomar nem um passo a frente por conta própria. Ou pior, sem entender com precisão toda dinâmica que envolvia cada ordem que recebia para proteger a Ilha. O próprio Benjamin já havia sido condenado ao exílio antes, quando expulso da Ilha ao girar a roda de burro por conta própria. Mas apesar de encontrar uma forma de retornar, ainda que contrariando todas as regras vigentes, seu período de domínio havia chegado ao fim. Enfrentando a mais profunda frustração, Ben atingiu o limite de seu desespero quando assassinou Jacob, aquele que resolveu seguir cegamente em busca de poder, mas em troca perdeu seu único elo com a humanidade: a filha Alex. Afinal, como já estamos cansados de saber, para caminhar ao lado de Jacob é preciso ter fé. E nada mais significativo do que ver Richard Alpert disposto a abrir mão de sua própria vida após ser abandonado pelo seu líder, percebendo que esse caminho havia chegado ao fim inutilmente.
Já no 2004-alternativo, Dr Linus mostra-se incomodado com a postura do diretor Reynolds em administrar a escola. Mesmo assim ele precisa de um empurrãozinho do professor substituto John Locke para decidir fazer alguma coisa. A verdade é que esse Ben Linus apresenta-se como um professor contido e até conformado com sua vida, sendo alvo até das brincadeira de Arzt -- que volta a aparecer justamente num episódio que relembra os explosivos do Black Rock. Podemos perceber sua postura ao cuidar de seu pai, trocando seu tubo de oxigênio e ouvindo suas lamentações por um dia ter deixado a Ilha. É a primeira vez que alguém menciona a Ilha nessa realidade alternativa, provando que ainda não havia submergido pelo menos até a Iniciativa Dharma se estabelecer. Roger até pondera sobre como seria a vida deles caso tivessem permanecido lá, indício de que eles nunca foram forçados a sair -- no caso do Incidente, por exemplo --, mas que foi sim tomada essa decisão. Ben ouve tudo isso em silêncio, talvez tendo até noção exata das consequências dessa escolha. Diante das coincidências inusitadas que cercam essa linha do tempo, a começar pela presença de Alex como aluna do colégio (alguém consegue explicar como Rousseau foi também parar em Los Angeles?), Ben baseia-se numa denúncia de escândalo envolvendo Reynolds e uma enfermeira para tomar o cargo do diretor. O que ele não esperava era ser surpreendido por uma ameaça ao futuro de Alex caso levasse adiante seu plano de chantagem. Talvez por todo seu retraimento, Ben não tivesse coragem de enfrentar essas ameaças, ainda que todas aquelas informações lhe deixassem numa vantagem confortável, podendo exigir o que quisesse do diretor. Porém, entendo que esse dilema era necessário como paralelo para aquilo que acontecia e já aconteceu com Ben na Ilha. Como na maioria das outras tramas dessa realidade alternativa, essa situação serviu como uma segunda chance de Ben em relação a Alex, escolhendo garantir o futuro da garota ao invés de seguir sua ambição de tornar-se diretor.
Enquanto isso na Ilha, acompanhamos o grupo liderado por Ilana chegando novamente à praia, numa trama bastante enxuta dessa vez. Intercalada com todo o plano de chantagem do Dr Linus em 2004, houve uma prolongada sequência de Ilana mantendo Ben como refém, fazendo com que ele cavasse literalmente sua própria cova. Talvez fosse uma lição óbvia demais, mas para mim funciona exatamente por colocar Ben em controle de sua morte, em contraste com a condição de Richard Alpert, dependente da boa vontade de Jack e Hurley para morrer. No Black Rock, lugar onde Alpert diz estar retornando, Jack deixa para trás todo seu ceticismo e finalmente aceita que seu destino não depende apenas dele. Com base na informação de que os candidatos não poderiam morrer, ele decide testar aquilo que viu no farol, que tinha um propósito para chegar à Ilha, e assim reacende também a crença de Alpert, disposto agora a também se unir ao grupo na praia. Parece ter ficado claro que Jacob age aplicando testes em seus seguidores, e apesar de ter demorado a fazer sentido para Ben Linus, seu caso não foi diferente. Ele precisava passar por todas essas provações, de modo que segundo a leitura de Miles, Jacob confiava na retidão de Ben até os últimos momentos. Mas abandonado como estava, Ben resolveu agarrar-se à sedutora chance oferecida pelo UnLocke, ao menos até que fosse impedido por Ilana.
Acho que nem preciso destacar a atuação de Michael Emerson, mais uma vez transmitindo em cada palavra o desamparo de seu personagem, fazendo com que sentisse até pena de sua condição. Se quisesse, Emerson teria amplas chances de ganhar mais um Emmy através dessa cena com Ilana (*). Afinal, nesse dilema o episódio se resolveu, com Ilana perdoando-o pela morte de Jacob aquele que ela considerava como pai, enquanto Ben desiste de sua ambição pelo poder e decide encarar as consequências. Para alguns talvez seja fácil demais escrever uma série baseada na fé, já que hoje podemos considerar até que a morte de Jacob serviu como sacrifício para tirar Ben do caminho da auto-destruição. Mas inevitável dizer que está funcionando. No final, temos mais uma daquelas saudosas montagens dos personagens se reencontrando na praia com a bela trilha de Giacchino ao fundo. Até que Widmore aparece num submarino, pronto para mais uma vez invadir a Ilha. Provavelmente era aquele que Jacob já esperava, mas por qual razão nem imagino. É preciso lembrar que foi Widmore quem instruiu Locke a retornar para a Ilha, achando que a tal guerra estava para acontecer e o lado errado sairia vencedor. Talvez nem fosse a hora certa dele aparecer, já que só agora as duas equipes rivais parecem bem definidas. Mas será curioso, e até irônico, se ele tiver de caminhar ao lado de Benjamin nessa reta final de Lost.

