terça-feira, 31 de agosto de 2010

[Mad Men] 4x05 The Chrysanthemum and the Sword

"A man is shamed by being openly ridiculed and rejected. It requires an audience."

Acho que ficou bastante claro que este episódio tratou basicamente de diversas modalidades de vergonha, seja no papelão de Roger frente aos japoneses da Honda como na pequena Sally cometendo obscenidades na casa de sua amiga. Aproveitando esse tema e tomando como base a "cartilha" dos japoneses, Don Draper executa um plano para reverter a má impressão deixada por Roger e de quebra eliminar um de seus mais novos concorrentes. O grande problema é o quanto essa trama precisou ser enxuta para caber em um só episódio, algo até pouco comum na série. Além disso, estas questões de desonra e decepção são sempre recorrentes no cinema oriental e ainda mais quando vista sob o olhar estrangeiro. Entendo que essa superficialidade pode ter sido intencional, principalmente numa época em que recomeçava a aproximação entre americanos e japoneses, até mesmo através do livro que dá nome ao episódio. Porém, nada justifica a forma como Ted e os japoneses foram mal tratados pelo roteiro, servindo apenas de meros recursos para Don Draper prevalecer. É preciso algo mais elaborado para reestabelecer sua genialidade, como sempre reconheci. Terminou parecendo um episódio tradicional de House, com uma certa benevolência com o protagonista que normalmente me preocupa, embora Mad Men sempre tenha lidado com isso de maneira bem natural.

Mas houve outra cena quando isso também me incomodou. Após dois episódios longe da série, Betty aparece em sua primeira cena desferindo um tapa no rosto da pequena Sally. Apesar de claramente transformá-la em vilã para assim Don parecer com uma imagem de pai "melhor", confesso que ainda fico em cima do muro para interpretar essa atitude. Até porque isso provavelmente seria visto como algo normal na época, assim como a grosseria de Roger quando invade a reunião com os japoneses. De qualquer forma, faltou sutileza durante grande parte do episódio, como Pete entrando na sala de Roger para tirar satisfação e escancarando que ele estaria com receio de ser deixado pra trás. Como se já não ficasse ambiguo o suficiente quando Roger deixa a reunião dizendo estar satisfeito com a Lucky Strike. Outra participação que me irritou bastante foi a constante presença de Mrs. Blankenship como alívio cômico, quebrando o ritmo de várias cenas. Se era para transmitir leveza no roteiro, passaram do ponto. Até porque sem chance de Don Draper aguentar viver com esse tormento por tanto tempo, ainda que conformado com a punição por não saber lidar com uma secretária mais jovem. Já todo o rancor guardado por Roger durante tanto tempo me pareceu adequado. Além de ser consequência também da propaganda na época da guerra, seu sarcasmo sempre mostrou certa dose de intolerância, como na vez que cantava com a cara pintada de preto.

O que achei mais interessante foi como aquele tema de privado/público da semana anterior apareceu também na trama envolvendo Sally. Afinal, ela se escondeu para cortar o cabelo e foi acusada (injustamente) de masturbar-se em frente à amiga. Posso imaginar como deve ter sido difícil dar instruções à pequena atriz de como reagir em cena. Enquanto Sally se mostra cada vez mais rejeitada pelo pai, a ponto de chamar atenção e querer ficar parecida com uma de suas namoradas, ela está cada vez mais exposta a todo tipo de situação que ainda não é capaz de compreender. Some isso às constantes ameaças e mesmo agressões para termos um legítimo caso a ser tratado pela Dra. Edna. Na breve entrevista em seu consultório, Betty reforça suas inclinações infantis não só se mostrando à vontade com a psicóloga -- que faz questão de ser chamada pelo nome --, como ao final olhando fixamente para a casa de bonecas, ao mesmo tempo satisfeita por ter colocado tudo em ordem em sua própria casa e irritada pela filha não reconhecer/valorizar isso. A decisão de focar a tensão na sala de espera em sua primeira visita, quando Betty também não faz questão de estar presente, também pareceu um acerto, principalmente por manter a privacidade de sua sessão.
Outros dois momentos brilhantes do episódio aconteceram exatamente quando os personagens puderam "respirar" melhor em cena. No primeiro deles, Joan aproveita sua intimidade de longa data com Roger para convencê-lo de que deveria se orgulhar por ter ajudado a fazer um mundo melhor. Ela mostra novamente toda sua competência sabendo separar seu lado profissional do pessoal e agindo com extremo otimismo, mesmo que a iminente partida de seu marido à guerra seja tudo o que ela mais teme na vida. No outro momento, Don Draper encontra Faye Miller na cozinha da SCDP após um longo dia de trabalho. Se a relação dos dois sempre esteve abalada por divergências profissionais, ambos encontram um ponto em comum quando começam a compartilhar seus segredos. E Don aproveita como nunca se viu (ao menos com uma mulher) para revelar seus receios e aflições em relação aos filhos. Ainda fragilizado, ele termina sozinho sem nem mesmo tentar chamá-la para sair. Parece questão de tempo para aprofundar esse envolvimento, que começo a considerar cada vez mais benéfico para Don. Seria por saber agora a verdade por trás do falso anel de casamento? Ou porque, como diria Peggy no grupo de pesquisa, ela é muito boa para lidar com as pessoas?

Falando em Peggy, não posso deixar de destacar minha cena favorita do episódio, quando ela finge estar gravando o comercial no estúdio. Uma garota sobre uma motocicleta vermelha andando em círculos num cenário branco. Poderia ficar horas e horas vendo essa imagem e posso garantir com certeza que é melhor do que grande parte da publicidade veiculada atualmente.
(retirado de bestweekever.tv)

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

[The Wire] 1x11 - The Hunt

Maratona "The Wire" chegando na reta final da Primeira Temporada da série, com comentários (com spoilers) do episódio 11:


1x11 - The Hunt


"Dope on the damn table." - Daniels

Para uma série que investe tanto em detalhes, era óbvio que este episódio tinha que começar exatamente onde o último acabou, usando as primeiras horas de investigação do ataque a Orlando e Greggs para acompanharmos como os personagens se comportam e lidam com a situação.

Eu tinha reclamado de como a operação foi muito mal planejada por uma polícia bem menos cuidadosa que os criminosos, mas também fica claro o quanto foi ruim para Avon a tentativa de matar uma policial, sendo obrigado a se livrar de Little Man, e Wee-Bey tendo que fugir. E se pensei que tudo isso ao menos serviria para incentivar o destacamento, acabou prejudicando a investigação, com a necessidade de resultados, precocemente invadindo o esconderijo de Avon. Erros e problemas para todos os lados.

Toda a situação permitiu mais tempo de tela a Rawls, mostrando astúcia e competência na cena do crime, e ainda reconfortando McNulty para que este não se sentisse culpado (no melhor estilo Rawls de ser, obviamente). Lester também mostrou porque é o homem mais inteligente do destacamento e, com a ajuda de Prez, não demora em descobrir os responsáveis pelo crime (mais uma vez, algo que já sabíamos, mas novamente prazeroso pela lógica utilizada pelos personagens). Na verdade, a riqueza de detalhes que se acumulam durante a série é tão grande, que nada parece ser desperdiçado – até mesmo uma mancha de marcador em um sofá retorna para um efeito dramático.

Os últimos episódios têm dado uma atenção a Bubbles que não se relaciona diretamente ao caso Barksdale. Aqui, retorna ao centro da trama principal, ao buscar informações sobre quem poderia estar envolvido no crime. Pior para ele, que esperava uma ajuda de Greggs exatamente quando ela leva os tiros, e agora seu maior relacionamento é com McNulty, egocêntrico e insensível o suficiente para vê-lo apenas como o informante drogado que pode servir para alguma coisa.

McNulty também usa Rhonda para chegar ao advogado de Avon, e são sempre atitudes que confirmam o mal que ele faz às pessoas (como Bunk disse alguns episódios atrás), mas desta vez como não concordar com ele sobre toda a ambição envolvida e interesses que acabam por dificultar o trabalho contra as drogas e o crime? O próprio juiz Phelan já não é mais “your daddy”, pensando no seu próprio futuro.

Algo curioso que me chamou a atenção neste episódio foram os pequenos detalhes relacionados a preconceito: primeiro o Comissário confunde o Tenente Daniels com um homem branco; depois, Burrell e demais se incomodam ao descobrir que Kima tem uma namorada; e, por fim, o próprio Burrell, único negro entre o alto comando, sequer é enquadrado na imagem da TV, no momento em que a apreensão de drogas é noticiada, resultando numa cena hilária.

Única crítica que tenho a fazer é toda a seqüência envolvendo Wee-Bey e D’Angelo, uma bobagem já vista tantas vezes em que alguém acha que será morto, mas na verdade o que acontece é algo bem bobo. Como D ter que cuidar dos peixes de Bey. Muito mais interessante é o encerramento do episódio, em que Prez anota como irrelevante uma conversa em que Wallace planeja voltar à Baltimore. A transição da tela de gravação desta chamada para o monitor no leito de Greggs é o sutil prenúncio do que deve vir por aí.



