Faltando
pouco para vermos o último episódio de “Breaking Bad”, decidi fazer uma
retrospectiva destes seis anos de série. A ideia me surgiu agora, então é mais
uma percepção geral sobre cada temporada, e a evolução tanto da série quanto do
“culto” sobre ela – vejo desde 2008, então tem uma perspectiva de quem
acompanhou o crescimento gradativo de fãs. Não tenho o hábito de acompanhar
curiosidades, bastidores e teorias sobre séries e filmes, então este resumo é
bem mais simples. E por ser de última hora não vem acompanhado de links.
Sintam-se à vontade para comentar e acrescentar fatos interessantes.
Vale
lembrar que aqui no blog o Eric Fuzii escreveu sobre a série após o fim da
segunda temporada, e fiz um texto sem spoilers durante a terceira com o objetivo
de chamar a atenção pra ela, com o título “A Melhor Série Que (Quase) NinguémVê”. Na época, nenhum grande site no Brasil comentava a respeito e acho que dá
pra dizer que contribuímos pra que uma meia dúzia de pessoas descobrisse a
série antes de ela se tornar “moda” (na ocasião, meu texto foi linkado pelo
twitter do Legendas.tv, o que resultou em um número considerável de acessos).
Vamos
lá (pode ter spoilers, caso você não esteja completamente atualizado):
PRIMEIRA
TEMPORADA:
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“Breaking Bad” estreou na AMC em Janeiro, uma semana após “Mad Men” ter vencido
o Globo de Ouro de Melhor Série e Ator. O drama dos publicitários nos anos 60
foi lançado seis meses antes e chamou a atenção para a emissora, estreante em
séries originais. Talvez por isso o piloto de Vince Gilligan tenha atraído uma
audiência respeitável para os padrões do canal, quase 1,5 milhões, e se manteve
apenas um pouco abaixo disso pelo resto da temporada – números semelhantes aos
de “Mad Men”.
-
A temporada tem apenas sete episódios devido à greve dos roteiristas. O que
justifica o estranho season finale, que nem traz uma reviravolta ou resolve
alguma coisa: apenas a tensão de uma situação entre Walt, Jesse e Tuco no
ferro-velho, que é retomada de onde parou no início da temporada seguinte.
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Todo fã fica feliz pela greve, uma vez que o plano inicial era que Jesse
Pinkman morresse ao final da primeira temporada. A interrupção forçada e o
trabalho de Aaron Paul fizeram Gilligan repensar o destino do personagem.
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O piloto começa com as calças de Walt voando pelo deserto, e logo o vemos de
camisa e cueca gravando uma confissão em vídeo e desajeitadamente segurando uma
arma. O tom da série já está aí: o homem comum e medíocre em uma situação
incomum e extraordinária, filmado de forma tragicômica em que a geografia do
lugar terá função narrativa.
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A confissão, os planos do deserto, as calças e até a situação um pouco antes
sob outro ponto de vista são revisitados ou referenciados na reta final da
série (nos episódios “Confessions”, “To’hajiilee” e “Ozymandias”,
respectivamente).
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Há todo um trabalho com a fotografia, direção de arte e figurino que mostram um
cuidado especial que a série tem, em especial na forma como faz da química (as
ligações, reações e misturas de elementos diversos) metáfora para o modo como a
narrativa se desenvolve. Cores específicas são associadas aos personagens e
ilustram bem esse tipo de representação (Skyler com azul; Jesse com amarelo;
mistura entre as duas cores: verde, que é a cor de Walt).
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Apesar de um protagonista interessante, “Breaking Bad” traz o problema típico
de muitas séries: um bom conceito, um grande personagem, mas a dificuldade de
preencher mais de 40 minutos de episódio com coadjuvantes interessantes em
situações não diretamente ligadas à trama principal: Skyler é a que mais sofre
com o tipo de representação que tem, sendo a esposa detestável que mostra como
a vida de Walt é patética, mas Hank é tratado como um palhaço grosseiro,
enquanto Marie revela-se cleptomaníaca rendendo um drama dispensável. Jesse se
beneficia por estar diretamente ligado ao protagonista na trama principal, mas
não consegue se destacar nas tentativas de “aprofundá-lo” na relação com sua
família.