(*) Após vencer o Emmy no ano de 2007, Terry O'Quinn decidiu se retirar da disputa do prêmio para dar maior chance aos seus colegas serem indicados. Imagino que essa será a postura seguida por Michael Emerson também. A não ser que todos decidam se inscrever por ser a última temporada da série.

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segunda-feira, 8 de março de 2010

[LOST] 6x06 Sundown

por e.fuzii
Aos poucos que por acaso se importaram com a falta dos comentários sobre esse episódio aqui no blog, peço sinceras desculpas. Não preciso entrar em detalhes sobre motivos pessoais, mas a principal explicação é que essa foi a primeira vez na temporada que me senti decepcionado ao final do episódio. E como já passou quase uma semana e sei que escrever/ler reclamações é muitas vezes desgastante, serei conciso dessa vez. Óbvio que essa decepção não é pelo fato de Sayid ter sido o personagem principal da semana, até porque normalmente seus episódios são repletos de momentos de ação, algo que essa temporada ainda estava devendo. E dessa vez, não foi diferente. Mas o maior problema esteve na conclusão desse arco envolvendo o misterioso Templo dos Outros, mantido em segredo por mais de 3 temporadas, que não serviu para nada além de ponto de encontro e palco de uma provável ressurreição de Sayid. Os dois personagens introduzidos nessa ocasião, Dogen e Lennon, foram apenas desperdício de tempo e talento dos atores. Nem mesmo quando Dogen conta sobre o acidente do filho e de como foi levado até a Ilha chega a ser interessante, porque não sai do padrão que já conhecemos de recrutamento de Jacob. Pra mim, isso é motivo de preocupação porque foi o primeiro dos grandes mistérios da série revelados nessa última temporada, e que pareceu ter sido simplesmente riscado de uma lista de pendências. Mesmo não sendo admirador desse lado da mitologia da série (ou talvez por essa razão), não me importo com o que venham inventar para garantir explicações para os descontentes, contanto que não atrapalhe o desenrolar da trama. Sinto também que em muitos casos, quanto mais adiam para revelar algum mistério, mais frustrante acaba sendo. Por exemplo, o que não consigo entender ainda é por que manter em segredo algo tão simples como o nome desse antagonista de Jacob. A não ser que signifique uma verdadeira reviravolta, ou por ser um personagem já conhecido ou relacionado a alguma figura importante, parece que estão apenas se divertindo vendo quantos nomes e trocadilhos conseguimos inventar para se referir a ele.
Por outro lado, Sayid proporcionou a tensão que esse episódio precisava, servindo mais uma vez de peça fundamental a cumprir ordens e ser movido de um lado para o outro. Embora fosse uma tendência que sempre tentasse resistir, Sayid quando convencido é capaz de seguir até suas últimas consequências, seja torturando um prisioneiro, matando uma galinha ou tirando a vida de uma criança na ligeira esperança de eliminá-la de seu futuro. Mas ele sempre viveu cercado de culpa, a ponto de em seu 2004-alternativo ter renunciado ao amor de Nadia, que acaba formando uma família ao lado do irmão de Sayid. Nesse caso, ele parece ter encontrado uma ilusória paz e resiste aos apelos do irmão para resolver suas pendências. Mas basta ser capturado e ameaçado por ninguém menos que o aterrorizante Keamy, para sua verdadeira natureza se manifestar. Depois de tomar controle da situação e colocar Keamy na mira de sua arma, Sayid sente-se obrigado a puxar o gatilho, mesmo diante dos apelos para que esquecessem do passado. É assim também que se dá um inusitado encontro com Ben no Templo, que tenta convencê-lo de que ainda resta tempo para se salvar. Mas Sayid finalmente decide abandonar esse seu conflito interior. Assim como o pôr do Sol, trocando o dia pela noite, serve de contagem regressiva para o UnLocke agir, é inevitável que a escuridão dominasse Sayid.

