segunda-feira, 28 de setembro de 2009

[Mad Men] 3x06 Guy Walks Into an Advertising Agency

Podemos até não concordar que esse foi um dos episódios mais brilhantes de toda a série, mas é impossível discordar que não tenha sido o mais cômico. O próprio título já é motivo de risadas, afinal se Guy McKendrick, a versão com sotaque britânico de Don Draper, entrou na Sterling Cooper com seu andar triunfal, ele nunca mais saiu dessa forma. E no meio de toda a comoção dos publicitários após o acidente, Roger Sterling com todo seu bom humor ainda faz um trocadilho com a situação -- a quem não entendeu, a expressão "foot in the door" significa o primeiro contato com uma empresa. Don chega a dizer no episódio anterior que nossos maiores medos estão nas nossas próprias expectativas, mas aqui também encontra motivos para suas maiores decepções. Enquanto o próprio Don já considera uma chance na matriz da PPL em Londres apenas pelas palavras de Cooper, Lane Pryce espera ser reconhecido por toda sua dedicação à empresa. Mas infelizmente, tudo o que ele recebe é indiferença, ganhando uma cobra dentro de uma cesta para representar sua nova empreitada numa filial indiana. Don experimenta de longe o gosto amargo da champagne da derrota, enquanto assiste o inglês tomar seu império. Até na festa de despedida de Joan é ele quem faz as honras, após conhecê-la por algumas poucas horas.

Por todas essas razões, a cena do acidente de Guy é tão trágica, contando mais uma vez com um belo trabalho de direção. Apesar de parecer um daqueles acasos de roteiro, já dava pra prever o desastre que seria logo quando Louis assume a direção do trator. Por um momento pensei até que pudesse ser algum acidente envolvendo Joan, mas nada me preparava para Guy ter seu pé decepado daquele jeito, jorrando sangue em todos os funcionários. Enquanto isso, Don ainda arrumou tempo pra encontrar-se com Connie Hilton, o grande milionário que hoje conhecemos, que parece disposto a dar um voto de confiança para as ideias do publicitário. Além disso, sem um dos pés, Guy nunca mais poderá jogar golfe e consequentemente trabalhar novamente. Ou essa era mais ou menos a lógica daquela época, e tudo na agência voltará a ser como antes por tempo indeterminado. Menos para Joan.
Apesar desses acontecimentos na Sterling Cooper serem o ponto principal pra desenvolver a história a partir de agora, não posso deixar de prestar uma homenagem especial a Joan. Para manter as aparências ela não poderia mais voltar atrás depois do fracasso do marido, já que desde o seu casamento antecipava esse momento para suas colegas. E mesmo que Joan pareça ingênua em ter apostado na carreira de seu marido quando todos ao seu redor indicavam o contrário, ela é a primeira a não se abater e procurar por uma solução. Ela logo pergunta a seu marido o que eles devem fazer em seguida e é também fundamental para salvar a vida de Guy no dia seguinte. Na sala de espera do hospital, Don encontra Joan e os dois dividem um belo plano em que pensam sobre as frustrações que cercaram seu dia. Não é preciso bolo, champagne ou discurso, apenas as sucintas e preciosas palavras de Don para agradecer o tempo gasto por Joan pra colocar ordem naquele escritório. E ela retribui com um gesto singelo de carinho e respeito. Isso sim é uma despedida digna, sem grandes dramas e esperando que o amanhã traga melhores ares para ambos.

Ainda tivemos a continuação do terror vivido por Sally após a morte do avô. Apesar de ser uma história paralela que apenas se comunique com os demais acontecimentos pela noção de reposição, acho bem interessante o cuidado que estão tendo para retratar Sally Draper. Até porque se até pra Don é difícil conviver com um bebê que faça lembrar seu genro, imagine pra garota mal sabendo lidar ainda com seus sentimentos de luto. Cada vez fico mais convencido que Sally terá papel importante daqui pra frente, até o final da série quando representaria a adolescente às portas dos anos 70. Não sei como seria essa transição pra atriz, que até agora tem correspondido muito bem, mas uma coisa é certa: Sally terá sérios problemas pra lidar com Betty. Toda sua insensibilidade pra tentar resolver o problema só reforça o conselho de Gene, que Sally só poderia encontrar seu lugar no mundo se o mundo de fadas e príncipes encantados de sua mãe não acabassem com suas esperanças. Ou simplesmente se superasse seu medo do escuro, deixando de antecipar tudo aquilo que ela ainda não consegue ver.

e.fuzii
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