Hélio Flores
twitter.com/helioflores

domingo, 29 de agosto de 2010

[The Wire] 1x10 - The Cost

Continuando com a maratona "The Wire", comentários (com spoilers) do episódio 10 da Primeira Temporada:


1x10 - The Cost

"And then he dropped the bracelets..." - Greggs

Um problema em ver The Wire apenas agora é o cuidado que se deve ter com spoilers, que incluem até informações mínimas, como saber a quantidade de episódios em que um ator participa. É que são muitos personagens e a trama inevitavelmente resultará em baixas no elenco. E com o destacamento cada vez mais pressionado para encerrar as investigações sobre Avon Barksdale, a tensão começa a ser uma constante: quem será preso? Quem morrerá?

Eu não sei se Kima Greggs vai sobreviver. Por um lado, sua personagem sempre teve destaque, desde o início, inclusive uma das poucas a ter sua vida pessoal mais desenvolvida pela série. Por outro, deu pra pressentir a tragédia quando, momentos antes, Kima narra o momento em que decidiu que esta era a profissão que gostaria de seguir – algo que nunca agradou sua namorada. E aí é onde este episódio me incomodou um pouco: The Wire nunca é óbvia, mas todo o planejamento para culminar naquele final veio de um roteiro um pouco apressado, onde as coisas ocorrem de forma rápida e pouco cuidadosa.

Claro, a emboscada sendo apenas ouvida pelo rádio dos demais policiais é angustiante; o desespero de Daniels, Carver, etc. é comovente; tudo é de muito bom gosto e empolgante. Mas em uma série que tem o mérito de nos brindar com personagens inteligentes e cautelosos (Stringer Bell exemplar na conversa com Omar, Avon cortando a conversa até Shardene sair da sala), é terrível imaginar que este plano de compra-detenção foi a melhor opção que a polícia encontrou. Greggs acompanhando Orlando (que já estava “queimado”) naquele local e com tão pouca proteção? Sério?

Independente do que acontecerá a Greggs (no momento, acredito que esteja morta mesmo), será um impulso enorme para o destacamento ser mais valorizado, em busca de Avon, tornando tudo bem mais pessoal para Daniels e cia. Algo que parece chegar no momento certo, já que o próprio juiz Phelan começa a lidar com as conseqüências de permitir que esta investigação vá adiante.

Além de toda a situação com Orlando surgir e se resolver rápido demais, tivemos Wallace também, facilmente colaborando com a polícia. Não que eu esperasse o contrário (a série vinha construindo isto há alguns episódios), mas já é outro personagem que está com a maior cara de MORTO até o final da temporada. O que será uma tragédia, já que o garoto vem sendo uma das figuras mais carismáticas até agora.

No episódio, ainda ficamos sabendo como a esposa de McNulty descobriu de sua traição; Bubbles tentando se manter limpo; Omar foge para New York (torcemos que por pouco tempo), enquanto Avon fica ainda mais difícil, com Stringer recomendando um afastamento mais direto dos negócios. E Shardene começa seu trabalho como “espiã” (curioso que lembra um arco dramático de “The Sopranos” que, se não me engano, surge no mesmo período desta primeira temporada de "The Wire"). Tivemos também mais uma participação de “Proposition Joe” (não lembro se o nome foi dito no episódio anterior), que promete ser outro personagem interessante e hilário.



Hélio Flores
twitter.com/helioflores

sábado, 28 de agosto de 2010

[The Mentalist] The Mentalist vem aí...

Por Danielle M



Então é isto! Mais uma série coberta pelo Ces. Dia 23 de setembro, The Mentalist retorna para sua 3a temporada.

Faremos um review do que aconteceu nas duas anteriores e partimos depois para a atual. Não sei quanto a vocês, mas depois de Lost quero uma série tranquila, com poucos mistérios - porque Red John aparece em um ou dois episódios por temporada e olhe lá, hein...- E esse show é um refresquinho bom e despretensioso.



Então vamos acompanhar a agente Lisbon e seu grupo não muito normal, divertir com o casal non sense Van Pelt e Rigsby , com o humor seco de Kimball e é claro, com o canastrão (ok, sei que já foi indicado ao Emmy) mais charmoso da TV , Patrick Jane, o mentalista [/sbt] em pessoa.



**Fotos: reprodução Google Image

/@dannamagno

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

[The Wire] 1x09 - Game Day

Dando continuidade à maratona "The Wire", comentários (com spoilers) do episódio 9 da Primeira Temporada:

1x09 - Game Day

"Maybe we won." - Herc

O que os personagens jogam parece mais com xadrez, mas o jogo da vez é o basquete, com a famosa disputa entre Eastside e Westside, oportunidade única que a polícia tem de dar uma boa olhada em Avon. Daniels não resiste em persegui-lo (louco para que isso tudo acabe) e só mostra como Barksdale é cuidadoso e esperto. Mas como Avon já disse para D’Angelo, isto é vida e por mais cautela que se tenha, é impossível garantias. Isto é comprovado quando Omar chega tão perto de matar Avon, naquele final tenso (embora um tanto conveniente, roteiro não costuma ser assim em The Wire, mas tudo bem) que curiosamente remete à frase do próprio Omar no episódio anterior (“vindo ao Rei, melhor não falhar”).

Se Avon ainda pensava em considerar os conselhos de Stringer, bem provável que agora parta com tudo, o que certamente não será bom pra ninguém (a propósito, me incomoda um pouco a incrível auto-confiança de Omar ao roubar as drogas; pelo fantástico trabalho do ator e construção do personagem, é bastante verossímil o medo que ele desperta, mas me pergunto se ninguém um dia vai pensar em atirar na sua cabeça da próxima vez que se expor assim). O jogo, como no xadrez, vai ficando mais aberto, com peças inevitavelmente sendo sacrificadas e todos mais expostos.

Mas nem todo mundo quer jogar: Wallace pretende voltar aos estudos (e quer momento mais simpático de D’Angelo ao incentivar o garoto?), enquanto Bubbles parte para mais uma tentativa de se livrar das drogas, com a ajuda de uma parente (ou ex-mulher?). Outros investem em novas jogadas (a montagem em que Lester explica como encontrarão documentos e propriedades que se ligam à Avon não é original, mas sintetiza tudo de forma muito eficaz), se aproximando do inimigo através de novas peças no jogo (Shardene, para a polícia; o “técnico” do time de Westside para Omar) ou mesmo burlando algumas normas (Carver e Herc ouvindo conversas eróticas que acabaram dando em algo; McNulty fingindo que Sydnor estava no alto do prédio confirmando uma ligação).

Episódio incrível. De novo.



Hélio Flores
twitter.com/helioflores

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

[Spartacus: Blood and Sand] S01E13 - Kill Them All (Season Finale)

por Rafael S


"You know that in another life, you and I may have been as brothers. But not in this one." - Crixus

Com essa tão significativa frase, abro minha análise desse espetacular season finale de Spartacus: Blood and Sand. Um episódio superlativo em todos os quesitos: ação, violência, mortes, desfechos, mas cuja força motriz residiu nessa difícil relação entre Crixus e Spartacus. Dois homens mais parecidos do que podemos imaginar: simples, devotados a um grande amor, e arriscando praticamente todos os dias suas vidas na arena. Sempre bastante orgulhoso, Crixus pareceu odiar mais seu rival do que o contrário, mas a expulsão de Naevia do ludus o fez ter uma nova visão de mundo. Visão muito mais parecida com a de Spartacus, que também perdeu ali seu grande amor (mas de forma definitiva). E a partir dessa percepção mútua de como suas vidas são manipuláveis, meros jogos nas mãos dos mais nobres, é que uma tão improvável parceria nasceu. Não digo surpreendente pois já havia comentado em textos anteriores sobre a expectativa desse momento no qual os dois iriam unir forças. Mas ver isso acontecendo foi simplesmente de arrepiar. A incredulidade de Crixus até o último momento, a gana de Spartacus em mobilizar os escravos, sabendo da importância da participação de Crixus nesse levante...tudo culminou em um mero sinal de gaulês em seu escudo, o suficiente para o trácio saber que finalmente estavam no mesmo lado e dar início ao massacre.

E esse momento pareceu ainda melhor graças ao grande cadenciamento da primeira metade do episódio, contado de forma a intercalar o presente com fatos que precederam a festa dada por Batiatus. Um ritmo capaz de criar em quem estava assistindo toda uma expectativa pelo que viria a seguir. Mas não foi um massacre qualquer que aconteceu. Foi o maior banho de sangue que já presenciei em uma série de televisão. Aproximadamente 20 minutos que pareceram um único e concentrado clímax, onde todas as rivalidades, ódios, mágoas, foram à forra na forma de sangue, muito sangue. Tão impactante que nos leva até a questionar a subjetividade dos pontos de vista da história. Se não conhecêssemos a vida daqueles gladiadores e escravos, toda aquela chacina soaria como a simples e pura barbárie, sem sentido algum. Mas depois de 12 episódios vendo suas histórias de perto, nós já entendemos cada mágoa e frustração daqueles homens e mulheres - não que justifique ou torne o massacre menos impactante, mas ao entendermos suas motivações, de algum modo expiamos a culpa deles. Uma dualidade perigosa, mas é inegável como não dá para não torcer por eles.

