quinta-feira, 18 de abril de 2013

[Mad Men] 6x03 The Collaborators

"This is how wars are won."

Colaboradores nos tempos de guerra são aqueles que oferecem sua cooperação às forças inimigas, principalmente nos casos de ocupação, por isso tantas vezes são tratados como traidores. Poderia ter ligação a este período, um dos mais tensos da guerra do Vietnã, quando os Estados Unidos lançam sua ofensiva do Tet, situando assim o episódio no final de janeiro de 1968. Porém, esse conflito ético é apresentado em outras situações ao longo desse episódio: Peggy sendo coagida por Ted a usar uma conversa informal com Stan para ir em busca da Heinz, Pete ficando ao lado do cliente da Jaguar que prefere uma linha publicitária focada no varejo, ou até o próprio executivo da Heinz que tenta sabotar seu jovem colega de trabalho atrás de uma oportunidade igual na SCDP. E claro, os dois casos de infidelidade mostrados no episódio, principalmente pela cara de pau dos envolvidos.

Apesar da vontade expressa de interromper esse relacionamento no início do ano, Don ainda continua com seus encontros com Sylvia, sua vizinha do andar de baixo. A amizade entre os dois casais gera vários momentos de risco, a ponto de Don chegar em seu apartamento e encontrar sua mulher sendo consolada pela amante. Uma pena que para o espectador não existe praticamente qualquer suspense, já que acompanhamos todo desenrolar da conversa antes de Don aparecer. Apesar de algumas ressalvas ao esforço de Jon Hamm na direção, sua atuação foi um dos destaques do episódio, nos momentos de tensão, mas principalmente quando tenta (não) convencer os executivos da Jaguar a mudar de estratégia. Esta trama também possibilitou revelar outros detalhes do passado de Don através de flashback, mostrando a época em que se mudou com sua mãe de criação para um bordel. Porém, é um recurso que me parece desnecessário por mostrar um cenário que já vinha sendo montado em nossas cabeças desde as temporadas anteriores, além de bastante questionável como justificativa para seu comportamento em relação às mulheres, como dá a entender por Don deixar seu "pagamento" pela companhia de Sylvia. Até um jantar arranjado entre os casais acaba se tornando um encontro particular quando Megan não se sente bem e o Dr Rosen é chamado para outra emergência. Embora Sylvia tente resistir (sua culpa religiosa também parece ser importante), há todo um jogo de poder e sedução na mesa, duas armas que Don Draper domina, e portanto acaba prevalecendo. Poderia ser apenas mais um passatempo para ele, mas essa proximidade dos casais e a outra trama sobre infidelidade levam a crer que isso pode gerar uma enorme crise no casamento dos Draper, que também já não parece se garantir por si só.

Pete também leva uma de suas vizinhas para seu apartamento na cidade (oferecendo ingressos para assistir Hair!), mas não conta com a mesma sorte de Don, e acaba descoberto por Trudy depois da vizinha aparecer toda ensanguentada batendo em sua porta. Para quem acreditava que Pete estava manipulando sua mulher, criando todos aqueles motivos para pegar o trem todos os dias, era justamente o contrário, Trudy sabia muito bem o que estava fazendo. Certamente no melhor momento episódio, ela não parece tão incomodada com traição, mas porque Pete não cumpriu a parte dele neste acordo, em manter ao menos certa discrição para preservá-la na vizinhança. Ela coloca o marido para correr de casa, estabelece limites para suas visitas e ainda ameaça destruí-lo. Mas não sei também se seria avançado demais pra época uma reação assim, até se levar em conta que a violência contra a vizinha passa totalmente despercebida, impune. Quem também enfrenta conflitos de gênero é Peggy, que ao invés de ser respeitada pelos outros funcionários da agência, como dava a entender no episódio anterior, é na verdade temida por sua inflexibilidade. Por isso, ela acaba sendo vítima até de brincadeiras, o que se fosse um homem no cargo de liderança certamente não aconteceria. As conversas com Stan após o expediente são um dos poucos momentos que vemos Peggy relaxar, ser ela mesma, ser tratada de igual pra igual. Mas talvez fosse ingenuidade sua achar que entregando a informação para Ted de que um cliente em potencial estava saindo ao mercado não acarretaria esse dilema ético. Já na SCDP, Herb aparece na porta da sala de Joan para acabar com seu dia. Talvez o maior problema de ceder a um cliente assim da agência fosse que ele sempre voltaria a bater em sua porta. Claramente irritada, ela vai procurar refúgio na sala de Don, que também parece contrariado durante todas as reuniões da Jaguar. Não só porque parecia absurdo para ele mudar para uma estratégia daquelas, mas sinto que ele se sentiu vingado mesmo em um nível pessoal. Regras de conduta funcionam mesmo de forma curiosa na cabeça de Don. É curioso também notar como está sendo introduzido o novato Bob Benson (James Wolk da abreviada série Lone Star), como uma ameaça para os mais experientes, como uma versão mais nova do charme de Don Draper, como uma figura onipresente nos contatos da agência. Ele ainda parece oculto em muitas destas situações, mas assim que for revelado seu potencial é capaz de causar alguma agitação na SCDP. O que, convenhamos, está mais do que na hora.

Foto: Divulgação.


e.fuzii
twitter.com/efuzii

Nenhum comentário: