quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

[Extra] Melhores episódios de 2010

Não há nada melhor nesta época de retrospectivas do que as já tradicionais listas de final de ano. Uma de minhas preferidas -- pouparei vocês da minha lista de listas favoritas -- é a que compila os melhores episódios do ano na televisão, seja pela importância durante toda a temporada ou por formarem uma unidade coesa durante sua breve duração. Algumas tentativas anteriores podem ser relembradas nas listas de 2007 ou 2008. Claro, são escolhas extremamente pessoais, até porque estão limitadas apenas àquilo que assisti, portanto servem muito mais como um exercício de listar do que como um guia definitivo. Desta vez, resolvi utilizar um critério diferente e escolher apenas um episódio por série, principalmente para deixar a lista mais enxuta e justa. Afinal, uma lista de dez poderia ser facilmente preenchida apenas com episódios de Mad Men e Breaking Bad, de longe as melhores séries em exibição atualmente. Mas, com certeza, uma lista assim não faria jus ao excelente ano que pudemos acompanhar na televisão, com boas estreias e muitas séries veterana encontrando de novo sua boa forma. Sem mais delongas, vamos à lista:

12. Friday Night Lights
"I Can't"


A quarta temporada ficou marcada pela mudança de rumos da série: de lados da cidade, de time e até elenco. Confesso que demorou um pouco até que esses novos elementos engrenassem, mas episódios como esse mostram a competência dos roteiristas em considerar todos os problemas que atingem seus personagens e oferecer conclusões a cada um deles. Seja a indesejada gravidez de Becky ou a frágil condição da mãe de Vince, Friday Night Lights nunca deixa ninguém desamparado e assim continua sendo o retrato mais justo da adolescência a ser exibido na televisão.
Outros destaques: "Laboring", "Kingdom".


11. Chuck
"Chuck vs the Honeymooners"


Sempre fui fã dos episódios mais "leves" de Chuck, que conseguiam lidar com as limitações de seu protagonista, sem precisar envolver grandes conspirações ou manobras. Além do excelente trabalho de composição deste episódio ao situá-lo na Europa -- sendo praticamente todo gravado em estúdio --, o grande acerto veio da relação de Chuck e Sarah, cercada de dúvidas agora que havia finalmente sido consolidada. Durante toda a viagem de trem o casal não demonstrava nenhum receio pelo futuro, apenas apreciava a companhia um do outro até para concluir uma inesperada missão, algo que no atual momento da série só nos faz relembrar com saudades daquela intensa lua-de-mel.
Outros destaques: "Chuck vs the First Class", "Chuck vs the Other Guy".


10. 30 Rock
"Anna Howard Shaw Day"


Nem preciso dizer o quanto a quarta temporada de 30 Rock começou frustrante. Já esta quinta temporada tem mantido uma regularidade tão boa que seria capaz de escolher qualquer um de seus episódios para entrar na lista. Porém, preferi escolher "Anna Howard Shaw Day" porque representa seu grande ponto de virada para essa recuperação. Em mais um episódio especial de dia dos namorados, Jack tem seus primeiros encontros frustrados com Avery, enquanto Jenna está preocupada com a falta interesse de seu stalker, vivido por Horatio Sanz. Já Liz se submete a uma operação de canal e como resultado da anestesia acaba imaginando seus três ex-namorados atendendo no consultório.
Outros destaques: "When it Rains, it Pours", "Brooklyn Without Limits", "Christmas Attack Zone".


9. Glee
"Grilled Cheesus"


Só para se ter uma ideia, desisti de Glee após assistir a esse episódio. Não, essa não é uma escolha irônica tentando sacanear a série. Muito pelo contrário, aliás. Depois de acompanhar tantas histórias pavorosas, com "Grilled Cheesus" tive a certeza que esse seria o episódio que a série nunca mais conseguiria superar. Há quem condene por ser muito predicante, mas acho que é exatamente neste ponto que ele chega perto da perfeição. Glee nunca apresentou qualquer razão que fizesse alguém levá-la a sério, por isso tudo funciona como uma paródia, com os personagens assumindo sua ingenuidade (Finn) e suas certezas (Kurt) enquanto outros tentam convencê-los do contrário. A mensagem final do episódio serve perfeitamente para lembrar do espírito que Glee vem perdendo desde seu início: basta acreditar. Afinal, não existe nada mais sincero do que Kurt interpretando "I Want to Hold Your Hand" ao lado do leito de seu pai, certamente o melhor uso de uma música na série, trocando o otimismo vindo dos Beatles por um tom quase melancólico.
Outro destaque: "The Power of Madonna".


