terça-feira, 28 de setembro de 2010

[90210] S03E02 - Age of Inheritance

por Rafael S


O season finale da temporada passada setou o professor Cannon como o grande vilão da série. Seu ataque a Naomi foi realmente surpreendente, e se restavam dúvidas de qual seria sua participação nessa nova temporada, rapidamente ela foi sanada, com ele escolhendo sua nova vítima: Silver. É notório meu descontentamento com os rumos que a personagem tomou há um bom tempo. Assim, vê-la sendo arrastada para a teia do professor maníaco definitivamente não me causou o mesmo impacto que teria se, por exemplo, isso acontece no primeiro ano da série, quando Silver era uma das melhores personagens. Mas de qualquer jeito, são novos ares, que a afastam de Teddy (ainda que os dois tenham protagonizado mais cenas ruins aqui também), e esse jogo de caçador e caça foi um dos bons momentos do episódio, como na cena da foto acima, cuja enquadramentos iniciais alternaram um dos personagens em primeiro plano e o outro em um monitor, denotando o incômodo da situação (além do que enfocar Cannon em destaque e Silver reduzida, e limitada pelas laterais da televisão dá uma sensação de que ela está presa, submissa a ele). Hal Oszan vem fazendo um trabalho competente, consegue passar muito bem a impressão de lobo em pele de cordeiro.

Infelizmente essa sutileza não ocorre em Jen. Parece que a gravidez só a deixou mais histriônica, exagerada e caricata. Ela parece um pouco perdida desde seu retorno, afinal agora todos sabem de seus golpes, não controla mais o dinheiro de Naomi (daí que vem o nome desse capítulo)...enfim, não representa mais nenhuma ameaça a ninguém, restando sua gravidez, uma muleta para Ryan ter com quem contracenar na série. Talvez essa proximidade forçada dos dois sirva para redimi-la, mas sua trama nesse episódio foi completamente desinteressante, inclusive tendo uma péssimas cenas com elas insultando todos os seus assistentes/subordinados.

E como disse acima, agora Naomi é responsável pelas próprias finanças - enfim seu aniversário de 18 anos chegou, e para comemorar ela deu uma festa que (literalmente) foi a sua cara. Seu egocentrismo é definitivamente sua característica mais marcante, e nesse capítulo se manifestou em todos os cantos - pelas paredes, bebidas, comidas, tudo. Mas a sombra de Cannon ainda paira sobre sua cabeça, e o conflito que se estabeleceu entre ela e Silver por causa dele foi bem interessante, muito melhor do que meras brigas por ciúme de Teddy (ainda que isso tenha servido ao propósito maior aqui).



E com apenas dois capítulos, Oscar já vem se destacando rapidamente, roubando a cena sempre que aparece, mesmo com seu caráter altamente duvidável. Afinal, não é sempre que vemos um personagem em uma série adolescente cujo objetivo é pegar mãe E filha. Seu jeito de Don Juan com sotaque australiano deu uma dinâmica nova à vários personagens, como Ivy, Laurel e Dixon (e foi especialmente engraçado o modo como ele foi enganado e passado para trás por Oscar sem nem desconfiar). E que bom que ele também já começou a interagir com mais gente, assim quem sabe onde seus planos o levarão? Nada como alguém carismático para trazer ares novos à série.

E ainda no campo das novidades, Age of Inheritance marcou a estreia de um novo personagem: Charlie (Evan Ross). E já apareceu passando aquele discurso espertinho/tirado a intelectual em cima de Annie, que tendo brigado com Liam durante o capítulo, deu uma chance ao novo rapaz. Até aí nada fora do padrão que se esperaria em 90210, mas eis que Charlie é nada mais, nada menos que (meio?)irmão de Liam! E pelo desenrolar da cena entre os dois no final, NÃO FOI uma mera coincidência ele ter encontrado Annie, pois deu a entender que sabia do relacionamento do irmão com ela. Não sou muito favorável a essa prática de parentes que surgem convenientemente do nada nas séries (e isso acontece em quase todas, de dramas a comédias). 90210 parece estar sempre desesperado atrás de elenco masculino, já que os disponíveis não emplacaram direito, sendo as garotas os destaques da série (vejam só Ethan, pretenso protagonista que saiu após a primeira temporada). E Charlie é mais uma dessas apostas. Que tenha a mesma sorte de Oscar.



E por último, Adrianna. Suas letras roubadas de Javier conquistaram Lauren, e deram um gás extra a sua carreira. Quero ver até onde ela vai levar essa mentira. E o anúncio que ela vai cantar uma dessas canções justamente no funeral no cantor deverá ser sua prova de fogo. Prevejo a volta com força da "YES Drama, Adrianna", como sempre foi típico dela. E mais uma vez Navid mal apareceu perto dela - eita namoro sem graça e irrelevante, hein?

Esse capítulo, ainda que tenha introduzido um novo personagem, teve um ritmo mais calmo que a média da série, sem aquele frenesi de trocentos acontecimentos por segundo. Mas nem vou me iludir que ela vai continuar assim, mas foi bom enquanto durou.

Fotos: Reprodução



Rafael S
http://twitter.com/rafaelsaraiva

[Hellcats] S01E01 - A World Full of Strangers

por Isabelle Felix


Você gosta de seriados com temáticas “teens”, estilo high school, com traminhas açucaradas recheadas de lições do tipo “nunca desista dos seus sonhos” e como cereja do bolo, atores totally hot? Mas daí você pensa: “não agüento mais esses atores de 30 anos fazendo menininhos de 15 anos...”. E se o seriado se passar na Universidade? Mais plausível?

Pois é. Depois de Greek, a CW está investindo em mais um seriado que agrade ao público teen e jovens adultos. Desta vez, a emissora vem com Hellcats. Seriado que se passa na Universidade Lancer e tem como temática principal os Cheerleaders. Daí você se pergunta: não seriam AS cheerleaders? Nooops! Também temos homens! Dessa vez não serão apenas os garotos que se deliciarão com menininhas de saias curtinhas, mas as garotas também aproveitarão os sixpacks dos garotos.

O primeiro episódio tem como título “A World Full of Strangers” (Um Mundo cheio de estranhos, ao pé da letra). Essa é a introdução da jornada da personagem principal, Marti Perkins (Alyson Michalka), ao mundo das cheerleaders. A personagem Marti lembra fisicamente bastante a Peyton de One Tree Hill: loira, alta, cabelos cacheados, corpo esguio. O jeito de se vestir também e ambas cheerleaders....huuum...



Mas enfim, Marti é uma garota que estuda na Lancer através de uma bolsa de estudos pois sua família (ela e mãe) não possuem dinheiro para mantê-la na Universidade. Inclusive o seriado começa com ela indo para o campus de bicicleta, não de carro, por não ter condições financeiras para manter um. Chegando lá, ela encontra o Dan Patch (Matt Barr – que era o stalker da Peyton, apaixonado por ela, lembram?), que aparenta ser seu melhor amigo. Eles sentam num banco e ficam assistindo e criticando ao treino do grupo de cheerleaders da faculdade, que se auto denominam Hellcats. A temática da discussão é: o que leva uma pessoa a se torna uma cheerleader? Em meio à comentários jocosos, Marti levanta-se e monta um arco-e-flecha imaginário; pede para Dan apontar uma das garotas e atira a flecha, acertando na Alice Verdura (Heather Hemmens), que cai e se machuca. Seu punho terá que ser imobilizado durante 6 semanas, ou seja, ela não poderá participar das classificatórias das nacionais. De cara somos apresentados à personagem “bitch” da historia. Metida, chata, nariz empinado, disposta a qualquer coisa pra conseguir o que quer, mesmo jogo sujo, no caso, pedindo remédios para melhorar logo seu machucado.



Marti chegando em casa e vendo as contas, assinando cheques para pagá-las até abrir uma carta da Lancer dizendo que ela perdeu sua bolsa escolar. Ooops! Daí somos remetidos ao Rathskellar, o pub da universidade no qual trabalha a mãe de Marti, Wanda Perkins (Gail O’Grady). Somo apresentados a uma mãe jovem, bonita e com sérios problemas de enfrentar a sua realidade financeira. Aparentemente, o fato dela ser empregada da Universidade, trabalhando no pub, dava à sua filha uma bolsa de estudos, mas esta lhe foi retirada e sua mãe nada fez pois alega ser ilegal. Porém, fato: Marti perdeu a bolsa.

