quinta-feira, 24 de julho de 2008

[Extra]Especial Arquivo X - última parte

Amanhã acaba a espera. Depois de seis anos de exibição do último episódio, Arquivo X "Eu Quero Acreditar" estréia no Brasil.

Já li algumas críticas e as pessoas dizem, invariavelmente isso: "Como filme, XF é um excelente episódio". Ora, se for isso mesmo, perfeito. Já tinha comentado aqui sobre Chris Carter ter feito a opção clara e velada de fazer um filme para os fãs de XF. Então seremos agradados, coisa que o primeiro não conseguiu.

Para terminar este especial, deixo as impressões de uma comentarista muito bacana aqui do Ces, Celia.


Arquivo X foi, durante muito tempo, meu hobby, meu vício, minha mania, minha ‘esquisitice’.

Conheci e comecei a acompanhar a série quando ela já estava na quarta temporada e tive de correr atrás do prejuízo para me atualizar e assistir às temporadas anteriores. Um amigo meu me emprestou todas as fitas (é, vhs!) em que ele gravava semanalmente (tinha morado nos EUA) os episódios (era uma caixa enorme!) e eu virei madrugadas destrinchando aquilo tudo.

Li os episódios que eram publicados em pocket book, descobri pessoas que já eram fãs para trocar idéias, e assim foi até o fim da série.

Do alto da minha arrogância, eu não imaginava que pudesse haver algo tão bom na TV americana. Não havia esse culto às séries como hoje. Depois de conhecer Arquivo X, minha postura mudou. Mas acho que as séries em si mudaram. Costumo dizer que Arquivo X e Seinfeld (que eu acho genial) são os pais de todos (tenho que mencionar Friends apesar de não ter curtido tanto). Todas as sitcoms de sucesso nos anos posteriores pegaram carona em Seinfeld; foram estimuladas pelo sucesso dele; foram viabilizadas pelas portas que foram abertas. Com Arquivo X, mais ainda. Toda essa horda de agentes do FBI que povoam a televisão são cria de Mulder e Scully. Todas as séries de investigação, ação, mistério, suspense, terror, envolvendo criminosos, paranormais, psicopatas, alienígenas, conspirações brotaram da semente que Chris Carter plantou. Até essa onda de shippers que hoje tanto me irrita!

Como tenho Arquivo X num lugar de muito especial da minha memória afetiva, é difícil eu dizer porque gostava tanto. Minha vontade é dizer que gostava tanto porque era muito boa!

A trama era absolutamente inovadora. As primeiras cinco ou seis temporadas levaram com maestria o desenvolvimento da conspiração. Os atores formavam um par que era quase uma metáfora do yin-yang. Muito bem pensado um par tão antagônico que conseguia ter tanto respeito pelo outro. Acho que o amor entre Mulder e Scully (sim, eles se amavam e muito, independentemente da tensão sexual que pairava no ar – amor de amigo, antes de qualquer coisa) foi sempre tratado em alto nível pelos produtores. Hoje, os pares românticos são, quando muito, ordinários.

Os personagens recorrentes eram ótimos também. Me digam se alguma série conseguiu criar co-adjuvantes à altura dos Lone Gunmen (que também deram cria e inspiraram todos os nerds esquisitos e geniais que apareceram). Os vilões também estariam entre qualquer top ten, se não fosse pelo fato de que a geração que maciçamente hoje assiste e comenta séries não assistiu Arquivo X, mal sabe do que se trata! Isso é uma grande pena. Não dá pra avaliar de verdade a dimensão da conspiração Dharma/Hanso/Widmore (Lost) etc sem parâmetro anterior. Como eu posso me encantar com a relação Elliot Stabler/Olívia Benson se não conheci Mulder e Scully (L&O – SVU)? Spencer Reid (CM) deve ser sobrinho de um dos Lone Gunmen!

Sei que já escrevi mais do que deveria a esse respeito mas me empolguei. O Resumo da Ópera, para mim, é: Arquivo X é questão de cultura geral pra quem diz que gosta de séries de tv. ‘Disciplina obrigatória’ na formação do espectador!

Pra ser um pouco mais objetiva, indo pela memória e sem re-assitir a nada, alguns dos momentos Arquivo X que se destacaram para mim.