8. Treme
"Wish Someone Would Care"


Para quem já assistiu The Wire, sabe que George Pelecanos, conhecido escritor de dramas policiais, normalmente era escalado para escrever seus episódios de maior impacto. Mas nesse episódio, sua contribuição está na forma sutil com que leva Creighton a se afogar em sua própria amargura, depois de tanto lamentar o declínio da cidade que escolheu para amar. Durante sua última aula, Creighton está interessado em tratar do livro 'O Despertar', de Kate Chopin, para discutir com seus alunos a diferença entre encerramentos e transições. Todas as suas despedidas ao longo do episódio, tanto da filha e esposa quanto sua última contribuição a Annie, tornam sua morte cada vez mais previsível, mas tudo termina resolvido num suspiro. Num instante Creighton está contemplando o mar, no outro já não está mais lá. Absolutamente sublime.
Outros destaques: "Do You Know What It Means", "All on a Mardi Gras Day".


7. Louie
"Bully"


Alternando histórias roteirizadas e gravações de seu próprio show de stand-up, Louis C.K. teve liberdade total para colocar no ar aquilo que bem entendesse. O resultado foi a comédia mais imprevisível do ano, mas que nem sempre acertava com seus roteiros controversos. "Bully" é um caso a parte, funcionando não só pelo gradativo efeito de irritação de seu protagonista e sua inaptidão para reagir, como pela total versatilidade de transformá-lo num delicada drama, quando Louie consegue seguir o garoto até sua casa. O episódio termina com dois pais discutindo as dificuldades de se criar filhos, o que provoca incômodas risadas apenas pelo absurdo da situação.
Outros destaques: "Poker/Divorce", "Dentist/Tarese".


6. In Treatment
"Adele: Week 4"


Falemos da série mais subestimada do ano. Não apenas In Treatment recebeu pouca atenção da mídia nessa temporada, como parece não ter agradado muito os críticos. Mesmo que os pacientes não tivessem sido dos mais atraentes (Frances é com certeza a pior a passar em seu consultório até hoje), na minha opinião esta temporada superou a anterior porque Paul não parecia sentir apenas aquele leve desconforto, mas estava de fato à beira de uma crise. A participação de Adele como sua terapeuta foi fundamental, e já nessa sessão na metade da temporada, ela foi capaz de dar um parecer esclarecedor sobre sua condição. Diria que foi uma temporada de "auto-sabotagem", tanto nos relatos imprecisos de Jesse quanto na atitude calculista de Sunil, que refletiram na postura do próprio Paul, procurando por situações limiares para finalmente tomar uma decisão na vida. A mais notável delas é essa dependência em Adele, tentando transformá-la em sua companheira, que Paul revela também nesta sessão sob o olhar cuidadoso do diretor Paris Barclay.
Outros destaques: "Jesse: Week 5", "Sunil: Week 7".


5. Parks and Recreation
"Sweetums"


DJ Roomba. Só por essa piada, o episódio já merecia um lugar nesta lista. Mas existem outras muitas razões, afinal estamos falando da melhor comédia no ar atualmente. Todos devem concordar que a primeira temporada de Parks&Rec foi um desastre, mas acompanhar sua recuperação logo no começo da segunda foi um imenso prazer. A melhora mais notável provavelmente foi a expansão da cidade de Pawnee, que antes era reduzida literalmente ao buraco no quintal de Ann. Além disso, cada personagem desenvolveu personalidades distintas de humor: o convencido Tom, o atrapalhado Andy, a sarcástica April, a conservadora Leslie, o libertário Ron. Esse episódio capta todas essas mudanças, investindo num interessante conflito entre os ideais de Leslie e Ron para decidir um patrocínio, levando a uma audiência pública com a população da cidade. Enquanto isso, Tom "convida" todos os outros funcionários a ajudá-lo a se mudar de casa, sendo possível acompanhar os primeiros passos do relacionamento de April e Andy, que foi muito bem conduzido pelo restante da temporada.
Outros destaques: "Summer Catalog", "Telethon", "The Master Plan".