Mas nossa heroína não se deixa abalar pelas adversidades da vida. Ela vai atrás do tesoureiro da Universidade para ver uma forma de reaver sua bolsa de estudos, porém, por causa de uma semana de atraso, em nada ele poderia ajudar ela, exceto por um livro que lista atividades que concedem bolsas escolar, entre elas, pessoas que falam Klingon! (Essa não será a primeira referência do seriado quanto a Star Trek) Eu respeito uma faculdade que da bolsa para quem fala Klingon! Mais ainda se também houver bolsas para os fluentes em Sindarin. Enfim, através da doce personagem Savannah Monroe (Ashley Tisdale pós nose job), que pregou na biblioteca um panfleto da abertura de testes para entrar para os Hellcats, descobrimos que cheerleaders tem direito a bolsa escolar! Obviamente Marti sente-se ofendida por “groupies”, ou garotas que pulam pra cima e pra baixo com roupas pequenas torcendo pelo estereótipo másculo dos jogadores de futebol americano (quase citando ela), terem direito a tal regalia. Savannah obviamente se sente ofendida e começam as duas a discutir calorosamente em público. Nessa cena pensamos: ela vão se odiar pro resto do seriado! Nops!



Então teremos a maior referência do mundo das cheerleades dos nossos tempos! Marti irá treinar colocando em seu DVD o filme “As Apimentadas” (Bring it on)! Cheerleader 101 = Kirsten Dunst! (inclusive esse filme tem uma historia parecida de garota nada a ver se tornando cheerleader).

O legal desses seriados são as danças e performances apresentadas a nós. Marti faz uma coreografia bem empolgante e mostra todo seu potencial como cheerleader. Tanto que no teste ela impressiona a todos, fazendo pulos e piruetas que muitas cheerleaders tem dificuldade de executar e na hora da prova final, quando uma coreografia é apresentada a todas as competidoras para seguir, ela se perde e cria a seus próprios passos, recheados de street dance, criando uma cena muito divertida para quem gosta de danças.

Obviamente ela é escolhida e muda-se para a casa das Cheerleaders, a Cheertown. OKay, até a mãe dela faz piada do nome do local. Obviamente Marti dividirá quarto com quem? Savannah! A nossa garotinha, personagem secundária do seriado, se mostra uma pessoa extremamente doce, de pensamento positivo, perfeccionista e que não entende piadas de duplo sentido. Ela deixa a discussão para trás e faz questão de deixar Marti o mais confortável possível. Estamos vendo BFF’s nascerem? Oh yeah, baby!

Mas pra quê um seriado sem problemas? A treinadora dos Hellcats, Vanessa Lodge (Sharon Leal), é chamada para ser informada que caso seu grupo não seja classificado para as nacionais,não participará mais das competições e será apenas um grupo que torce pro time de futebol. What a disaster! Tudo isso devido a contratação do novo treinador do time de futebol, Red Raymond (Jeff Hephner), uma estrela da área e que possui algum passado com Vanessa... Lidaremos com um triângulo amoroso? Ah sim! Vanessa tem namorado!

Mais uma cena de dança é nos dada de presente. O grupo precisa reinventar seu estilo, fazer novos passos e ousar para vencer nas classificatórias, e Marti, nossa heroína, irá improvisar ao som de Pump It do Black Eyed Peas. Mais uma cena que merece pipoca e guaraná!



Daí vem a pergunta: como diabos Marti dança tão bem? Ela é só uma dançarina de street dance? Nops! No quarto, com Savannah, descobrimos que durante o high school, ela era uma ginasta, que teve sua carreira interrompida devido a um vexame: caiu de uma das piruetas e foi “socorrida” pela mãe bêbada que vomitou nela. Pagação...Obviamente, Marty não convidará a mãe para as classificatórias. Mas relaxem, que nossa querida Alice, a bitch de plantão, fará esse favor por nós!

Final do episódio? O Hellcats, todos vestidos a caráter ao som de uma música empolgante desfilando por um corredor em direção ao local da apresentação. E aí? Como será a apresentação deles? Teremos mais uma pagação de Wanda bêbada? O que Alice irá aprontar?


Fotos: Reprodução/Google Images




Isabelle Felix
Twitter: @bellefelix

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

[Mad Men] 4x09 The Beautiful Girls

"That's two strategies connected by the word 'and'."

Após toda a atenção dada às personagens femininas na semana passada, não esperava que Mad Men pudesse analisar de forma ainda mais profunda o comportamento das mulheres já no seu episódio seguinte. Embora seja surpresa para muita gente, que a julgar pelo título logo concluem que a série seja predominantemente machista, o grande diferencial desde a segunda temporada tem sido explorar cada vez mais o pensamento feminino, até como forma de denunciar as transformações ocorridas ao longo desta década. Quando falamos da publicidade, por exemplo, talvez a mudança mais significativa seja não focar as mulheres como um grupo homogêneo e segmentado, mas com particularidades que exigem estratégias completamente diferentes entre si. Don Draper rejeita a ideia de Ken para agradar os clientes da Fillmore por saber que não pode atender públicos tão contraditórios num mesmo anúncio. Essa sensação é a mesma experimentada pela maioria das mulheres durante o episódio, tentando fugir do rótulo pré-concebido pelo próprio título "garotas bonitas" ao mostrarem seu devido valor. Óbvio que todos reconhecem a posição que Joan, Peggy e Faye ocupam na SCDP, mas fora dali como resume Joyce em sua última visita, elas são vistas pelos homens como apenas um recipiente capaz de contê-los. Afinal, é o eterno conflito entre cumprir seus próprios desejos e atender às expectativas dos outros.
Na semana passada, comentei no texto do Hélio sobre a imagem que ele escolheu para ilustrar o post, em que Don Draper está sentado no vestiário numa posição idêntica àquela vista na sequência final do episódio Maidenform, sexto da segunda temporada e um de meus favoritos da série. Naquela ocasião, Don estava sentado ponderando sobre sua fama entre as mulheres, logo depois de receber um inoportuno elogio de sua filha. Talvez a Dra. Edna pudesse explicar melhor essa influência de Don em sua filha, mas desta vez, tudo que Sally queria era mostrar sua capacidade de preencher a falta de uma esposa na vida de seu pai, certamente motivada pelos testes para adquirir maior responsabilidade. Chega a ser fascinante observar como ela planeja o jantar dos dois, o passeio pelo zoológico e até prepara o café-da-manhã. Mas diante da sucessão de infortúnios na SCDP, Don acaba pedindo para Faye Miller tomar conta de Sally. Ele já havia confessado não saber lidar com os filhos quando estava sozinho, então era questão de tempo até que Faye assumisse essa responsabilidade. Mas considerando sua apresentação "Hi, I'm Faye" já era possível prever como aquele encontro terminaria em desastre. Embora não tivesse sido culpa dela, já que Sally logo percebeu tratar-se de apenas mais uma das namoradas de seu pai, Faye tinha razão em considerar aquilo como um teste, que ela infelizmente falhou. Talvez fosse difícil naquela época aceitar uma mulher que não tivesse facilidade em lidar com crianças (como diria Joyce, "é biológico!"), mas não passava pela cabeça de Faye que mesmo depois de tanto lutar pelos seus direitos, ela ainda precisasse passar por mais esse teste. Apesar de Don Draper e Faye Miller chegarem a um acordo no final, acho muito difícil que essa relação tenha algum futuro. Depois de se rebelar e sair correndo pelos corredores da SCDP, Sally termina tropeçando e finalmente tendo de reconhecer sua fragilidade quando é amparada pelo abraço de Megan, a primeira pessoa a oferecer-lhe carinho durante todo o episódio. Mesmo que Megan tente consolá-la dizendo que tudo vai ficar bem, Sally é a única capaz de mostrar sinceridade suficiente para constatar que nada poderia melhorar.

Peggy reencontra Abe, o amigo de Joyce, e por mais que tentasse esquivar-se de assuntos políticos, ele teimava em trazê-los de volta à discussão, provavelmente tentando questionar sua profissão. Estratégia completamente errada, levando em conta aquilo que Peggy tem de enfrentar para ser respeitada na SCDP e não estaria disposta a abrir mão. Porém, essa conversa não deixa de abalar Peggy, que tenta forjar até uma equivocada semelhança entre os direitos civis dos negros e das mulheres. Se levarmos em conta o universo da própria série podemos perceber o quanto sua lógica está distorcida. Basta lembrar que o assaltante deve ser apenas o quarto personagem negro a aparecer com relativo destaque, se não me engano -- depois da empregada Carla, a namorada de Paul e o ascensorista. Pelo menos Peggy percebeu no momento certo que essa tentativa de parecer politizada só seria prejudicial a sua carreira, já que não é possível valorizar os ideais de seus clientes ao mesmo tempo que tenta defender seus próprios interesses.