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Os primeiros episódios trazem o protagonista num dilema moral, que só não é
mais interessante por já ser algo, na época, bastante explorado por várias
séries (matar ou não outro ser humano?). O momento em que realmente fui fisgado
está no quinto episódio, “Gray Matter”, em que a família de Walt faz uma
intervenção para que todos desabafem sobre sua recusa em fazer um tratamento.
Ali a série explora bem o drama e as complicações que um câncer pode trazer nas
relações familiares e, principalmente, em como um homem com uma doença terminal
tem uma perspectiva muito diversa daqueles que convivem com ele. Ao mesmo tempo
a sequência funciona como justificativa para a escolha que Walt faz, muito
melhor que justificar por um trabalho medíocre e uma esposa controladora. Além
de ter muito humor inerente às características dos personagens e sem diluir o
drama, algo que a série se torna especialista.
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“Bryan who??”, perguntou qualquer pessoa que nunca tinha visto a sitcom
“Malcolm in the Middle” quando soube o vencedor do Emmy de Melhor Ator daquele
ano. Poucos apostaram em Cranston e até o colocaram como o indicado com menos
chances de vitória, por uma série comentada por poucos, e em um ano dominado
pelas indicações de “Mad Men” (e, portanto, via favoritismo de Jon Hamm), a
sensação que Michael C. Hall tinha se tornado com “Dexter” (disputando pela
segunda temporada), o elogiado, exaustivo e único trabalho de Gabriel Byrne na
estreia de “In Treatment”, além de James Spader (o bicho-papão da categoria) e
Hugh Laurie (ainda se pensava que era questão de tempo que vencesse e naquele
ano concorria pelo elogiadíssimo episódio “House’s Head”).
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Além de Cranston, a série venceu o prêmio de Edição pelo “Piloto”. O episódio
também deu indicações a Vince Gilligan (Direção) e o oscarizado John Toll
(Fotografia). Ambos perderam para “House” (episódio “House’s Head”) e “Mad Men”
(episódio Piloto), respectivamente.
SEGUNDA
TEMPORADA:
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A primeira temporada completa (13 episódios) da série estreou em março de 2009
e tem início nos apresentando o famigerado urso caolho, boiando na piscina de
Walt, único objeto colorido na sequência em preto e branco que abre a premiere.
O recurso do flashforward que nos entrega cenas do final de temporada, ao longo
dos episódios, como forma de estimular e criar expectativas foi amplamente
usado por “Damages” na ocasião, em seus dois primeiros anos. Mas enquanto nela
o uso era excessivo (em todos os episódios e em qualquer momento), em “Breaking
Bad” o urso caolho surgiu na abertura de apenas quatro episódios, progredindo
com revelações um pouco maiores insinuando que alguma tragédia ocorre no fim da
temporada.
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O flashforward abre os episódios 01, 04, 10 e 13, cujos títulos, ao serem
colocados juntos, dão a dica do que acontece no final: “Seven Thirty-Seven”,
“Down”, “Over”, “ABQ”.
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O acidente de avião é um dos eventos que mais dividem opiniões dos fãs.
Basicamente a reclamação vem de uma suposta falta de realismo, graças ao
absurdo das coincidências. Bobagem: a solução narrativa amplifica a níveis
fantásticos uma das ideias básicas da série, de ações pequenas que resultam em
reações maiores (o clássico “efeito-borboleta”), e de forma punitiva, dando um
sentido kármico à série. Gilligan chamou o acidente de “Lucifer ex machina”, em
oposição ao “Deus ex machina”, termo do teatro grego que se refere ao
acontecimento inesperado no final da peça com a intenção de solucionar e amarrar
pontas soltas da trama. Ou seja, ao invés de salvação, o que temos é punição
vinda diretamente do céu por tudo o que Walter White fez.