4. Terriers
"Sins of the Past"


2010 ficou marcado por Joss Whedon se despedir novamente da televisão após o final de Dollhouse. Porém, foi pelas mãos do roteirista Tim Minear (conhecido no twitter como @CancelledAgain, pelo seu amplo currículo em séries canceladas, como Drive, Firefly e Wonderfall) que tivemos a história mais "Whedonesque" do ano, com direito a altos deslocamentos temporais e trapaças. Mas no centro do episódio era formado um interessante paralelo entre o primeiro contato de Hank e Britt, e a separação da dupla no presente. Há quase uma troca de papéis em vigor, com a obsessão e principalmente o álcool levando os dois até as últimas consequências. Essa é a natureza dos protagonistas de Terriers, que mesmo com todas as suas atitudes condenáveis, continuam sendo extremamente cativantes.
Outros destaques: "Fustercluck", "Asunder", "Quid Pro Quo".


3. Community
"Modern Warfare"


Qualquer outro episódio talvez fosse discutível, mas esse tem o dever de estar em qualquer lista que se preze. Não cansam de dizer o quanto "Modern Warfare" é genial, e eles tem toda razão. Seja pelas finas referências, por todas as situações se adaptarem às características de seus personagens ou por simplesmente ser incrivelmente divertido. Sinto por isso acabar sendo até uma maldição dentro da própria série, estabelecendo um nível tão alto de qualidade, que dificilmente poderia ser alcançado por qualquer outro episódio temático posterior. Mas Community vem mostrando que tem tantas ideias originais sem ter receio de usá-las, o que já parece garantí-la como uma das comédias mais bacanas atualmente. E sabe o que mais me agrada na série? Pasmem, a direção dos episódios.
Outros destaques: "Contemporary American Poultry", "Epidemiology", "Cooperative Calligraphy".


2. Breaking Bad
"Sunset"


A escolha mais difícil, até porque poderia colocar qualquer episódio da metade da temporada em diante sem precisar dar muitas explicações. "One Minute" seria a escolha mais óbvia, tanto pelo monólogo de Jesse todo deformado, como pela cena em que Hank é cercado pelos primos de Tuco. Porém, escolhi "Sunset" como uma forma de homenagear um dos episódios menos lembrados depois do turbilhão de emoções que vem a seguir. É uma homenagem também a última vez que Walter e Jesse dividiram o saudoso RV, que havia sido tão "produtivo" anteriormente. Posso assegurar que a tensão dessa cena só funcionaria numa série audaciosa como Breaking Bad, porque era possível esperar qualquer desdobramento vindo dali. Poderia ser até mesmo o fim da linha para Walt. Naqueles minutos que Hank circulava ao redor do RV como se fosse um tubarão encurralando suas presas, minha cabeça fervilhava com todas as possíveis saídas e suas consequências. E não seriam essas, afinal, as principais questões que cercam Breaking Bad?
Outros destaques: "One Minute", "Fly", "Half Measures".


1. Mad Men
"The Rejected"


Provavelmente a escolha mais controversa da lista, já que todos parecem inclinados a preferir "The Suitcase". Até entendo, a relação desenvolvida por Don e Peggy talvez fosse a mais fascinante da série mesmo, e eles mereciam uma conclusão que levasse a outro nível, além do profissional. Porém, "The Rejected" não conta com nenhuma dessas cenas poderosas e ainda assim não cansa de me impressionar. Para se ter uma ideia, revi o episódio antes de montar a lista, o que se não perdi as contas já é a sexta vez. Seu ritmo é mais cadenciado, seus temas mais contidos, tudo para retratar o relacionamento mais obscuro da série, a ligação entre Pete e Peggy. Um dos elementos que valorizo nas séries de tv quando comparado a filmes, é a capacidade de se expandir os personagens coadjuvantes, indo além de meros suportes (até no próprio termo em inglês) ao protagonista. O passado que compartilham juntos transparece em cada diálogo ou troca de olhares. E isso fica bem claro na montagem final do episódio, provavelmente uma de suas cenas mais memoráveis, sem precisar dizer sequer uma palavra.
Outros destaques: "The Suitcase", "The Beautiful Girls", "Blowing Smoke".