Acho que não há quem não se comova com o pesado drama vivido por Joan nesta temporada. Agora sem a possibilidade de ter um filho e sem a presença do marido ao seu lado, o futuro de Joan é cada vez mais incerto. Roger aproveita este momento de fragilidade para pressioná-la a voltar a ser sua amante. Mesmo que não pudesse dedicar um capítulo de sua biografia a esse romance, ele garante que os melhores momentos foram passados ao seu lado. Joan chega até a ironizar sua própria condição, quando indaga se a esposa de Roger não seria a base de seu sucesso. Mas ela acaba cedendo aos seus agrados assim que tem seu anel roubado e vê sua vida passar por um triz. No dia seguinte, Joan responde mais uma vez de forma firme, tratando o assunto como uma página virada. Se parece impossível ignorar esses sentimentos, resta a Joan apenas lamentar por não poder corresponder às expectativas de Roger.
Não poderia concluir este texto sem prestar minha última homenagem a Ida Blankenship, que passou da condição de alívio cômico para sarcástica voz de sua geração. Se logo em sua estreia Randee Heller foi prejudicada pelo roteiro, sendo colocada nos momentos mais inoportunos do pior episódio dessa temporada, com seu talento ela foi construindo uma personagem fascinante, tão refém quanto Don Draper nessa tentativa de puní-lo. Numa de suas últimas participações, ela resume brilhantemente a publicidade como um ramo unindo sadistas a masoquistas. Nem sua morte repentina poderia passar desapercebida, resultando numa das mais hilárias sequências da série, com Joan tentando comandar os funcionários na remoção do corpo sem chamar a atenção dos clientes. Assim como já havia ocorrido com Joey pregando no vidro da sala de Joan o desenho pornográfico no episódio anterior e Peggy dando aquela espiada clássica em Don sobre a divisória das salas, esta sequência aproveitou muito bem novamente todo o visual transparente da agência. Certamente nenhuma outra série divertiu-se tanto com uma mudança de cenário como Mad Men. O obituário mostra também a opinião conflitante a respeito da jornada da secretária: para Cooper é sinal de conquista que ela tenha alcançado andares tão altos, para Roger é patético que ela tenha morrido diante de todos aqueles que serviu durante a vida, enquanto Joan faz questão de adicionar o termo "executiva" ao título de seu cargo. Além disso, Cooper revela que o parente mais próximo que restava a Miss Blankenship era uma sobrinha. Provavelmente nunca seremos capazes de completar sua história, mas não deixa de servir de aviso às mulheres que restaram no escritório também motivadas a priorizar suas carreiras antes de se tornarem mães. O episódio termina com uma cena brilhante em que as três garotas deste episódio se encontram e descem juntas de elevador, aproveitando seu último suspiro de valor antes das portas fecharem, mas já se mostrando prontas para enfrentar todo tipo de julgamento e olhares de indiferença com a cabeça erguida, assim que as portas se abrirem.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

sábado, 25 de setembro de 2010

[Fringe] 03x01 Olivia

por Alison do Vale


Como já era de se esperar, a terceira temporada de Fringe veio com tudo mostrando a repercussão da "troca de Olivias". Começou pra lá de empolgante e com muita velocidade. Não à toa o ambiente principal do capítulo é um Táxi em constante movimento.
Também agora temos uma personificação mais evidente do grande vilão da série: o "Walternate", como diz Peter. É dele que provém a ideia de que há uma guerra iminente e quem antes parecia apenas um homem desesperado por ter seu filho sequestrado de volta, a exemplo do final da temporada passada, se mostra extremamente consciente de seus atos e com aspirações ardilosas [como aprender como Olivia e os outros conseguiram se transportar para o "outro lado"].

O episódio todo [exceto a cena final] se passou no Universo Alternativo. Inclusive, a julgar pelas cores diferentes na abertura da série [vermelho] acredito que devemos ter uma alternância entre os universos exibidos em cada episódio.

Vemos a agente encarcerada pelo Secretário de Defesa. Mas a prisão em si é o menor dos problemas.
Dunham além de sozinha nesse universo desconhecido é submetida a uma série de injeções com a intenção nada mais, nada menos do que transferir as memórias da Olivia Alternativa para a prisioneira.

É nesse ponto que a história fica eletrizante com a fuga espetacular de Olivia que tenta, em vão, encontrar um caminho de volta pra casa enfrentando os agentes do lado inimigo enquanto luta contra a própria mente e a falsas memórias pululando em seu cérebro. Durante a perseguição somos também brindados, claro, com mais um vislumbre muito bacana da Terra Paralela. Os dirigíveis já característicos, bicicletas com design peculiar e alguns detalhes como um anúncio oferecendo "Vôos diários para a Lua" ilustram esse novo mundo e vão demonstrando as diferenças entre os 2 universos. Entre essas diferenças vale destacar a ausência da Massive Dynamics, reduzindo ainda mais as chances de Dunham retornar.

Quando o plano do Walternate parece ter falhado em convencer a agente do FBI de que ela não era de outro universo o acaso entra em ação e o inesperado acontece: a adrenalina liberada por ocasião da fuga, somada ao cenário criado [a tatuagem em sua nunca, por exemplo], bem como o encontro emocionante entre Olivia e sua mãe [morta na outra realidade] foram determinantes pra que as drogas se tornassem eficazes.

Parece que já desde o início o Lado Alternativo exibe alguma vantagem nessa "guerra", principalmente porque há novamente um infiltrado desse lado e dessa vez não é apenas um transmorfo mas Altivia; uma Olivia que em [quase] tudo se assemelha com a verdadeira. É cedo ainda, é verdade, mas até então ela não despertou nenhuma desconfiança entre o grupo e tendo a verdadeira Olivia fora-de-combate por enquanto Peter e os outros estão absolutamente vulneráveis.

E assim o que nos resta é confiar em Olivia, assim como aconteceu com o taxista, que mais do que nunca terá que encontrar forças pra combater um adversário que agora ela se esqueceu que tem.

Com um ótimo início de temporada focado bastante na mitologia da série, torço pra que os "freaks da semana" percam espaço e a história que é realmente importante e fascinante continuem dando o tom e conduzindo Fringe.

Imagens: reprodução

[Alison do Vale]
twitter: @menino_magro

[Being Erica] Apresentação

por Marcelle

Estava conversando com um amigo sobre Being Erica, e chegamos na definição "Bridget Jones do Canadá". Mas Being Erica não é uma comédia romântica em que a protagonista consegue o cara e vive feliz para sempre. É uma série sobre saber quem você é e o que quer da vida.



Being Erica começa com o pior dia na vida de Erica (Erin Karpluk), a protagonista. Aos 30 e poucos anos, solteira, desempregada, apesar do mestrado, ela é considerada pela família e por si um fracasso ambulante por conta das más escolhas que ela fez. Até o encontro com um cara que conheceu na Internet a decepciona, pois ele cancela. Tem até a manjada cena do banho de chuva, e para fechar todo o fracasso de Erica, ela sofre intoxicação alimentar e acaba internada.

É aí que a vida de Erica começa a mudar. No hospital, ela conhece Dr. Tom (Michael Riley), um psicólogo que se oferece para ser seu analista. E se esse convite é fora do normal, Erica descobre que os métodos do Dr. Tom é que não são nada ortodoxos. Através de uma lista dos maiores arrependimentos da vida de Erica, Dr. Tom faz com que ela reviva momentos chave de sua vida que gostaria de mudar. Literalmente. Sim, Erica volta ao tempo e modifica desde os momentos constrangedores, até acidentes que afetaram profundamente sua vida.

Esse é o sonho de, sei lá, 10 em 10 pessoas. Mas Erica acaba descobrindo que valeu a pena ter passado por certas situações, mesmo que no passado ela tenha sido bastante magoada. E que apesar de ter errado no passado, ela está vivendo outro momento, e pode agir diferente, já que há uma relação passado-presente.

Pode parecer que a série é meio auto-ajuda, mas não. Não tem nada de "aprenda com seus erros e seja feliz", não é um Pollyanna versão televisão. Se fosse, eu seria a primeira a não assistir. Se tem algum momento que a série se aproxima disso é por mostrar que a sociedade tem suas expectativas quanto à vida de alguém com 30 e poucos anos (casado, com uma carreira, bem sucedido), mas o que importa são as expectativas de cada um. Nunca é tarde para recomeçar, vide o season finale da segunda temporada, mas isso será comentado no post do episódio. Sim, eu farei resenhas de Being Erica, então me aguardem.


Outras observações:

- Tyron Leitso. Ele me chamou a atenção em Wonderfalls (outra série que só eu via), e foi uma boa surpresa ver ele aqui.


- O guarda-roupa da Erica. Sério, quero todas as roupas dela.

- Hit me baby one more time. Momento épico quando Erica declama a música em uma de suas viagens ao tempo.

- E ainda por cima tem um episódio que se chama "Erica, the vampire slayer". Não tem como não ver.

