quarta-feira, 17 de julho de 2013

[Emmy 2013] Melhores Séries - Drama (Novatas - Parte 2)


Completando o top 10 de novas séries do ano (sem spoilers):






5º - Les Revenants (Canal+)

Com a popularização cada vez maior das séries americanas na última década, é questão de tempo para que haja um fenômeno mundial vindo de outro país. E a série francesa “Les Revenants” é uma ótima candidata a isto. Baseada em um filme de 2004 com mesmo título, nela temos o retorno de mortos a uma pequena cidade. Não são fantasmas ou zumbis: voltam com a mesma aparência de quando morreram (que pode ter sido recentemente ou anos ou décadas atrás), sem a lembrança da morte. Algo parecido com “Incidente em Antares” de Érico Veríssimo, que se tornou minissérie da Globo no início dos anos 90. Talvez por ser francesa, a estética é diferente do que estamos habituados mesmo na diversidade de estilos e formas da tv americana: os planos são mais abertos, duram por mais tempo e não há muito blábláblá. Personagens parecem falar apenas quando necessário e seu silêncio é preenchido por uma trilha sonora perfeita para o clima mórbido e de mistério que se instala naquela cidade. Não há pressa na narração, usando uma estrutura que parece herdada de “Lost”, com as informações que nos chegam aos poucos e cada episódio centrado em um personagem (recebendo o nome dele como título), de quem saberemos um pouco mais a respeito.  O elenco é ótimo, com alguns já conhecidos nomes do cinema francês (a bela Anne Consigny, Frédéric Pierrot e Clotilde Hesme), não só bem dirigido como muito bem filmado, sendo uma série que valoriza o rosto de seus personagens (o menino Victor é particularmente assustador). Sem apostar em sustos, escatologia ou acontecimentos espetaculares, “Les Revenants” consegue prender a atenção calmamente nos guiando pelo mistério e fantástico da sua história até atingir um clímax dramático, mas menos empolgante do que deveria ser – talvez aí fosse necessária uma boa dose de adrenalina que nos foi recusada durante seus oito episódios. Ao menos deixa pontas soltas para uma nova temporada que, espero, não demore a chegar.

Chances no Emmy: Apesar de lançada no período (final de 2012), “Les Revenants” ainda não foi exibida por um canal da tv americana, o que a torna inelegível para o Emmy.




4º - Orphan Black (BBC America)

Uma pequena produção canadense com elenco quase que totalmente desconhecido tornou-se uma das melhores surpresas da temporada. A grande diversão de “Orphan Black” está em como vamos descobrindo o que está acontecendo junto com sua protagonista, e como os roteiristas são capazes de criar situações que a colocam em enrascadas gradativamente maiores. E não é porque trata-se de uma ficção barata de conceitos simples (e às vezes absurdos), que não se pode ter respeito à nossa inteligência: alguns segredos são mantidos, com personagens sendo enganados até onde é possível; ninguém é convenientemente burro, e isso faz com que a trama se mova constantemente. O prazer em se ver a série me lembrou dos bons tempos de “Alias”, uma aventura divertida e empolgante que me fazia querer ver logo o episódio seguinte. E como a série de JJ Abrams tinha Jennifer Garner, “Orphan Black” tem Tatiana Maslany, uma jovem e desconhecida atriz canadense que se tornou a maior estrela do ano. Como Garner, Maslany tem carisma, energia e consegue alternar força e fragilidade (além de linda e gostosa, como algumas cenas calientes podem deixar claro). Mas com um importante diferencial: a série permite que Maslany interprete várias personagens, todas bem diferentes entre si em comportamento, personalidade, jeito de andar e até sotaque. Como se não bastasse, há situações em que uma personagem se passa por outra, o que resulta em uma performance totalmente nova: se Alison precisa fingir ser Sarah, conseguimos sentir que é Alison (a dona de casa comportada) se esforçando pra parecer Sarah (a “boca-suja” britânica). Essa perfeita aliança entre trama bem escrita/dirigida (cômica, boas cenas de ação e tensão) e uma verdadeira estrela supera e muito a pretensão de grandes temas e refinamento técnico que marca muitas produções ambiciosas de grandes emissoras.

