“I did wrong. I…I
made some terrible mistakes. But the reasons were always... Things happened that... I never...
intended.” – Walter White
Depois
da possibilidade de ser preso, e da fuga após todos ao seu redor passarem pelo
inferno, é hora de acompanharmos como é viver após a tragédia. “Granite State”
mostra mais uma possível conclusão pra série, sendo o terceiro episódio
consecutivo em que a jornada de Walt poderia se dar por encerrada, e de uma
forma pior do que vista anteriormente. Aparentemente tudo de ruim já foi
mostrado, exceto pela morte.
É
um episódio com uma divisão bem clara: o inferno particular vivido pelo protagonista,
e o inferno que ele deixa para sua família e Jesse na forma de Jack, Todd e
Lydia. De um lado, a total impotência de quem sempre conseguiu planejar algo, e
agora sequer consegue completar uma ameaça (sua tentativa de intimidar Saul é
idêntica a de “Live Free Or Die”, agora interrompida pela crise de tosse), que não
encontra utilidade para a vestimenta de Heisenberg e a única coisa que pode
fazer com seu dinheiro é pagar por companhia. Do outro, o mal encarnado
presente nas vidas de Jesse e Skyler.
Confesso
que não sei muito bem o que pensar de um grupo de nazistas fazendo as coisas
mais terríveis na reta final da série. É compreensível a presença de um
antagonista, de alguém que nos faça torcer pelo personagem principal e que nos
renda alguma catarse quando ele conseguir sua vingança, mesmo que Gilligan já
tenha deixado claro que Walt não terá nenhum tipo de redenção. Mas também me
parece um pouco fora do tom, talvez um pouco diabólico demais, que faça parte de
sua punição ter se envolvido com os tipos mais frios e cruéis que se poderia
ter – mas devo dizer que acho excelente a sequência em que o grupo ri do vídeo
de Jesse, enquanto este chora ao falar sobre a morte de Gale; é como se fossem
retratados ali os fãs que ridicularizaram o personagem pela sua fase “deprê”, e
não tenho dúvidas de que Jack e amigos odiariam Skyler caso assistissem à
série.
Por
outro lado, o episódio deixa evidente que o grupo de Jack é só um sintoma de um
mundo já doente, numa visão que, se não é positiva, é bastante coerente com o
que a série sempre foi: ninguém presta, pois Lydia é tão cruel quanto os
nazistas sugerindo a morte de Skyler; o homem que muda a identidade de Walt negocia
sua companhia (10 mil, sim, mas só por uma hora); seus antigos sócios da Gray
Matter fazem doações e mentem sobre sua participação na fundação da empresa
para que as ações não sejam desvalorizadas. O individualismo e o Deus-dinheiro são
responsáveis pelos atos mais desprezíveis e egoístas. Uma visão de mundo
infelizmente pouco explorada pelas discussões atuais sobre “Breaking Bad”, que
parecem se resumir a uma análise de caráter e personalidade do protagonista e seu
papel real na narrativa (herói, anti-herói, sociopata, incompreendido, monstro,
etc), além de tentar atribuir culpa aos personagens pelos eventos que nos
trouxeram até este final. E se esta é essencialmente a história de Walter White
(e é ele quem traz todos para o olho do furacão), há culpa pra todo mundo.
Jesse sofre as consequências por não aceitar plenamente as regras do jogo que
decidiu participar, e Skyler sofre justamente por aceitar entrar em um jogo
cujas regras não conhecia. Mesmo a morte de Andrea (filmada pelo ponto de vista
de Jesse, amplificando a crueldade e sofrimento) poderia ter sido evitada caso
Hank tivesse agido de forma diferente quando interceptou a ligação de Walt pra
Jesse, assim como sua morte é consequência também tanto do seu código de
justiça quanto do seu orgulho.
É
importante enfatizar que esse clima de fim de mundo francamente depressivo em
que a série se encontra, faltando apenas um episódio para o fim, é fruto dessa
construção em cadeia que está presente desde o princípio de tudo. E como esta é
a história de Walt, é maravilhoso o retorno ao início de sua jornada no final
de “Granite State”, nos lembrando pela enésima vez que não há intenções de
suavizar o protagonista ou torná-lo mais simpático (ainda que seja inevitável
alguma simpatia e compaixão quando vemos o personagem que acompanhamos por
cinco temporadas vivendo naquela situação, não importando o que ele fez pra
chegar ali). Já tinha comentado que o telefonema pra Skyler em “Ozymandias” não
tinha objetivo de redenção e aqui, falando com o filho, ele sequer consegue
completar a frase sobre os motivos de ter feito tudo o que fez.
Não
há dúvidas de que Walt sempre pensou em sua família, algo muito explorado nos
últimos episódios, e que os flashforwards que vimos poderiam mesmo mostrar seu
retorno para se vingar de Hank e proteger sua esposa e filhos. Mas Heisenberg foi
uma criação necessária para fortalecer seu ego, preservar o orgulho, criar algo
duradouro e lhe dar um poder sobre as pessoas que o brilhante professor de
química nunca teve na vida medíocre que levava, com intelecto subaproveitado e
submisso no trabalho e em casa. “Remember My Name”, diziam os cartazes
publicitários que divulgavam este último ano da série. E a preservação do mito,
do nome e de um império é que são coisas mais importantes que a família, o
suficiente para reerguer um homem acabado.
De
uma só vez, a entrevista com os seux ex-sócios da Gray Matter o faz se lembrar
de como tudo começou (e com sua realização reduzida à criação do nome da
empresa) e que uma metanfetamina de qualidade (mas NUNCA como a sua) circula
pelo mundo. Uma das melhores sacadas dos realizadores, que ainda completam com
o uso do tema da série como trilha sonora, algo que nunca haviam feito e que
reforça a ideia de retorno ao que sempre mais importou ao protagonista.
Eu
não tenho ideia do final que Gilligan e seu time reservam a cada um dos
personagens, mas o que eles têm feito nestes últimos episódios consegue ampliar
ainda mais as expectativas, de uma forma que parece até improvável que resolvam
tudo de forma satisfatória. Ao mesmo tempo, transmitem uma segurança tão grande
no material em mãos, que seria decepcionante se tudo fosse de forma “apenas”
satisfatória. O fato é que a expectativa não é só de saber como será o fim, mas
do quanto ainda podemos ser surpreendidos. Seja como for, o mundo das séries
ficará um tanto mais triste a partir do dia 30 de setembro.
4 comentários:
Excelente a análise!
Realmente acho incrível não conseguir prever sequer um fio da trama, mesmo tendo tantas pistas em mãos. Vejo pessoas reclamando do "exército" neonazista agora mas não vejo grande diferença para os gêmeos do deserto, por exemplo. Como você mesmo disse, nada mais do que aquilo que o próprio Walt atraiu para si (e para os outros).
Faltou falar de Robert Forster, a melhor escalação já feita pela equipe de elenco. Espero que ele apareça também neste novo spin-off do Saul...
Laura Fraser mto gostoza!!!!
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