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Outra queixa diz respeito à sugestão que os flashforwards fazem de que algo
acontece com Walt no fim. De fato, em “Down” a sequência termina com um close
em óculos parecidos com o do protagonista, enquanto em “Over”, dois corpos
estão cobertos e na frente de sua casa. Mas o fato é que poderia ser mesmo
Walt: o acidente de avião foi planejado pelos roteiristas desde o início e não
havia certeza de uma terceira temporada. A série foi renovada exatamente na
semana após a exibição de “Down”. Caso “Breaking Bad” não tivesse mais um ano,
poderíamos dizer que Walt pagou com a morte por tudo que fez. E a morte mais
espetacular possível para a ocasião.
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A série tem um avanço incrível de qualidade, inclusive resolvendo o problema de
coadjuvantes ruins: Hank ganha simpatia e tramas interessantes (os ataques de
pânico, a tartaruga-bomba), Jesse é melhor desenvolvido na sua relação com Jane
e ganha um episódio especial como “Peekaboo”, e Skyler tem seu próprio dilema
moral no envolvimento com Ted ao mesmo tempo em que passa a desconfiar do
comportamento de Walt – a antipatia por ela ainda é forte, mas graças a sua
caracterização inicial: é uma mulher controladora que se vê perdendo o controle
do marido.
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A temporada também mostra que a série não pretende manter um “status quo” que
consiste na dupla de protagonistas entrando em confusões e tentando não serem
descobertos: a profissionalização da produção e comércio avança
consideravelmente com a contratação de um advogado e o contato de Gus Fring
para a venda em grande escala.
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Saul, Gus, Hector Salamanca e Mike são os personagens de importância que surgem
neste ano. Além de Jane, claro, que não sobrevive. Na premiere também é
fabricada a ricina para ser usada em Tuco. Sem sucesso, o veneno ainda não foi
utilizado e há até apostas pela internet sobre quem finalmente será a vítima no
último episódio da série.
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Raymond Cruz, que interpreta Tuco, seria o “vilão” da série por muito mais
tempo e sua morte foi escrita depois que Gilligan soube que o ator trabalhava
em “The Closer” (desde o início da série, em 2005) e não poderia ser contratado
para mais episódios – o que contribuiu para a caracterização de Gus, personagem
que é o exato oposto de Tuco. Da mesma forma, Mike foi criado apenas porque Bob
Odenkirk (Saul) não estava disponível para o dia da filmagem da morte de Jane.
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A série começa aqui a se especializar em “cold opens” (abertura antes dos
créditos iniciais) inusitadas. Minhas favoritas: em “Negro y Azul”, um vídeo
musical, onde um grupo de mariachis canta sobre a nova droga que está agitando
o mercado e irritando o cartel (“Falam de um tal de Heiseinberg... esse cara já
está morto, só que ainda não sabe”), e em “Better Call Saul”, um primor de
escrita onde Badger é preso ao tentar vender metanfetamina para um policial,
após uma troca de diálogos e lábia incrível – algo que marcará a caracterização
do nosso advogado favorito.
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A partir de “Peekaboo”, há uma sequência de episódios que impressionam, seja pela
qualidade e refinamento técnico (a fotografia de “Peekaboo” e “4 Days Out”, por
exemplo), pelos diálogos e humor, pelo drama e sensibilidade inesperada (Jesse
e o garotinho com os pais viciados), pela violência inusitada (o caixa
eletrônico esmagando o viciado, a cabeça de Tortuga em uma tartaruga), pela
fina ironia da narrativa ampliando efeitos dramáticos (Walt recebendo boas
notícias sobre o câncer quando não só aceitava a morte, como a achava muito bem
vinda em “4 Days Out”; a notícia do nascimento de Holly no momento mais
inoportuno possível em “Mandala”), pelas frases marcantes (“Stay out of my
territoy” em “Over”), pela coragem de não suavizar o protagonista (morte de Jane
em “Phoenix”). Sempre me espanto quando vejo alguém dizer que esta é uma
temporada inferior às próximas.