Fotos: Reprodução



Marcelle
www.twitter.com/marcellemml

terça-feira, 21 de setembro de 2010

[90210] S03E01 - Senior Year, Baby

por Rafael S


90210 voltou para sua terceira temporada mais movimentada do que nunca! Olhem só quantos acontecimentos: Harry Wilson se separando de Debbie e se mudando! Annie confessando seu crime à polícia e sentenciada a prisão domiciliar! Dixon voltando às pressas da Austrália por causa dos problemas em sua família! O quê, vocês não viram nada disso? Não se preocupem, nem eu, afinal nada disso foi mostrado. Sim, em seu pulo cronológico dos três meses de férias, vários plots da segunda temporada que ficaram inacabados foram resolvidos offscreen! Não existe nenhuma lei na televisão que obrigue uma nova temporada a começar imediatamente após a segunda, mas me pareceu um recurso no mínimo desonesto encerrar essas tramas na surdina só para abrir espaço para novas. A sensação é de que perdemos vários episódios nesse ínterim.

Feita essa "pequena" observação, vamos ao status dos personagens três meses depois: enfim a turma chegou ao último ano no colégio, Ivy voltando da Austrália com um amigo, Liam revoltado, Naomi traumatizada pelo abuso que sofreu, Adrianna fazendo sucesso em sua turnê com Javier, Liam magoado com Annie por ela ter se afastado dele e Dixon cultivando um protótipo de cabelo black power. E de cara já deu para sentir o novo clima da família Wilson. Com todos ainda sentidos pela separação, eles estão mais juntos como família do que jamais estiveram durante toda a segunda temporada, principalmente com os irmãos dando forças à mãe. Ainda que tudo isso tenha servido para aproximá-los, não dá para não lamentar a saída de Rob Estes da série, com certeza um dos atores mais carismáticos do elenco.

Um movimento claro desse season premiere foi de (ao menos tentar) recolocar Annie como a protagonista de direito da série. A Annie que encontramos três meses depois é diferente e mais madura. Ainda que sua relação com Liam tenha soado estranhada - brigaram em um primeiro momento, e depois trocaram uns beijos - de resto deu para sentir o quanto investiram na personagem nesse episódio. Em pouco mais de 40 minutos tivemos a "Annie irmã", "Annie filha", "Annie amiga, Annie com expectativa de se formar", "Annie disposta a assumir seus erros para seguir em frente". E pensar em quase toda a temporada passada, só pudemos ver a "Annie mulher de malandro do Jasper". Uma puta evolução da personagem. E com a misteriosa trama do estágio a envolvendo ("alguém desesperada o suficiente para fazer isso?"), é o sinal que a personagem não vai cair no ostracismo.

Enquanto isso, aquela que sempre deu um jeito de roubar a cena, Adrianna, também não fez feio. O capítulo não começou muito bem para ela, com o insuportável Javier deixando de ser apenas inconveniente para dar uma de vilãozinho e chantageá-la e ameaçá-la de sair da turnê...para instantes depois morrer em um acidente de carro. Taí um momento que me pegou de surpresa. Talvez tenham decidido vilanizá-lo de última hora para que ninguém sentisse sua falta, mas no fundo era um personagem tão fraco que não iria fazer falta de qualquer jeito. O desdobramento interessante da história foi o caderno de letras de músicas do rapaz que Ade tomou para si, e assim garantindo a continuidade do seu sucesso como cantora. Uma medida totalmente desesperada, que deve gerar uns conflitos intensos na cabeça já conturbada de Adrianna. Oh, e ela continua com Navid - mas nada que tenha influenciado o episódio, ele foi um grande zero à esquerda aqui.



Uma coisa que não mencionei até agora foi que o capítulo foi permeado de terremotos e tremores de terra. Não, a série não mudou de gênero bruscamente, continuou sendo um drama adolescente. Embora me tenham causado um estranhamento inicial, eles metaforicamente fizeram muito sentido pelos momentos que os personagens estavam vivendo. Como se esses tremores representassem estruturas antigas sendo remexidas, e trazendo memórias enterradas à tona novamente. Assim foi com Annie em sua entrevista de emprego e confissão. E também com Naomi, tentando sem sucesso seguir em frente depois de ter sido abusada no season finale passado. E quão simbólico não é quando ela vê o professor Cannon nos corredores da escola e um forte abalo se manifesta? Naomi se tornou um espectro do que era, uma pessoa vazia em busca de algo para preencher o espaço vazio. E os roteiristas não perderam tempo em enfiá-la em uma espiral de bebidas e sexo que só deve piorar em breve. O mesmo processo que Annie e Adrianna já passaram nas temporadas passadas (guardadas as devidas proporções das situações, é claro).

Infelizmente resolveram pesar a mão na ideia dos terremotos, e fizeram uma das piores cenas da série até hoje. Durante o tremor no colégio, um armário caiu em cima do joelho de Teddy, o que resultou em seguida em uma lesão que o afastou das quadras. Sim, a pior trama da série conseguiu ficar ainda pior, com o dramalhão atingindo níveis estratosféricos com o rapaz se lamentando pela interrupção da carreira e Silver ao seu lado completamente irreconhecível, se compararmos com a Silver da primeira temporada. Pra piorar, ainda apelaram para um daqueles mal-entendidos de novela no final do episódio de fazer corar de vergonha.

Deixei para falar por último da subtrama mais delicada criada nesse episódio, o casal Dixon e Ivy - na iminência de virar um triângulo com a chegada de Oscar (Blair Redford), amigo de infância da garota que veio estudar em Beverly Hills. É claro que Dixon imediatamente ficou enciumado, mas não sem razão, pois a própria Ivy já está babando pelo cara - o que proporcionou uma cena de sonho muito divertida. Oscar se mostrou um personagem bem divertido e interessante que deve movimentar bastante o namoro da amiga. Mas nada foi mais surreal do que a revelação que não só ele parece querer Ivy como tem também uma relação com a mãe dela! Tudo muito surreal, com Ivy levemente descaracterizada (ela não agiria assim na temporada passada), mas não deu para não ter curiosidade de onde tudo isso vai parar.



Senior Year, Baby varreu para debaixo do tapete muitas tramas (de modo até desonesto), mas teve acontecimentos suficientes para capturar a atenção do espectador pros próximos capítulos. É esperar que elas não decepcionem depois.

Fotos: Reprodução



Rafael S
http://twitter.com/rafaelsaraiva

[House] Por que "House" ficou ruim?

(Texto contêm SPOILERS de todas as seis temporadas da série)





Ano passado me comprometi a escrever sobre a 6ª temporada de “House” e falhei miseravelmente, comentando apenas os três primeiros episódios. Os motivos foram vários, mas um deles sem dúvida foi a total falta de estímulo com uma série cada vez menos interessante. Foi uma temporada fraca, de poucos momentos memoráveis, que curiosamente teve um episódio final muito bom, embora com uma conclusão nada promissora.

Não acredito que “House” volte aos bons tempos de suas primeiras temporadas. Tentarei resumir aqui o percurso que a série fez e quais motivos vejo como responsáveis pela baixa qualidade atual. Por isso, também não tentarei escrever sobre a nova temporada que começa esta semana. Não faz sentido, para mim, reclamar das mesmas coisas a cada novo episódio, ou citar as boas piadas, descrever o caso da semana e rir do último comportamento inusitado de House. Vários blogs farão isso melhor que eu. Mas escreverei sobre esta sétima temporada quando achar que devo.

Segue o (um pouco extenso) resumo crítico da série:


Autores de séries de TV sempre passam por conflitos que ultrapassam as histórias que criam: a recepção da audiência pode alterar em muito os planos originais. Se a série faz sucesso, pode se estender e resultar em tramas que não estavam previstas para acontecer (Prison Break); pode ultrapassar o material que lhe deu origem e seguir com suas próprias pernas (Dexter); os fãs podem até mesmo serem responsáveis por todo o fio condutor de um ano inteiro (a 3ª temporada de Nip/Tuck). E ainda tem os problemas diversos que podem surgir com o passar dos anos, que podem mudar as tramas de forma irreversível, como brigas e confusões no elenco (Lost, Grey’s Anatomy) ou mesmo a morte inesperada de um ator (The Sopranos).

Os autores de House passam pelo conflito mais interessante. Não só porque este conflito se renova a cada nova temporada, mas porque diz respeito à própria natureza da série, estrutura e protagonista: a necessidade de mudança e evolução naquilo que fez sucesso exatamente por não mudar e não evoluir.

É incrível o sucesso das primeiras temporadas de "House." Numa época em que as mais aclamadas e prestigiadas séries de TV exigem cada vez mais atenção e dedicação do telespectador, "House" adota uma estrutura clássica que permite que qualquer pessoa veja seus episódios sem necessidade de um acompanhamento rigoroso. Você pode ver um episódio qualquer da primeira temporada e depois ver outro do ano seguinte que não se perderá.

A estrutura quase sempre é a mesma: alguém manifesta um terrível sintoma na abertura do episódio (e com o tempo os roteiristas começarão a brincar com nossa expectativa sobre quem será o acometido da vez), o Dr. House e sua equipe tiram algumas conclusões precipitadas, tratamento é realizado, há uma piora considerável, diagnósticos são discutidos, paciente apresenta sintomas cada vez mais inusitados, novos diagnósticos, e acaba com House descobrindo a solução do problema, normalmente com uma epifania que surge de algum diálogo prosaico com um dos personagens. Os episódios funcionam como elegantes quebra-cabeças, como uma boa história de detetive, onde House usa a lógica de um Sherlock Holmes (são vários os aspectos na série que fazem alusão ao personagem de Conan Doyle) e nos entretêm com o processo investigativo.

