E após quase 10 meses “Heroes” está de volta com a promessa de uma terceira temporada que irá redimir o fracasso da anterior. Estreando com dois episódios de uma só vez, os criadores da série chutaram o pau da barraca, numa tentativa desesperada de reformulação geral do enredo, e investiram em ação, surpresas à vontade, tramas envolvendo praticamente todos os personagens, retorno de antigos e o acréscimo de mais gente nova. Essa salada de informações acabou sendo bem digerida, muito embora é preciso ignorar preceitos que os autores haviam estabelecido antes. É esquecer a lógica interna e ver onde isso tudo vai dar.
A terceira temporada já começa de forma curiosa, com um futuro onde Claire tenta matar Peter e este retorna para nosso presente com o objetivo de matar o irmão, responsável pelo destino cruel de nossos protagonistas. A seqüência funciona muito bem para estabelecer o que provavelmente será a trama central desta temporada. Ainda que utilizar mais uma vez um futuro negro como objetivo a ser evitado não seja nada original, funciona porque não precisamos ver este futuro: o fato de Claire querer atirar em Peter e este assassinar friamente o irmão já dá o tom do que está por vir, além de responder logo nos primeiros minutos do episódio a dúvida de quem teria atirado em Nathan no final da segunda temporada.
Claro que com isto, os roteiristas ignoram uma regra estabelecida em “Six Months Ago”, aquela que dizia que Hiro não podia viajar no tempo e mudar o futuro. Outro problema é que no final da última temporada, Mamãe Petrelli conversava com alguém por telefone dizendo entender que era inevitável a morte de Nathan e, sendo um ato isolado de Peter reprovado por ela depois, só posso concluir que os roteiristas também ignoraram a continuidade. E por que Peter escolheria atirar em Nathan em público, já que, como irmão, teria sido mais fácil matá-lo “em particular”? Pela emoção, claro.
Também no season premiere tivemos uma das seqüências mais interessantes de toda a série, ainda que ela torne a primeira temporada irrelevante, em retrocesso: depois de nossos heróis passarem todo o primeiro ano salvando a cheerleader para salvar o mundo, em poucos minutos de episódio, Sylar consegue os poderes de Claire. E o que descobrimos? Que ela não morre e nem o mundo acaba! Claro que antes ela morria, inclusive em “Five Years Gone”, mas os roteiristas preferiram ignorar isto e acrescentaram um novo elemento: Claire é especial dentre os especiais e não pode morrer. Mas a seqüência é interessante, primeiro pela própria escatologia, tão “sci-fi”, em ver a mocinha com o crânio aberto e o vilão brincando com seu cérebro; segundo, porque finalmente vemos como Sylar absorve os poderes de suas vítimas e de quebra ainda faz piada com o fato de que muitos fãs achavam que ele comia os cérebros.
As ramificações destes dois eventos trouxeram complicações que só nos resta aguardar para que resultem em acontecimentos empolgantes: Nathan ressuscita e se torna um fanático religioso pronto para o Senado (em outra série, isso poderia render algo bom, mas em “Heroes” não aposto), que pode estar sendo guiado por Linderman ou não – de minha parte, acredito que o beijo de Peter em sua testa foi a causa da sua ressurreição e o resto é pegadinha de roteirista fã de Malcolm McDowell para lhe arranjar uns trocados; o Peter do presente fica preso no corpo de um dos presos da Companhia (graças a um novo poder do Peter do futuro), que acaba fugindo com outros vilões, depois que Sylar e Elle se enfrentam, custando a vida de Bob e dando a Mamãe Petrelli a direção da Organização. Tudo isso me pareceu muito bem narrado, em alta velocidade, sem perder muito tempo com demais explicações. E que tal a possibilidade de Sylar ser um Petrelli? Ah, e não vamos nos esquecer do pobre Matt, que foi parar na África e encontrou alguém com os mesmos poderes de Isaac, e que já previu um futuro bem mais empolgante que o da primeira temporada. Ao invés de uma Nova York explodindo, teremos o planeta mesmo rachado em dois. Acho bem mais legal.
Também descobrimos que Angela Petrelli tem sonhos premonitórios. E eu que achava que Peter havia adquirido este poder quando cuidava de Charles Deveaux. Mas, enfim, o fato é que Mamãe Petrelli teve um desses pesadelos que deveriam deixar qualquer espectador empolgado. Falo de um bando de vilões assassinando impiedosamente todos os nossos heróis. O problema é que nesta série quem morre sempre tem uma chance de retornar, então qual a tensão e expectativa que existe? É o grande problema que “Heroes” terá que driblar caso queira manter seus fãs, porque já sabemos que nada é definitivo e os roteiristas podem aprontar o que quiserem e recomeçar tudo de novo.
O caso mais grotesco nesse sentido é a nova personagem de Ali Larter. Nem Niki, nem Jessica. Agora temos Tracy, que longe de ser uma outra personalidade, é uma pessoa que entra na trama através de um governador que quer se aproximar de Nathan. E como se não bastasse, ela ainda tem poderes bem diferentes de Niki, e que só está descobrindo agora, juntamente com a existência do seu clone. Como o “núcleo Micah” foi o único a não aparecer nos dois episódios, explicações de o que teria acontecido com Niki/Jessica no incêndio fica para a posteridade. Mas não consigo imaginar um motivo para esse storyline que não seja apenas a de manter Larter no elenco, depois de tão bizarro acidente no final da segunda temporada.
E como se todos esses acontecimentos não fossem combustível suficiente para manter uma temporada inteira, ainda tivemos mais via os personagens mais chatos da série. Mohinder 3.0 volta mais estúpido do que nunca e depois de um ato extremamente egoísta frente a Maya (mais bonita e menos chata), resolve testar sua nova descoberta em si mesmo, apressada e irresponsavelmente. Claro que as coisas dão certo no início, e o cientista vira o próprio Peter Parker (sem as teias), traça a Maya (o que Matt achará disso?) e, claro, as coisas começam a dar errado depois. Onde isso vai dar, ninguém sabe. O fato é que sua nova descoberta é uma das respostas possíveis para o Ando do futuro ter super poderes e trair Hiro. Ou seria Hiro o verdadeiro traidor? A dupla japonesa continua chata, ainda que tenha sido divertido ver Hiro entediado brincando com os ponteiros de um relógio, e o congelamento do tempo para descobrirmos a nova personagem, tão rápida que comprova que na verdade Hiro não pára o tempo totalmente. Não gostei da atriz, mas o que interessa é que mais um elemento importante foi acrescentado: uma fórmula química pela metade, guardada por gerações da família Nakamura (ó céus...), e que é roubada, sabe-se lá a mando de quem.
Com tudo isso, é impressionante como a narrativa não se perdeu, não ficou confusa e nem perdeu o fôlego. O que não quer dizer que foi primoroso. Se todas essas subtramas fizerem sentido e formarem um todo coerente (algo que raramente já ocorreu nesta série), vai ser possível ignorar os eventos do passado e aproveitar a diversão como se “Heroes” estivesse começando do zero. Acredito que seja a última chance dos autores em manter alguma credibilidade e não acabar com a série de vez.
Hélio.
Um comentário:
Ultimamente, acho que o maior desperdício de dinheiro do mundo seria comprar os DVDs das temporadas anteriores de Heroes.
(como hobby, eu quero dizer, Hélio) :P
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