E o capítulo foi trabalhado de modo que todos tivessem seu momento de desforra. Os gladiadores, é claro, contra seus novos opressores (os legionários que haviam ocupado o ludus). Ali, os destaques foram os irmãos Agron e Duro, unidos por um objetivo comum, que finalmente se entenderam como irmãos na morte da morte de um deles (Duro). Mas até as escravas tiveram vez. Aurelia, face a face com Numerius, a criança mimada que ordenou a execução de seu marido, enfiou uma faca nele até não poder mais, tomada pelo puro ódio.

Já com Doctore foi um pouco diferente. No início do capítulo descobrimos seu verdadeiro nome (Oenomaus), e logo em seguida ele foi seduzido por uma proposta tentadora feita por Batiatus para se tornar o novo dono do ludus (o que fez com que ele evitasse a morte de Batiatus logo no primeiro ataque). Mas depois de ter seus olhos abertos por Crixus, foi a vez dele acertar seus ponteiros com seu grande calo: Ashur. E aí tivemos a mais perfeita caracterização de um personagem na série. Acuado por Doctore, Ashur desabafou todo seu ressentimento de sempre ter sido tratado como motivo de chacota por todos, praticamente acusando Doctore, ali representando todos os gladiadores, de o terem transformado no que ele é hoje (tudo isso com uma bela atuação do Nick E. Tarabay). E como grande verme que ele é, o atacou sorrateiramente, ganhando tempo o suficiente para fugir se escondendo entre cadáveres - e ver Ashur se esgueirando embaixo de uma pilha de corpos foi o simbolismo exato de como ele sempre se portou. Um dos momentos mais bem sacados da série.



Enquanto isso, Crixus sabia muito bem quem procurar naquela confusão. Aquela que havia lhe usado somente como brinquedo sexual todo esse tempo, que carregava seu filho no ventre, mas nunca iria revelar a verdade sobre seu pai, e que tinha surrado e expulsado sua mulher do ludus: Lucretia. Encurralada, ela tentou ainda barganhar sua sobrevivência, mas com toda a dor do coração, o gaulês enfiou uma espada em seu ventre, bem aonde estava seu próprio filho, em uma cena fortíssima. Filho indesejado em uma mulher indesejada. Vê-la com a pura expressão de pavor no rosto enquanto vertia sangue pela sua barriga foi assustadoramente macabro.

E por fim, o encontro entre Spartacus e Batiatus foi o momento mais aguardado da temporada. O lanista antes de morrer viu tudo que havia construído nos últimos tempos - prestígio, contatos, posses - se acabar pelas mãos dos escravos. Seu ludus foi lavado de sangue, assim como seus planos e ambições. Batiatus morreu vendo seu sonho escapar entre seus dedos pouco antes de se concretizar, e as duas únicas coisas que sempre teve na vida, seu ludus e sua mulher, agonizando ao seu redor. Em uma inversão de papéis, foi a vez do nobre lutar pela sua vida enquanto era observado pelos escravos, que a tudo assistiram de camarote. E com sua garganta cortada pela espada de Spartacus, teve fim toda a história da casa de Batiatus.



É curioso notar como cada um ali executou sua vingança pessoal, mas todas convergiram para um objetivo coletivo, mesmo que eles não soubessem. E quem melhor que o protagonista para resumir todos esses esforços com seu forte discurso, para uma plateia de escravos banhados de sangue, agora sem rumo na vida? Presenciamos ali o clássico momento de nascimento de um líder, capaz de reunir todas aquelas pessoas desamparadas, frutos de uma sociedade excludente. O ponto final nesse arco de histórias do ludus, e a primeira pedra da nova estrada que esses personagens - Spartacus, Crixus (em busca de Naevia, onde quer que ela esteja), Aurelia, Mira, Doctore, Agron, entre outros - irão começar a trilhar para sua sobrevivência nesse mundo que não os aceita.

E do outro lado? Sobraram Claudius Glaber (grande ausência do episódio - mas me pareceu o caso de ter sido poupado para a temporada seguinte) e sua mulher, Ilithyia, esperta o suficiente para fugir durante a confusão. E sendo Claudius um líder de tropas legionárias, ele deverá entrar em confronto direto com o bando de Spartacus no futuro. As possibilidades que se abrem são muito promissoras.

Olhando além de todo o sangue, areia e pele que estiveram tão em evidência, Spartacus: Blood and Sand teve uma primeira temporada espetacular. 13 episódios consistentes, com bons personagens e roteiros. E que venha a segunda parte dessa lenda em 2011 (vai ser dura a espera).

Fotos: Reprodução



Rafael S
http://twitter.com/rafaelsaraiva

terça-feira, 24 de agosto de 2010

[The Wire] 1x07 - One Arrest; 1x08 - Lessons

Demorou, mas a maratona "The Wire" está de volta. Por conta do atraso, seguem comentários (com spoilers) de mais dois episódios. Depois, tentarei manter a média de um episódio a cada dois ou três dias. Quem sabe até o final do ano a gente consiga comentar as cinco temporadas da série...

1x07 - One Arrest

"A man must have a code." - Bunk

Passando da metade da temporada, The Wire já tem uma riquíssima coleção de personagens, bem definidos mas, como todo ser humano, sempre capazes de nos surpreender. A esta altura, já dá pra acompanhar com um prazer enorme qualquer coisa que eles façam, embora a trama seja tão bem estruturada e amarrada, que na maioria das vezes é reação à cadeia de eventos que liga todos e tal reação gera novos e imprevistos caminhos.

Aqui, vê-se com muito gosto todo o trabalho de Lester e Prez decifrando os códigos do grupo de Barksdale, toda a discussão e o trabalho de antes e depois da apreensão da mercadoria transportada, em especial com a dupla “Batman & Robin” formada por Herc e Carver; Jay sacaneando Santangelo com a dica da vidente; a reação de Bubbles ao ouvir o depoimento de um dependente químico, enquanto Johnny não leva a sério; o fato de que quem estava com Stinkum era o jovem que perdeu um olho para Prez, não deixando para trás a violência do personagem que tem se tornado cada vez mais simpático; e, principalmente, a única cena de Wallace, se drogando: vem logo depois de Poot dizer para Bodie que após a morte de Brandon, Wallace não saía de casa, e talvez seja o momento mais forte e triste do episódio. E é uma cena que dura poucos segundos. Se diz tanto, é só graças ao cuidadoso trabalho construído desde o início da série.

O mesmo, inclusive, pode ser dito da cena final, com McNulty batendo na casa de Rhonda. Há uma simpatia enorme pelo detetive quando diz “Adoro este maldito trabalho e eles vão acabar comigo”, porque sabemos o quão sincero ele está sendo.

McNulty sabe dos planos de Rawls, graças à Santangelo que, apesar de incompetente, não sacaneia colegas de trabalho. Todo homem deve ter um código, como diz Bunk. O de Omar é não matar pessoas que não façam parte do jogo, como fez Bird ao matar William Gant. O de Bird certamente é o de não dedurar o chefe, sendo tão desagradável durante o interrogatório que fica até difícil condenar a surra que ele leva (e vejam que são os superiores quem batem!).

Os principais avanços da trama ficaram por conta da apreensão da mercadoria, especialmente porque se Lester é inteligente ao decidir que Stinkum não pode ser preso, Avon e Stringer também são, percebendo que há algo errado, levando Stringer a destruir os telefones públicos grampeados. A comparação que D’Angelo fez (“The Buys”) com o jogo de xadrez não se resume apenas à posição e modo de se movimentar das peças. O que temos aqui é uma verdadeira disputa entre o destacamento comandado por Daniels e a gangue de Avon, em que cada jogada brilhante é percebida pelo adversário que, conseqüentemente, retribuirá com outro movimento inesperado.

E quem ganha nesse jogo estratégico somos nós.


1x08 - Lessons

"Come at the king, you best no miss." - Omar

Acontece tantas coisas em “The Wire”, que acabo esquecendo de comentar algumas, que tiveram maior desenvolvimento aqui: primeiro, como McNulty nem percebe o que faz com os filhos, trazendo-os para seu trabalho, levando-os com Omar para um necrotério e agora fazendo-os seguir ninguém menos que Stringer Bell, na abertura do episódio que se encerra com a cruel constatação de um Bunk mega bêbado de que McNulty não faz bem às pessoas (e aqui ele prejudica a investigação de um colega, além de acusar Daniels de “rabo preso” com Burrell, embora neste caso tenha motivos para suspeitar disso). Interessante como esta natureza de McNulty fica evidente logo após o episódio anterior se encerrar de uma forma que desperta simpatia pelo personagem.