Junta-se a isto a própria personalidade do protagonista, razão maior do sucesso da série. Grosso, mal educado, sarcástico e extremamente desagradável, Gregory House se tornou um dos maiores ícones culturais deste século. O personagem fascina tanto porque o incômodo que ele causa é na ordem moral das coisas. Ele não se importa para ideias pré-concebidas sobre o que é o Bem. Tão pouco pode ser visto como uma pessoa má. Se a moral dita em quê devemos acreditar, pensar e fazer, House não está inscrita nela, pois pensa e age de acordo com o que considera certo para aquela situação específica. Não há o Bem e o Mal em si. Com isto, implica que House acaba por não respeitar as normas de boa convivência e, livre das amarras que todos, um dia ou outro, já desejaram se libertar, cria esta enorme admiração que o mundo todo tem pelo personagem (pesquisa em 2008 apontou a série como a mais vista do planeta).

E então, por praticamente três temporadas a série funciona maravilhosamente bem se sustentando na força do seu personagem (sempre impressiona o brilhantismo dos diálogos, aliando humor e discussões filosóficas; e a atuação/presença de Hugh Laurie) e na estrutura dos roteiros que, para compensar o engessamento, nos traziam casos médicos incríveis.

Infelizmente, isso parece não ser suficiente para os autores (e espectadores?) que, aos poucos, começam a “movimentar” tramas e personagens, provavelmente pensando no bem e na verossimilhança de uma lógica narrativa e psicológica que pede por evolução constante. Esta lógica, que não deveria fazer parte da série, exige, por exemplo, que Dr. House não pode fazer tudo o que faz sem alguém que questione seus atos. E já na primeira temporada temos um novo diretor na Clínica que dificultará seu trabalho. No terceiro ano, teremos um policial que fará a vida do protagonista um inferno. Não por acaso, os episódios que envolvem estas tramas são os mais fracos até este ponto.

Mas o grande tiro no pé vem ao final da terceira temporada: na lógica “psicológica”, não parece mais ser aceitável que a equipe de House permaneça daquela forma, e então Foreman pede demissão, Chase é demitido e Cameron toma as dores de todo mundo e pede as contas. House começa o ano seguinte sozinho e a ideia aí (boa, aliás) é que mesmo ele precisa de um outro para fazer o que faz melhor. Na premiere da quarta temporada, House até pede a um faxineiro da Clínica, para especular possíveis diagnósticos para a paciente da semana.

O que temos em seguida é a escolha da nova equipe, com episódios bem divertidos, principalmente pela possibilidade de House conhecer, e provocar ao máximo, médicos com as mais diversas personalidades. E ainda demitindo-os, um a um. O mais interessante talvez seja a eliminação do melhor deles, um senhor que descobrimos depois que sequer tem licença médica. Claro que isso não seria um motivo pra House, e a justificativa é que eles pensam de uma forma muito parecida. É algo que está bastante presente na série: precisamos de um outro, sim, mas para que nos complete pela diferença e não pela semelhança.

Embora seja prazeroso acompanhar este arco da série, traz conseqüências desastrosas que duram até hoje: a contratação de Thirteen, Taub e Kutner só fez descentralizar e tirar de foco ainda mais o que sempre interessou na série, ou seja, House e as investigações médicas. Isso porque os novos médicos tornaram-se substitutos dos anteriores apenas na equipe de diagnóstico, com os autores da série incapazes de se livrarem de Foreman, Chase e Cameron. O resultado disto é que, a partir daí, os roteiristas passam a lidar com um grupo maior de personagens, arranjando dramas pessoais para cada um deles. E tome-lhe doença degenerativa para Thirteen, casamento problemático para Taub, romance entre Foreman e Thirteen, etc. E com isso, cada vez mais freqüente o péssimo recurso de fazer um paralelo entre o paciente da semana com os dramas vividos por um dos personagens. A série que fazia sucesso com uma fórmula simples começa a dar espaço para elementos que pouco importam.

Enquanto a estrutura vai sendo corrompida, o protagonista vive seu próprio dilema existencial. Porque se House é o desordeiro, que causa mal estar, ele precisa ser domesticado, se adequar à norma. O grande desafio dos autores da série está em colocarem seu protagonista em verdadeiras provas de fogo, mas fazê-lo passar ileso, sem mudanças. House não pode mudar, porque se deixar de ser House, qual seria o sentido da série?

No entanto, na lógica que impera, tramas e personagens precisam se desenvolver, evoluir. E é neste paradoxo que a série se enfiou, com situações que mobilizam House cada vez mais. Um investimento exagerado na relação entre ele e Wilson (final da quarta temporada), no vício de vicodin (final da quinta temporada), no interesse amoroso por Cuddy (as duas últimas temporadas). Tudo forçando uma mudança em House que nunca vem. E nem poderia.

O problema é que se quer seguir uma suposta verossimilhança, inserindo falsos dramas, pois logo a série retorna ao seu status quo. Basta lembrar que toda a baboseira psicológica vista na premiere da sexta temporada (“Broken”, criticado negativamente aqui) é ignorada pela série por quase 20 episódios, sendo retomada apenas na reta final para resultar no mote deste novo ano (House e Cuddy se amando). House não mudou nada no sexto ano e os episódios só não foram tão bons por conta do excesso de personagens, conforme já discutido (e uma dose de humor “over”, onde o marco talvez esteja na quarta temporada no episódio em que um paciente “mimetiza” a personalidade de quem está por perto). Tanto que o melhor episódio da temporada foi mesmo o finale “Help Me”, onde temos apenas o protagonista durante todo o tempo, mostrando que a série não precisa de mais nada.

Por tudo isto, a série deixou de ser aquele entretenimento inteligente das primeiras temporadas e virou um pastiche de si mesma. Era original usando o mais simples e banal dos formatos, e passou a ser apenas mais um entre vários dramas que investem em romances e relacionamentos complicados, por conta de uma necessidade (inventada) de evolução e desenvolvimento de personagens. Justo “House”, a série cujo protagonista nunca foi fã de convenções.




Hélio Flores
twitter.com/helioflores

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

[Mad Men] 4x08 The Summer Man

Com a chegada do verão de 1965 e a mudança de clima, Don Draper finalmente sente a necessidade de também mudar. Nadar, inspirar, expirar. Aproveitar o silêncio confortável quando imerso. Apreciar novos perfumes e sabores. Enfim Don Draper sente-se livre, até mesmo quando dormindo, estirando-se na cama como se estivesse voando em uma asa-delta. A mudança mais significativa, até no tom da própria narrativa, talvez sejam as palavras escritas em seu bloco de notas, procurando entender melhor suas impressões do mundo. Confesso ter certa resistência com esses voice-overs pontuando cada ato, mas entendo como sendo um exercício (e não uma "muleta") para o protagonista. A medida que vai desintoxicando seu corpo, evitando a constante embriaguez, Don passa a ganhar uma maior clareza, sensibilidade. Até um breve convite para apreciar uma bebida gera um efeito de vertigem, através do conhecido dolly zoom de Hitchcock. Mas não espere que será mais fácil desvendar Don Draper neste estado sóbrio e revelando o que se passa em seu interior. Logo de cara ele já alerta para sua pouca habilidade com as palavras, que se traduz no frequente uso de taglines publicitárias ao longo de suas memórias. Finalmente ele tem de encarar as consequências do final de seu casamento quando encontra Henry e Betty num jantar e acaba forçado a buscar suas últimas coisas na antiga casa. Don abandona todas essas lembranças no primeiro lixo que encontra pela cidade, como se quisesse esquecer de todos aqueles anos perdidos. Mas depois de ouvir os conselhos de Faye Miller, ele passa a reconsiderar e provavelmente valorizar aquilo que ainda é capaz mudar: o futuro de seus filhos. Nada mais admirável do que este homem independente aparecer na festa do pequeno Gene, enfrentar os olhares mais suspeitos dos antigos vizinhos e se mostrar disposto a reverter a condição confusa e desesperadora de seu nascimento.