Chances no Emmy: Não é uma série com perfil da premiação, mas não tenho dúvidas: críticos e especialistas assistirão às indicações com a maior expectativa na categoria de Melhor Atriz, aguardando ansiosos para ouvir o nome de Tatiana Maslany. Há alguns meses, a indicação era impossível. Mas “Orphan Black” começou a ser comentada nas redes sociais e todas as atenções se voltaram a Maslany. A atriz ganhou recentemente o Critic’s Choice Awards, disputando com Claire Danes e Julianna Margulies, e está indicada a Melhor Performance do ano, masculina ou feminina, pelo prêmio da Associação dos Críticos de TV, e é considerada favorita (onde concorre com Bryan Cranston). Prêmios da crítica não costumam influenciar a preferência do Emmy, mas o boca-a-boca acabou gerando elogios mais do que entusiasmados de gente como Damon Lindelof, Shaw Ryan e Patton Oswalt. O quanto de membros do Emmy acompanham as redes sociais, tiveram tempo para ver uma desconhecida série e estão preparados para sacrificar uma atriz queridinha pra votar em Maslany? Logo vamos saber.





3º - Hannibal (NBC)

Quando soube que fariam uma série sobre Hannibal Lecter, tinha certeza que não daria certo. Felizmente, não poderia estar mais errado. Não conheço os trabalhos anteriores de Bryan Fuller (os dois primeiros episódios de “Pushing Daisies” não me empolgaram), mas está claro que certos temas e conceitos visuais são seus motivadores (seria ele um “autor” no sentido que autoria tem na crítica de cinema inaugurada pela Cahiers du Cinema?), já que “Hannibal” tem uma identidade muito própria, na forma como representa o dom de Will Graham, na encenação que constantemente enquadra seus protagonistas de perfil confrontando uns aos outros, no clima de morbidez construído pela presença de uma trilha sonora instigante, na beleza plástica e sempre impressionante com que filma as refeições de Hannibal e os assassinatos de serial killers que são verdadeiros artistas. Tudo isso para mergulhar fundo na nossa obsessão pela morte e pelo macabro, e não numa necessidade de reverenciar, homenagear e copiar as obras anteriores que trataram do personagem que mudou o modo do cinema lidar com a sociopatia – um episódio como “Entrée“ impressiona por ser o máximo de inspiração e homenagem que se pretende fazer a “O Silêncio dos Inocentes”: há cenas e situações que evocam o filme, mas nunca deixa de ser um episódio da série que continua avançando sua trama e personagens. Este avanço, aliás, significa não suavizar ou retroceder a deterioração da saúde mental de Will; tornar crível a relação de todos com Hannibal, a ponto de que ninguém suspeite de sua verdadeira natureza; manter uma unidade da história principal (a que envolve Abigail) ao mesmo tempo em que precisa cumprir uma necessidade em ser serializada (com “casos da semana”). De modo geral, a série alcança esses objetivos, não sendo eficaz apenas em momentos isolados, seja por uma investigação apressada ou por algumas artimanhas de roteiro que salvam a pele de Hannibal. Pequenos pecados diante de um todo estimulante, com personagens inteligentes e bem construídos, que vão desde os investigadores de Jack Crawford a terapeuta vivida por Gillian Anderson (a ideia de que Hannibal faça terapia parece péssima e só funciona porque a escrita é muito boa).

Chances no Emmy: Apesar dos elogios da crítica, a série foi um fracasso de audiência, sendo possível sua renovação para a segunda temporada apenas porque há investimento estrangeiro, o que reduz os custos da emissora. Fracassos assim não costumam receber atenção no Emmy. Ainda falam de que seria “pesada” demais para os votantes. Com este argumento não concordo, já que nunca tiveram problema em indicar séries como “Dexter” e “Breaking Bad”. “Hannibal” seria tão diferente, nesse sentido? A categoria principal parece uma impossibilidade, mas Hugh Dancy como Melhor Ator e Mads Mikkelsen como Ator Coadjuvante seriam mais do que justos (Laurence Fishburne tem momentos excelentes atuando com sua esposa – na vida real e na série -, mas não se submeteu). Mikkelsen em especial, pela dificuldade que é dar vida e tornar fascinante um personagem imortalizado por Anthony Hopkins, e de forma tão distinta. Votantes do Emmy tem uma queda por vencedores do Oscar, teriam também por vencedores de Cannes?