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A temporada recebeu cinco indicações ao Emmy, uma a mais que o ano anterior, e
de maior importância: Melhor Série, além de Aaron Paul como ator coadjuvante
(perdeu para Michael Emmerson, o Ben Linus de “Lost”). O season finale “ABQ”
foi indicado pela Fotografia e Edição, vencendo por este último. Junto com o
prêmio de Cranston, as mesmas duas categorias que a primeira temporada venceu.
TERCEIRA
TEMPORADA:
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Talvez o mais elogiado ano de “Breaking Bad”, a terceira temporada estreou em
2010 também no mês de março, com “No Mas”, episódio que acho injustamente
esquecido quando fãs fazem listas dos melhores da série. Dirigida por Cranston,
a premiere parece dar um novo (ou mais apurado?) tom à série, flertando
descaradamente com o absurdo e o cartunesco, na presença dos gêmeos primos de
Tuco, que surgem, na abertura deliciosamente bizarra, rastejando junto a outros
mexicanos em direção a uma imagem de Santa Muerte, para quem acendem uma vela
em nome de Heisenberg. Não basta apresentar os novos vilões da trama, é preciso
apresenta-los de forma diferente, surpreendente, divertida (assim como no
episódio seguinte eles descobrem que Heisenberg é Walt com Tio usando uma Tábua
Ouija). Memorável também é a sequência em que Walt tenta minimizar a tragédia
do acidente provocado por ele, para o ginásio da escola lotado de estudantes –
“foi apenas o 50º maior desastre aéreo”.
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Ao contrário da segunda temporada, em que toda a estrutura foi cuidadosamente
planejada, Gilligan disse que aqui a trama foi criada aos poucos e com
improvisos. A intenção era de ter os gêmeos e Tio como os vilões da temporada,
até que os roteiristas perceberam que era impossível mantê-los por tanto tempo,
em especial por terem criado personagens tão perigosos. Nasceu assim um dos
mais celebrados episódios da série (“One Minute”) e Gus Fring se tornou o
principal antagonista na segunda metade da temporada.
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Giancarlo Esposito, aliás, seria contratado para apenas alguns episódios, mas
se recusou a voltar, a menos que tivesse mais destaque. Acabou aparecendo em 11
dos 13 episódios.
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Dois pares de episódios de muita tensão e adrenalina são responsáveis por um
boca-a-boca repentino dos fãs, que começavam a recomendar a série com ainda
mais ênfase: “Sunset” (com a despedida do trailer, quando Hank estava separado
da verdade apenas por uma porta) e o já citado “One Minute”; e os dois últimos
episódios, “Half Measure” (“RUN”!) e “Full Measures” (com um dos cliffhangers
mais incríveis já feitos), que dentre tantas coisas, reforça a natureza da
relação de Walt e Jesse.
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Gilligan, aliás, teve que confirmar em entrevistas a morte de Gale, já que
muitos ficaram confusos com o movimento de câmera final, cuja intenção era
apenas que a arma de Jesse fosse apontada para o espectador, e não que o
personagem tivesse mirado em outro local. O autor da série garantiu que não pretendia
deixar dúvidas quanto ao destino de Gale.
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Skyler é a personagem que passa por mais mudanças, todas bastante pautadas pela
realidade de uma esposa em sua situação (como agir legalmente, até que ponto
viver com ou deixar o marido afeta seus filhos, etc). Ao final da temporada é
ela quem justificará para Marie o dinheiro que Walt tem e a ideia de um
lava-a-jato como melhor empreendimento para lavagem de dinheiro. No entanto, há
também “I.F.T.”, em que Walt força sua entrada em casa (e a deixando como vilã
aos olhos do filho) e ela se vinga fazendo sexo com Ted e contando depois para
ele na célebre frase que encerra e dá título (“I Fucked Ted”). Algo que
alimentou ainda mais o ódio de alguns pela personagem e aumentou a discussão
sobre misoginia e a forma como o público percebe e lida com personagens
femininas.
