sexta-feira, 24 de maio de 2013

[Mad Men] 6x08 The Crash

"– Where do you want to go?
– I don't know."
– Then it doesn't matter, does it?"

Aposto que ninguém estava preparado para isso. Embora Mad Men sempre tentasse surpreender seu público, este episódio se situa em um ponto tão fora da curva que fica difícil até mesmo de avaliá-lo com clareza. Certamente dividiu opiniões, mas é impossível deixar de valorizar um episódio que mostra Stan e Jim Cutler apostando corrida dentro da agência, por exemplo, ou até mesmo Ken Cosgrove em uma performance memorável de sapateado. A agência volta sua atenção novamente à Chevrolet, que faz novas exigências absurdas, a ponto de envolver Ken em um grave acidente, pedindo para refazer o trabalho outra vez. Aproveitando dessa situação adversa, Jim traz seu médico para receitar uma injeção de anfetamina para os colegas, e assim mantê-los sob efeito alucinante pelo final de semana inteiro. Não deixa de ser divertido acompanhar essas pessoas trabalhando de modo improdutivo, tentando superar suas velhas ideias, buscando por outras soluções alternativas, tudo em ritmo acelerado. Parecem devaneios, eventos até surreais, mas que partem sempre de uma mesma premissa: discutir o processo criativo sob pressão. Não importa se é para cativar o público, vender seu produto ou conquistar uma amante, a questão é como transformar essa ideia abstrata em alguma coisa palpável, que faça sentido. Muita gente desmerece qualquer tipo de análise em relação à arte justamente porque duvida que essa ideias abstratas possam ser "decodificadas". E todas as semanas Mad Men parece nos instigar com pistas que levam a extrair temas, estabelecer relações entre cenas, personagens. Dessa vez, eles decidem nos torturar, sapatear sobre nossas cabeças, juntando diálogos que aparentemente não fazem muito sentido, desenvolvendo relações que não chegam a lugar nenhum. Quanto mais levam isso ao limite, mais questionam a si mesmos e todo esse processo criativo. Don Draper se depara constantemente com portas neste episódio, um símbolo recorrente na série, e trazido à tona na análise de Roger de que a vida é uma sucessão de portas até seu derradeiro final. Don jura que existe um código capaz de abrir a porta de Sylvia, mas termina se desculpando por ter deixado a porta de seu próprio apartamento aberta para uma estranha.

Se existe um ponto frágil neste episódio, que escapou um pouco desse delírio coletivo, esteve novamente no flashback de Don Draper. Mais uma vez revelando uma cicatriz de seu passado, parece simples demais relacionar com sua vulnerabilidade no presente. O que Don mais teme é ser abandonado, como foi por sua mãe, como foi por Aimée, como foi por Sylvia. Assim como ele repete o mesmo erro, abandonando seus filhos sozinhos em casa. O problema é que, nas primeiras temporadas, o passado parecia impulsionar Don, que corria para tentar superá-lo. De uns tempos pra cá, conforme este vem sendo revelado, Don parece dominado como se vivesse acuado por suas lembranças e traumas. E essa não parece ser a situação ideal para um protagonista que precisa mostrar determinação, ao invés de desmaiar em colapso diante de sua família. Mas claro, sem escapar de ouvir de sua ex-mulher que Henry concorrerá à próxima eleição, ou mesmo ser confrontado pela filha por não conhecer detalhes de seu passado. Não adianta ele procurar as respostas numa propaganda de mingau, que remete a outra passagem de sua infância, pois isso já não é mais suficiente. Nem tentar aliviar seu sentimento de perda com drogas ou sexo. Na manhã seguinte, ele não tem palavras diante de Sylvia no elevador e se recusa a participar do bordel que a agência se transformou novamente. Se antes Don tinha certeza do que precisava enquanto crescia -- carinho, conforto --, agora suas necessidades passam a ser cada vez mais confusas e incertas.

Outro motivo que domina o episódio é o luto, não apenas ecoando ainda o assassinato de Bobby Kennedy, mas sentido tanto pela morte de Frank Gleason como por Stan, que recebe a notícia do primo morto em combate. Interessante como em ambos os casos é Peggy quem serve como figura para prestar apoio. Não bastasse sua relação ainda confusa com Ted, até Stan tenta aproveitar deste momento de fragilidade para fazer uma investida. Peggy considera Stan como seu irmão, mas ele enxerga nela uma companhia para aquela noite. Identidades trocadas e confundidas, como a mulher negra que invade o apartamento de Don e consegue convencer os filhos de que poderia ter alguma relação com seu pai. Note que Sally não demonstra qualquer tipo de choque pelo ocorrido, apenas lamenta por ter se portado de modo tão ingênuo. As coisas não saem fora do controle apenas porque os personagens estão sob efeito de drogas, mas porque passam por uma crise de identidade, sem ter ideia da função que devem assumir nesta sociedade. Peggy cita o gato de Alice, dizendo que não adianta querer ir sem saber para onde. A filha hippie de Frank aparece questionando se sabem que são amados. São perguntas fundamentais que diante de um futuro tão obscuro, nenhum deles é capaz de responder.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
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