2º - The Americans (FX)

O que mais me impressiona nesta primeira temporada de “The Americans” talvez seja a sensação que passa de controle absoluto que os criadores da série têm sobre o material. É verdade que algumas arestas mereciam maior polimento: há mais idas e vindas no casamento dos protagonistas do que deveria, e os filhos nunca se tornam personagens interessantes. Mas ao final do último episódio, temos a certeza que conhecemos bem esses espiões da KGB que se passam por americanos de classe média, de como eles mudaram ao longo da temporada, de como a trajetória até chegar àquele final – tensa, com ação, reviravoltas e surpresas – estava, no fundo, contando uma história de amor, das mais inusitadas. Nada de “duas pessoas se conhecem, se apaixonam, se casam”, e sim duas pessoas que se casam, não se conhecem e... convivem por 15 anos até se apaixonarem. E, como toda grande série, não deixa de ter bons coadjuvantes que, como os protagonistas, também só crescem a cada episódio: Stan tem sua vida completamente mudada graças ao trabalho, Nina passa pelo mesmo graças a Stan, e Claudia, que pouco sabemos durante todo o tempo, tem um momento fantástico no season finale que lhe dá mais vida. Todos os excitantes acontecimentos de “The Americans” (que têm um charme especial por serem de uma trama de espionagem dos anos 80) nunca perdem de vista essa atenção e necessidade de afetar profundamente os envolvidos na história. E a segurança com que fazem isto numa trama tão bem amarrada e redonda, me conquistou.

Chances no Emmy: O consenso geral é de que “House of Cards” é a novidade com mais cara do prêmio, e que “The Americans” seria a segunda escolha. Gosto de acreditar que a ordem é inversa, com a série da FX causando uma empolgação muito parecida com a que “Homeland” teve ano passado – ambas tem espionagem, suspense, um casal protagonista intenso, um coadjuvante forte, surpreenderam na recepção crítica e de audiência. Se houver mesmo este entusiasmo, e a série da Netflix fracassar, é possível vê-la presente em quase todas as categorias: Série, Ator, Atriz, Ator Coadjuvante (Noah Emmerich) e em Direção e Roteiro. Emmy gosta de indicar pilotos nessas categorias e, apesar da estreia de “The Americans” ser mesmo muito boa, o season finale me parece mais impactante, que é basicamente o final de “Argo” estendido por 45 minutos de episódio.




1º - Rectify (Sundance Channel)