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Outro episódio marcante da temporada foi “Fly”, em que a série mais uma vez
mostrou ousadia e bastante consciência de suas possibilidades com algo bastante
teatral e inusitado: apenas Walt e Jesse no laboratório a caça de uma mosca que
poderia contaminar toda a produção. Monólogos e reflexões sobre algumas das
ideias desenvolvidas pela série, interrompendo a sequência de adrenalina e
acontecimentos excitantes rumo ao final da temporada. Houve quem não gostasse,
mas é algo realmente especial. Primeiro episódio dirigido pelo cineasta Rian
Johnson, que voltaria na quinta temporada para “Fifty-One” e o mais celebrado
episódio da série, “Ozymandias”.
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A série ampliou no Emmy o seu número de indicações: sete, incluindo indicações
técnicas para “No Mas” (Fotografia e Edição) e “One Minute” (Direção e Edição
de Som). Bryan Cranston venceu pela terceira vez e Aaron Paul venceu pela
primeira. No Globo de Ouro, a série enfim foi descoberta, mas apenas com uma
indicação para Cranston – perdeu para Steve Buscemi, pela primeira temporada de
“Boardwalk Empire”.
QUARTA TEMPORADA:
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O maior intervalo que a série teve entre temporadas, foram 13 meses de espera
para vermos o que aconteceria com Walt e Jesse após a morte de Gale. Estreando
em Julho de 2011, este quarto ano teve um aumento considerável de audiência,
ultrapassando os 2,5 milhões de telespectadores em média. O longo intervalo e o
boca a boca gerado pela adrenalina de “Half Measures” e “Full Measures” fizeram
com que esta fosse a primeira temporada da série a se tornar evento nas redes
sociais. Boa parte dos portais e blogs sobre séries no Brasil também começaram
a escrever sobre ela.
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A demora em lançar a temporada talvez tenha relação com as negociações feitas
pela AMC com Vince Gilligan. A emissora queria cortar gastos e propôs uma
quinta temporada menor para encerrar a série, e a Sony (parceira da AMC na
produção) chegou a sinalizar que “Breaking Bad” poderia ser vendida para outro
canal, o que exigiria que Gilligan estendesse a trama por mais alguns anos para
compensar a compra. Depois de muita
especulação, anunciaram (na semana de exibição do quarto episódio, “Bullet
Points”) o fim da série com a renovação dos últimos 16 episódios. No início do
ano seguinte, Cranston confirmaria a divisão em duas mini-temporadas.
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A temporada é marcada por mais idas e vindas na relação entre Walt e Jesse, e
uma aliança inesperada (mas bem desenvolvida) deste último com Mike e Gus; pelo
retorno de Hank às investigações (para quem acompanhou na época, foi uma
eternidade: mais de 15 meses desde “Sunset”), resultando em sequências como a
do caderno de Gale mostrado a Walt e o grampo no carro de Gus; pelo despertar
de Skyler para um lado de seu marido que não conhecia; e pela maior
participação de Gus Fring, inclusive eliminando o cartel, o que faz a série
explorar novos antagonistas na temporada final.
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Dentre as coisas mais memoráveis e que fãs sempre farão referência, estão as
frases “I am the danger!” e “I am the one who knocks!” de Walt, e “Someone has
to protect this family from the man who protects this family” de Skyler, além
do final de “Crawl Space” e o fim explosivo de Gus Fring.
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O envenenamento de Brock é a solução criativa mais questionável de toda a
série. Por um lado, permite a reaproximação de Jesse que faz com que Walt descubra
a relação de Gus com Salamanca. Também torna o protagonista ainda mais
condenável. Por outro, é uma solução pouco explicada e a primeira vez que os
roteiristas usam de um “truque” que engana o espectador com uma reviravolta
final. De qualquer forma, os resultados impressionam: a explosão na clínica, a
frase final “I won” e como exploram a situação na reta final da série.
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As filmagens se passaram no período em que “Os Vingadores” estava sendo gravado
nos mesmos estúdios em Albuquerque. Samuel L. Jackson, fã confesso da série,
apareceu no set dos Pollos Hermanos vestido de Nick Fury e sugeriu fazer uma
ponta, aparecendo ao fundo de uma cena. Os produtores recusaram.