Outro ponto que eu não havia comentado foi sobre a proposta que Orlando faz a D’Angelo que acaba mal para o primeiro, quando isso chega aos ouvidos de Avon (que curiosamente não parece se irritar com o fato de uma suposta concorrência nas drogas, mas sim a possibilidade de ter o nome de Orlando manchado). E isso graças a uma tremenda ingenuidade de D, que se sente cada vez mais deslocado deste meio, assumindo isto para Shardene momentos antes de saber sobre a morte de Stinkum. Sempre interessante ficar imaginando como os personagens vão reagir.

Também não havia comentado no episódio anterior a ida de Daniels a um importante evento, cheio de políticos, onde ele conhece um motorista, que agora acaba sendo detido com dinheiro vindo de Barksdale. Como sempre, a seqüência serve para falar um pouco mais sobre os personagens (Daniels se sente melhor discutindo sobre um jogo na cozinha, com motoristas do que com os patrões destes), mas que mais adiante tem função dramática maior.

A grande sacada aqui se resume no que Daniels sintetiza da mensagem enviada por Burrell: quando se segue drogas, tem um caso de drogas; quando se segue dinheiro, não se sabe aonde vai parar. A maior ambição de The Wire está em fazer um painel mais completo possível, com todas as ramificações do mundo das drogas. Toda a trama envolvendo a prisão do motorista não chega a lugar algum (ele é solto e a decisão de encerrar o destacamento é cancelada), mas enriquece o universo da série, mostrando algumas das dificuldades do trabalho de Daniels, McNulty e Cia., quando interesses e pessoas maiores podem estar envolvidas das mais variadas formas.

Como se já não fosse suficiente para um episódio, este chama-se “Lessons” e temos alguns personagens envolvidos com estudos: Wallace (ainda deprimido) tenta ajudar uma das crianças com problemas de matemática e percebe como a dureza e pressão da realidade forçam um aprendizado que a escola não dá conta; Herc e Carver, mais uma vez como alívio cômico, fazem exame para Sargento; e McNulty descobre que Stringer Bell toma aulas em um colégio comunitário para melhor administrar seus negócios (raro momento em que personagem e espectador descobrem juntos alguma coisa).

As frases que abrem o episódio normalmente estão relacionadas com o “tema maior” (por assim dizer) em questão, mas desta vez se refere quase que exclusivamente ao tiroteio (também raro para uma série policial) em que Omar se vinga de Stinkum e Wee-Bey, mostrando porque se deve temer este homem, que aproveita suas visitas ao destacamento para pegar informações do mural de investigação (e o que é aquela cena em que Omar segura uma criança no colo e observa o que os rapazes de Avon fazem com sua van? Não sei se é pra sentir pena dele, temer pela criança ou pelos próprios criminosos que sentirão sua fúria).



Hélio Flores
twitter.com/helioflores

domingo, 22 de agosto de 2010

[Mad Men] 4x04 The Rejected

Após um episódio que dividiu opiniões na semana passada principalmente por conta de suas disparidades, Mad Men apresenta essa semana um dos episódios mais coesos de toda a série. Já considero este um de meus favoritos, tanto por toda coesão já citada como pela sutileza e as provocações tão bem construídas. Por isso, esse texto será um pouco diferente nesta semana, tentando mostrar sua qualidade mais com imagens do que com palavras. Até porque não existe série na atualidade que explore tão bem a arte da mise-en-scène. Para quem prefere textos mais "convencionais", recomendo os do Sepinwall, do Seitz (que tenta se redimir das críticas da semana passada) e do Mateus Borges.

1. "It's nobody's business!" – Don Draper


Fiquei bastante impressionado logo na primeira cena pela estreia de John "Sterling" Slattery na direção: além de precisar também atuar durante a cena, roteiros que dependem de conversas telefônicas, ainda mais em "conferência", tem sempre um nível maior de complexidade. E ele se sai muito bem, ainda que grande parte das direções fossem indicadas pelo próprio roteiro, co-assinado por Matthew Weiner. Espelhos e vidros são itens frequentemente usados pela produção na composição dos cenários, mas dessa vez aparecem como motivo para explorar a ilusão de privacidade na pesquisa de grupo conduzida pela Dra. Miller. Além disso, na cena que já virou clássica, Peggy resolve espiar por cima da divisória a reação de Don ao descontrole de Allison, parecendo que os dois foram acomodados em salas vizinhas para proporcionar esse momento. Don Draper é bastante taxativo quando decide rejeitar o resultado da pesquisa, dizendo que não se pode reafirmar aquilo que seu público alvo já pensa. Claramente alterado por Faye Miller ter extraído a dor das garotas e principalmente de Allison, Don Draper resume dizendo que essas particularidades não interessam a ninguém. Afinal, o que acontece entre quatro paredes fica entre quatro paredes, até mesmo para um casal de velhinhos discutindo sobre peras no final.

2. "It feels much different than I expected." – Pete
"How would you know what this feels like?" – Trudy



Todo o episódio foi construído através de paralelos, não só no mais notável deles, carregando cada diálogo e gesto de Pete com seu passado envolvendo a gravidez de Peggy, mas também em situações mais abrangentes como casamentos e negócios. Joan se sente rejeitada por não participar da pesquisa de grupo com as solteiras, enquanto Peggy tenta provar o anel de Faye sob o olhar surpreso de Don Draper, que por sua vez continua a se afundar em sua vida pós-divórcio, sem nem mesmo conseguir colocar em palavras. Allison tenta comparar sua situação com a de Peggy, que trata de deixar bem claro que nunca teve os mesmos problemas. E em lados opostos sentam-se os dois antigos oponentes Pete e Ken, comparando a visão de suas atuais empresas. Mas é motivado pela estratégia de Ken que Pete descobre finalmente como reverter a rejeição à Clearasil, chantageando seu sogro para conseguir uma conta ainda maior.


3.


Se o pilar no meio da sala não permitia que Pete tivesse visão clara das coisas (e é interessante que ele só consiga resolver seu problema quando deixa o escritório), para Peggy o pilar serve de confortável encosto na festa, apresentando a contra-cultura em toda sua essência. Logo que percebi o interesse de Joyce pensei que sua provável investida serviria para pegar Peggy de surpresa, mas pelo contrário, ela prontamente responde com uma sacada desconcertante. Mesmo que muito à vontade, ela ainda se mostra insegura diante de tantas ameaças ao seu conservadorismo. Apesar de apreciar o filme e as fotos de nudez por exemplo, Peggy logo se reprime dizendo ser católica e imaginando a reação da mãe de uma das modelos.

"The Rejected" termina com Pete e Peggy seguindo caminhos diferentes, dentro e fora da empresa, enquanto trocam sorrisos de admiração. Muito mais do que reconhecer aquilo que cada um conquistou, serve de conclusão para a relação entre os dois, para sempre abalada pelo filho perdido. Como já é tradição da série a cena é toda contemplativa, exigindo que cada espectador preencha com seus motivos e lembranças, assim como fazem os próprios personagens.


Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

[90210] S02E22 - Confessions (Season Finale)

por Rafael S


Episódio final de temporada sempre é movimentadíssimo, e Confessions já começou com o pé no acelerador, revelando de prima uma dúvida que teve pouco tempo para habitar a cabeça dos espectadores: afinal quem é o pai do bebê de Jen? A foto acima responde ao questionamento, e deu uma nova dimensão a todo o desacerto pessoal que Ryan vem vivendo nos últimos capítulos. Se descobrir pai reverberou diretamente em sua busca por identidade, até pelo modo quase instantâneo com que abriu o jogo com Jen, contando que queria participar da vida da criança. Mas claro que a loura prontamente o proibiu, e essa briga deve ser o mote do personagem durante o começo da terceira temporada. E além disso, ele presenciou uma cena bem importante no final do episódio - mas isso comentarei mais pra frente no texto.

Mas enquanto é interessante ver o quanto um personagem como o Ryan vem sendo trabalhado com calma ao longo dos capítulos, é fácil perceber como outros não tem a mesma sorte. Sabe aquela história de ter que inventar uma reviravolta por episódio para prender o público? É chato ficar batendo nessa tecla toda hora, mas esse episódio bateu o recorde de separações e voltas. A começar pelo péssimo casal Teddy a Silver, que não demoraram nem um capítulo separados e já reataram, tudo em cenas extremamente desinteressantes que nem valem a pena serem comentadas aqui. Já Adrianna e Navid, como esperado, voltaram a namorar. Para isso, o roteiro mais uma vez utilizou a transmissão "sem querer" do Blaze para todo o colégio como parte da cena, uma falta de criatividade latente. E pra piorar, parece que Javier não foi jogado totalmente para escanteio, sendo bem capaz que volte na temporada que vem.

