
Para tentar responder a essas perguntas, a personagem fundamental é sua meia-irmã Regina Célia. Primeiro porque a menina sabe o quanto seu pai sentia falta de Alice, ao contrário do que Erislene havia dito para despistá-la. Em segundo lugar, como é mostrado no anagrama que envolve as duas personagens, elas tem muito mais do que o pai em comum. Célia é seu reflexo em São Paulo, a garota que ela poderia ter sido, provavelmente criada com o amor que sempre lhe faltou. Depois de tanta indiferença e orgulho, Alice troca lembranças do passado com sua irmã na padaria e descobre que ela detém o tesouro que poderá completá-la.
Entretanto, o caminho para chegar nessa bela cena foi bastante tortuoso. Nunca vi tantos telefones deixarem de ser atendidos em tão pouco tempo. E quando um objeto começa a ter função contrária à original -- que nesse caso é fazer um personagem comunicar-se com o outro --, temos um grave problema. Lembrar que existem telefones passa a ser simples desculpa para que o roteiro possa se desenvolver. Só a tia de Alice já detém a incrível média de um telefonema por episódio: na semana passada não atendeu Alice e dessa vez foi a vez de ignorar Erislene. Enquanto isso, era desenvolvido um romance lésbico irrelevante para a trama até então. Não é à toa que mesmo indo para a casa da tia, Célia nem carrega o número de telefone dela...
Acho que é louvável situar as personagens em contextos e locações reais, como acontece com a abertura da Mostra de SP no Auditório Ibirapuera, mas o que preocupa é que esse senso de realidade precisa ser constante em todas as cenas. Célia perdida na Praça Roosevelt, por exemplo, lembrou produção de novela das oito. Até porque, prostitutas e travestis talvez fossem as "melhores" coisas que ela encontraria por ali. O churrasco na cobertura também parece absurdo demais para pessoas tão moderninhas como os amigos da Alice. Por outro lado, acho um pouco cedo para julgar a participação da atriz que interpreta Célia, até porque exigiram demais da garota em dois episódio -- choro no velório, discussão acalorada, tapa na cara e cena emocionante --, mas a insegurança que ela passa às vezes até confunde-se com a da própria personagem.
Esqueci de comentar na semana passada que gostei bastante da abertura da série, intercalando uma Alice transformando-se e algumas cenas de caleidoscópios que remetem ao espelho, assunto tratado com freqüência tanto aqui como na história de Lewis Carroll citada no episódio.

e.fuzii
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