A primeira série produzida pelo Sundance Channel tinha todas as probabilidades de cair em algum dos cacoetes vistos em boa parte dos filmes que saem do Festival do mesmo nome do canal: obsessão pelo excêntrico na vida ordinária, sarcasmo, ironia ou até mesmo superioridade ao retratar pessoas comuns, visão excessivamente (ou pretensamente) poética ou exploração de sofrimento dos personagens. Mas não é o que acontece com “Rectify”, embora a série pareça correr este risco o tempo todo. A história do jovem condenado por assassinato e que passa 19 anos no corredor da morte até que novas evidências o colocam em liberdade poderia cair em armadilhas nos dois aspectos que fazem a série ser excelente. O primeiro, o próprio retorno de Daniel Holden para casa e sua readaptação: de coisas básicas como descobrir as mudanças nesses quase 20 anos (na sua cidade, e as tecnologias, filmes, videogames, etc.), passando por coisas mais complexas (relação com a família, sexo), a transformações fisiológicas (19 anos preso em uma cela causa problemas na visão pela falta de uso para distâncias maiores), Daniel reage a tudo em silêncio, isolado e experimentando as coisas a seu modo. Talvez seja tentador (e o próprio espectador pode querer que algo nesse sentido aconteça) colocar o personagem em alguns conflitos dramáticos, e lidar mais diretamente com o caso de assassinato (que continua em aberto, sua culpa ainda é considerada e pessoas farão de tudo para conseguir colocá-lo de volta na prisão), mas há uma surpreendente sensibilidade na decisão de transformá-lo quase num autista. Daniel é um total estranho no mundo e o risco de “poetizar” demais suas tentativas de se encontrar e conhecer este mundo são diminuídas por direção e fotografia precisas, e por um excepcional ator como Aden Young. São apenas seis episódios, e por mais que queiramos saber mais sobre o mistério principal (o piloto nos provoca neste sentido e o restante da série nos frustra), não é o momento para isto. A segunda armadilha que “Rectify” foge é a de uma visão superior ou julgadora dos habitantes daquele local. Pessoas religiosas, conservadoras e caipiras, nunca são retratadas com desdém, nem mesmo aquelas que podem ser vistas como vilãs. Isso permite desenvolver personagens e relações mais fortes, e é muito bonito o que se constrói a partir do encontro entre Daniel e Tawney na segunda metade da temporada. A conclusão é corajosa, pois não havia garantia ainda de que a série fosse renovada e não seria um final gratificante. Felizmente, veremos muito mais no ano que vem.

Chances no Emmy: Uma série pouco vista em um canal pequeno que não investe em divulgação. Poderia dizer nenhuma, exceto que consigo enxergar material perfeito para prêmios e que há precedentes: “Rectify” é anunciada como “dos produtores de ‘Breaking Bad’”, série que também quase ninguém conhecia e foi descoberta justamente no Emmy. É verdade que Bryan Cranston já era uma pessoa conhecida e querida, então acho que já posso dizer que a ausência de Aden Young da categoria de Melhor Ator será das maiores injustiças do ano.



 




Hélio Flores


[Emmy 2013] Melhores Séries - Drama (Novatas - Parte 1)


Após passar pelas séries veteranas, hora de falar sobre as produções que concorrem pela primeira vez ao Emmy. Foi um ano forte de estreias para a TV, tanto que foi possível fazer um top 10. Em 2012, não só “Homeland” foi a única novidade do Emmy, mas também a única estreia digna de ser vista (na categoria Drama, ao menos).


Mas antes, algumas considerações:


- As chances ao Emmy são “achismos” baseados na repercussão das séries entre crítica e público e mais um ou dois critérios duvidosos: historicamente, a premiação é conhecida por manter os mesmos indicados o máximo possível, sendo forçada nos últimos anos a uma mudança graças ao número cada vez maior de concorrentes de qualidade. Por outro lado, sempre há uma novidade que cai no gosto dos votantes, a ponto de estar presente nas categorias até de forma excessiva (caso do elenco de “Downton Abbey” ano passado). Se há uma série este ano assim... bom, há dois ou três candidatos fortes;


- Abandonei duas séries após três episódios: “The Newsroom” e “Vikings”. A primeira, por não suportar o estilo Aaron Sorkin, provavelmente com o pé no acelerador por estar na HBO. Personagens idealistas vomitando 320 palavras por minuto apenas pra expressar o que Sorkin pensa do universo, da vida e tudo mais, anulando qualquer possibilidade de interesse que se tenha por eles e seus relacionamentos? Não, obrigado. Já “Vikings” me incomodou com a pobreza da produção (que nada tem a ver com gastos, que devem ter sido razoáveis), com mais cenas ruins do que promissoras: o plano absurdo do personagem de Gabriel Byrne e sua esposa pra mostrar que um empregado é traidor deve ser a pior sequência do ano – aliás, Byrne está constrangedor (que raios de cabelo é aquele?!) e Jessalyn Gilsig deve ser a maior rival de Morgan Saylor como pior atriz; o protagonista sorridente também já estava me irritando e nem mesmo a bela Katheryn Winnick me deu estímulo pra continuar; Chances no Emmy: a série de Sorkin tem “pedigree”, mas foi muito criticada. O que não a impediu de substituir “Mad Men” no Globo de Ouro. Mas são dois grupos que às vezes pensam muito diferente. Jeff Daniels como Ator, e Sorkin como Roteirista são possibilidades razoáveis. Já “Vikings” é a tentativa do History Channel em emplacar uma série, como “Hatfields & McCoys” emplacou em Minissérie/Telefilme ano passado (16 indicações, 5 vitórias), mas é algo muito mais difícil. Seria uma total surpresa conseguir algo além de um par de indicações técnicas;


