Quando assisto a um episódio como esse de Mad Men, posso dizer que entendo perfeitamente quem não consiga se sentir cativado pela série. Afinal, aqui mais uma vez Weiner e equipe decidem dedicar o tempo pra desenvolver seus pequenos conflitos entre personagens, com certeza já servindo de preparação para as histórias que vem em sequência. Não que isso seja uma crítica, já que essa capacidade de dar importância a cada um dos envolvidos é com certeza sua principal qualidade, como podemos ver na postura de Paul frente aos clientes, sem conseguir esconder sua revolta com a demolição da Penn Station. Essa não parece ser uma reação de um publicitário mesmo naquela época, e Pete faz questão de dizer que Paul nunca agiu desse jeito em outra situação polêmica similar, mas isso mostra a gravidade do problema e sendo o principal representante dessa revolução cultural que emerge na época, ele é o primeiro a tentar consertar de alguma maneira o estrago. Sabe-se que apesar de falhar dessa vez, é por conta desse episódio que Nova York reúne uma comissão pra preservação desses monumentos, conseguindo anos depois salvar o terminal central da cidade também da demolição. Ou seja, Mad Men é sempre essa evolução constante, daquilo que conhecemos desses personagens atingidos por um futuro inevitável.
Nesse sentido, o episódio chama atenção novamente para o desconforto de Peggy em relação às pessoas que a cercam. Bastante semelhante à discussão de Maidenform na temporada passada, ela não se identifica com esse perfil Monroe e nem mesmo com Jackie O. Basta observá-la e perceber que ela está muito a frente de seu tempo, principalmente na forma como tenta aproximar a publicidade de seu público. O recado rude de Don Draper, dizendo pra que ela guardasse suas ferramentas enquanto trabalhasse, é seguido por ela durante todo o episódio, numa tentativa de enquadrar-se no mundo. Nada parece ter sido mais significativo do que sua imitação de Ann-Margret, cercada de silêncio enquanto se encara frente ao espelho (em mais uma relação com Maidenform). Ela pode tentar usar dos mesmos artíficios de Joan no bar e tentar ao máximo identificar-se com um dos rapazes, mas ao final, quem manda no sexo e quem vai embora no meio da noite precisando acordar cedo no outro dia é Peggy. Talvez não exista forma melhor de descrever tudo isso do que sua despedida com aquele "foi divertido".
Apesar de dar esse conselho, sinto que Don começa a perceber essa maturidade de Peggy. Enquanto o episódio começa com Ann-Margret cantando "Bye Bye Birdie" diretamente para a câmera, insinuando-se para seu amado e numa movimentação toda ensaiada, Don é surpreendido ao final com a dança da professora de sua filha, quando assiste às festividades da primavera. A professora se sente livre, transborda essa felicidade consigo mesma e está ali sendo alvo dos olhares de todos os homens. Ver tudo isso parece ser desconcertante pra Don, que estica-se todo na cadeira pra acariciar a grama, como se quisesse estabelecer uma conexão com os pés descalços da garota. É todo o sentido de liberdade que o faz lembrar obviamente de sua estadia na Califórnia, onde ele diz encontrar a tal vanguarda para o diretor do projeto do Madison Square Garden.
Já nesse caso, Draper sabe mais do que ninguém que pra mudar e consertar certas coisas é preciso abrir mão de outras, como no seu próprio casamento em cacos na temporada passada. Se a demolição da Penn Station é mesmo um desastre, resta exaltar toda a modernidade e flexibilidade que representa o complexo MSG. E como sempre, esse discurso de Don serve também pra outras situações, já que na outra ponta da mesa está Roger ainda inconformado por não poder levar Jane ao casamento da filha. A separação de sua família faz Roger enfrentar todo tipo de desprezo ao seu redor, mas só ele não percebe, ainda preocupado demais consigo mesmo. Assim também é a mentalidade de William, que leva o pai para visitar Betty já determinado a tomar a decisão de colocá-lo numa casa de repouso e ainda tomar posse da casa da família. Mas basta Don Draper chegar em casa pra colocar as coisas em ordem, usando de sua praticidade usual: se ele quer mesmo se livrar do pai, que pague pela sua estadia com os Draper. Teria a falta de família sido preponderante para Don tomar essa decisão?
O fato é que incorporá-lo aos Draper é a única chance de salvar o que restou da família de Betty. É de fato, fazer o amor ressurgir dessas ruínas. E se isso já não é o bastante, marque em seus calendários: o casamento da filha de Roger é no dia 23 de novembro de 1963, exatamente um dia depois do assassinato de John F. Kennedy.
e.fuzii
domingo, 30 de agosto de 2009
[Mad Men] 3x02 Love Among Ruins
às 11:15 PM
Marcadores: [Série], Série - Mad Men
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