Na verdade, achei que o roteiro mostrou-se bastante turbulento ao tratar desse ciclo de manipulações, apesar desse estado zumbi de Sayid ser cômodo para qualquer tipo de explicação. Mas pareceu fácil demais ganhar sua confiança, tanto desafiado por Dogen como descobrindo pelo UnLocke que havia sido traído. Além disso, chega a ser inexplicável que Dogen fosse tão ingênuo na volta do iraquiano ao Templo, mesmo que já conformado com sua morte. Pelo menos agora os personagens estão separados em dois grupos que, embora pareçam representar a dualidade bem e mal, continuam sem uma linha divisória clara. Principalmente porque ainda não sabemos se o plano que seguem é confiável. Até a chance que o UnLocke dá aos habitantes do Templo -- mesmo com base em ameaças -- prova que a forma de seduzir é muito parecida com a de Jacob. Afinal, o UnLocke não promete a volta de Nadia, mas apenas sugere que existe essa possibilidade, cabendo a ele acreditar ou não. São em casos assim que chego a concordar com quem prevê que essa linha do tempo alternativa em 2004 será oferecida aos personagens, caso decidam acompanhá-lo e abandonem a Ilha. Mas é importante sempre lembrar que quem não acreditava na capacidade dos homens de viverem em paz era o próprio Homem de Preto, portanto acho pouco provável que ele instigue os personagens a ponto de extrair o pior deles.

Fotos: Reprodução.

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quinta-feira, 4 de março de 2010

[Spartacus: Blood and Sand] S01E04 - The Thing in the Pit

por Rafael S


Se os treinamentos a que os gladiadores são submetidos e suas batalhas na arena já são eventos violentos, esse quarto episódio de Spartacus: Blood and Sand adotou aquela máxima de "nada é tão ruim que não possa piorar". E assim, somos apresentados à "Cova do Submundo", um local que faz a arena parecer um parquinho.

A descida ao Submundo (bem sugestivo o nome) aconteceu pelo grande número de dívidas de Batiatus - com seus credores batendo à porta (como visto em capítulos anteriores), ele precisou urgentemente de uma nova fonte de dinheiro. Não foi suficiente que Lucretia vendesse suas joias, era necessário mais. E ele só conseguiria esse dinheiro se envolvendo nos jogos na Cova. Um lugar com muitas poucas regras, escondido da sociedade acima, onde batalhas de vida ou morte são travadas, e seus apostadores ganham a glória ou o fracasso. Lugar sujo e cruel, onde vale tudo: armas, trapaças, todo tipo de golpe para reduzir o oponente a uma massa sem vida de carne. Ao decidir ingressar nesse mundo, Batiatus arriscou sua reputação (afinal, as pessoas comentariam sobre o proprietário de um ludus famoso se metendo com esses jogos "paralelos"), seu dinheiro (se ele perdesse o que apostasse, era seu fim financeiro), sua vida (pois o Submundo não é dos lugares mais seguros para ficar) e seus guerreiros. E para esse último ponto, sobrou para o pobre Spartacus, cuja moral estava lá embaixo devido à derrota do episódio anterior, a missão de representar seu mestre nos combates.