- Entre as muitas novidades que não vi, estão alguns destaques da tv aberta, como “The Following”, “Elementary” e “Nashville”. Motivo maior foi minha decisão em não mais acompanhar séries com vinte e poucos episódios. Chances no Emmy: à exceção de Connie Britton como forte candidata a Melhor Atriz (em especial porque enfim foi descoberta pela premiação, sendo indicada nos últimos 3 anos), quase nenhuma, a não ser que uma dessas séries tenha feito a cabeça de muita gente e/ou o prestígio de Kevin Bacon e Lucy Liu seja forte o suficiente para uma indicação como a que Simon Baker conseguiu alguns anos atrás;



Vamos, então, à primeira parte do top 10. Da pior para a melhor, e sem spoilers:



10º - House of Cards (Netflix)

A série de prestígio por excelência: um cineasta respeitado na produção (David Fincher), um ator consagrado como protagonista (Kevin Spacey) e o espinhoso tema (os bastidores da política americana). No fim, um fracasso total: direção burocrática e fria (pra combinar com o Congresso?), cinismo de boutique, superficialidade de personagens e discussões. A temporada pretende ser uma fascinante escalada do congressista vivido por Spacey, cujas pretensões miram a Casa Branca. É através de seus olhos que vemos os jogos políticos (muitas vezes sujos, claro) e acompanhamos suas estratégias para subir cada vez mais na hierarquia de poder. Um dos maiores problemas é a falta de obstáculos, já que todos os políticos precisam ser imbecis e ingênuos para caírem na lábia de Spacey. Depois, há o cinismo e esperteza dos diálogos que dão a impressão de que os roteiristas acreditam mesmo que os comentários depreciativos sobre como políticos pensam e agem são novidades ou polêmicas. É de revirar os olhos quando Spacey vira para a câmera e conversa com o espectador: se ele faz um discurso emocionante (e obviamente politiqueiro) em uma igreja, é preciso mesmo que ele nos diga que o que disse é tudo mentira? Dava pra entender... a quebra da “quarta parede” ou é para um comentário sarcástico e engraçadinho (algo em que o ator virou referência nos anos 90) ou é para nos explicar situações e motivações dos personagens, o que por si só já é uma muleta narrativa das piores. “House of Cards” também não consegue dar peso aos coadjuvantes, meros acessórios da trama, seja a ambiciosa jornalista vivida por Kate Mara, seja o deputado de Corey Stoll, um personagem que pede por uma série melhor. A curiosidade é Robin Wright: sua personagem é explorada de forma totalmente diferente dos demais, com muitas cenas de suposta profundidade psicológica, em que Wright reage em silêncio ou com comportamentos ambíguos. É como se Claire Underwood tivesse saído de “Mad Men” ou “Boardwalk Empire” e caído naquela zona.

Chances no Emmy: apesar do meu desgosto, o verniz da série seria suficiente para garanti-la entre os principais indicados. Mas “House of Cards” terá que passar por um teste inédito: é a primeira grande série a estrear no formato da Netflix, com toda a temporada lançada de uma vez. Não é possível medir sua audiência, a impressão é de modo geral, e as pessoas podem assistir de uma só vez ou aos poucos, o que inviabiliza a série de ter seus melhores ou piores episódios e acontecimentos discutidos e repercutidos na crítica e pelo público nas redes sociais. O quanto isso pode afetar suas chances no Emmy, só o anúncio de quinta-feira irá dizer. Kevin Spacey como Melhor Ator e David Fincher na categoria de Direção pelo piloto são, no mínimo, indicações aguardadas. Melhor Série e Ator Coadjuvante (Corey Stoll) são as possibilidades seguintes, caso o formato da Netflix não atrapalhe, com Robin Wright (Atriz) e Kate Mara (Atriz Coadjuvante) logo depois, caso a série se torne um fenômeno.