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Por conta do longo intervalo, a série estreou a temporada após o período para
concorrer ao Emmy 2011 e só retornou à premiação no ano seguinte, com 13
indicações, incluindo Anna Gunn e Esposito. Aaron Paul foi o único vencedor,
sendo a primeira vez que Cranston perde o prêmio pelo papel (para Damian Lewis,
por “Homeland”).
QUINTA
TEMPORADA – PARTE 1
-
A primeira parte da última temporada estreou em Julho de 2012, com “Live Free
or Die”, episódio que bateu mais um recorde de audiência da série, chegando
próximo a 3 milhões de telespectadores. Mais quatro episódios da temporada
(sendo três da parte 2) estabelecem um novo recorde: “Say My Name”, “Blood
Money”, “Ozymandias” e “Granite State”, este último chegando a 6.6 milhões.
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A premiere começa com o primeiro flashforward desde o uso do recurso na segunda
temporada (ao menos em relação a eventos futuros da temporada e não do episódio
em si, como foi o caso de “Bug” no ano anterior). Na sequência, mostra Walt com outro nome (Mr.
Lambert, sobrenome de Skyler) sozinho em uma lanchonete no dia de seu
aniversário de 52 anos, exatamente dois anos após o piloto da série – ele
completa 51 anos no quarto episódio da quinta temporada. Com visual diferente,
vindo de New Hampshire e comprando uma metralhadora na mão do mesmo homem que o
vende uma arma em “Thirty-Eight Snub”. É o único flashforward desta primeira
parte.
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Os oito episódios são marcados por um ritmo mais frenético que o habitual visto
na série. Isso leva a resoluções mais “fantásticas”, como o magnético plano que
destrói as evidências que Hank consegue do escritório de Gus, e um espetacular roubo
de metilamina, ao conseguir toda a carga de um trem, perfeito contraste com a
primeira temporada, quando Walt e Jesse são filmados (mas não identificados)
roubando desajeitadamente um barril da substância.
-
Esta compressão de uma temporada em menos episódios (apesar de se tratar da
primeira parte, a estrutura é de algo completo) faz com que a série atropele
alguns acontecimentos, talvez menos desenvolvidos do que mereciam: é o caso da
morte de Mike e de como o último episódio tem que lidar com o império de Walt e
sua aposentadoria com um avanço de meses na cronologia, algo nunca antes feito.
-
Novos personagens surgem: Lydia, o contato de Gus com a multinacional “Madrigal”,
encarregada do tráfico internacional da metanfetamina; e Todd, que substitui
Jesse como parceiro de Walt. Ambos caracterizados como pessoas perigosas, ao
mesmo tempo de personalidades e comportamentos que não condizem com os crimes
que cometem (Lydia é confusa, atrapalhada; Todd é gentil e respeitador).
-
Dentre outros destaques, Skyler tirando seus filhos de casa ao se jogar na
piscina, o jantar na casa de Walt em que Jesse é convidado (primeira vez que
Anna Gunn e Aaron Paul dividem a cena desde a primeira temporada), a morte de
uma criança no final de “Dead Freight”, e a divertida solução para se produzir
a droga com o laboratório ambulante (Vamonos Pest!). Walt também nunca foi tão
arrogante, não se importando quando Mike coloca uma arma em sua cabeça ou como
na abertura de “Say My Name”.
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A temporada foi indicada a 13 Emmys este ano, finalmente levando o de Melhor
Série. Anna Gunn também venceu, o que significa prêmios de atuação para a série
por todos os cinco anos, além do prêmio técnico de Edição para “Dead Freight”.
No Globo de Ouro, pela primeira vez foi indicada para a categoria principal,
mas perdeu para a segunda temporada de “Homeland”.
QUINTA
TEMPORADA – PARTE 2:
-
A série chegou ao seu ápice de repercussão a partir da exibição destes oitos
episódios finais: no mundo das séries de TV, talvez nunca se viu falar tanto de
um único programa, com uma infinidade de textos sobre sua importância, sua
filosofia, a moralidade de seus personagens, teorias sobre como será o final e
análises sob todo tipo de prisma possível a respeito de tudo que se viu até
agora. Humor, vídeos e montagens feitos pelos fãs, entrevistas com elenco e
equipe de realizadores ajudam no viral. No twitter, chegaram a registrar mais
de 12 mil tweets por minuto sobre a série, após a exibição de cada episódio.