Por outro lado, Betty não pode nem sonhar em desfrutar desta mesma independência, como bem reforçou a primeira visita nesta temporada de Francine, a vizinha que serve de voz para o pensamento da sociedade suburbana da época. O que parece despertar todo esse ódio em Betty é a impressão de que seu ex-marido estaria "vivendo a vida" mesmo enquanto ela ainda mantém a família unida, razão que deveria causar em Don a mais profunda depressão. Nem é preciso dizer o quanto Betty é imatura, até mesmo quando repreendida por Henry pelo mesmo motivo, mas não deixa de ser compreensível sua reação no restaurante diante da digressão de Don com uma versão mais nova de si mesma. Se por um lado ela se sente ferida por ser tão facilmente substituída, por outro lado se esquece que foi a primeira a buscar por um substituto para seu próprio marido. Mas assim que Don aparece de repente na festa do filho, Betty sente certo alívio por reconhecer a preocupação dele com a única coisa que ainda tem em seu poder. E para Betty isso já é suficiente para ficar com a falsa impressão de ter tudo na vida.
Porém, Betty não foi a única mulher a enfrentar problemas com o sexo oposto neste episódio. Na SCDP, aquela tensão existente entre Joan e Joey desde o início da temporada finalmente veio à tona agora. Joey abusa de sua condição de freelancer para não se prender às antigas e burocráticas convenções de trabalho. Até mesmo sua perplexidade ao ser demitido por Peggy demonstra uma tendência a tratá-la de igual para igual, encarando esta decisão como uma traição a sua amizade. Mas fica impossível justificar qualquer uma de suas pesadas brincadeiras e principalmente a denúncia de que Joan andaria pelo escritório pronta para ser estuprada. Além disso, essa lembrança chega numa péssima hora para ela, justamente quando deveria aproveitar os últimos momentos ao lado de seu marido, preparando-se para ser enviado a um treinamento de guerra. Se já era frustrante perceber que estava perdendo a influência dentro do escritório, Joan chega a se desesperar por sua vida pessoal também estar saindo de seu controle e se sentir cada vez mais sozinha. Quando Joan enfim decide responder à altura, com um discurso atacando o orgulho daqueles rapazes, descarrega também todas as suas frustrações em relação à guerra no Vietnã. Por isso, em qualquer outra série a demissão de Joey seria vista como o triunfo final para essas mulheres. Mas em Mad Men basta um simples encontro de Joan e Peggy no elevador para essa situação transformar-se num delicado anti-clímax. Ponderando sobre a influência dessa decisão precipitada de Peggy, Joan está certa em concluir que ela acabava de admitir tudo aquilo que os outros funcionários desconfiavam. Talvez essa demissão poderia ter sido contornada com atitudes mais sutis e persuasivas para obter os mesmos resultados, conforme a fábula de Aesop citada por Faye Miller durante seu primeiro encontro com Don.

Interessante como Don decide adotar este mesmo método cauteloso para tentar conquistá-la. Depois de ter sido rejeitado por tantas vezes, e ouvir por acaso a discussão acalorada com seu ex-namorado, basta um convite providencial para Don acabar recompensado com um encontro de verdade. Faye não é um mero passatempo como Bethany, aquela que espera ansiosa pelo próximo chamado de seu pretendente. Ela precisa de cuidados. Por isso, é sinal de clareza que Don consiga se adaptar, surpreender oferecendo seu casaco e até recusar uma proposta de selar esse encontro. Afinal, Don Draper está disposto a saborear até seus novos relacionamentos. Ou simplesmente porque prefere continuar dormindo sozinho mesmo. Se todas essas mudanças serão duradouras e suficientes para uma redenção ainda é muito cedo dizer. Principalmente porque mesmo que se esforce para adquirir a velha forma há sempre alguém já preparado para uma próxima volta.

Confira também o texto do Hélio Flores para esse episódio.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

domingo, 19 de setembro de 2010

[Fast News] Andy Whitfield deixa Spartacus para voltar ao seu tratamento contra o câncer

por Rafael S


Notícia triste. Conforme foi noticiado anteontem pela coluna News Brief da Entertainment Weekly anunciou que Andy Whitfield, protagonista de Spartacus: Blood and Sand, deixará a série para voltar ao seu tratamento contra o câncer. Pensava-se que o ator, diagnosticado com Linfoma não-Hodgkin no início do ano, já havia se recuperado, tanto que ele já havia iniciado o treinamento físico para entrar em forma para as gravações da segunda temporada, mas essas novas notícias pões uma grande interrogação acerca do futuro da série.

A produção da segunda temporada já havia sido adiada - um dos motivos da prequel Spartacus: Gods of the Arena ter sido planejada. A prequel terá duração de seis episódios e será sobre os primeiros dias no ludus de Batiatus, com os atores John Hannah (Batiatus), Lucy Lawless (Lucretia), Manu Bennett (Crixus) e Peter Mensah (Doctore) reprisando seus papéis. Marcada para estrear em janeiro de 2011, foi uma boa saída para justificar a ausência de Andy por causa do diagnóstico da doença - mas agora com seu tratamento sendo estendido, o destino da segunda temporada fica terrivelmente ameaçado. A emissora Starz já divulgou um comunicado declarando apoio total ao ator desse momento difícil, e ainda não chegou a uma decisão sobre qual saída tomar.

Mais triste que a possibilidade do cancelamento de uma série que gosto tanto é essa difícil batalha que Andy vem travando contra o câncer. Que assim como seu personagem, ele tenha a força de um gladiador para vencer mais esse horrível adversário. Esses são meus votos e de todos os fãs de Spartacus: Blood and Sand. Vamos torcer.

Foto: Google Images



Rafael S
http://twitter.com/rafaelsaraiva

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

[Mad Men] 4x07 The Suitcase

"There's a way out of this room we don't know about."

Não é de hoje que Don e Peggy tem um profundo relacionamento vinculado ao trabalho. Basta lembrar que no final da temporada passada, Don Draper fez uma inusitada declaração de amor profissional à sua funcionária para convencê-la a unir-se à nova empresa. Naquela ocasião, destaquei a forma como ele se posiciona diante de Peggy, sentado numa atitude reparadora, que é repetida aqui na maioria das visitas dela à sala do chefe. Depois de atingir na semana passada a máxima frustração com a conduta cada vez mais desastrosa de Don, Peggy sente-se à vontade para responder de igual para igual ao seu chefe e gera momentos de tensão durante todo o episódio. O que acompanhamos são ambos presos no escritório tentando resolver suas diferenças e aprimorar alguns laços pessoais, dando a oportunidade perfeita para Jon Hamm e Elisabeth Moss brilharem ainda mais. Torna-se óbvio e até limitado demais tentar reforçar os elogios à atuação dos dois. Essa situação de "clausura" logo me lembrou o episódio "Fly" desta última temporada de Breaking Bad, até na estranha presença de um rato na sala de Don. Porém, ao contrário da série de Gilligan que frequentemente se apoia nas causalidades do destino, são as próprias motivações dos personagens que não permitem que eles abandonem o escritório. Mesmo com uma das lutas de boxe mais importantes do século acontecendo naquela mesma noite, ambos continuam buscando por distrações dentro do escritório. Don exige até o impossível de Peggy na campanha para a Samsonite, tentando adiar ao máximo o indesejado telefonema para a Califórnia, enquanto Peggy tenta provar seu valor, evitando o jantar romântico ao lado de seu namorado (que também preferia ver a luta de boxe), transformado numa desagradável festa surpresa com sua família.
Após fazer Peggy chorar com uma de suas broncas mais cruéis, Don Draper só volta a estabelecer este vínculo ao encontrar uma fita com as hilárias memórias ditadas por Roger. A partir deste voto de cumplicidade para guardar este segredo, a relação dos dois vai sendo reparada passo a passo, até mesmo longe das divisórias da SCDP. Don chega a falar de sua época na guerra da Coréia e Peggy revela toda sua insegurança na relação com os homens. Talvez o momento mais íntimo seja quando ambos relembram terem presenciado muito cedo a morte de seus pais. No entanto, é necessário impor certos limites e o roteiro é muito eficaz neste sentido, tanto quando Don decide manter em segredo a identidade de Anna -- e consequentemente sua vida pré-guerra -- como Peggy sinalizando trazer de volta o assunto gravidez até decidir mudá-lo antes de revelar quem seria o pai de seu filho. O mais interessante é como esse episódio recupera grande parte das tramas desenvolvidas na temporada, como todas as implicações do abuso do álcool -- a mais notável delas através da aparição vergonhosa de Duck -- ou o drama da secretária Allison. No detalhe provavelmente mais engraçado, através das memórias de Roger descobrimos a identidade do Dr. Lyle Evans, aquele que ele ensaiava chamar na reunião para provar que Cooper não teria, literalmente, culhões para reagir à "invasão" dos japoneses em The Chrysanthemum and the Sword. Genial.
Na manhã seguinte, presenciamos o momento mais afetuoso entre Don e Peggy até hoje, quando ele aperta sua mão e com um simples olhar transmite toda sua admiração. Uma conclusão perfeita se lembrarmos do constrangedor toque de mão ainda no episódio piloto, quando a ingênua Peggy confunde as instruções passadas por Joan. Apesar de criticar (de maneira hipócrita, diga-se) a postura de Muhammad Ali, Don entende o quanto aquela imagem do lutador em pé gritando para o adversário se levantar é de forte apelo ao público. Talvez nem seja sua ideia mais brilhante, tanto é que Peggy parece rejeitar logo de cara, mas o aperto de mão simboliza também sua confiança na garota. Até então Don tinha um domínio bem maior sobre a vida de Peggy, principalmente em relação a sua gravidez secreta. Mas a partir do momento que Don Draper mostra-se fragilizado diante dela e confia seus segredos, ambos passam a ter uma relação mais equiparada. Peggy responde com um olhar tolerante, talvez tudo o que Don procurava após perder a única pessoa que lhe amou incondicionalmente. Algo semelhante aconteceu na temporada passada, quando Don revelou todo seu passado a Betty, que apesar de perdoá-lo, decidiu mesmo assim seguir com o processo de separação. Claro que ele não espera por uma decepção parecida, mas cabe apenas a Peggy perdoar e esquecer as desavenças dos últimos episódios. É afinal o convite para se estabelecer um compromisso, não apenas através de uma simples paixão, mas sim motivados pela admiração mútua.

