quarta-feira, 18 de novembro de 2009

[Mad Men] 3x13 Shut the Door. Have a Sit.

por e.fuzii
Durante seus dois primeiros anos, Mad Men estabeleceu-se por saber dosar muito bem no final da temporada o desenrolar de suas histórias. O grande momento de tensão parecia vir sempre no penúltimo episódio, para que assim os personagens pudessem assimilar essas mudanças antes de uma longa passagem de tempo entre temporadas. Por isso, fiquei bastante surpreso por tamanha evolução nesse episódio, depois de toda a comoção com a morte de Kennedy na semana passada. Diria até que essa hora foi uma das mais empolgantes que assisti nesses últimos anos. Porque apesar de já estarmos avisados da possibilidade de venda da Sterling Cooper, nunca seria possível prever que haveria uma tentativa de sabotagem. Como muito bem concluíram tanto Alan Sepinwall quanto Mo Ryan ao final do episódio, esse cenário era típico de um filme de assalto -- como Ocean's Eleven ou The Italian Job pra me ater a dois remakes recentes -- em que um grupo de personagens se reúne, cada um com seus motivos particulares, para aplicar o golpe perfeito e terminar seguindo seus próprios caminhos depois disso. Mas para uma série que preza por um ritmo cadenciado, esse gênero não poderia ser adequado de forma tão simples assim. Não vemos aqui correrias e fugas, mas sim, como o próprio título do episódio sugere, pessoas discutindo sentadas em ambientes particulares, tomando decisões e procurando por aliados. E a semelhança com esse gênero serve perfeitamente para considerar também a nova situação de Don Draper. Cabe lembrar o pôster de divulgação dessa temporada em que um solitário Don Draper, sem nunca desarmar-se de sua postura severa, assiste ao seu próprio escritório sendo inundado enquanto afunda junto da empresa. O que vemos no final? Don indo morar na cidade, separado de sua família, mas reavaliando dentro do novo escritório o valor da cooperação com seus parceiros. Aquela mesma cooperação que nas suas memórias custaram a falência de seu pai e até sua abrupta morte tempos depois. Ele não poderia terminar sozinho, não após uma temporada inteira sendo cercado por todos os lados e encurralado pelos cantos. Não depois de acreditar na relação com Conrad Hilton e acabar descartado nessa nova aquisição da empresa. E é nessa conversa logo de início que o primeiro sinal de alerta parece soar para que ele tomasse as devidas providências antes de cair nessa cilada. Don Draper quer afinal, construir algo.
Nessa semana discutia com amigos (os ilustres @calhau e @resenna) que essa foi definitivamente a melhor temporada da série, principalmente por já estarmos bem ambientados com a época e os personagens, deixando assim público, autores e diretores numa mesma sintonia. Em vista disso, essa arrancada final e incrível conclusão só vieram coroar o ano em que grande parte desses personagens, vítimas daquilo que era pré-estabelecido na década anterior, encararam suas maiores frustrações: verdades vindo à tona nos casamentos, empregados sendo subestimados pelos seus chefes, esforços em vão de tentar dar a volta por cima e sonhos sendo destruídos. Além disso, já que Matthew Weiner deixa bem claro que pretende fechar com 6 temporadas a série, essa foi a oportunidade perfeita de dividí-la em duas partes, amarrando boa parte das tramas até aqui e deixando todos posicionados para enfrentar as grandes mudanças dali pra frente. Levando em consideração mais uma vez o paralelo com os tais filmes de assalto, tudo o que haviam planejado até aqui falhou e esses personagens precisam então bolar novos planos. Não adianta Don Draper tentar usar de suas antigas técnicas para dominar a esposa se agora ela tem a segurança de Henry e bastam 6 semanas vivendo em Reno para assinar a separação definitiva. O descontrole atinge Don em cheio quando fica sabendo da traição de Betty e quase chega a agredí-la se não fosse o choro do bebê Gene, o mesmo que no final da temporada passada parecia ser a única esperança de salvar esse casamento. Mas ao final Betty está mesmo decidida a seguir seu caminho até a separação, o que é de certa forma um alívio também para a série que já não aguentaria por muito mais tempo essas idas e vindas do casal. O desastre mesmo vem quando os dois precisam compartilhar essa decisão com os filhos -- deixados por Betty sozinhos com a empregada em plena época de festas de final de ano --, que obviamente não entendem as razões para a separação. Eles põem a culpa em si mesmos ou tentam achar os motivos mais simples para contestar os pais, até que não há mais nada que Don possa falar com Bobby pendurando-se em sua cintura.