O fato de Batiatus escolhê-lo significou que Spartacus havia se tornado um guerreiro dispensável para ele, que poderia ser sacrificado a qualquer momento na Cova caso as coisas dessem errado. Não só repúdio do mestre, o trácio sofreu o preconceito dos outros gladiadores do ludus (exceto Varro), que o trataram com todo o desprezo do mundo por estar participando desses combates sem honra. E se ele já foi tratado dessa maneira fora do ringue, imagine a situação dentro: só os guerreiros sombrios e assustadores, cada um com seu ritual para efetuar seus assassinatos (melhor caracterizar desse jeito do que chamar aquilo de luta). Logo de cara conhecemos Ixion, um guerreiro que simplesmente ARRANCA o rosto de seus oponentes mortos e o veste como uma máscara (Leatherface ficaria orgulhoso). E com tipos como esse prosseguem as batalhas, as mais gráficas até agora da série (e de todas as séries que eu vi, aliás). As armas só ajudam no banho de sangue: correntes, machados, bastão com pregos, tesouras, tudo para infligir o máximo de dor possível.



E luta após luta, Spartacus vai sobrevivendo ao trancos e barrancos, sempre bastante ferido. Mas suas maiores feridas são emocionais, e ele começou um processo de surtar com toda aquela vida de violência que estava vivendo: mergulhado em uma total introspecção, começou a ver alucinações de Sura em todos os lugares, e perder uma certa noção da realidade, como se aquelas batalhas estivessem consumindo completamente sua sanidade. Em uma bela atuação de Andy Whitfield, conseguimos visualizar toda a dor que aquele homem está carregando, e como ele parece não aguentar mais. Imaginem o nível de desgosto que alguém deve sentir para perder a vontade de viver - e é justamente assim que Spartacus se sentiu, e propôs algo impensável para o personagem até o episódio passado: que Batiatus apostasse todo o dinheiro em sua morte e que cumprisse a promessa de achar e libertar Sura. O mesmo Spartacus cuja motivação maior era viver para resgatar sua mulher entregando os pontos para se livrar de tanto sofrimento.

Mas durante a fatídica luta, contra o temido Ixion, quando é chegada a hora do sacrifício, homens misteriosos atacaram Batiatus. Barca, que trabalhava como seu guarda-costas no lugar, só impediu um dos homens, e o outro só foi impedido pela intervenção de Spartacus, que reuniu todas as forças em uma explosão de frenesi para não só salvar Batiatus, mas vencer o combate. Assim, um dilema foi instaurado: Batiatus acabou perdendo todo o dinheiro que havia apostado na derrota de Spartacus, mas acabou devendo sua vida ao lutador. Depois de muito pensar, resolveu agradecer a ajuda do lutador, e o restituiu como gladiador do ludus. Mas ficou no ar o mistério sobre os mandantes do atentado - podem ser os comerciantes a quem Batiatus deve dinheiro, ou o próprio Solonius, motivado pela raiva que sente de ter seus gladiadores massacrados por Spartacus no primeiro episódio, além do interesse que sente por Lucretia - mas como a série ainda não chegou na metade da temporada, é bem capaz do mandante ser algum personagem a ser introduzido nos capítulos por vir.



Mas não só dos horrores da Cova viveu esse episódio. Spartacus acabou descobrindo o envolvimento sexual entre Barca e um jovem criado do ludus, o que pode render algumas tramas no futuro, e o complicado triângulo amoroso entre Lucretia, Crixus e Naevia ganhou seu destaque também, com o gladiador e a criada cada vez mais próximos, mas com ele ainda sendo o objeto sexual preferido de sua mestra. Além disso Lucretia teve voz bastante ativa nesse episódio, tomando parte das discussões com o marido sobre sua ruína financeira e resistindo às investidas de Solonius. Sempre me agradam personagens femininos fortes, ainda mais quando são interpretados por pessoas acostumadas com isso, como a Lucy Lawless.

O melhor jeito de se resumir esse capítulo é "banho de sangue". Com uma violência cada vez mais gráfica, a série parece não ter medo de atravessar os limites, cultivando cada vez mais o gosto dos admiradores e a repulsa dos detratores. Taí uma série que não fica em cima do muro. E esse episódio levanta o questionamento: qual o limite da sanidade de cada um? Pois referenciando o próprio título, no meio de tanta barbárie, até um herói como Spartacus pode se transformar na "Coisa na Cova". É de se pensar...

Fotos: Reprodução



Rafael S
http://twitter.com/rafaelsaraiva