Hoje começa a sexta temporada de “House” e farei os comentários a partir desta semana. O Alan, que era o comentarista oficial, desistiu depois que a série se tornou algo como “House & Thirteen – Uma Dupla Muito Louca”, então aceitei o desafio, acreditando que esta fase ruim já passou.
De fato, a quinta temporada foi o pior momento da série, ao dar atenção demais a personagens secundários que não mereciam atenção nenhuma. Mas os últimos episódios ameaçaram um retorno à boa forma, com o resgate progressivo de Cameron e Chase ao mesmo tempo em que tenta se livrar da equipe médica atual, ignorando, inclusive, a doença de Thirteen. Críticos americanos que tiveram acesso ao season premiere de hoje garantem que vem coisa boa por aí, impressão que já se tinha desde a reviravolta do último episódio (menos pela reviravolta em si e mais pelas possibilidades que surgem).
Este post é apenas uma apresentação de como eu vejo a série, sobre o que me atrai nela e que tipo de comentário vocês encontrarão aqui.
Sou da turma que considera “House” um dos mais brilhantes programas da televisão. Ao contrário de séries como “Deadwood”, “Sopranos” ou “Mad Men”, não é sua intenção ousar na narrativa, flertar com a linguagem cinematográfica ou fazer do ato de filmar uma experiência complexa e estimulante, e aprofundar em personagens tridimensionais. O brilhantismo de “House” está em lidar com a linguagem televisiva da maneira mais simples e direta possível, sem deixar de ser inteligente e divertida.
Todo mundo já conhece a estrutura “camisa-de-força”: paciente apresenta sintomas inusitados, House e sua equipe tentam encontrar diagnóstico, quadro do paciente se complica e mistério se desvenda no último minuto (na maioria das vezes, uma “iluminação” repentina do protagonista). Roteiro e atuações, portanto, precisam ser mais do que afiados. Ou seja, as molas mestras de qualquer show televisivo que se preze (pra dirigir os episódios, qualquer diretor padrão da indústria).
A essa altura, nem é preciso comentar como a série se estrutura em histórias de investigação e mistério (os amigos House e Wilson sendo referências óbvias a Holmes e Watson) guiadas por um protagonista fascinante pela combinação de fatores (ele é brilhante, sarcástico, hilário, cruel, mal humorado, grosseiro), que tem Hugh Laurie numa dessas atuações de ficar para a história da humanidade.
Mas o que mais me fascina é como os autores vêem e tratam as questões que abordam. Através de seu protagonista, questionam o mundo e suas verdades à nossa volta. Não há espaço para moralidades, o Dr. House está ali para negar o que é instituído, o que é considerado normal e padrão. E tudo com muito humor fino e rápido. O moralismo também passa longe: enquanto em outra série médica como “Grey´s Anatomy”, pode se extrair humor de médicos envergonhados porque viram uma colega de trabalho nua, ou porque um paciente só aplaca sua dor com filmes pornográficos, em “House” a nudez ou o sexo não são motivos de vergonha (um paciente adolescente tem um orgasmo diante da Dra. Cameron, que trata o incidente com a seriedade que deve ser – a piada vem depois, com House, obviamente, mas longe de passar pelo embaraço ou coisa parecida).
É a forma de lidar com esse tipo de coisa, ou com questões mais sérias, que faz de “House” uma série especial. É ser inteligente e afirmar uma postura ética (e não moral) diante do outro, ao mesmo tempo em que diverte pelo humor, surpreende pelo mistério, encanta pela relação que o protagonista mantém com os demais personagens, tudo marcado com alguns dos diálogos e sacadas mais espertos da TV atual.
Infelizmente, com o sucesso enorme da série, os autores parecem ter sentido uma necessidade em “avançar” a trama. Parece uma exigência de mercado que House mude, tenha romances, que os coadjuvantes participem mais ativamente da história, enfim... que haja movimento. Mas o melhor para “House” seria um eterno presente. Novo paciente, novo mistério, investigação divertida, algumas discussões interessantes sobre o tema em questão, resolução da trama e pronto. Até semana que vem para um novo episódio.
Não que tudo que tenha mudado se tornou um desastre. Uma grande qualidade da série é ter feito Dr. House passar por diversas situações e sair ileso delas, sem mudanças na sua peculiar personalidade. E não foi coisa fácil. E se as tramas que envolvem um personagem que quer destituir o protagonista de seu trono (o diretor da clínica na 1ª temporada, o policial da 3ª) são as menos interessantes da série, a formação da nova equipe médica na 4ª foi uma das coisas mais engraçadas, descabidas e non-senses que já realizaram. Não é que sair da estrutura regular da série seja ruim. Mas sempre temo que House irá ceder, se tornar mais amistoso, compreensível ou qualquer coisa do tipo. E normalmente com dramas e histórias que desviam o que a série tem de melhor e só não se torna apenas mais uma série médica como tantas outras por conta de seu protagonista.
A atenção dada a Thirteen e Foreman na temporada passada, ou o excesso de tentativas em relacionar os dramas de coadjuvantes com as dores dos pacientes fez deste o pior momento da série. E House delirando em mais um season finale também não foi uma solução das mais criativas. Mas o fato é que, por pior que seja, é sempre possível se divertir com o protagonista, sua lógica e sarcasmo. E agora ele está de volta. E internado.
Não sei ainda se criarei um padrão para os comentários. Não serão tão longos como esse post, talvez eu destaque alguns diálogos e certamente não vou me ater ou sequer falar sobre a doença e os sintomas em questão. Mas pelo menos tentarei ser rápido e postar o mais breve possível após o episódio ir ao ar.
Hélio Flores.
http://twitter.com/helioflores
Um comentário:
Nossa se deu muito bem, levando em conta os primeiros episodios essa deverá ser a melhor temporada de todas.
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