É a história de Olive Hoover, garota de 7 anos de idade, barrigudinha e com enormes óculos de grau, que sonha em participar de uma importante competição regional para escolher uma miss mirim, a pequena Miss Sunshine do título. Treinando uma apresentação musical com seu avô viciado em heroína, Olive será levada a essa competição por sua família que, além de seu avô, inclui seu pai Richard, que tenta, com fracasso, vender um programa de auto-ajuda (Nove passos para ser um vencedor), sua mãe, a sempre prestativa Sheryl, seu irmão mais velho Dwayne, que não emite uma única palavra há 9 meses, um voto de silêncio para ser enviado às Forças Aéreas (além de ter uma enorme imagem de Nietzsche em seu quarto – “I Hate Everyone... EVERYONE.”) e, por fim, seu tio Frank, irmão de Sheryl, acadêmico que leciona Proust, homossexual, e recém saído de uma clínica psiquiátrica, pois acabara de tentar cometer suicídio devido a uma desilusão amorosa (além de ter perdido emprego, apartamento e um importante prêmio de sua categoria). Esse grupo de desajustados terá dois dias para levar Olive ao local da competição, viajando em uma kombi, num road-movie em que todos aprenderão importantes lições de vida, culminando em um dos finais mais constrangedores do ano.
Como todo filme de personagens, desde seu início já temos uma noção de como eles serão tratados pelos seus autores. No caso de “Sunshine”, os personagens são tratados com carinho, mas um carinho preconceituoso a todo momento, pois são vistos com um “olhar de cima”, de alguém que parece amar seus personagens, mas que os vê como diferentes, losers que precisam encontrar o seu lugar. Não ajuda o fato de que aquelas pessoas são vistas no filme como personagens de uma nota só: não há um único papel no filme que seja complexo, que tenha mais de uma camada, que seja realmente desafiador.
O filme também traz aquele ranço típico que o americano tem com sexo, trazendo algumas piadas horríveis, como a seqüência em que um policial não percebe um cadáver, pois se encanta com algumas revistas pornográficas. É o tipo de coisa que cabe perfeitamente num “American Pie”, mas em um filme tido como humano e “artístico”? É realmente engraçado o fato de o avô falar palavrões e de sexo o tempo todo (“Fuck a lotta women, kid!”)?
Mas “Pequena Miss Sunshine” chega ao fundo do poço mesmo com o embaraçoso final, quando Olive se apresenta no concurso de Miss. Ali o filme se define como vazio e preconceituoso, quando a garota começa a dançar a música “Super Freak”. O título da música parece ser conveniente com a visão que os autores do filme têm de seus personagens que, ao fim da apresentação, estarão todos no palco dançando pateticamente e celebrando sua condição de loser. A mensagem não é bem “Seja você mesmo”, mas sim “Se você é um perdedor, viva bem com isso e dane-se o resto”. É uma afronta vazia ao sistema, coisa de quem deve ter sofrido pacas no colégio quando adolescente e resolveu exorcizar seu passado escrevendo um roteiro capenga de humanidade e complexidade, eliminando toda sutileza e riqueza das relações humanas.
Hélio
3 comentários:
Não vou levar para o lado pessoal o fato de ter recebido um dia a seguinte sugestão: "Assita, você vai gostar. É um filme bonitinho".
Depois dos comentários: "Superficialmente, o filme apresenta características que facilmente podem cativar público e crítica" e etc, etc, fico na dúvida do que você pensa sobre meu gosto cinematográfico...
Beijos!
Hélio, eu respeito as suas opiniões. Talvez, como o Allan escreveu, se me dissessem que o filme era a última trakinas do pacote, eu pensaria diferente. Mas, realmente, gostei muito do filme. Não considero o final uma apologia à Nerdice, mesmo porque, todos foram derrotados em seus objetivos, fugindo de um final clichê. Eles perceberam que serão mais fortes JUNTOS, e continuarão tentando mseguir em frente. Bem, foi isso que eu achei.
P.S.: Achei a sequência final surpreendente, sensacional e divertidíssima!
Allan e Luciano, claro que expectativas influenciam, mas independente delas, nosso posicionamento perante um filme é muito claro quando vc fica ofendido pela mensagem que ele passa. Eu poderia ver Miss Sunshine sem saber que estava sendo muito elogiado e ainda assim aquela mensagem superficial estaria ali escancarada. Talvez eu nao me importaria tanto, a ponto de escrever sobre o filme (indicado ao Oscar como previsto), mas certamente ainda o acharia ruim.
Mi do Carmo, nunca que duvidaria de seu gosto cinematográfico! Mas vc gostou do filme, né? Então eu acertei, oras...
Postar um comentário