“Out burying bodies?” – Skyler
“Robbing a train.” – Walt
E
a Skyler só antecipou o que Walt terá que fazer: se livrar do corpo de uma
criança. Que golpe violento o deste “Dead Freight”, uma montanha russa de
emoções, pequenas tensões que vão se acumulando (quem é este menino na
abertura? O que vai acontecer? E agora, o que Walt quer no escritório de Hank?
Será que vão matar Lydia?) para culminar em clímax divertido, adrenalina bem
executada que não deve em nada às melhores sequências de roubo do cinema. E
quando nossos batimentos cardíacos estão voltando à normalidade, vem a paulada.
Não
é que o episódio não nos tenha alertado sobre o que viria: mostrar o menino no
início é estragar um pouco a surpresa, embora seja o mínimo (mas suficiente)
necessário para dar “substância” (ou background) ao personagem; e a necessidade
de não haver testemunhas foi bastante explicitada, tanto por Mike falando sobre
sua experiência nesse tipo de serviço, quanto por Walt e Jesse deixando bem
clara a ordem para Todd. Morte anunciada, mas não menos impactante.
Principalmente porque sabíamos que Walt e Jesse não seriam capazes de algo assim
(Walt, quem sabe, se não fosse de forma tão explícita), e talvez nem mesmo Mike.
A própria questão de matar alguém já vinha sendo debatida, a ponto de Lydia
criticar “Achei que vocês eram profissionais!”. Mas lá estava um profissional
inesperado. Todd, que só conhecíamos por um par de cenas, mas suficientes pra
tornar crível sua praticidade: soldado obediente, esperto, ávido por
impressionar, sua expressão calma e sem emoções já dava mostras de tamanha
insensibilidade.
“Dead
Freight” é excelente do início ao fim. Há toda a habitual excelência na
direção, nos aspectos técnicos, na escrita, atuações, etc. Mas é um destes episódios
que acabam sendo lembrados e discutidos apenas pelos seus minutos finais,
tamanho o choque e impressão que deixam em quem assiste. Não é sempre que um
assalto desta magnitude é visto em uma série de TV, muito menos a morte de uma
criança de forma tão brusca. Mas outras duas sequências me chamaram a atenção
pelas possibilidades a que elas acenam: Hank e Marie cuidando de Holly,
enquanto Skyler diz a Walt sobre a possibilidade do perigo bater em sua porta.
Já sabemos que uma tragédia ocorrerá em breve (no máximo, em um ano) e penso se
Skyler conseguirá sobreviver ao fim da série. De uma forma ainda mais trágica,
a ironia seria o perigo bater na casa de Hank e dar de cara com Marie e Holly...
O mais interessante é que cinco episódios se passaram e nada aponta para o que
poderia ser este perigo e como daremos um salto de meses na série.
Por
último, muito se falou sobre a referência que Hank faz ao filme “Fogo Contra
Fogo”, que aborda um assalto e as coisas começam a dar errado quando um
assaltante novato no grupo mata quem não deveria matar. Esta temporada de
Breaking Bad tem sinalizado coisas em forma de referências cinematográficas
que, francamente, não me parecem necessárias: Mike vê A Nave da Revolta em “Madrigal”,
filme que mostra a tripulação de um navio ameaçada pela insanidade de seu
capitão; Walt e Jesse veem Os Três Patetas, após o novo de trio de “empresários”
decidirem pelo laboratório intinerante; e, claro, Walt e Jr. veem Scarface,
filme referência da série desde seus primórdios (a fala de Walt “Todo mundo
morre neste filme” poderia apontar para um possível desfecho da série, mas na
verdade foi um improviso do próprio Bryan Cranston). O que acho desnecessário é
que servem apenas para massagear o ego de quem vê, que pode se orgulhar de entender
as referências – sobre o filme do Michael Mann, não sei se é proposital, mas há
algo mais sutil e orgânico: há uma sequência em que o personagem de Al Pacino
discute o relacionamento com a esposa e o plano/contraplano de seus rostos são preenchidos
por escuridão; o mesmo ocorre com Walt na cena com Skyler, só há trevas a sua
volta; também não dá pra ignorar Lydia enquadrada com as luzes da cidade ao
fundo, algo recorrente nos filmes de Mann.
“I'm in the
empire business.” – Walt
E
então chegamos ao “Buyout”, que enfim coloca elementos que esclarecem o que
está por vir. Primeiro, há uma crítica que Alan Sepinwall faz que é pertinente:
o episódio trata de ir direto ao ponto que os roteiristas pretendiam com a
morte do garoto, que é a dissolução da parceria entre Walt, Jesse e Mike. Em
uma temporada de 13 episódios, seria provável um maior desenvolvimento das
consequências que esta morte traz, em especial para Jesse. Algo tão impactante
serve apenas para mover a história para seu próximo ponto, que ocorre antes
mesmo de chegarmos na metade do episódio. Por outro lado, o cronograma apertado
(apenas mais dois episódios para o fim desta primeira parte) não me pareceu
forçar situação alguma, além de evitar o retorno a um status anterior da série –
Jesse deprimido, tentando lidar com uma tragédia, foi tema do início das duas
últimas temporadas e sabemos como aqueles episódios da 4ª temporada, vistos em
retrospecto, acabaram sendo os menos interessantes.