Fotos: Divulgação.



Assim, encerro minha participação por mais um ano, desejando a todos os comentaristas e leitores do blog um feliz ano novo. Que 2011 chegue repleto de realizações, saúde e promissoras séries. Grande abraço a todos.

e.fuzii
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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

[Terriers] A melhor estreia de 2010

ou Como terminei este ano
(este texto não contém spoilers)
Para aqueles que me seguem no twitter, não deve ser novidade alguma minha admiração por Terriers. Alguns provavelmente até perderam a paciência por lerem tantos elogios semana após semana. Mas há algumas semana atrás, caiu como uma bomba -- ao menos para aqueles que acompanharam a série -- o anúncio do próprio presidente da FX, John Ladgraf, vindo a público justificar o cancelamento após uma brilhante primeira temporada. Isso pode parecer pouco usual, ainda mais para a produção do canal com menor audiência de todos os tempos. Para os executivos da FX, a razão para Terriers não ter vingado estava nas delicadas sutilezas de seu roteiro, que exigiam um certo compromisso dos espectadores até que fossem de fato cativados. Já outros atribuem o fracasso de audiência ao péssimo trabalho de marketing, desde o nome que levava a crer que se tratava de uma história ligada a cães, como por todo o material de divulgação. Mas não quero me aprofundar nestas questões, porque o importante mesmo é que através deste anúncio, o presidente da FX tinha consciência da qualidade que estava levando ao ar. Claro, não foi a primeira e nem será a última vez que isso acontece, mas faço questão de deixar registrado meu tributo final a Terriers, quem sabe servindo até para que alguém ainda venha a se interessar pela série. Só digo que assim como tantas outras a integrarem a lista de canceladas injustamente, num mesmo patamar que incluiria Freaks and Geeks e Firefly, Terriers continua valendo a pena ser vista porque a primeira temporada fecha a maioria de seus arcos e conta com um final bastante satisfatório. E claro, como se isso já não bastasse, a jornada de seus personagens durante os 13 episódios é extremamente gratificante.