"Open or closed? – Open."

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

[The Wire] 1x13 - Sentencing

E chegamos ao final da brilhante Primeira Temporada de "The Wire", concluindo apenas uma etapa da maratona que ainda deverá cobrir mais outras quatro temporadas desta que é considerada uma das melhores séries de todos os tempos.


1x13 - Sentencing



"All in the game..." - Traditional West Baltimore


Uma das coisas mais fascinantes deste season finale é a capacidade que os autores da série tiveram em “revisitar” toda a temporada. Diálogos, situações, esclarecimentos. Muita coisa é retomada, mas sem com que isso trave o desenvolvimento narrativo, que as coisas sigam adiante.


Há uma noção bem clara de repetição (Poot assume posição e falas de D’Angelo; Bubbles volta às drogas e roubos; Stringer continua com os negócios; Omar volta a fazer o que faz melhor), ao mesmo tempo que nos traz um encerramento altamente satisfatório ao notarmos que, embora o movimento pareça cíclico, os personagens foram afetados de maneira irreversível – o jogo continua, a guerra não acaba, mas as peças já não são como eram antes e, seja lá o que venha na segunda temporada, não é possível para os autores (e nem deve ser a intenção) manter o status quo.


Claro que encerramento satisfatório não significa o mesmo para alguns personagens: toda a investigação do destacamento resulta em penas brandas para Avon, McNulty vai parar onde não gostaria de ir (como já havia dito no piloto e, episódios depois, alertado por Lester), Daniels não consegue sua promoção por fazer o que considerava certo, Greggs continua no hospital. O FBI mostra-se uma instituição tão desinteressada nos casos de drogas, quanto Burrell mostrou-se um obstáculo na investigação do dinheiro. A América anunciada no piloto de The Wire chega aqui ao seu ponto mais pessimista e trágico.


Esta crítica feita pela série encontra ressonância na forma como dá peso à violência dos atos da gangue de Barksdale. A estupenda seqüência em que D’Angelo se oferece para entregar o tio tem aquele momento em que relembramos todos os homicídios da temporada, com uma advogada devidamente horrorizada com o que vê. E que força dramática tem a foto de Wallace, por tudo que conhecemos dos acontecimentos...


Esta seqüência, que culmina no discurso de D’Angelo sobre a falta de opções e liberdade do meio violento onde cresceu, é a mais emocionalmente forte do episódio, juntamente com o encontro entre McNulty e Greggs. São momentos cuja carga dramática é intensificada (para além das grandes atuações de Gilliard Jr. e Dominic West) por toda a construção e relação entre personagens, cuidadosamente realizadas durante toda a temporada. Da mesma forma que é totalmente compreensível que alguém como D’Angelo mude de idéia após ouvir de sua mãe o discurso sobre a importância da família.


Além de encerrar a temporada de forma brilhante, a curiosidade sobre o que virá a seguir é enorme, mesmo que não tenha acabado com um cliffhanger. Isso se deve pela separação da maior parte dos personagens (alguns na prisão, outros em funções diversas) e “The Wire” já provou que não trabalha na chave da conveniência do roteiro. Ou seja, não me parece que Avon e D’Angelo simplesmente fugirão da cadeia, ou que McNulty voltará para a Homicídios, e que toda a turma se reúna novamente para tentar desmontar o esquema de Stringer. A série é cuidadosa demais com detalhes, com um desenvolvimento realista dos acontecimentos e, apesar de eu já saber que alguns personagens permanecem até a quinta temporada, é estimulante pensar no que os autores planejaram para criar mais situações e temporadas completas que fascinaram tanta gente.


A viagem, até aqui, foi incrível e está apenas começando. Vamos à segunda temporada.




Hélio Flores
twitter.com/helioflores

terça-feira, 7 de setembro de 2010

[Mad Men] 4x06 Waldorf Stories

"Who claps for themselves?" – Stan Rizzo

Reconhecer seus próprios méritos é sempre importante, ainda mais num ramo criativo e competitivo como a publicidade. Afinal, sem confiança em si mesmo, não há como superar barreiras ou tentar desafiar o esperado. Mas por maior que seja a modéstia, reconhecimento público é sempre bem vindo para quem já busca afirmação no mercado (veja só o tema particular/público aparecendo novamente). Ainda que Don Draper dissesse que um Clio não faria diferença em seu trabalho, a apreensão poucos segundos antes de seu anúncio, retratada na foto acima, e a insana comemoração em seguida revelam que esse reconhecimento seria ao menos um alívio na sua conturbada vida pessoal. Não foi à toa que esse (meta-)episódio foi ao ar exatamente no dia em que Mad Men venceu pela terceira vez seguida o Emmy de melhor série dramática -- o que me faz questionar ainda mais a qualidade do episódio anterior como eventual tapa-buracos. Se por vezes Don Draper parece dar voz a um discurso do próprio Weiner, fico bastante satisfeito que a série aproveite essa oportunidade para embarcar ao lado de seu protagonista a uma verdadeira descida ao fundo do poço. Após vencer o Clio, Don Draper deixa o orgulho e a bebida subirem à cabeça partindo então para arruinar sua apresentação para os cereais Life. A começar pela patética volta olímpica puxada por Roger, Don não aceita ter sua ideia inicial rejeitada pelo cliente e começa a improvisar disparando os maiores clichês publicitários. Até que a frase repetida exaustivamente nos trabalhos do pateta que Roger queria contratado (primo de sua esposa) é aceita pelo cliente. Parece que o subconsciente de Don (Dick Whitman?) esperava apenas por uma brecha para pregar uma peça. Mas não seria este pequeno intervalo que faria a comemoração terminar ou diminuir de intensidade. Mesmo após tomar outro fora de Faye Miller, Don Draper leva duas outras mulheres (ou quem sabe até mais) para sua cama ao longo do final de semana. Sem nem saber o nome de nenhuma delas, ele só retoma a consciência dois dias depois, sendo acordados aos berros por um telefonema de Betty, cobrando por ele não ter aparecido para cuidar dos filhos. Se até o episódio anterior Don Draper orgulhava-se de pelo menos cumprir com todas as suas obrigações como pai, agora não resta nem mais esse motivo para se apegar.