É
preciso destacar a abertura deste episódio, que me parece perfeita como
representação da gravidade do que ocorreu. Sabemos, a esta altura, como os protagonistas
se livram de um cadáver e a força dramática vem da substituição do corpo da
criança pela sua bicicleta, desmontada e destruída parte por parte, com bela trilha
sonora respeitando o momento (a imagem da mão do menino acaba por manter o
horror e o gosto amargo da situação). A partir daí, tudo soa de forma bem
natural, mesmo que aqui e ali soe apressado: Walt mostra como não há alternativa
viável além de manter Todd, Mike se vê pressionado por Hank, investigação já em
curso desde “Madrigal”, e Jesse sob impacto da morte decide apoiá-lo na dissolução
do grupo (ajuda o fato de ouvir Walt assobiando despreocupadamente após o que
parecia ser uma discussão séria e um lamento pelo garoto). O momento também é
ideal porque a venda da metilamina que acabaram de roubar resolve os problemas
financeiros de todos.
E
é aí que finalmente surge a ameaça que estávamos esperando. O contato que Mike
faz para vender a substância se interessa mais pela possibilidade de tirar a “blue
meth” do mercado, o que força Jesse e Mike a tentar, cada um a seu modo,
convencer Walt de vender sua parte. Como sempre, os roteiristas tem cartas na
manga para tornar a coisa toda verossímil: Jesse até relembra o valor que Walt,
um dia, sonhou em ter (737 mil dólares, número que dá título à premiere da
segunda temporada), e como cinco milhões é mais do que suficiente para fazer
todos desistirem dos negócios (e, como consequência, acabar com a série). É uma
proposta irrecusável para Walt, e seria difícil acreditarmos em sua recusa tão
veemente, mesmo sabendo de todo o seu orgulho. Mas a história que ele conta
sobre a Gray Matter, como vendeu sua parte, o valor atual (“Bilhões. Com B”) e
como semanalmente acompanha a situação da empresa, convence pelo tanto que
conhecemos dele.
Já
Mike, obviamente, usa a força, mas mais uma vez subestima Walt, numa peripécia
para se soltar digna de MacGyver. Qual o plano para conseguir o dinheiro para
Jesse e Mike (Jesse não chega a dizer que a ideia envolve VENDER a metilamina)?
Como “todos ganham”? Walt estaria disposto a fazer uma parceria com o grupo de
Phoenix (improvável por seu desejo de ser chefe) ou a intenção seria enganá-los
(improvável porque Mike não arriscaria)? Seja como for, a tensão aumenta porque
Mike conta com este dinheiro nas próximas 24 horas, antes que Hank consiga
anular a restrição e feche o cerco sobre ele.
Com
tanto pesar no início e tanta tensão ao final, “Buyout” ainda nos reservou um
dos grandes momentos de humor da TV este ano: um jantar em que Walt coloca
Jesse e Skyler na mesma mesa. O desconforto de Jesse é tão sensacional quanto a
embriaguez de Skyler, que se retira da mesa carregando sua garrafa de vinho de
modo que muito me lembrou a alcóolatra preferida de todo fanático por séries,
Lucille Bluth. O drama, a esta altura da série, é pesado e intenso
(especialmente no lado de Skyler, que ao contrário do que imaginei, só agora
descobre que Walt disse a Marie sobre sua infidelidade), mas de alguma forma o
humor não destoa, nem parece inconveniente. Sequer um “alívio cômico”, já que a
situação é perfeitamente orquestrada por Walt, que se abre para Jesse mais como
uma tentativa de ganhar sua simpatia em momento crucial da parceria entre
ambos. Resta saber até que ponto esta parceria ainda existe e como os planos de Walt complicarão a vida de todos.
Hélio Flores
3 comentários:
O 5.06 me levou a pensar em qual seria a reação de Jesse ao descobrir como Walter interferiu na vida dele. Pq por mais que Wlater esteja incontrolável, ele ainda tem o respeito de Jesse...
E o flash-forward pelo visto só vai ser esclarecido ano q vem. ohboy
"Nunca vi alguém lutar tanto para não ganhar 5 milhões de dólares"heh, a ganância de Walter nos proporciona momentos até engraçados.
Agora, a escuta que o grupo tem no escritório de Hank, é uma vantagem fantástica para antecipar os passos de Hank no tabuleiro DEA vs Haisemberg, mas ao mesmo tempo é de um perigo atróz, se o grampeado descobre,e, é claro, usar isso em favor do DEA.Pega todo mundo.
E Tood, quanto leva? outra coisa, Todd ficou com o vidro da aranha do guri, e pelo jeito, pode acabar sendo pego por isso.
Mais uma bela review dupla, parabéns ao Hélio.
Parabéns
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