Confesso que não é nada fácil escrever sobre a série, ou tentar explicar por que esta é a melhor estreia de 2010, num ano que tivemos novas produções assinadas até por David Simon e Martin Scorsese. Como sempre seu sucesso -- em termos de qualidade, claro -- pode ser atribuído a uma combinação de fatores, a começar pela parceria de seu criador Ted Griffin, roteirista de Ocean's Eleven, com o produtor Shawn Ryan, criador de The Shield. Ironicamente a série também trata da relação estabelecida entre uma dupla de investigadores particulares, Hank e Britt, envolvidos toda semana em histórias praticamente tiradas de um filme noir clássico, ambientadas numa ensolarada Ocean Beach. Como se pode reparar, eles não estão presos a velhas convenções do gênero, em que um personagem segue a risca a cartilha para combater o crime enquanto tenta lidar com a rebeldia de seu parceiro. Muito pelo contrário aliás, ambos trafegam nestas duas direções quando tentam levar os casos até suas últimas consequências e não fazem a menor questão de esconder suas imperfeições. O passado dos dois não poderia ser mais significativo: Hank é um ex-policial dispensado do serviço por desvio de conduta, e Britt é um ex-criminoso acusado de crimes leves. Portanto, a série não mostra nenhuma predisposição para julgá-los, o que garante que mesmo nas suas piores decisões ou impulsos, os personagens tenham profundidade suficiente para se manterem sempre cativantes.
O lema de Terriers é que Hank e Britt são "pequenos demais para falhar", o que já gerou todo tipo de paralelo com a questão do cancelamento prematuro. Porém, a fama de azarões já pode ser acompanhada desde seu início quando a série começa apresentando um longo arco, parecendo muito maior do que eles poderiam suportar, mas que logo é moderado e dá lugar a pequenos contos de Ocean Beach, dando vida à cidade diante de nossos olhos. Esses casos aproximam cada vez mais a dupla, que com seu bom humor e perspicácia provam ser capazes de resolver qualquer problema enquanto juntos, mas que separados continuam tendo poucas chances de sobreviver. Afinal, em meio a tantas conspirações, viradas de roteiro, mentiras, chantagens e até assassinatos, Hank e Britt mostram que no fundo travam conflitos ainda maiores em seus corações, a medida que tentam conquistar o respeito das mulheres que tanto amam. Hank continua apegado ao seu relacionamento com Gretchen, que agora está prestes a se casar novamente. Britt vive um sólido namoro com Katie, mas diante de uma previsível estagnação tem medo de tomar um passo adiante. Vale destacar também a participação da irmã de Hank, mentalmente instável demais para conviver em sociedade, mas que garante momentos intensos logo quando tira os personagens de suas zonas de conforto. Aliás, esse talvez seja o principal destaque do roteiro da série, exigindo sempre o máximo de todo seu vasto elenco de atores. Sabe quando você admira um ator mas lamenta pelas poucas chances dadas para mostrar seu talento? Ou quando sente certo alívio pelo cancelamento de uma série, torcendo para que alguns dos atores possam ter melhores oportunidades? Pois em Terriers ocorre justamente o contrário: Donal Logue e Michael Raymond-James tem a atuação de suas vidas e em poucos episódios já criam uma sintonia impressionante. Certamente o maior pecado deste ano, e a principal razão para se lamentar o cancelamento da série, seja a separação forçada desta parceria que prometia ainda nos surpreender e durar por muitos e muitos anos.

Fotos: Divulgação.



Sentia que Terriers merecia esse texto principalmente para compensar a recepção fria dos "entendidos" em televisão de nosso país, capazes de descartá-la apenas assistindo ao episódio piloto. Se cabe um desabafo aqui, apesar de 2010 ter sido excelente para a televisão tanto pelas estreias quanto pela superação de muitas séries nessa temporada, acho que nunca havia me deparado com tantos textos equivocados ao longo de todos esses anos. O fênomeno dos blogueiros que tudo sabem parecia ser passado, mas nunca se viu tanta gente com opinião sem embasamento neste meio, chegando ao cúmulo de ainda se referir às séries como enlatados americanos, apenas para concluir que a televisão emburrece os homens. Isso sem esquecer de todos aqueles que pularam de pára-quedas no assunto agora que a grande Cahiers du cinéma resolveu dar capa a Mad Men. Gente que ensina aos outros o que deve assistir, que faz listinha das séries "de qualidade", que faz birra quando sua série é cancelada. Gente preocupada com audiência, sendo que nosso país vive na margem disso tudo, se contentando com migalhas trazidas pela televisão a cabo através de syndication ou de curiosos que procuram pelas novidades na internet. A questão não é quantidade de informação, mas qualidade. Enquanto no mercado americano vemos críticos cada vez mais competentes despontando e tendo oportunidades, aqui não temos sequer um norte para seguir e precisamos nos contentar com opiniões distribuídas a esmo. A esse respeito, vale uma lida num texto do Jim Emerson fazendo uma interessante parábola entre crítica de cinema e uma cena de Rubicon -- outra das séries estreantes a ser cancelada nesta temporada --, e que acaba também motivando uma discussão valioso no campo de comentários. Crítica, para ele, não é uma questão de reduzir um episódio ou uma série à sua opinião, mas o inverso, aprofundá-los através de suas percepções. Enquanto ninguém estiver disposto a encarar a televisão com essa seriedade (que não deve ser confundida com rigidez ou formalidade), continuará sendo tarefa árdua acompanhar os blogs ou cadernos de jornais dedicados ao assunto.

Bem capaz de na semana que vem ainda ir ao ar minha lista de episódios favoritos do ano, contendo também análise das temporadas dessas séries. Até lá um feliz Natal a todos!

e.fuzii
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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

[The Event] Bacana e capaz de ser o novo Lost?

