Enfim a reviravolta! Sabíamos que Jack não estava participando bem destas 24 horas desta temporada, mesmo que a série retrate 24 horas da vida dele. Neste episódio ele apareceu pouco, mas cada pequena aparição teve significativo valor. Descobrimos um possível paradeiro da Audrey, uma das sobreviventes da limpeza de elenco ocorrida na quinta temporada! Possíveis paradeiros são: o cemitério ou a cela da prisão chinesa que Jack estava. Eu voto na segunda opção. Afinal, seria um real exagero que ela fosse morta dessa maneira, no intervalo off-season. Além disso, seria um desperdício de uma personagem valiosa, coisa que 24 já teve em maior quantidade, em tempos remotos.
Talvez tenhamos um final de temporada com Jack fazendo uma caça pessoal e vingativa àqueles que "partiram seu coração", à moda da primeira temporada. Essa é a essência de 24. A promessa já foi feita para o Bill, num diálogo que eu apreciei: Bill sempre mantém o jogo de cintura, e Jack sabe com quem deve e com quem não deve elevar o tom de voz e/ou usar a violência.
Vamos falar do milenar problema racial. Este também foi um episódio que, mesmo com o espaço ocupado pelas cenas tensas, houve foco nos personagens, destacadamente para Nadia, Mike Doyle e Milo. Havia tempos que não víamos intrigas pessoais que por pouco não chegaram à agressão dentro da CTU, e isso foi vantajoso. No que se refere à Nadia, eu estava quase me esquecendo do conflito interno iniciado no episódio 6, em que Lennox instituiu a polêmica medida de segurança que obriga a identificação racial dos próprios agentes americanos e determina a restrição e corte de privilégios administrativos dentro da CTU. A medida só foi provocar confusão mesmo oito horas depois, depois que a agência já estava mais “apimentada”. Um vazamento é descoberto, e o conflito pessoal já estava no meio. Então Doyle, num ato que eu admirei, deixa a hipocrisia de lado e ordena que Nadia seja a primeira a ser investigada pois ela é muçulmana. Haveria hipocrisia se os presentes iniciassem uma discussão ali na hora sobre quem deveria ser verificado primeiramente, em que uns tomariam a dianteira defendendo-a por estar sendo alvo de suposto racismo. Doyle falou a verdade: todos ali, mesmo os mais íntegros, estavam com o pé atrás por causa dessa peculiaridade dela: ser médio-oriental. Mas Nadia mantém-se firme, ela não deu uma de coitadinha. E também vemos as características intrínsecas dos personagens ganhando forma nesse embate: rapidamente descobre-se que Doyle é sádico. Como, no entanto, ele é bom no trabalho, então é sinal de que ele possui algum problema pessoal, possivelmente dificuldade de lidar com mulheres. Será que ele é o primeiro gay a trabalhar na CTU?
O racismo não está apenas dentro da CTU. A própria temporada começa com uma cena de racismo, e bem tocante. Motorista de ônibus nega entrada de um árabe e, minutos depois, um extremo-oriental detona uma bomba via mp3 Player, levando-nos a refletir se é realmente coerente cultivar estereótipos daqueles que são capazes de cometer uma ofensa. Tom e Daniels que se cuidem, a metodologia deles pode acabar saindo pela culatra.
Uma falha no episódio foi a rapidez com que o Drone foi interceptado. Descobriram muito rapidamente como encontrá-lo e encontrar o homem do joystick. Além disso, há uma possível incompatibilidade com o final da temporada passada: Henderson só fora chamado ao submarino porque ele era o único que conhecia os sistemas de armas do submarino russo, por conseguinte ele foi morto por Jack na cena mais aguardada da temporada, que não aconteceria se não fosse por isso. Já nesta temporada, tão logo Jack senta no terminal que controla o Drone, ele já identifica o que tipo de programa que roda o guia como já pega no joystick e pilota fantasticamente. Não foi coerente para alguém que não tinha conhecimentos avançados sobre manuseio de sistemas modernos de lançamento de armas.
Outra falha, já comum, foi a rapidez com que as autoridades apareceram no local da queda do drone.
Esta temporada também está explorando, como eu disse no comentário passado, uma polida sátira à política externa de Bush. Ela se traduz numa simples frase: Atacar sob qualquer pretexto. “That’s technicality, Tom” diz Noah, querendo levar a invasão do país sem nome a cabo com a desculpa de que “uma bomba suja fora solta em solo americano”, mesmo depois de frustrada a detonação atômica.
Isso é bom para que os críticos amadores entendam que 24 não é um folheto-propaganda do governo americano, mas sim uma brilhante série de TV, que tem como ponto forte o vencimento da hipocrisia em várias frentes. Por isso ela me diverte.