Várias pessoas têm feito maratona para estar atualizado a tempo de ver o episódio
final com todo mundo. E, claro, textos e comentários negativos têm surgido como
nunca, algo natural e necessário no meio de uma adoração exacerbada – “a melhor
série de todos os tempos” e “melhor que qualquer coisa do cinema nos últimos
anos” são frases lidas à exaustão.
-
A sequência de episódios impressiona pela capacidade de surpreender com cada
ação dos personagens. A série caminha para a conclusão com um número incrível
de reviravoltas, com o já apurado cuidado na realização, o que justifica a
excitação generalizada: os episódios não permitem respirar e vão direto na
jugular do espectador. É comum ler no twitter comentários que resumem a
experiência ao fim de um episódio com sensações como taquicardia, falta de ar e
“não vou dormir esta noite”.
-
Curiosamente, muito do que acontece os espectadores já previam há muito tempo:
Hank descobre a verdade, vai em busca de provas para prender o cunhado, Jesse
se volta contra Walt e se alia a Hank, etc. Toda a diferença é que o caminho
óbvio (inclusive para a morte de personagens) é traçado da forma mais
inesperada e surpreendente. Quando caminha, que atalhos pega, que retornos faz.
Tudo cuidadosamente planejado para o máximo de efeito-choque, sem perder a
coerência interna.
- O primeiro episódio deste ano, "Blood Money", é dedicado a Kevin Cordasco, jovem de 16 anos, fã da série, que morreu de câncer há alguns meses. Gilligan o conheceu e se ofereceu para contar como tudo acabaria. Cordasco recusou, dizendo que veria o final com as demais pessoas. Gilligan, então, perguntou o que ele gostaria de ver na reta final e o rapaz respondeu que gostaria de saber mais sobre o passado de Walt com a Gray Matter, algo nunca totalmente explicado. Segundo o criador da série, daí veio a ideia para o final de "Granite State".
-
O que esperar de “Felina”? Encerrar uma série é sempre algo complicado. Deve
agradar aos fãs e cumprir suas expectativas? Deve amarrar todas as pontas
soltas ou algo em aberto pode (e deve) ficar? O protagonista deve sobreviver,
para que sua história possa ser explorada algum dia novamente? Tudo visto em “Breaking
Bad” leva a crer que nada é mais anunciado que a morte de Walt: ele não merece
redenção, está em uma missão suicida e o câncer está de volta. Deixá-lo viver faria
sentido de alguma forma (em especial por já ter sido bastante punido nos
últimos episódios)? E como poderia morrer? Pelas mãos de Jesse, a pessoa que
mais sofreu em suas mãos? Ou uma morte digna, fazendo algo bom? Mas isso não seria
uma espécie de redenção? E que tipo de final é possível para Jesse, que não pode
ser isento de responsabilidade por vários crimes, mas que também a esta altura tem
um número de traumas que impede qualquer tipo de felicidade? Skyler e os filhos
devem ser ainda mais punidos? Quem morrerá pela ricina: Lydia com seu hábito de
tomar chá? Os ex-sócios de Walt da Gray Matter (ainda voltarão ou só foram os
catalisadores do fim de “Granite State”)? O próprio Walt após fazer o que tem
que ser feito? Ou Marie com sua obsessão por venenos irá cometer seu último ato
cleptomaníaco? E Huell, ainda estará num quarto de motel esperando por Hank? Saul
já estará em Nebraska e só voltaremos a vê-lo no prequel “Better Call Saul”? Skinny
Pete e Badger retornarão para uma despedida?
Descobriremos
logo mais e a única certeza é que, para o bem ou para o mal, seremos surpreendidos
mais uma vez. A última, por esta série inesquecível.
Hélio Flores