Por Danielle

Comecei a ver The Event desconfiada. Pretendia ser "o novo Lost" enunciado por alguns especialistas de TV. Meu medo era se transformar no "novo Flash Forward". Mas ainda bem que o pessoal de The Event resolveu não ser "novo coisa alguma", simplesmente uma série de TV baseada num mistério até não muito complexo e mitologia já usada em X Files e Fringe. Convenhamos, não dá pra almejar ser revolucionário com  aliens, parece que tudo já foi dito sobre eles. Além das séries que citei acima (Fringe é analisada aqui no Ces por Alison), há uma infinidade de filmes que serviram de referência a Event. E isso não é nada ruim. Taí uma série que mostra respeito as suas predecessoras, citação cult as pencas e um elenco muito, muito bacana. Blair Underwood é tudo aquilo que Obama deveria ter sido e não foi como presidente. Tem aura de herói, maneirismos de mocinho e politicagem de canalha.

Mas quem rouba a cena mesmo é a vilã (?) Sophia. Laura Innes está inspiradíssima, transmite força, delicadeza e mistério na medida certa. As tramas paralelas são suficientemente interessantes. Bom, aliens são legais...ou não!

The Event é transmitida no Brasil pela Universal que, ainda bem, não caiu na cilada de dublar suas séries. Estou acompanhando pela Tv e ano que vem - com o retorno dos episódios inéditos - comento sobre o rumo das coisas. Terminamos com a iminência de um desastre nuclear, passando para uma comunicação com "eles". satélite alien é ágil? Vamos ver o que o filho de Sophia pretende.

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

[FNL] 5x06 Swerve

Para uma série que nunca teve medo de encarar as consequências das escolhas de seus personagens -- às vezes levando além até dos limites aceitáveis --, não chega a ser surpresa nenhuma que Julie e Vince estejam agora envolvidos em tramas trazendo lembranças que gostariam de esquecer. Julie, que até então vivia a história mais delicada desta temporada em sua nova vida universitária, procura pelo suporte de sua família em Dillon. Porém, o receio de revelar seus segredos levam a garota a tomar outra decisão tola para retardar sua partida. Dramático até demais, isso para alguém que um par de cenas depois já está desabafando com Tami Taylor num restaurante. Lidar com esse problema provavelmente levará à maior crise da família Taylor, já que Tami ainda parece hesitante mas não quer deixar sua filha desamparada, enquanto Eric mostra-se claramente desapontado com sua conduta. Coach Taylor "caçando" sua filha pelos corredores para obrigá-la a voltar para a universidade talvez tenha sido a cena mais perturbador a se desenrolar naquela casa. Mesmo que os fins de forma alguma pudessem justificar os meios, certamente a impressão seria outra sem ter tolerado por tanto tempo esse affair tedioso longe de Dillon.
Já os problemas de Vince parecem mais graves, até porque a volta de Kennard representa um risco tanto para sua vida quanto para sua família. O arco de seu pai, que parecia estar sendo direcionado para atingir a redenção, sofreu um pequeno desvio neste episódio e ganhou complicações interessantes, assim que ele assumiu a responsabilidade de proteger o filho. Embora Vince ainda não saiba os meios que seu pai teve de recorrer para afastar Kennard, esse ato com certeza fez surgir um reconhecimento que antes não existia. Afinal, hoje Vince tem tudo a perder: sua carreira promissora no futebol, o respeito de seus colegas de equipe, as responsabilidades dentro de sua casa e o excelente papel que vem desempenhando ao cuidar dos irmãos de Jess. Mas parece certo, principalmente por toda a hesitação diante da casa de Coach Taylor, que esse perigo ainda deve voltar a perseguí-lo. Afinal, como aconteceu por tantas vezes com outros jogadores, mais cedo ou mais tarde todas as ocorrências acabam chegando em Coach Taylor. Além disso, como já disse anteriormente, nenhuma decisão, seja de Vince ou de seu pai, acaba passando em branco na série.