Não é à toa que vendo sua família desmoronando diante de seus olhos, só resta a Don Draper retomar o plano de sabotagem à Sterling Cooper e fazer sua última oferta a Peggy. Com certeza é minha cena favorita do episódio, tanto pelas atuações quanto pelos cuidados com sua montagem. São os raios de luz que iluminam o rosto dele, enquanto Peggy evita ao máximo sentar-se. Mas mesmo sentada, ela continua numa posição ligeiramente superior a Don, que está inclinado para frente, sendo obrigado assim a elevar seu rosto enquanto fala, numa elegante forma de implorar. É então que Don Draper provavelmente diz suas mais belas palavras em toda a série diante das negativas de Peggy: "Passarei toda minha vida tentando te contratar". Sabemos que o trabalho é o que conecta esses dois, sempre transparecendo uma admiração mútua, então não haveria forma mais apropriada de tentar convencê-la do que fazendo essa verdadeira declaração de amor profissional. Com isso, Peggy acaba desistindo da chance oferecida por Duck, o que pra mim acaba sendo a única ponta solta que restou nesse roteiro. Claro que era importante para criar esse suspense final, mas fica a impressão que ela só cedeu aos agrados de Duck para deixar essa oportunidade em aberto.
Mas no geral, todo o plano de Sterling, Cooper, Draper e Pryce para resistir à dominação da McCann Erickson foram os momentos mais intensos do episódio. A começar pela reunião na sala de Don, quando os quatro sócios encontram uma forma de sair dessa armadilha. Depois de Roger ironizar a rasteira que Pryce levou da PPL, todos decidem fazer uma hilária votação para serem demitidos. O grande detalhe, ou o que mostra a genialidade do roteiro, está no fato de depender da ineficiência dos meios de comunicação da época, já que a matriz da PPL só ficaria sabendo das demissões três dias depois. Tempo suficiente para fazer a transição, que incluía reconhecer o devido valor de Pete Campbell para levar os antigos clientes à nova empresa. Gostaria de ter visto uma conclusão para aquela conversa entre ele e Pryce no episódio anterior, mas só de ver Don tendo de analisar honestamente o potencial do rapaz já fiquei bastante satisfeito. Também é preciso reconhecer a importância de Trudy, que provou ao longo da temporada ser de suma importância para manter a estabilidade do marido, fazendo dela presença constante a partir de agora na SCD&P. Harry garante também seu lugar no mesmo setor de mídia e quando Roger sai dizendo saber exatamente quem poderia chamar para ajudá-los a se organizar, ficava impossível não esperar por Joan. Afinal, aquele andar confiante e sua discrição são difíceis de serem esquecidos e obviamente ela já chega reunindo tudo que seria preciso para dar continuidade aos trabalhos. A única falta continuou sendo Salvatore, que desconfio ainda aparecer no futuro como convidado, isso se aquelas exigências de Don não colocaram essa relação em cheque. Embora ainda espere também uma trama envolvendo Paul ou Ken adiante, quem sabe até de acerto de contas, fiquei bem surpreso com a coragem de descartar quem foi deixado pra trás nessa transição. Essa redução do elenco principal da Sterling Cooper é muito bem-vinda, até pra dar uma arejada com novos rostos e concentrar-se nesse recomeço.
Sim, um recomeço pra todos esses personagens, que a partir de agora passarão a ocupar a mesma sala, ao menos provisoriamente. Se já parecia claro que todos eles seriam tratados praticamente de igual pra igual, bastou Peggy responder com um sonoro 'não' a um pedido por café de Roger para termos certeza disso. Como já escrevi anteriormente, SCD&P formou-se no momento certo para enfrentar todas essa transformação que cercarão a sociedade nos próximos anos. Confesso que demorei até mais do que o normal pra escrever todo esse texto -- embora Mad Men sempre tenha me exigido um tempo maior mesmo --, mas assisti a esse Season Finale três vezes nesse meio tempo. Juro que todas as vezes, além de perceber novos detalhes, terminei com a mesma empolgação. De fato, com tanto vigor e tamanho otimismo, essa foi a melhor conclusão que poderíamos acompanhar para uma temporada que chegou tão perto da perfeição.