E infelizmente, terei que citar Dixon e Ivy nessa lista também. Todos sabem que sou um grande defensor do casal, mas nesse episódio as coisas passaram do ponto. A briga dos dois já era esperada (devido ao beijo do rapaz e Silver no capítulo anterior), mas o modo como eles reataram foi de uma breguice imensa. Planetário? Narração clichê? Tudo de muito mal gosto. Mas ao menos o casal acabou junto a temporada, indo viajar para a Austrália - sendo que ele foi sem a autorização dos pais. Vai ser interessante ver seu retorno das férias, já que ele acabou não presenciando os momentos finais da ruína da sua família.

Sim, pois tudo que havia previsto de ruim para acontecer com Harry, aconteceu. Primeiro, ele foi chantageado por Mark, e teve que contar a verdade para a superintendente do colégio. Assim, ele perdeu seu emprego, e esse foi o estopim para sua briga definitiva com Debbie, em um tom claramente fatalista. Com ambos cientes do fracasso do casamento, só restou a eles sentarem na cozinha da sala e esperarem por Annie chegar para lhe comunicar sua decisão. Mas curiosamente os roteiristas deixaram um gancho justamente nesse momento crítico. Será que para a temporada que vem eles ainda vão manter o Rob Estes? Pois tiveram todas as oportunidades de já fechar sua participação nesse episódio, mas não o fizeram. E como sempre acontece um salto na história entre as temporadas (por causa das férias e tal) iremos descobrir junto com Dixon tudo isso, que terá muitas surpresas ao voltar da Austrália.

E se Debbie e Harry esperaram Annie chegar para contar a verdade, o contrário também aconteceu. Decidida em contar aos pais toda a verdade sobre o atropelamento, ela encontrou em Liam a força e o apoio para encarar toda a culpa que sentia pelo acidente. Desabafou com o rapaz, que foi muito compreensivo o todo tempo. Mas nada de beijo! Quem diria que esse casal não iria se concretizar até o fim da temporada - como namoros sempre começam e acabam em uma velocidade impressionante, essa trama ser trabalhada de um modo mais lento realmente me impressionou (e positivamente). Mas mesmo que não tenha acontecido nada, só de ver os dois juntos já transtornou a mente de Jasper, que sim, voltou ao seu modo psicopata de antes. E em sua vingança sobrou para Liam, que viu seu barco, fruto de meses de trabalho, ser consumido em chamas pelo ciúme doentio do cineasta.



Assim, enquanto Jasper ia sendo moído pelos punhos de Liam, esse ia progressivamente retornando a sua estaca zero. Quem acompanhou e leu meus textos sobre Melrose Place aqui no blog, viu que comentei como David tentava fugir de seu passado problemático e índole explosiva, mas acabava sempre voltando a eles (e assim ele terminou, com o fim da série). Em 90210, o mesmo acontece com Liam. A segunda temporada representou uma grande evolução para o personagem: seu envolvimento com Ivy, seu namoro - e posterior separação - com Naomi e sua recente amizade com Annie, tudo isso contribuiu para seu crescimento pessoal, mas diversos acontecimentos o traziam de volta à sua fera interior. E com seu barco (a materialização de todo seu esforço) destruído, ele viu tudo isso lhe escapando entre os dedos. E ao encerrar a cena com o som de sirenes policiais, a série deixou um gancho se ela estaria ali para prender Jasper (mas não creio que ele tenha deixado provas para isso) ou Liam (que estava espancando-o). Em se concretizando a segunda opção, é mais uma prova de como Liam não conseguiu fugir do seu karma. Triste.

Mas a grande reviravolta desse season finale foi o destino de Naomi. Entre o fim de seu namoro com Liam e problemas com Jen, não pensei que fosse haver espaço para mais incidentes com ela, mas aconteceu. E envolvendo o professor Cannon. Ele, que parecia ser um personagem que já tinha cumprido seu papel na série (e até sumido por alguns capítulos) retornou revelando-se ser de fato um maníaco sexual! Não dá para saber se essa revelação já havia sido planejada ou foi bolada de última hora, mas eu definitivamente não esperava por isso. Assim, essa trama configura-se imediatamente como uma das grandes expectativas para a terceira temporada, com ele se aproveitando sexualmente dela, contando com o fato dela ter sido desacreditada publicamente e que se contar a verdade, ninguém mais acreditará. Mais uma grande derrota para Naomi, que de uma vez só voltou a ser atormentada pela irmã, perdeu o namorado e agora isso. Talvez a salvação esteja nas mãos de Ryan, que viu uma movimentação suspeita na sala onde estavam os dois - mas ele estava tão alcoolizado ali que não dá para saber que conclusões ele pode tirar daquilo.



90210 teve um bom season finale, ainda é claro sofrendo dos problemas de sempre, mas que conseguiu dar destinos inesperados para vários personagens, gerando expectativas para a próxima temporada. Agora é só esperar pela volta da série dia 13 de setembro. Até lá!

Fotos: Reprodução



Rafael S
http://twitter.com/rafaelsaraiva

domingo, 15 de agosto de 2010

[The Wire] 1x05 - The Pager; 1x06 - The Wire

Continuando com a maratona e sem saber se poderei postar nos próximos dias, seguem comentários (com spoilers) de mais dois episódios da primeira temporada de "The Wire".

1x05 - The Pager

"... a little slow, a little late." - Avon Barksdale

Com episódios de 60 minutos de duração, fica difícil acompanhar tudo o que acontece em “The Wire”, em especial porque a série dá um espaço quase que igualitário ao grande número de personagens. Aqui, muita coisa acontece, algumas sem relação direta com outras, mas que servem para amplificar nossa percepção dos personagens e que com certeza terão implicações futuras.

Entre estas seqüências: Carver e Herc colocando em ação os planos do episódio anterior, fracassando (como era de se esperar) ao interrogarem Bodie numa cômica interação entre os três; Bubbles visitando seu amigo no hospital, e aqui cabe um grande elogio à série que consegue fluir entre cenas de humor (como a do trio Carver/Herc/Bodie) e de muita sensibilidade, como a relação destes dois, que ainda não ficou clara e nem sei se é necessário explicar alguma coisa; McNulty e seus problemas conjugais, sofrendo para montar uma cama que não será usada pelos seus filhos; e, por fim, D’Angelo, desconfortável em um restaurante chique, depois descobrindo que Stinkum ganhou um ponto de vendas, e se aproximando ainda mais da stripper.

Mas o principal está ligado à introdução do episódio e à frase de Avon, pós-créditos iniciais. Finalmente tivemos mais tempo com o chefão das drogas, e o episódio abre com uma suposta paranóia sua, após o telefone de uma namorada tocar e ver pessoas estranhas perto da casa dela. Suposta, porque embora pareça excessivo (as pessoas de fato não eram relevantes, mas nada sabemos sobre o telefonema), deixa claro do porquê a polícia ter dificuldade em conseguir uma única foto sua. Avon é mais um personagem interessante, perigoso e temido como deve ser, mas mais esperto e sensato do que normalmente personagens do gênero costumam ser – e eu iria dizer também justo, pela forma como trata Stinkum e conversa com o sobrinho D, mas logo me lembrei do pobre Scar. Seu discurso sobre a constante vigilância e cuidado, ao mesmo tempo da impossibilidade disto (“It´s life”) é muito bom.

E é por isso que conhecemos Avon e seu modo de pensar e agir no mesmo episódio que as coisas começam a piorar para seu lado, com informações chegando à polícia de todos os lados: a investigação da namorada morta leva ao Orlando´s; a clonagem do pager de D’Angelo produz resultados (e mais uma vez a série surpreende no tratamento de personagens, com Prez desvendando o código utilizado nos pagers); Freamon discute com Daniels a necessidade de uma escuta nos telefones públicos; Stringer diz a D’Angelo que talvez haja um traidor em seu grupo; Omar passa informações importantes a Greggs e McNulty sobre Bird (citado antes no episódio pelo próprio Avon, como alguém que junto com Wee-Bey cuidaria de Scar). O cerco começa a se fechar e tudo teria ficado muito mais complicado, caso as ligações, na brilhante e muito bem montada seqüência final, tivessem sido acompanhadas pela equipe de Daniels.

Por último, Omar começa a se mostrar bastante interessante e Michael K. Williams tem uma presença em cena incrível. Apenas sua aparição faz com que vendedores de drogas saiam correndo, assustados (grande momento com assovio de Omar amplificado). Não gosta que Brandon diga palavrões, não gosta de delatores, está dois passos à frente de Greggs e McNulty (sabendo, inclusive, sobre Bubbles) e sabe contornar a situação até mesmo quando McNulty o informa sobre a morte de Bailey. Já deixa uma grande curiosidade sobre como será sua reação quando souber da encrenca que o namorado se meteu.