Provavelmente essa característica seja o principal atestado de qualidade da série, de dar profundidade até ao menor dos detalhes. Sua própria postura distinta ao tratar do futebol colegial pode ser vista neste episódio, não se preocupando com a partida em si, mas com tudo aquilo que rodeia e motiva seus jogadores. Luke descobre através de Vince que pode estar tomando uma rasteira da TMU e isso com certeza afetaria seu desempenho em campo. Mas através dos cuidados de Billy Riggins, e após desprezar todo orgulhoso (e bêbado) o falso interesse da universidade, o jogador volta a se concentrar e termina sendo o grande destaque da partida. Desde o início da temporada, já me agradava bastante essa ideia de dar espaço para o casal Riggins, mas não esperava que eles poderiam ser os grandes destaques do episódio, Billy pelo seu discurso motivador no vestiário dos Lions e Mindy pela hilária forma de aproximar Luke e Becky na festa pós-vitória. Grandes séries são assim, superam a dificuldade de perder personagens importantes ao longo do caminho investindo em figuras já conhecidas, que sempre serviram muito bem como coadjuvantes.

Fotos: Divulgação.

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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

[FNL] 5x05 Kingdom

Depois de investir pesado no drama pessoal de seus personagens durante essas primeiras semanas, os autores resolveram dar um tempo nessas tramas e deixá-las um pouco de lado, para assim concentrar-se nos Lions como uma equipe. Dessa vez os jogadores precisam viajar até Kingdom, onde enfrentariam os Rangers, aqueles mesmos que na premiere da temporada passada tinham pela frente uma equipe dos Lions ainda em formação e aplicaram uma dolorosa surra, deixando Coach Taylor sem outra opção além de desistir e preservar seus jogadores. Portanto, além de disputar uma partida fora de casa, o time ainda precisava enfrentar um trauma de seu passado. Após mais um péssimo início de jogo, com os Rangers controlando a partida na base da força física, Coach Taylor tem de tomar outra decisão crucial para revertar essa situação, colocando a equipe para praticar um futebol de alto contato ao tomar como base suas próprias regras. O resultado é uma vitória de virada, mas que deixa todos em alerta para possíveis punições pelo excessivo número de infrações dentro de campo.

Mas o grande mérito do episódio foi promover a união dos Lions fora de campo, através de diversas cenas em que os jogadores se relacionavam e mostravam suas dúvidas, ambições e anseios. A longa viagem de ônibus, uma conversa descontraída entre as sacadas do hotel, a comemoração pós-vitória. Novos personagens, como Hastings e Buddy Jr, tiveram a oportunidade de se adaptar a esse contexto, enquanto velhos conhecidos puderam aprofundar ainda mais sua relação. Fico curioso para saber como Vince e Luke, colegas de quarto na própria concentração, irão reagir com essa disputa para chegar à TMU. Também parece evidente, pela aproximação entre o pai de Vince e o olheiro da TMU, que não será nada fácil para Coach Taylor lidar com todo esse assédio pelo seu capitão. O que me pareceu mais intrigante é que vários pequenos detalhes levavam a crer que essa viagem terminaria em desastre, como o ônibus quebrando no meio da estrada, Hastings colocando bebida escondida em sua mala ou a fuga do hotel para uma festa de comemoração entre os principais jogadores. Numa segunda temporada de desespero, aliás, essas ameaças certamente se concretizariam. Porém, numa temporada de despedida os personagens apenas levam esse espírito de equipe às últimas consequências, deixando seus corpos marcados para sempre como eternos jogadores dos Lions.
Enquanto isso, Julie Taylor continua vivendo sua vida de isolamento longe de Dillon, um tipo de situação que Friday Night Lights sempre teve dificuldades para lidar. Mas felizmente esses parecem ser seus últimos dias na universidade, já que assim como previa, seu caso com o tutor acabou em um escândalo assim que sua esposa descobriu tudo. Resta a Julie apenas voltar para Dillon e procurar por conforto no lar dos Taylors, provavelmente em definitivo. Ou ao menos assim todos nós esperamos.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