Assim me despeço dessas análises de Mad Men por mais um ano, já sentindo uma profunda abstinência. Não há nada que possa substituí-la à altura na televisão atual, infelizmente. Bom, para quem acompanhou até aqui, meu muito obrigado pela atenção dispensada e até a próxima temporada.

Fotos: AMCTV/Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

4 comentários:

L.Vinicius disse...

Essa season finale foi sensacional mesmo, nota 10,0, se pudesse, dava 11. Ótima review

André Leite disse...

Mad Men é atualmente a melhor série em exibição na TV. Mesmo com um início mais lento do que as anteriores, esta temporada é a melhor até aqui.
Seus comentários sobre o episódio
são pertinentes e consistentes, parabéns.
Considero este capítulo, ao lado de The Wheel (1ª temporada), um dos melhores do seriado.
Impossível a série não conquistar novamente o Globo e o Emmy...

Anônimo disse...

Fuzzi, começei a assistir mad men por influência da Celia, minha prima, sua colega de blog.
Não precisa dizer que viquei completamente viciada e assisti a todos os episódios das três temporadas. Foi uma maravilhosa overdose! Ao assistir tudo meio junto, consegui perceber o crescimento das personagens femininas. Como mulher, enxergo a série de uma maneira mais romântica que vc! O que é bom, certo? As três mulhers principais, Peggy, Betts e Joan começaram meio coadjuvantes, mas ao longo da série tomaram posições determinantes e se destacaram muito do ponto de vista comportamental, assumindo a rédeas de suas vidas num período em que as mulheres ainda eram um pouco marionetes. Peggy sempre se mostrou muito determinada e independente, muito á frente das outras, mas o que mais me impressionou foi Joan e Betts. A primeira assumindo financeiramente seu casamento e a segunda realmente realizando que não amava mais o maravilhoso, embora controvérso, marido que tem. Betts no fim das contas não conseguiu acitar a mentira da vida de Don. Ela sentiu realmente que não fazia parte da vida dele, era somente um belo troféu a ser exibido, como ele fez durante muitos momentos da série.... Tudo bem que Betts não tomou a decisão sozinha, ela precisou de Harry. Isso é muito atual até nos dias de hoje. Mulheres enterradas em um casamento com filhos e sem trabalho próprio, ficam susceptíveis a novos amores pra poderem seguir suas vidas mais felizes e realizadas. Estou muito empolgda com o começo da série em julho. Vamos ver se essas garotas nos coneguem surpreender mais até do que Don Draper sempre fez! Aliás, me empolga ver um personagem tão complexo quanto Don em uma série de TV com algumas temporadas. Desse modo podemos descontruí-lo aos poucos, entendendo cada vez mais suas polêmicas condutas. Aliás, o que não falta é polêmica nessa série! Mas isso é outra história!
Um abraço
Luciana

Marcelle disse...

Depois de ver esse episódio e ler essa resenha, tenho que abraçar o note :p

Ok, falando sério, Mad Men deu um banho em muita série de ação ocm o season finale.