1x06 - The Wire

"... and all the pieces matter." - Freamon


Desta vez, conhecemos um pouco mais sobre Wallace. O autores não esquecem que, apesar de tudo, trata-se de uma criança (dois episódios atrás, vimos Wallace distraído com um brinquedo, durante o trabalho) tentando lidar com o meio em que foi inserido precocemente. Mora com Poot e mais seis crianças menores, e tem a responsabilidade de fazê-los ir à escola. Ainda não tem interesse sexual e se incomoda com a morte de Brandon (mais com a morte em si e não com a forma violenta que fizeram), afetado pelos argumentos que D’Angelo usou em outro episódio sobre a possibilidade de estar neste negócio sem a violência praticada. A gente sabe que está diante de uma série especial, quando dedica tempo para fazer um retrato delicado assim de um personagem periférico. Afinal, “todas as peças importam”.

Nessa abordagem de “todas as peças”, o menos interessante foi o roubo de Bubbles e Johnny, por mais que a relação entre os dois tenha gerado um bom momento no episódio anterior. Bubbles é curioso, drogando-se e passando a perna em Wallace no piloto, e depois mostrando-se responsável, sensato e esperto nos episódios seguintes, para agora nem hesitar em largar o “trabalho honesto” para participar do golpe de Johnny. Mas se é pra acreditar na frase dita por Freamon, resta aguardar pra ver se isso dá em alguma coisa.

O ponto principal do episódio foi a tentativa de Rawls em indiciar D’Angelo pelo homicídio da ex-namorada de Avon, o que acabaria com toda a operação de Daniels, exatamente quando começa a dar resultados com a escuta nos telefones públicos, com Freamon e Prez já conseguindo os números de Stringer e Stinkum, enquanto Omar se oferece como testemunha para o caso William Gant, em resposta à morte de Brandon.

Daniels arrisca seu prestígio político com os melhores argumentos, embora o que talvez tenha feito a diferença foi a descoberta de que, se já houvessem grampeado os telefones na noite anterior, poderiam ter impedido a morte de Brandon – e mais uma vez um bom tempo é utilizado para os policiais descobrirem algo que o espectador já sabe, sem que isso faça perder o interesse da cena (e ainda há coisas que sabemos e que provavelmente eles nunca saberão, como o fato de Santangelo ter perdido a visita de Avon à D’Angelo).

No mais, Bodie volta às ruas para revolta de Carver e Herc (mas que não deixam de dar uma carona para o garoto), com a ajuda do ótimo advogado de Avon; e D’Angelo mostra que, apesar de seu código moral, está pronto para rebater os argumentos de Wallace sobre a morte de Brandon (ainda que sejam seus próprios argumentos) e para lidar com quem tem roubado dele, na maldosa cena com os ovos jogados na calçada, embora lhe sobre alguma bondade ao não denunciar Cass e Sterling para Avon. Afinal, ambos só roubaram por conta dos cortes sugeridos por Stringer para achar o traidor do bando (e aqui é o melhor exemplo de como a série segue o ritmo dos personagens e não da conveniência de roteiro: num filme/série policial, quando há suspeita de um traidor, é porque realmente existe um traidor e cabe a cada filme/série resolver como se dará a descoberta; nesta situação, NÃO houve um traidor, sabemos que Omar agiu sozinho, mas pelas circunstâncias é bastante natural que Stringer tenha suspeitado de alguém de dentro).

Mais um grande episódio, curioso também por amplificar a sensação de vigilância com os movimentos de câmera, desde o início com planos mais longos (a abertura acompanha um fio até a janela quebrada de Wallace, e depois a câmera acompanha sua rotina matinal até acordar as outras crianças) e em várias ocasiões assumindo o ponto de vista dos personagens em momentos de constante atenção.

Hélio Flores
twitter.com/helioflores

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

[The Wire] 1x04 - Old Cases

Dando continuidade à maratona, spoilers do quarto episódio da primeira temporada de "The Wire":

1x04 - Old Cases
"It´s a thin line 'tween heaven and here." - Bubbles

Uma abertura brilhante esta com os policiais tentando mover uma mesa, basicamente um curta hilário (mesmo já prevendo como ia terminar) que diz muito sobre como este grupo tem tudo para dar errado, sem boa comunicação, com Lester Freamon sendo o cara mais esperto da sala, ainda mais evidente após os eventos deste episódio, ao conseguir o número do pager de D’Angelo.


Este talvez seja o melhor episódio até aqui. É incrível como os personagens ainda estão sendo apresentados (informações sobre Freamon, Omar e conhecemos a mulher de McNulty), ao mesmo tempo que a trama se desenvolve a partir de pequenas seqüências marcantes, seja pela qualidade do texto, das atuações, dos aspectos técnicos ou seja lá o que for. Tudo funciona em dobro, porque é brilhante por si só, mas está sempre relacionado a algo mais. Na cena mais genial de todas, Bunk e McNulty reconstituem um crime sem falar um com o outro, apenas com “Fucks” e derivados (a frase de Bubbles que abre o episódio diz muito sobre o que a série pretende explorar, mas é de se lamentar que não tenha sido “Fuckity Fuck Fuck. What the Fuck? Motherfucker... Fuck fuck fuck. Fuck me”), mostrando a grande sintonia entre os dois, já vista no interrogatório de D’Angelo, num trabalho impecável de direção e montagem (porque acompanhamos e entendemos todo o processo apenas com a movimentação dos atores em cena).

Curioso é que o episódio já deixa o espectador ciente de como foi o crime, pois bem antes temos o relato do próprio assassino, D’Angelo (e percebi que ainda não fiz um único elogio à incrível atuação de Larry Gilliard Jr. na série, aqui ainda beneficiado pelo movimento da câmera). O outro grande momento de texto e atuação veio de Jay Landsman, convencendo Major Rawls em dar uma chance para McNulty reparar seus erros – e acreditei no início que a intenção dele era exatamente o contrário, numa lábia vulgar e absolutamente convincente (que também amplia nossas impressões sobre McNulty).


Há muito mais para se dizer sobre o episódio e, no que diz respeito ao avanço da trama em si, o mais importante certamente é que as atenções de ambos os lados (polícia e Barksdale) voltaram-se para Omar, personagem inusitado, corajoso (ou louco?) de roubar de Avon (perigoso o suficiente para fazer um subalterno preferir pegar cinco anos de prisão a denunciá-lo), aparentemente bondoso e “padrinho” em seu bairro e, mais interessante, gay. É o terceiro personagem homossexual da série (com as outras duas encerrando o episódio em um momento muito íntimo) e não tenho idéia de até que ponto isso servirá à trama. O fato é que Avon paga bem pela cabeça de Omar, enquanto McNulty e Greggs pretendem segui-lo para chegarem ao chefe da gangue.


No mais, sempre engraçado acompanhar os policiais mais “errados” no caso, com Carver e Herc acreditando que resolverão tudo ameaçando Bodie (que consegue escapar do reformatório antes da chegada da dupla), enquanto Polk tenta seguir a dica de Mahon de como pegar o caminho mais rápido para a aposentadoria. Realmente, a abertura diz tudo sobre este grupo.


Hélio Flores
twitter.com/helioflores

[Mad Men] 4x03 The Good News

Já dizia aquele batido poema que circula todo final de ano por e-mail (erroneamente atribuído ao Drummond), que trata-se de um gênio aquele que teve a ideia de industrializar a esperança através da divisão do tempo em anos. É cercado por este espírito de renovação que acompanhamos na Sterling Cooper Draper Pryce os dias que antecedem o ano de 1965, normalmente ocupados com ponderações, balanços e resoluções para o futuro. Porém, que esperança resta quando o novo ano já chega prometendo inevitáveis más notícias? Se é fato que elas sempre são as primeiras a chegar, os três personagens principais deste episódio fazem de tudo para tentar adiá-las. Após sua reprovável conduta no episódio anterior, Don Draper busca refúgio na Califórnia para reencontrar Anna, a única pessoa a demonstrar por ele amor incondicional. Mas depois de revelada sua grave condição de saúde, Don acaba preso nos mesmos dilemas que o levaram até lá, e foge de volta a Nova York. Lane Pryce continua tentando colocar a empresa em ordem e sua fixação pelo trabalho acaba afastando cada vez mais sua esposa. Na tentativa de reparar seus erros, termina por agravá-los, chegando ainda mais próximo do divórcio. Já Joan tenta cumprir todos os preparativos para poder engravidar, mas seu futuro com Greg continua incerto. Parece questão de tempo até que ele seja mandado para o Vietnã e sabe-se lá que fatalidade lhe aguarda assim que chegar.