[FNL] 5x04 Keep Looking

Apesar de ambientada em uma cidade que vive sob a influência do futebol colegial, Friday Night Lights nunca se esforçou para desenvolver episódios temáticos, tentando relacionar seus personagens através de um mesmo assunto. Mas neste início de sua temporada final, chama atenção a quantidade de relações estabelecidas entre pais e filhos que vem sendo abordadas. Não é de hoje que a série explora este tema, mesmo o breve retorno do pai de Matt Saracen a Dillon há algum tempo atrás, provocou reação bem similar a essa que acompanhamos agora com Vince. E assim como Saracen tinha de assumir uma posição invertida nesta relação, após tanto tempo cuidando sozinho de sua avó, Vince também precisa manter seu pai longe de qualquer desvio que possa decepcioná-lo mais uma vez. Além do interesse repentino na carreira do garoto, justamente diante de um futuro promissor em uma universidade, ainda deixarem incertas as reais intenções nesta nova aproximação. A grande ironia é que Vince não acredita que seu pai possa mudar, quando ele mesmo é a maior prova disso. É neste exemplo também que Buddy Garrity resolve se apegar com a chegada de seu filho, já que todas as tentativas de controlar seu comportamento abusivo foram frustradas. No final, Buddy acaba recorrendo à disciplina do East Dillon Lions, com a esperança de que seu filho tenha herdado a mesma dedicação pelo futebol.

Enquanto isso, Becky é obrigada por seu pai a voltar a viver com sua madrasta, mas é acolhida por tempo indeterminado no lar dos Riggins, assim que Mindy presencia a encrenca em que a garota está envolvida. Com uma imensa eficiência ao construir essa aproximação das duas, Becky se oferece a fazer qualquer serviço que for necessário na casa, e me deixa com altas expectativas com esta estadia. Ela ainda encontra Luke na festa do luau que promete voltar para resgatá-la assim que possível, mas Becky continua sentindo a ausência de Tim em cada foto espalhada pela casa dos Riggins. Da mesma forma que os Taylors também sentem a falta de Julie, arrumando até desculpas para telefoná-la, enquanto a filha continua passando pelo difícil isolamento desta nova vida. Neste episódio sua trama foi até reduzida, com duas cenas breves ainda indicando seu interesse pelo tutor, mas que continuam sendo o grande problema da temporada. Não me agradou também a atenção dada a Epyck, que de forma rasa continua sendo a típica garota problemática, avessa às regras da escola. Pode até virar um caso interessante para Tami Taylor lidar, mas que espera muito mais desenvolvimento adiante. Por outro lado, agora vejo com bons olhos esta "invasão" de Jess ao vestiário dos Lions. Não só pela dedicação e responsabilidade com os equipamentos do time, como pela possibilidade de conseguir até uma vaga como coordenadora, já que sua observação sobre o posicionamento da equipe foi bem recebida pelos técnicos quando levado por Billy. As discussões que esse fato gera na relação de Jess e Vince podem não ser tão interessantes, mas quando isso bagunça o vestiário de Coach Taylor chega a ser bem divertido -- sua saída pela direita ao presenciar a discussão do casal pela primeira vez, por exemplo, foi sensacional.
Porém, o episódio foi mesmo marcado novamente pelas relações entre pais e filhos. Quando Friday Night Lights resolve investir nesses temas familiares, fica impossível não lembrar de como Parenthood trabalha esse mesmo tema. Parenthood parece assumir poucos riscos e sempre investir numa mesma fórmula, de que todos os problemas podem ser superados através da sólida estrutura familiar dos Braverman, mas nem por isso deixa de ser uma das séries mais prazerosas da atualidade. Ao final de um de seus episódios, por exemplo, é bem capaz de que você esteja convencido a mudar-se para os EUA, constituir uma família apenas para passar um Halloween como os Braverman. A comparação pode parecer injusta -- como todas normalmente são --, até porque as séries lidam com públicos diferentes e em emissoras diferentes (embora Friday Night Lights também chegue à grade da NBC posteriormente na midseason), mas não custa lembrar que ambas são comandadas por Jason Katims com extrema competência. Então, se você já está sentindo saudades de Friday Night Lights por antecipação, dê uma chance a Parenthood, até porque uma boa parte do elenco de Dillon já arrumou uma vaga, mesmo que temporária, em sua contraparte da Califórnia.

Fotos: Divulgação.

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