por e.fuzii
Para quem ainda duvidava o quanto Mad Men promove as discussões mais inusitadas, trago antes de começar meu texto o link para um artigo no site feminino DoubleX que decidiu analisar esse episódio a partir da redecoração na sala dos Draper: The Fainting Couch for Best Supporting Actor. Mais abaixo nesse mesmo link ainda tem um vídeo hilário em que as mulheres por trás do site resolveram fazer um experimento e beber durante todo o expediente como na Sterling Cooper. Enfim, voltando ao texto, basicamente essa redecoração reflete a condição dos Draper, que passam a exigir itens de maior valor, mas sem deixar de transparecer seu conservadorismo. Além disso, é interessante notar como Betty precisa pedir pela opinião de Don sobre o assunto, que logo inventa qualquer bobagem para evitar a mínima preocupação. Tudo o que ele quer, até por ser uma figura emergente, é que sua linda mulher decore a casa provando todo seu bom gosto.
Bom, mas vamos à discussão do episódio em si. Contemple a imagem acima e diga se tem como não gostar de Mad Men, vendo January Jones deitada numa espreguiçadeira Vitoriana. Com certeza não, mas por outro lado não posso afirmar que a estrutura narrativa tenha sido das mais inventivas, já que a maioria das séries da atualidade já experimentou mostrar um apanhado de cenas para depois explicar como tudo aconteceu no decorrer do episódio. Nesse caso, o problema é ainda maior porque essa estrutura exige, na minha opinião, que o episódio tente ir além dessas imagens misteriosas. Obviamente que é instigante ver Betty nessa posição e imaginar quem estaria admirando ela, assim como tentar descobrir quem seria o homem ao lado de Peggy. Mas tudo isso acaba servindo apenas como conclusão, daquelas que na metade do caminho você já desconfia. Betty, por exemplo, depois de receber suas amigas na sua sala já redecorada, ao redor da lareira onde segundo sua decoradora é a "alma da casa", tem um encontro cheio de desculpas com Henry Francis. Muito além de conseguir seu apoio, Betty queria mesmo era experimentar mais uma vez os olhares de desejo, que apesar de serem contidos, refletem sua posição no final do episódio. Betty divaga sobre seus sonhos e fantasias deitada no centro de sua sala, o lugar onde as pessoas se reuniriam para contemplá-la.
Talvez a única trama que corresponda às expectativas seja tudo o que cerca Don após mais um contato com Connie Hilton. Se até a semana passada esse era o cliente dos sonhos para Draper, torna-se seu maior pesadelo quando a exigência principal é que ele assine um contrato com a Sterling Cooper. Ao sentir-se mais uma vez encurralado, decide fugir e sair dirigindo sem rumo até que encontra um casal pedindo carona à beira da estrada. Sua perturbação e sobriedade não permitem ver o óbvio perigo que estaria correndo, o que parece servir de motivo para Draper ponderar sobre a decisão de começar tudo outra vez. Ele sabe o tamanho esforço que foi criar e manter essa sua identidade e tentar um novo começo seria lançar-se à sorte, podendo terminar caído de bruços num quarto de hotel de quinta categoria. E antes mesmo disso, Don experimenta nas amargas palavras da professora de sua filha, a verdade de quanto ele é igual qualquer outro daqueles pais. Por mais que ele diga que tem sentimentos verdadeiros, suas roupas não negam que ele queira ser como os outros. Diria até que a postura da professora simboliza a relação entre Don e a empresa: todos podem desejá-la, mas nenhum deles pode tê-la. Mas isso ainda não chega a irritar Don perto das atitudes de Roger para conseguir a tal assinatura. Ele fica furioso quando descobre que Roger tentou convencer Betty a falar com ele sobre o assunto. E para Don isso soa como trapaça, tentando cercá-lo por todos os lados e pegando no seu único ponto fraco nessa temporada, a promessa de corresponder a sua família.
Porém, quem sofre realmente todas as consequências dessas irritações é Peggy, que escolhe o pior momento possível para candidatar-se a uma vaga na conta do Hilton. Draper acaba com a pobre coitada, despejando todo o tipo de machismo que ela não precisava ouvir. Isso serve de senha pra que ela aceite encontrar-se com Duck e numa inesperada troca de palavras já esteja divindo a cama com ele. Confesso que seria a última pessoa que apostaria, mas a fragilizada Peggy acabou seduzida por Duck -- ou como li num forum, sua seducktion. Seria essa a decisão final de Peggy, demitir-se então da Sterling Cooper? Ainda não, já que ela reencontra com Don pela manhã, ambos com as mesmas roupas do dia anterior, parecendo até agir com certa simpatia. Mas Don acaba surpreendido por encontrar Bert Cooper sentado em sua sala -- e essa é a segunda vez só nesse episódio que Draper perde o comando de sua própria sala --, disposto a fazer sua última oferta para que ele assine o contrato. E apesar de relembrar que ele sabe sobre seu segredo, Cooper lida com a situação na sua própria maneira peculiar, dizendo o quão indiferente é assinar algo com seu nome falso. Mas para Don esse seria o ponto final para assumir essa identidade de vez, sem poder olhar pra trás, fugir ou tentar resgatar suas origens. Essa assinatura marca o dia do adeus final de Don Draper a Dick Whitman que, como simboliza o eclipse na sua origem grega, deixou de existir. Como ele vai agir a partir de agora quando estiver novamente sob pressão é o que provavelmente veremos nos próximos episódios.
Fotos: reprodução/AMC
e.fuzii
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terça-feira, 6 de outubro de 2009
[Mad Men] 3x07 Seven Twenty Three
às 10:38 PM
Marcadores: [Série], Série - Mad Men
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