Se parece surpreendente que Joan tenha se submetido a dois abortos anteriormente -- e não quero de forma alguma levantar nenhuma controvérsia a respeito disso --, não deixa de ser prova de que ela precisa manter sua vida planejada, nem que seja levando às últimas consequências. Mas agora já passando dos 30 anos, as pressões para constituir uma família são enormes. Afinal, mesmo depois daquela atitude grotesca que nos esforçamos para esquecer, foi isso que levou ela a casar-se com Greg, não? Até Peggy mostra-se admirada com o casamento de Joan, a medida que também tenta corresponder com seu novo namorado a todas as expectativas da sociedade. Entre curtos encontros por conta de turnos alternados, Joan faz o que pode para melhor o clima com seu marido em casa, até que acaba na mais pura ansiedade cortando seu dedo. Se este acidente por um lado mostra que Greg não é o fracasso que todos (até mesmo Joan) esperavam, por outro lado prova que ele continua a subestimar sua própria mulher. Ainda mais Joan que despede uma secretária por não assumir responsabilidade por um erro, enquanto ela mesmo se responsabiliza por ter lhe contratado. Como bem concluiu Greg, ele é capaz de "estancar" problemas com curativos, mas não pode ainda fazer consertos definitivos. Resta saber quanto tempo Joan ainda aguenta esperar ao seu lado com este futuro indefinido.

Essa também é a postura de Don Draper quando decide passar férias na Califórnia e se vê diante da triste notícia do câncer de Anna. De certa forma esse episódio pareceu desarticulado, principalmente entre essa primeira parte na costa oeste e depois a noite de diversão ao lado de Lane em Nova York. Não costumo rebater textos durante meus comentários, mas chamou bastante atenção essa semana a crítica de Matt Zoller Seitz no site The New Republic, onde ele classifica este episódio como o pior da série. Apesar de concordar com uma certa mão pesada na maioria das frases ditas por Stephanie ao longo do episódio, parecendo julgar a época sob uma perspectiva atual, o que mais me incomoda é essa presença constante de garotas que servem de potenciais conquistas a Don Draper. É verdade que ela teve uma função maior ao revelar o câncer de sua tia -- além de servir como voz da juventude californiana --, mas cada vez parece uma distração desnecessária do roteiro. O que realmente discordo do texto é a forma como Don resolveu lidar com o segredo sobre o câncer. Posso imaginar que qualquer outro drama tentaria armar esse momento de despedida da forma inversa: Anna sabendo de sua condição mas tentando ao máximo esconder dele até atingir a revelação-clímax. No entanto, sua ida à costa oeste sempre representou o desarmar de Don Draper, quando ele pode enfim relaxar sem sua "máscara" e aproveitar os breves momentos como Dick Whitman. Quando ele precisa esconder de Anna sua condição de saúde, passa a estar envolvido nas mesmas mentiras que lhe fizeram chegar até ali. Assim, ele se despede em silêncio deixando a inscrição na parede "Dick+Anna '64", como se fosse um epitáfio para ambos. Aproveitando seus últimos momentos ao lado de Anna, ele promete levar os filhos na próxima Páscoa para conhecê-la. Como se já não fosse possível fazer nada para reverter essa situação, a não ser cercá-la de boas notícias até que a inevitável má notícia viesse.
De volta a Nova York, a história toma um rumo completamente diferente quando Don Draper convida Lane Pryce para conhecer seu estilo de vida, buscando por diversões pela cidade. Bêbados, os dois partem para perturbar uma sessão de Gamera, com um hilário Lane gritando em falso japonês para o público. Depois de jantarem e assistirem a um show de stand-up, ambos terminam no apartamento de Don na companhia de duas prostitutas. Se isto poderia representar o perigo de Lane cair nas mesmas tentações que Don, na manhã seguinte essa preocupação parece dissipada quando ele faz questão de pagar por sua acompanhante e indaga como é ter esse nível de intimidade com uma delas. Don, obviamente, não sabe responder. Lane agradece as distrações, mas volta a focar sua atenção aos problemas da empresa e de seu casamento. Assim, damos adeus a 1964 sem grandes celebrações, cumprimentos ou contagens regressivas, apenas com a ressaca do primeiro dia do ano, tomando conta de todos ao redor da mesa de reuniões da SCDP. Sejam então todos bem vindos ao ano de 1965, esperamos que apesar de tudo seja mais um ano magnífico.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

[The Wire] 1x03 - The Buys

Dando continuidade à maratona, spoilers do terceiro episódio da primeira temporada de "The Wire":

1x03 - The Buys

"The king stay the king." - D'Angelo

Vendo em retrospecto, um fã de “The Wire” poderá dizer que o fato marcante deste episódio é a primeira aparição de Omar. Sei, por fotos e citações de alguns fãs, que se tornará um personagem importante. Como alguém que está conhecendo a série agora, só posso dizer que é mais uma adição ao elenco para complicar ainda mais as coisas. Se a guerra entre a polícia e a gangue de Barksdale já apontava para futuras complicações, um terceiro elemento neste conflito surge sem muitas explicações e sabe-se lá o que pode ocorrer daí. Uma gangue rival? Pequenos roubos feitos por conta própria?


Enquanto as respostas não vêm, mais um pouco de desenvolvimento de nossos personagens: Daniels se mostra íntegro com sua equipe, defendendo mesmo alguém como Prez (o que lhe faz ficar bem com superiores); McNulty mais uma vez insubordinado, negando-se a participar da fracassada operação de Daniels, além de descobrirmos que a separação de sua esposa se deu por traição, tendo um caso com a assistente da promotoria Rhonda; Bubbles cada vez mais essencial para a equipe, mostrando os erros do disfarce de Sydnor; Freamon mostrando-se necessário quando realmente precisa, ao conseguir a primeira foto de Avon para a equipe. Talvez o mais importante, no entanto, veio no final, com McNulty recebendo informações de seu amigo do FBI que supostamente implicariam Daniels em alguma atividade corrupta.


E, mais uma vez, sou surpreendido pela conduta de um personagem: se no piloto, D’Angelo se mostrou mais esperto e moralmente preocupado do que aparentava, e no episódio seguinte Prez se mostrou mais perigoso que atrapalhado, agora foi Greggs quem deixou mais evidente que a série não trabalha com personagens simplistas. Quando Bodie agride um dos policiais inúteis (ainda não sei diferenciar um do outro) e Carver começa a espancá-lo por isto, a impressão que fica é que Greggs corre para intervir, impedindo o colega. Mas o que vemos é a policial (que tínhamos como a “boazinha” e correta) sendo ainda mais violenta que ele, mostrando que em um grupo como a polícia, a agressão a um afeta a todos.


Do lado dos criminosos, D’Angelo continua sendo o grande destaque, protagonizando as três melhores cenas do episódio: a introdução, quando ele desenvolve o questionamento de McNulty no episódio anterior, sobre como seria tão mais fácil o negócio das drogas, caso não usassem de violência; afinal, a polícia só aparece por causa dos corpos. Depois, a explicação de como jogar xadrez, mostrando novamente como ele conhece a natureza dos negócios (o Rei é único e continuará sendo Rei), com os peões sendo os primeiros a morrer (e, de fato, num jogo de xadrez raramente um peão consegue chegar até a última casa para se transformar em Rainha). Lamento apenas ele não ter chegado à explicação dos movimentos do Cavalo e do Bispo. Por fim, a conversa com Stringer, onde este descreve os negócios com uma frieza e verdade assustadora, apontando como as drogas não precisam ser de qualidade, já que a clientela estará sempre pagando por qualquer porcaria (“Se for forte, vendemos; se for fraca, vendemos o dobro”).


Seja lá para onde a série caminha, este episódio deixou a sensação de que em breve as coisas ficarão bem mais sujas.



Hélio Flores
twitter.com/helioflores

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

[The Wire] 1x02 - The Detail

Como já informado no texto anterior sobre a série, comecei uma maratona de "The Wire" e postarei no blog minhas impressões sobre cada episódio. A ideia é escrever logo depois de ver o episódio, o que ficou marcado no momento. Como acontece muita coisa (são muitos personagens que circulam pela trama) e não costumo fazer anotações enquanto assisto, os textos não trazem tudo que eu gostaria de abordar, mas são cheios de spoilers e só recomendo a leitura pra quem já viu o episódio em questão.


1x02 - The Detail

"You cannot lose if you do not play." - Marla Daniels

Como no piloto, este começa com um cadáver, mas desta vez que terá implicâncias mais reais para os personagens: a testemunha William Gant, que pode estar relacionado aos Barksdale – ou não, já que uma vez que D’Angelo foi absolvido, por que matá-lo?


O que basicamente temos aqui é uma definição maior do formato que provavelmente será adotado pela série: um acompanhamento minucioso dos eventos, que se desenvolvem tão lentamente, que o que interessa são os detalhes e os personagens. A conversa entre D’Angelo e seu tio, por exemplo, começa com o primeiro contando como foi o interrogatório de McNulty e Bunk, algo que sabíamos exatamente como aconteceu. Mas Avon não sabia e em outra série, provavelmente, seria o tipo de cena excluída por repetir o que o espectador já conhece. Aqui, serve para conhecermos a dinâmica entre os personagens, como o chefe Barksdale lida com os seus e reforça o que já tínhamos percebido de como D’Angelo vê toda a violência dos negócios.


