domingo, 24 de agosto de 2008

[Mad Men] 2x04 Three Sundays

Desde que Peggy visitou sua família em Flight 1, muitas questões ficaram sobre sua relação com a mãe e, principalmente, com a irmã. Afinal, por maiores que sejam os laços, ninguém agiria de forma tão passiva numa situação como essa. Para essas revelações os roteiristas nos levam de volta à igreja, dessa vez concentrando-se nos domingos de Páscoa e nos dois anteriores. E numa história assim, não poderia faltar a figura de um padre, claro. Confesso que foi uma alívio quando o padre Gill mostrou-se interessado nas capacidades de Peggy, o que não envolvia em nada seu voto de castidade cheio de clichês. Na verdade, essa é uma das qualidades do roteiro, que ao invés de concentrar-se em desenvolver a personagem do padre, procura adicionar através dessa possível amizade uma profundidade ainda maior a Peggy e sua família. Para sua mãe, a ajuda que Peggy dá ao discurso do padre é mais um motivo de orgulho, como fica claro na forma inflamada de descrever a profissão da filha. Afinal, Peggy representa a nova postura da mulher nessa década e causa inveja a tantas outras, como as secretárias da Sterling Cooper e sua própria irmã Anita. Além disso, a obrigação de Anita em tomar conta de um filho que não é seu é a última constatação de que ela está fadada a ser a mãe dona-de-casa para o resto da vida. Isso acaba envolvido na sua confissão, que longe de ser um ato de vingança, soa como um desabafo pelo que ela gostaria de ser, mas nunca poderá. Essa revelação muda completamente a dinâmica da possível amizade entre os dois, como fica claro na visita de Peggy no domingo de Páscoa. Pela forma ambígua com que o padre Gill referiu-se ao menino, não acho que ele traiu nenhum tipo de confidência, sendo muito mais importante para Peggy despertar para o que ele acredita ser a vontade de Deus. E nesse caso, não há simbolismo cristão melhor para representar o recomeço: o ovo de Páscoa.
Já na campanha da American Airlines, a situação acaba fora de controle quando o contato de Duck acaba demitido antes da apresentação. Mais uma vez muitas divergências acabam surgindo daí. Enquanto Don mantém sua opinião de que são eles a oferecer a solução e não os clientes a escolher, Duck prepara um "banquete" com três opções diferentes para os executivos da AA. É uma das tradições que começam a mudar e que, infelizmente, perduram até hoje em grande parte do mercado publicitário: quem detém o dinheiro, detém o poder de decisão. Após o fracasso, é Roger quem demonstra um perfil arrojado, sempre atrás de novos desafios e Don responde que eles ainda deveriam mostrar lealdade com seus clientes. E nesse perfil perseguidor de Roger, chega a ser engraçado como depois de todos os seus problemas na temporada passada ele arrumou formas de "contornar" seus prazeres, sejam os cigarros — pegando dos outros como se não fosse sua culpa — ou o sexo na forma de uma prostituta — que é uma profissional e não constitui uma traição para ele — nesse episódio. A escolha por não mostrar a apresentação talvez foi acertada, porque não acredito que Don tenha feito uma de suas mágicas mais uma vez, principalmente pelo nervosismo que tomava conta dos publicitários enquanto faziam os últimos preparativos.

Para quem imaginava que Bobbie não voltaria a dar o ar de sua graça, ela veio disposta a mais, muito mais. Depois de receber um excelente conselho profissional de Don, ela mais uma vez se joga para cima dele, usando da recém-instalada tranca na porta de sua sala. É o que eu venho frisando: se pareceu escandoloso a forma de Don atacá-la no episódio anterior, tudo é ainda pior nessas investidas de Bobbie. Embora ache terrível personagens que não tenham limites e estejam dispostos a tudo (como aconteceu com Lyla em "Dexter"), estou curioso para saber até que ponto os roteirista pretendem levá-la.

A situação na casa dos Draper também não é das melhores. É impossível não estabelecer o paralelo entre as mentiras de Don Draper e de seu filho Bobby e fica evidente que Betty cobra uma reação mais enérgica do marido por achar que as mentiras já são banais para ele. Mas é no momento que Don levanta e joga longe o robô do filho que enxergamos mais uma vez o Dick Whitman por debaixo da publicidade, que ele tanto tenta esconder e manter longe de sua família. Don descreve seu pai como exatamente igual a ele, mas maior, e isso é o que ele tenta fazer de Bobby, um reflexo desse novo homem transformado. Pelo menos, é um alívio perceber que no final Betty parece entender o recado. Mas a preocupação maior ainda é em relação a Sally e seu estranho descobrimento precoce do álcool. Ela é sempre cheia de vida e nos brindou (é, não resisti) com cenas hilariantes na curta visita à Sterling Cooper, num excelente trabalho da atriz-mirim (mas não posso dizer o mesmo de Bobby). Acho difícil desses casos com a bebida serem meros detalhes, principalmente pelo cuidado em registrar o copo em sua mão nesse episódio.

No próximo episódio, Don recebe os cuidados de uma nova secretária e mais uma das participações de Bobbie, que prometem dar uma idéia melhor dos rumos para essa temporada.



e.fuzii

2 comentários:

Marcelle disse...

Que episódio! Estou mais acostumada a ver os personagens interagindo na S&C, com exceção de Don Draper que tem sua vida extra-trabalho bem explorada. Three Sundays apresenta o que Peggy faz fora do escritório, expandindo mais a personagem e dando mais un vislumbre sobre o que aconteceu com ela durante o intervalo de tempo entre a S1 e a S2. Por outro lado, Don Draper é obrigado a misturar a vida pessoal com a vida profissional quando tem que levar a filha para o trabalho. Dois movimentos opostos e muito bem conduzidos.

Marcilio disse...

Jurava que ia comentar o fato da Peggy não fazer o sinal da cruz no jantar, o que retrata bem a sua historia com a sua familia,como você escreveu nos pots anteriores.
Acho a menininha demais, engraçadissima,o contrário desse ator mirim que é horrivel