quarta-feira, 25 de agosto de 2010

[Spartacus: Blood and Sand] S01E13 - Kill Them All (Season Finale)

por Rafael S


"You know that in another life, you and I may have been as brothers. But not in this one." - Crixus

Com essa tão significativa frase, abro minha análise desse espetacular season finale de Spartacus: Blood and Sand. Um episódio superlativo em todos os quesitos: ação, violência, mortes, desfechos, mas cuja força motriz residiu nessa difícil relação entre Crixus e Spartacus. Dois homens mais parecidos do que podemos imaginar: simples, devotados a um grande amor, e arriscando praticamente todos os dias suas vidas na arena. Sempre bastante orgulhoso, Crixus pareceu odiar mais seu rival do que o contrário, mas a expulsão de Naevia do ludus o fez ter uma nova visão de mundo. Visão muito mais parecida com a de Spartacus, que também perdeu ali seu grande amor (mas de forma definitiva). E a partir dessa percepção mútua de como suas vidas são manipuláveis, meros jogos nas mãos dos mais nobres, é que uma tão improvável parceria nasceu. Não digo surpreendente pois já havia comentado em textos anteriores sobre a expectativa desse momento no qual os dois iriam unir forças. Mas ver isso acontecendo foi simplesmente de arrepiar. A incredulidade de Crixus até o último momento, a gana de Spartacus em mobilizar os escravos, sabendo da importância da participação de Crixus nesse levante...tudo culminou em um mero sinal de gaulês em seu escudo, o suficiente para o trácio saber que finalmente estavam no mesmo lado e dar início ao massacre.

E esse momento pareceu ainda melhor graças ao grande cadenciamento da primeira metade do episódio, contado de forma a intercalar o presente com fatos que precederam a festa dada por Batiatus. Um ritmo capaz de criar em quem estava assistindo toda uma expectativa pelo que viria a seguir. Mas não foi um massacre qualquer que aconteceu. Foi o maior banho de sangue que já presenciei em uma série de televisão. Aproximadamente 20 minutos que pareceram um único e concentrado clímax, onde todas as rivalidades, ódios, mágoas, foram à forra na forma de sangue, muito sangue. Tão impactante que nos leva até a questionar a subjetividade dos pontos de vista da história. Se não conhecêssemos a vida daqueles gladiadores e escravos, toda aquela chacina soaria como a simples e pura barbárie, sem sentido algum. Mas depois de 12 episódios vendo suas histórias de perto, nós já entendemos cada mágoa e frustração daqueles homens e mulheres - não que justifique ou torne o massacre menos impactante, mas ao entendermos suas motivações, de algum modo expiamos a culpa deles. Uma dualidade perigosa, mas é inegável como não dá para não torcer por eles.

E o capítulo foi trabalhado de modo que todos tivessem seu momento de desforra. Os gladiadores, é claro, contra seus novos opressores (os legionários que haviam ocupado o ludus). Ali, os destaques foram os irmãos Agron e Duro, unidos por um objetivo comum, que finalmente se entenderam como irmãos na morte da morte de um deles (Duro). Mas até as escravas tiveram vez. Aurelia, face a face com Numerius, a criança mimada que ordenou a execução de seu marido, enfiou uma faca nele até não poder mais, tomada pelo puro ódio.

Já com Doctore foi um pouco diferente. No início do capítulo descobrimos seu verdadeiro nome (Oenomaus), e logo em seguida ele foi seduzido por uma proposta tentadora feita por Batiatus para se tornar o novo dono do ludus (o que fez com que ele evitasse a morte de Batiatus logo no primeiro ataque). Mas depois de ter seus olhos abertos por Crixus, foi a vez dele acertar seus ponteiros com seu grande calo: Ashur. E aí tivemos a mais perfeita caracterização de um personagem na série. Acuado por Doctore, Ashur desabafou todo seu ressentimento de sempre ter sido tratado como motivo de chacota por todos, praticamente acusando Doctore, ali representando todos os gladiadores, de o terem transformado no que ele é hoje (tudo isso com uma bela atuação do Nick E. Tarabay). E como grande verme que ele é, o atacou sorrateiramente, ganhando tempo o suficiente para fugir se escondendo entre cadáveres - e ver Ashur se esgueirando embaixo de uma pilha de corpos foi o simbolismo exato de como ele sempre se portou. Um dos momentos mais bem sacados da série.



Enquanto isso, Crixus sabia muito bem quem procurar naquela confusão. Aquela que havia lhe usado somente como brinquedo sexual todo esse tempo, que carregava seu filho no ventre, mas nunca iria revelar a verdade sobre seu pai, e que tinha surrado e expulsado sua mulher do ludus: Lucretia. Encurralada, ela tentou ainda barganhar sua sobrevivência, mas com toda a dor do coração, o gaulês enfiou uma espada em seu ventre, bem aonde estava seu próprio filho, em uma cena fortíssima. Filho indesejado em uma mulher indesejada. Vê-la com a pura expressão de pavor no rosto enquanto vertia sangue pela sua barriga foi assustadoramente macabro.

E por fim, o encontro entre Spartacus e Batiatus foi o momento mais aguardado da temporada. O lanista antes de morrer viu tudo que havia construído nos últimos tempos - prestígio, contatos, posses - se acabar pelas mãos dos escravos. Seu ludus foi lavado de sangue, assim como seus planos e ambições. Batiatus morreu vendo seu sonho escapar entre seus dedos pouco antes de se concretizar, e as duas únicas coisas que sempre teve na vida, seu ludus e sua mulher, agonizando ao seu redor. Em uma inversão de papéis, foi a vez do nobre lutar pela sua vida enquanto era observado pelos escravos, que a tudo assistiram de camarote. E com sua garganta cortada pela espada de Spartacus, teve fim toda a história da casa de Batiatus.



É curioso notar como cada um ali executou sua vingança pessoal, mas todas convergiram para um objetivo coletivo, mesmo que eles não soubessem. E quem melhor que o protagonista para resumir todos esses esforços com seu forte discurso, para uma plateia de escravos banhados de sangue, agora sem rumo na vida? Presenciamos ali o clássico momento de nascimento de um líder, capaz de reunir todas aquelas pessoas desamparadas, frutos de uma sociedade excludente. O ponto final nesse arco de histórias do ludus, e a primeira pedra da nova estrada que esses personagens - Spartacus, Crixus (em busca de Naevia, onde quer que ela esteja), Aurelia, Mira, Doctore, Agron, entre outros - irão começar a trilhar para sua sobrevivência nesse mundo que não os aceita.

E do outro lado? Sobraram Claudius Glaber (grande ausência do episódio - mas me pareceu o caso de ter sido poupado para a temporada seguinte) e sua mulher, Ilithyia, esperta o suficiente para fugir durante a confusão. E sendo Claudius um líder de tropas legionárias, ele deverá entrar em confronto direto com o bando de Spartacus no futuro. As possibilidades que se abrem são muito promissoras.

Olhando além de todo o sangue, areia e pele que estiveram tão em evidência, Spartacus: Blood and Sand teve uma primeira temporada espetacular. 13 episódios consistentes, com bons personagens e roteiros. E que venha a segunda parte dessa lenda em 2011 (vai ser dura a espera).

Fotos: Reprodução



Rafael S
http://twitter.com/rafaelsaraiva

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