quinta-feira, 24 de setembro de 2009

[House] 6x01-02 "Broken"

Tarefa ingrata essa a minha, que é de falar mal do primeiro episódio de “House” que escrevo para o blog. Especialmente quando parece haver um consenso de que o season premiere da sexta temporada seria um dos melhores episódios de toda a série. Bom, não é.

Pra sermos justos, nem se trata de um episódio, já que os 90 minutos de “Broken” funcionam mais como um especial da série, levando o protagonista a outro ambiente, sem a presença dos demais personagens regulares, totalmente distante da estrutura narrativa a que estamos acostumados. “Broken” é um telefilme. E como boa parte dos telefilmes, é simplista e recheado de clichês usados à exaustão para resolver conflitos e levar um personagem do ponto A ao ponto B (no caso, protagonista resistente à internação passará por mudança e aprendizado forçados, chegando ao ponto de aceitar tratamento e ficar bem).

O problema mais grave está relacionado ao que escrevi no post anterior sobre a série: em cinco anos, vimos inúmeras tentativas de fazer com que House se tornasse mais “humano” (ênfase nas aspas, por favor), e tudo em vão, felizmente. Pois os autores tiveram a audácia de trazer todas as mudanças de uma vez só. Em “Broken”, vemos House compartilhando momentos íntimos com uma mulher como nunca antes; House chora; House pede desculpas; Arrepende-se e se sente perdido. Tudo o que eu temi por cinco temporadas acontece em meros 90 minutos.

Como se isso não bastasse, o episódio faz parte do gênero “filme de hospital psiquiátrico”, com todo estereótipo envolvendo a loucura a que se tem direito. House facilmente identificando os transtornos mentais de cada um dos pacientes, infernizando-os depois ou jogando-os contra a equipe médica, não incomodaria tanto se ao menos fosse engraçado.
E que tal Alvie, o colega de quarto do protagonista? Falastrão, agitado e rapper, Alvie não demonstra um único sintoma durante todo o episódio, nenhum sofrimento ou transtorno. No entanto é ele quem protagoniza aquela constrangedora cena ao final, ao ver House indo embora, de que quer melhorar também e aceita tomar remédios. E sobre medicação, há implicações éticas que acho que não vale à pena discutir neste espaço. Basta dizer que a série vende a idéia de que House “melhorou”, em parte porque aceitou tomar medicamentos que, aparentemente, trazem felicidade.

Idéias melhores foram vendidas, mas que pecam pela execução. Vejam, por exemplo, a trama envolvendo o paciente super-herói e a paciente muda. É louvável a defesa de que as pessoas deixam de sofrer quando fazem conexões saudáveis umas com as outras (House guiando o super-herói na cadeira de rodas, que entrega a caixa de música à paciente muda). O problema é que, com a estrutura de telefilme, tudo se resolve da forma mais simples e boba possível. Ou, como disse alguém em um fórum, que tal da próxima vez a paciente pedir a caixa de música para uma enfermeira no primeiro dia de internação, ao invés de ficar muda por 10 anos esperando que alguém adivinhe o que ela quer?

Até fico espantado com os elogios que este episódio ganhou. As pessoas não se incomodaram com resoluções como esta? Ou com Alvie querendo ficar melhor? Com o psiquiatra decidindo por House que ele tem problemas a serem tratados com terapia e remédios? Com a infantilidade do protagonista, que foi TUDO, menos brilhante como estamos habituados, com visão de mundo e filosofia de vida bem peculiares, que sempre questionou os padrões de normalidade instituídos, padrões estes reforçados pelo psiquiatra? E que tal a sequência envolvendo o pai do psiquiatra, completamente sem sentido e lógica interna, ali unicamente pra arrancar um pouco mais de emoção?
Gostando ou não de “Broken”, parece marcar um momento de virada na série. Até que ponto as mudanças em House vão transparecer em seu trabalho? Como administrar essas mudanças, mantendo o que faz a alegria de tantos fãs (a grosseria, o sarcasmo, a frieza)? Gostaria muito que os autores passassem por cima do que vimos nesta internação do personagem e deixasse as coisas como estavam. Talvez fosse incoerente, mas o que foi coerente neste season premiere?

Mais o quê?

- No início do episódio, quando House entra na sala do psiquiatra, imaginei que a médica que conversava com ele fosse Amber. Na verdade, passei a metade do tempo pensando em como a Dra. Beasley parecia uma mistura de Amber com Cameron. Estou viajando ou foi proposital?

- “Preciso que você investigue uma placa de carro pra mim” “Por quê? Houve um acidente de carro no seu andar?” Sempre achei que Wilson merecia um ator melhor que Robert Sean Leonard, mas gosto das reações dele às sandices de House.

- Não sei se foi a intenção, mas a cena dos pacientes no “show de talentos” pareceu referência direta a “Titicut Follies” (1967), clássico documentário de Fred Wiseman que retrata o descaso de uma instituição psiquiátrica com seus internos.

- Plano final do episódio é House em um ônibus, com a câmera se afastando lentamente. Imaginei que mostrariam Amber ao seu lado. O que não seria tão ruim em vista do que aconteceu neste episódio.

- Por mais que o episódio mostre o contrário, gostaria muito que o título deste season premiere tenha feito referência ao final da jornada. House está quebrado agora, após ter sido normatizado. E a sexta temporada será o resgate do velho doutor que conhecemos. É pedir demais?

Hélio Flores.
http://twitter.com/helioflores

2 comentários:

Andre disse...

Otima análise...
é sempre bom poder ouvir opiniões contrárias... a da maioria

haha

Alexandre Barbosa disse...

Concordo com partes das afirmações ( a parte da caixa de música ter feito uma mulher catatônica a dez anos foi forçada), mas não com outras (como quando Alvie aceitou tomar os remédios, não acho que a série vendeu a propaganda "Remédios da felicidade", acho que Alvie, assim como House, apenas aceitou o tratamento como um todo, não só os remédios). Mas no geral, adorei o episódio. Como acabei de ver o 6x01 (dois anos atrasado é verdade), espero que o House não volte a ser (pelo menos não completamente), o velho House, e espero que a estrutura da série tenha sofrido alguma mudança, por que convenhamos, estava absurdamente repetitiva. Se não fossem os 3 últimos episódios da quinta temporada serem fantásticos (eu estava me arrastando durante toda a temporada, simplesmente não tinha mais vontade de assistir), nem sei se olharia este.