Além de representar o momento de apreensão, essa imagem de Roger, Joan e Don de mãos dadas por baixo da mesa também simboliza este vínculo oculto entre os três, que aparece revelada através dos flashbacks do primeiro contato de Roger com Don. Desde a fundação da SCDP, Roger é quem tem sido mais subestimado pelos seus sócios. Apesar de ainda ser importante para manter o vínculo com a Lucky Strike, sua presença na agência é resumida em fazer social com clientes ou arrumar material para escrever sua própria biografia. Além disso, Roger sempre se orgulhou de ter descoberto Don Draper, mas descobrimos que mesmo com milhares de oportunidades para ter seu trabalho avaliado, Don só conseguiu iniciar sua carreira a base de muita insistência. E com um certo truque, digamos assim. Mas depois de usar indevidamente a única ideia do novato Danny Siegel (Danny Strong, uma das escalações mais inusitadas da série, conhecido como o Jonathan de Buffy e o Doyle de Gilmore Girls), Don Draper se vê obrigado a contratá-lo e assim determinado a repetir os mesmos equívocos de Roger. Mad Men sempre apostou no estabelecimento destes padrões, até como uma forma de evitar deixar seus temas datados. Neste episódio além da sucessão na SCDP, somos constantemente lembrados do abuso do álcool, até com outra constrangedora participação de Duck Phillips.
Assim, com a ausência dos mais experientes, sobra toda a responsabilidade para os garotos prodígio da agência, Pete e Peggy, que também buscavam alcançar o devido reconhecimento. Pete era o único sensato/sóbrio o suficiente para sugerir que adiassem a apresentação aos clientes da Life. E ele nem precisou ouvir um discurso de Don para perceber o potencial desastre. Depois de ficar sabendo que tramavam a contratação de Ken Cosgrove pelas suas costas, Pete vem cobrar de Lane o mesmo respeito que os outros sócios. E dessa mesma maneira, durante sua conversa franca com seu antigo desafeto, Pete mostra que somente através do respeito mútuo essa nova hierarquia poderia funcionar. Já Peggy merece um capítulo à parte nesta temporada, cada vez mais se tornando a personagem preferida do público. Ainda que ela tentasse alertar de todas as formas possíveis o erro de Don Draper, a única coisa que ela recebe em troca é uma reclusão ao lado de um diretor machista num mesmo quarto de hotel. Peggy parece cada vez mais incomodada pelas constantes ameaças de Stan Rizzo ao seu conservadorismo, até que decide finalmente responder ao seu blefe. E a partir daí, com ambos nús, ela vira o jogo apostando na irresistível sexualidade feminina. Mais uma vez Peggy percebe que não vale a pena tentar encarar os homens de igual pra igual, mas sim explorar seu diferencial. Chama atenção também seu ressentimento na campanha da Glo-Coat por não reconhecerem seu devido valor, tornando-se ainda mais intrigante por nunca ter sido abordado seu desenvolvimento, permanecendo até então "fora da tela" -- assim como o apagão de Don por dois dias ou seu sorriso triunfal ao subir o elevador. Se até então Peggy era tratada como uma extensão do próprio Don Draper, sua perplexidade ao ter de providenciar a contratação do novato, representa sua mais profunda desilusão com o chefe. É aquela desilusão de quem acaba de perceber que seu superior pode não ser tão competente ou genial como se esperava, algo que qualquer um é capaz de se identificar. Como disse anteriormente, mérito para mais uma vez explorar um tema universal, capaz de se repetir naquela época, hoje mesmo ou até no futuro.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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domingo, 5 de setembro de 2010

[The Mentalist] Review 1a e 2a temporadas


Por Danielle M

Olha, pra falar a verdade nem é um review mesmo, são algumas observações sobre a 1a e 2a temporadas de The Mentalist - aka - O Mentalista (SBT).

Comecei a prestar atenção na série após a indicação de Simon Baker, o adorável canastrão (hahah) ao Emmy de melhor ator em série dramática. Pra vocês verem como Emmy chama, povo.

Depois de todo aquele suspense sem fim de Lost, queria uma série leve, porque né? Tem até algum suspense que juro para vocês que nem me envolve tanto, o tal do Red John, a única coisa que tira o sorrisinho de Patrick Jane.

Se você ainda não viu The Mentalist, pode acompanhar a 3a temporada sem medo - e sem precisar ver as anteriores - que é uma série bacaninha, despretensiosa, com um elenco meio doido e de semi conhecidos, a excessão do então chefe de CBI, que já deu expediente em 24 horas como o presidente Logan, o próprio Baker e a agente Lisbon, Robin Tunney, uma notória atriz de papéis malucos no cinema americano, ela esteve inclusive no clássico Empire Recors, aquela que raspa a cabeça? Pois é!

Na 1a temporada somos apresentados a ele, Patrick Jane, o cara é um daqueles videntes fajutos, não tinha poderes especiais, porém é muito bom em "ler" as pessoas, seus gestos, entonação, essas coisas que já foram apresentadas com mais profundidade, destreza e inteligência em Lie To Me, mas o protagonista -  Tim Roth -  é tão chato que quase ninguém teve paciência para continuar acompanhando.Apesar de ser uma série bem bacana e muito mais intensa que Mentalist.

Querendo bancar o engraçadinho sabichão num programa de TV, Jane fala horrores do serial killer que aterroriza a Califórnia, Red John. Em contrapartida, o assassino mostra do que é feito a crueldade: extermina a família de Jane.

Movido a melhor substância de encorajamento, a vingança /clichê , Jane entra para a CBI como consultor, fechando todos os casos, fazendo com que a equipe super cool da Agente Lisbon sirva apenas como escada. Mas olha, eles são tão figuras que a gente se afeiçoa e perdoa a falta de ação. Têm ótimos episódios nesta temporada, alguns muito engraçados. A season finale da 1a temporada é devagar e não deixa um bom gancho.

Mas a partir da 2a, quem se interessa por Red John e aquele maldito smile que ele deixa na parede, tem bons momentos pela frente. Inclusive um encontro face-to-face na eletrizante season finale.Na 2a temporada os episódios são mais pesados, aquele climinha meio non sense não predomina e há aquela óbvia evolução dos personagens, quando passam a ter suas próprias histórias na trama. Finalmente o casal tartaruga Van Pelt e Rigsby ficam juntos, apesar das constantes DR, eu curto e acho fofo! Nesta temporada  também temos a entrada - e saída, hohoho- de alguns personagens. O chefe de Lisbon , presidente Logan (Gregory Itizin), resolve jogar a toalha ( juro que achava que ele era o Red John ) depois da morte de Sam Bosco a mando de Red John. Sam Bosco, aliás, tinha um crush por Lisbon, o que também nos faz perceber o ciuminho de Jane, levando a parte da torcida audiência ter aquele sentimento shipper bonito de se ver. Bom, mas o triângulo nem dá tempo de ser formado, Bosco sai de cena, mas nem senti falta porque sempre vou lembrar do Terry Kinney em Oz e olha, tenho MEDO dele!



Então é isso. A partir de agora vamos acompanhar também The Mentalist , que retorna a TV americana no dia 23 de setembro. No Brasil a série é exibida pela Warner.



/dannamagno

**Fotos: reprodução Google Images
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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

[The Wire] 1x12 - Cleaning Up

Continuando a maratona "The Wire", breves comentários (com spoilers) do penúltimo episódio da brilhante Primeira Temporada:


1x12 - Cleaning Up


"This is me, yo, right here." - Wallace


Este deve ser um dos episódios mais marcantes de toda a série, ao confirmar as expectativas de que Wallace não iria durar muito. Cruel, impactante, triste. Poucas pessoas morreram nesta temporada, e apenas Stinkum que vimos no momento de sua morte. Aqui, somos dolorosamente obrigados a acompanhar a decisão, o planejamento, os momentos que antecedem a súplica de Wallace, enquanto molhava as próprias calças. Pior: executado pelos seus dois amigos, Poot e Bodie. Ainda mais forte pelo peso da decisão destes dois, trêmulos, um pouco hesitantes, mas conscientes de que só assim para fazer parte do jogo.


A morte de Wallace faz parte da limpeza feita por Avon e Stringer, que cautelosos e espertos como sempre, sentiram a necessidade de mudar todo seu esquema, após a descoberta de seu esconderijo principal, o que incluía eliminar qualquer pessoa que pudesse lhes prejudicar. Mais uma vez, as decisões dos personagens vão além da necessidade e conveniência do roteiro: a segurança que testemunha a favor de D’Angelo no piloto nunca esteve na mira da polícia e sequer voltou a aparecer na série desde seu testemunho; no entanto, é um desenvolvimento natural e verossímil que seja assassinada agora (por outro lado, lamentei que McNulty e Daniels não foram tão espertos, pois ao procurarem por Wallace não lembraram de como o garoto falou bem de D’Angelo. Se tivessem procurado por D, talvez a tragédia fosse impedida).


Com a mudança dos pagers, a orientação de não mais usar os telefones públicos e o abandono do Orlando´s, não sobrou muito para o destacamento, obrigado a prender Avon e D’Angelo com acusações menores, deixando Stringer solto – e que contraste a tentação de McNulty, no alto da escada, em eliminar Stringer ali mesmo, com a decisão de Poot, bem antes no episódio, em eliminar Wallace, antes de subir a escada, com Daniels e Bodie em lados opostos das respectivas seqüências.


Este penúltimo episódio resolve tantas coisas, que fica difícil imaginar qual será a direção do season finale, exceto pensar que D’Angelo poderá ter participação maior e preocupante para seu tio (grande momento de Larry Gilliard Jr. ao confrontar Stringer sobre Wallace).


Por fim, importante ressaltar que as informações que McNulty recebeu do FBI sobre Daniels estavam corretas, mas ficamos sabendo disto no mesmo momento em que o Tenente finalmente desafia a autoridade de Burrell. Com as mortes de Brandon, Wallace e a situação de Greggs, Daniels tem levado a investigação cada vez mais para o lado pessoal, e agora já está disposto a perder toda sua influência política para acabar com Barksdale. Seu confronto com o senador é muito bom, e a ameaça feita a Burrell deve lhe garantir ainda algum tempo neste destacamento. Gostaria apenas que Burrell tivesse algum momento que nos fizesse admirá-lo por qualquer motivo que seja, tal como ocorreu com Rawls no episódio anterior. Da forma como está, Burrell é o personagem mais irritante, com suas constantes ordens que só atrapalham as investigações, sendo o vilão da série, mais até do que Avon ou Stringer.




Hélio Flores
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