Também acompanhamos a formação da “força-tarefa” comandada por Daniels, com o pior que a polícia pode oferecer, no pior local de trabalho possível. Novos personagens são introduzidos e só imagino que terão destaque porque um deles é feito pelo Clarke Peters, embora seja o policial Pryzbylewski o que mais chama a atenção no episódio, inicialmente pintado como um bobalhão, mas que se torna assustador quando agride um jovem de 14 anos, numa seqüência que define bem o transtorno que Daniels terá com “Prez” e a dupla já conhecida por ele (e pouco experiente) Herc e Carver.


O episódio estimula a curiosidade em saber no que resultará essa operação formada por gente tão incompetente (apesar de McNulty, Greggs e Daniels serem ótimos no que fazem), num sistema que claramente não se importa com o que eles estão fazendo, mas que inevitavelmente terá que lidar com as dimensões cada vez maiores dos eventos que, se foram iniciados por McNulty no episódio anterior, aqui continuam sendo desenvolvidos por ele, ao mais uma vez procurar o Juiz Phelan e piorando ainda mais sua situação diante dos superiores. O personagem continua sendo o centro da trama (e ainda temos uma rápida visão de seu caótico e vazio apartamento), embora Daniels tenha um maior destaque aqui, com todo o peso e responsabilidade em suas mãos que parece ser aliviado apenas se seguir o conselho de sua esposa (“Você não pode perder, se não jogar”). Tudo indica uma aproximação maior entre os dois protagonistas (únicos a quererem investigar com mais atenção a morte da testemunha) que, obviamente, tem que passar por um conflito envolvendo confiança.


Toda a articulação entre os personagens (que inclui ainda a participação crucial de Bubbles, o usuário de drogas do piloto) se dá com ótimos diálogos, onde o destaque fica com a discussão sobre o criador dos Nuggets ter ficado rico ou não com sua invenção. Se a série planeja um desenvolvimento detalhado, extenso e lento dos personagens e acontecimentos, será necessário esse tipo de diálogo que é, ao mesmo tempo, esperto, engraçado e que diz alguma coisa sobre os temas e a visão de mundo dos autores da série. No caso específico, D’Angelo provavelmente ressentido com sua nova posição filosofando sobre a máquina capitalista (“It´s about money!”) que enriquece apenas os patrões. E é curioso que depois, quando é interrogado na polícia, McNulty diz quase a mesma coisa que ele, mas completa questionando-o por quê no mundo das drogas, além do dinheiro, é preciso matar.


São estes pequenos detalhes, nos diálogos mais corriqueiros, onde se encontra a beleza maior, provável trunfo da série: os autores não apenas se propõem um retrato realista deste mundo que focaram, mas também comentam criticamente um certo estado de coisas.



Hélio Flores
twitter.com/helioflores

domingo, 8 de agosto de 2010

[Mad Men] 4x02 Christmas Comes But Once a Year

Joan liderando uma fila de Conga, o que mais preciso dizer?

Acompanhamos neste episódio a primeira festa de Natal na Sterling Cooper Draper Pryce, que tinha tudo para ser modesta e econômica até que Lee Garner Jr confirmasse sua presença. E sabemos muito bem -- basta lembrarmos da demissão de Sal -- o que é necessário fazer para agradar o cliente majoritário da empresa. Era preciso que a festa fosse transformada em "orgia romana" nas palavras do próprio Roger, que logo se viu vestido de Papai Noel, distribuindo presentes e falsos sorrisos. Por maior que fosse a empolgação era inegável o esforço de todos tentando se divertir, fazendo parte do show particular de Lee Garner Jr. Como se tentassem imitar os saudosos tempos de Sterling Cooper, que também estiveram representados no retorno de Freddy Rumsen. Peggy aprende que esta é uma época que nunca irá voltar a medida que tem de trabalhar ao lado de Freddy e suas ideias mostram-se cada vez mais datadas. Todo seu respeito e gratidão por um dia ter sido seu mentor passam a ser esquecidos conforme a paciência se esgota. Ela termina insultando-o de "antiquado", justamente quando está envolvida num relacionamento em que tenta posar de boa moça. Acho que desde o começo da série, ao menos entre as mulheres que tenho mais contato, Peggy é a personagem que o público feminino tende a se identificar com maior facilidade. Talvez então não fosse a pessoa mais indicada para analisar seu comportamento, mas tenho a impressão que ela busca separar sua vida profissional da pessoal, adotando uma postura mais conservadora. Peggy termina cedendo às vontades de seu namorado, principalmente pelo receio de passar o Ano Novo sozinha. Mas em seu rosto mais uma vez só se enxerga desilusão. No final, a bela Dra. Fay Miller resume o pensamento desta época dizendo que as pessoas travam um duelo constante entre aquilo que querem e o que é se espera delas. E qual outra época do ano poderia simbolizar tão bem essas expectativas cumpridas ou frustradas do que o Natal?

Neste caso, provavelmente não teria uma forma mais cruel de exemplificar a decepção do que através da carta enviado por Sally ao seu pai. Já conformada por não poder ganhar o presente de Natal que realmente queria (a presença dele), ela ainda mostra bastante maturidade por manter viva toda fantasia natalina para seu irmão. Na contramão disso, tivemos o retorno de Glen, o famoso vizinho dos Draper que mantinha uma obsessão bizarra por Betty e agora parece voltar sua atenção para os problemas de Sally. Se num primeiro momento sua presença assustadora tentava abrir os olhos da garota para o novo casamento da mãe, depois de vandalizar a casa e deixar o quarto dela intacto, Glen parece convencê-la de que está ali para ser seu protetor. Com certeza Glen serve também como um paralelo de como Sally será obrigada a amadurecer mais rapidamente com seus pais separados, um recurso já bastante utilizado ao longo de toda a série -- assim como vemos o problema de alcoolismo de Freddy também afetando Don Draper agora. Porém, o próprio vovô Gene deixou como conselho para sua neta que ela só poderia se enquadrar neste mundo quando deixasse de viver no mundo de conto de fadas criados por Betty. Quem sabe Glen seja seu guia, mas só espero que eles tenham diálogos um pouco melhores daqui pra frente.
Enquanto isso, Don Draper mostra que apesar de sua bem sucedida entrevista para o jornal, tudo não passou de uma performance muito bem ensaiada e pouco mudou na sua vida prática. Assim que as perguntas do questionário psicológico ganharam um caráter mais pessoal, até Lane Pryce previa com um sorriso maroto que Don daria um jeito de escapar da sala. Ele é o retrato perfeito de alguém fragilizado por essa época do ano, a ponto de um dos funcionários pela primeira vez considerá-lo patético. Talvez a admiração mostrada por Peggy no episódio anterior também fosse a forma que ela encontrou para agradá-lo, ou ela ainda é uma das poucas a depositar confiança no chefe. Depois de todos os casos que acompanhamos de Don Draper enquanto estava casado, era difícil prever que seu comportamento mais reprovável viria quando já estivesse divorciado. Ainda mais envolvendo sua secretária, motivo pelo qual já havia se desentendido com Roger na época em que se separava pra ficar com Jane. Mas por incrível que pareça, tudo não passou de um mal entendido. Afinal, se Don Draper havia falhado nos encontros com sua vizinha enfermeira e a mulher da empresa de pesquisas, principalmente por elas sempre se anteciparem às suas investidas, por que Allison seria convencida então? A intimidade entre os dois que só vinha crescendo -- a ponto dela se envolver até nos seus assuntos familiares pós-separação --, a promessa de uma "bonificação" no final de ano, a partida súbita de Don da festa esquecendo a chave no escritório, um pedido de ajuda no meio da noite. Não seria capaz de condenar Allison por considerar essa sucessão de eventos uma elaborada cantada de Don para chegar àquele momento a sós em seu apartamento. Acredito que até passou pela sua cabeça que esse relacionamento teria desdobramentos futuros, ou pelo menos para que Don não passasse as comemorações de Ano Novo sozinho. Mas se este evento não passou de um equívoco, o mesmo não pode ser dito da atitude de Don Draper no dia seguinte. Allison veste-se com suas melhores roupas, trata de providenciar os presentes de seus filhos e mostra uma alegria contagiante, mas é recebida por Don como se nada tivesse acontecido. E para piorar, ele ainda entrega com a maior frieza o bônus por seus "serviços" prestados ao longo do ano. Com certa ênfase nos serviços, a secretária foi rebaixada ao posto de prostituta nas horas vagas. Pobre, Allison.

Sinceramente, às vezes fico pensando como podemos torcer em um episódio para Don Draper triunfar nos negócios para logo depois desejar um destino desgraçado diante de uma atitude tão desprezível. Não é à toa que ele se mantém como um dos personagens mais complexos dos últimos tempos, principalmente porque seja nos fascinando ou seja nos decepcionando, Don segue agindo além de nossas expectativas.


Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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