O episódio ‘Paper Hearts’ (4x08) me valeu mais do que muitas sessões de terapia. Mexeu muito comigo ver Mulder descobrir em seus sonhos o desfecho de um crime que ele não havia conseguido esclarecer totalmente. Na verdade, ele já tinha as informações necessárias mas não se dava conta (pela sua dificuldade diante da questão da abdução da sua irmã). Então, aos poucos, seu inconsciente começou a lhe guiar mostrando a ele tudo o que ele já tinha e não percebia. No sonho ele percorre os caminhos da verdade. É Scully que o relembra de uma frase dele mesmo: ‘Um sonho é a resposta para uma pergunta que ainda não sabemos formular’. A verdade estava dentre dele e não ‘lá fora’.


O episódio ‘Tithonus’ (6x09) contou a história de Alfred Fellig, um fotógrafo de 150 anos de idade que, por ter enganado a morte uma vez, foi esquecido por ela. Ela veio busca-lo uma vez e ele a enganou. Ela não voltou. Ele busca desesperadamente olhar nos olhos da morte para que ela finalmente o leve. Ele fotografa pessoas no momento em que estão morrendo na esperança de ir no lugar delas. Acaba por conseguir morrer ao salvar a vida de Scully, pegando carona na morte que tinha vindo busca-la. Na época, fiquei muito impressionada com a escuridão do personagem. E há quem diga que Scully ficou com o estigma da imortalidade desde então.

‘Irresistible’ (2x13) e ‘Orison’ (7x07) contam a história de Donnie Pfaster, um fetichista chegado em ruivas que ficou obcecado pela Scully. O interessante desse episódio, para mim, foi vê-la tão perturbada com a situação. E também a música ‘Don’t look any further’ – a ‘música da Scully’ – que foi tão bem utilizada no episódio.

Não vou entrar em detalhes sobre a mitologia, até porque eu acabaria escrevendo mais umas seis páginas! Mas o fato é que ela foi revolucionária. Quem hoje rói as unhas com Lost...

Tudo bem que perderam a mão depois de alguns anos mas eu suportei tudo, estoicamente, até o fim! E até fiquei feliz com fim do seriado. É realmente difícil manter a organização ao contar uma história cuja narrativa leva tantos anos e que tem que lidar com imprevistos do tipo ‘ator principal debandando’.

Mas é como eu já disse, pra mim é mais ou menos assim: Arquivo X está para as séries de TV como Machado de Assis para literatura brasileira, 2001 para os filmes de ficção científica, Andrew Lloyd Weber para os musicais, ‘O bem amado’ para a telenovela brasileira.

Como posso falar que adoro ficção científica, que sou fã do gênero, se nunca assisti a 2001 ‘porque é muito antigo’ e nunca me dei a trabalho de alugar o dvd?


Celia

4 comentários:

Celia Kfouri disse...

Dani,
Parabéns pelos trechos que você selecionou e inseriu. Fizeram toda a diferença!
E, é amanhã!!
Teremos muito o que comentar, afinal parece que o filme foi feito para os 'iniciados'... Mas tenho certeza que os demais só têm a ganhar indo ao cinema.

Anônimo disse...

Bravo!Bravo!
Concordo que XFiles é obrigatório para qualquer amante de séries, principalmente de ficção. Foi uma felicidade qdo a descobri ainda no comecinho e uma tristeza qdo terminou porque apesar de não estar tão bem , deixou um vazio na minha semana...

Gabriela Spinola disse...

Arquivo X inspirou toda e qualquer série que inclua os elementos drama, investigação policial e sobrenatural. Por exemplo, Lost e seus mistérios não teriam tanta graça se não fosse ppelas conspirações governamentais de XF. Cold Case e aquela coisa shipper toda em volta da Lil e do Scotty sem o Mulder e a Scully jogando baseball (uma das melhores cenas shippers da história das séries). Supernatural não seria tão intrigante sem os monstros da semana.

Cresci assistindo Arquivo X - sem brincadeira. E devo dizer que quero matar quem quer que seja que organizou a programação do Cinemais de Uberaba. Colocaram "Space Chimps" no lugar de "XFiles 2"! Panacas.

Celia Kfouri disse...

É exatamente isso que eu acho importante que se reconheça: Arquivo X é fundamental na história das séries de tv. Para querer discutir o assunto, tem que conhecer a série. É isso: Respeito e reconhecimento.

E que bom encontrar mais e mais pessoas que compartilham o setimento. Não me sinto uma dinossaura solitária! :D