quinta-feira, 29 de novembro de 1973

[FILME] The Holy Mountain (The Sacred Mountain)

Depois de assistir a este filme do genial chileno Alejandro Jodorowsky, que tem um "nome oficial" e um "nome em ingles internacional", depois de uma longa e complicada digestão, resolvi vir aqui hoje (27/08/2007) escrever algumas linhas estranhas sobre esse filme muito estranho!




Diretor:Alejandro Jodorowsky
Escrita por: Alejandro Jodorowsky (written by)
Foi apresentado ao mundo em: maio de 1973 (no Festival de Cannes)
Teve sua estréia oficial em: 29 de novembro de 1973 (nos EUA)
Produzida no: México e nos EUA

Tem no elenco:
Alejandro Jodorowsky ... O Alquimista
Horácio Salinas ... como Hector Salinas
Zamira Saunders ... como Ramona Saunders
Juan Ferrara ... como Fon de Venus
Adriana Page ... como Isla de Marte
Burt Kleiner ... como Klen de Jupiter
Valerie Jodorowsky ... como Sel de Saturno
Nicky Nichols ... como Berg de Urano
Richard Rutowski ... como Axon de Netuno ( e como Richard Rutowsky)
Luis Lomeli ... como Lut de Plutão
Ana De Sade ... como a Prostituta do chimpanzé
Chucho-Chucho ... como o Chimpanzé da prostituta
Letícia Robles ... como Leticia Robles
David Kapralik ... como o Turista



Como disse, eu ainda não consegui digerir direito esse filme, portanto nem vou tentar resumi-lo, ao contrário, colocarei abaixo a integra do ótimo texto escrito por Estevão Garcia em 12/10/2006, que tem o interessante título de "Viagem Xamânica", e consegue resumir muito bem esse filme estranho. Escreve Estevão:

Os camaleões astecas aguardam esticando as suas línguas a chegada dos conquistadores sapos espanhóis. O insólito circo que narra a estória da Conquista do México termina com uma grande explosão. Escorre pela miniatura de pirâmide asteca, o sangue coagulado, a textura e a cor do que sempre moveu a roda da História: a violência. O teatro astecas x espanhóis, protagonizado por aqueles répteis e anfíbios, dialoga e estabelece uma analogia com o que está sendo vivenciado no que seria o não-teatro da “realidade”. Os soldados portadores de máscaras contra gás, a procissão que empunha cruzes com animais despelados na posição do Cristo, mais que imagens produtoras de choque, são símbolos da truculência. Os conquistadores espanhóis de outrora são continuados pelos reacionários de hoje.

Um grupo de turistas japoneses é metralhado, outros transeuntes são mortos como se as suas mortes fossem elementos de um contínuo espetáculo. A violência, a crueldade e o assassinato se converteram em produtos ou em meras mercadorias lucrativas. A turista européia filma todos os eventos ocorridos no centro histórico de uma cidade que poderia ser qualquer outra do terceiro-mundo, com profundo interesse. Quando um dos soldados da tropa de choque tira a sua roupa e a violenta, ela encara com naturalidade o ato que em sua visão seria mais uma extravagância desses exóticos selvagens.

O mundo repulsivo e asqueroso do fascismo está mesclado com um outro que gesticula e pulsa em um compasso frenético. Essa outra camada e essa distinta pele da vivência humana está na cena em que um senhor idoso oferece o seu olho a uma prostituta criança. A situação, que carrega em sua forma, uma indescritível ternura, nos lembra certas aclimatações e composições do cinema de Arturo Ripstein da década de 70. O périplo das prostitutas em volta da praça e da igreja intimamente se relaciona com parte da obra desse autor.

Ao término da primeira parte, notavelmente “aleatória” e não linear, onde o sistema que nos é apresentado se funda na sensorialidade e no fluxo das imagens; vemos se desenrolar a iniciação ritualística do “Cristo”. Um Cristo moderno trava contato com um mestre alquimista (o próprio Jodorowsky no papel) que o faz enxergar algo que nunca foi deslumbrado através de seus olhos. “Você é merda, mas também pode ser ouro”. A química, a secreta técnica dos alquimistas que transforma excrementos em metais preciosos, traduz a relação que La Montaña Sagrada (1973) estabelece entre corpo e espírito.

Se a merda representa o corpo e o ouro o espírito, isso não necessariamente quer dizer que o discurso propagado pelo filme compreende o corpo como uma entidade menor enquanto o divino, o transcendental é um território exclusivo do conceito abrangente de “espírito”. La Montanã Sagrada não promove uma relação maniqueísta ou dual entre corpo/espírito. O corpo, mesmo não considerado inferior ou sujo, nos é revelado como ele concretamente é, sem floreios. E esse não pudor de mostrar abertamente o corpo, se constitui na chave que o colocará na mesma posição de espírito.

Nós, seres humanos, somos urina, suor, fluídos, fezes, esperma, seios, fluxos, vaginas, sangue, pênis e nádegas. O corpo humano é imperfeito, mutilado, incompleto e mágico. O corpo humano ao mesmo em que pode funcionar como um cárcere, também apresenta a possibilidade da libertação. No momento da expedição, um dos participantes assume que jamais conseguiu esquecer o seu corpo. Os demais companheiros então decidem cortar os seus dedos como condição para que ele possa prosseguir na empreitada. Em outra situação, quando os discípulos do alquimista estão de fato escalando a montanha, uma das mulheres se paralisa. A vacina capaz de tirá-la da inércia e da paralisia está justamente na fricção de uma parte de seu corpo (o clitóris) com a montanha. Dessa fricção, se produziria o gozo, o orgasmo que a levará ao cume.

Prazer, êxtase, gozo, talvez essas sejam as sensações mais apropriadas para serem utilizadas no intuito de descrever o que passa dentro do corpo do espectador ao longo da projeção de La Montaña Sagrada. A obra é um jorro de imagens e sensações hipnotizantes, um ritual xamânico, uma viagem cósmica. La Montaña Sagrada se filia a uma certa estratégia de encarar a produção artística como uma aventura transcendental em busca do autoconhecimento. Mais do que forjar “efeitos de realidade”, Jodorowsky objetiva proporcionar “efeitos de magia”. A conversa é mais com Artaud do que com Brecht. No entanto, na última seqüência, Jodorowsky, o autor e o ator, olha para a câmera e ordena um zoom. A nossa viagem chegou ao fim. Vamos agora retornar a realidade e utilizar na prática o que vivenciamos e aprendemos ao longo dessa experiência. Jodorowsky nos iniciou.




Comentários:
Sem nenhuma dúvida, este é um filme que não passa em branco, não passa batido, seja pelas imagens surreais, seja pelo anão (mais estranho que o anão de Twin Peaks), seja pelos textos estranhos, pelas várias alusões ao dia a dia da humanidade, seja pela prostituta e seu macaco simpático, seja por todo o lado místico apresentado, ou seja por tudo isso somado, misturado, amalgamado além de muito mais coisas e idéias que surgem e desaparecem do nada.

Digo que vale muito a pena ver esse filme, maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaas preparem-se pois a digestão é bem dificil e, tentar entender essa obra, não é uma das tarefas mais faceis não...

Quer arriscar? Eu arrisquei e gostei, mas as vezes ainda acho que "ele quer voltar em companhia do Hugo"...

Bom...
Fui (atras da Montanha Sagrada, oooooooooooooou talvez ficarei aqui esperando a prostituta e seu macaco!!)

Ultreya!