9º - Copper (BBC America)

“House of Cards” e “Copper” são as únicas series desta lista que pensei em desistir de ver, durante a temporada. Mas se a primeira fui até o fim como uma obrigação, esta me fez seguir na esperança de que as coisas melhorassem. O potencial está todo lá: a época é a Nova York do século XIX, mais especificamente Five Points, no ano da reeleição de Lincoln, em que a cidade vive em ebulição racial, com negros e irlandeses negociando espaços. O protagonista é um policial que retornou da Guerra Civil e descobre que sua filha pequena foi assassinada e sua esposa desapareceu. Enquanto tenta resolver o mistério desta tragédia, investiga casos cotidianos buscando auxílio de um brilhante médico negro, junto com amigos tem um relacionamento quase romântico com prostitutas, e se envolve em uma trama política que inclui uma socialite misteriosa e uma criança que já viveu o inferno na prostituição. Ao fim da primeira temporada, é possível ver que toda a estrutura e acontecimentos resultariam numa grande série, mas infelizmente tudo é muito mal filmado: não há ritmo, há desleixo na direção do elenco, muitas vezes não nos sentimos naquela época, seja por incompetência técnica ou pelos modos de falar e se comportar dos atores, e há muitas sequências em que a impressão é de que escolheram o pior ângulo e local para a câmera, o pior momento para cortar a cena. A resolução do principal mistério, na reta final da temporada, é muito boa e dá pra sentir o quanto de impacto emocional deveria ter e que infelizmente não sentimos. O mesmo vale para o clímax do season finale. A série já começou sua segunda temporada, e infelizmente não estou empolgado para retornar.

Chances no Emmy: Nenhuma. Pouca repercussão de uma produção de canal sem histórico de prêmios. E realmente nada merece.





8º - Da Vinci’s Demons (Starz)

A Starz traz uma série que se passa num período propício para algo da Showtime (a Florença renascentista dos Medici no século XV), com uma história fantasiosa protagonizada por Leonardo Da Vinci digna da CW, numa produção cara com padrão HBO. Um monstrengo curioso e por vezes divertido, faz de Da Vinci um heroi perfeito: bonitão, galanteador, grande pintor, engenheiro, cientista, gênio, que se envolve no conflito de Lorenzo Medici e o Vaticano, e busca a verdade sobre um livro que pode revelar grandes segredos do universo (guardado nos últimos milênios por uma misteriosa Seita, claro) e que pode estar ligado ao desaparecimento de sua mãe, quando ainda era um bebê. Muita ação (algumas de boa qualidade), vilões detestáveis, belas mulheres e muita nudez (inclusive bundas e pênis flácidos de velhos senhores, como nunca se viu na tv) em longos episódios (abusivos 58 minutos) que sempre trazem Da Vinci e seus amigos diante de enigmas que o jovem e brilhante protagonista resolverá de formas incríveis. Ao longo da temporada, Da Vinci inventa armamentos e equipamentos que só irão surgir séculos depois e há momentos que só resta esperar até onde vai a cara de pau dos roteiristas com aquela história. Tom Riley tem carisma e energia o suficiente pra sustentar o todo e o final explosivo garante a vontade de, pelo menos, ver como vão resolver a enrascada que o heroi se meteu. Está aí uma série que merece bem mais o rótulo de “guilty pleasure” do que “Scandal”.

Chances no Emmy: Talvez algumas indicações técnicas, e só. O gênero passa longe de qualquer consideração dos votantes.





7º - Bates Motel (A&E)

A ideia de imaginar a adolescência de Norman Bates e seu relacionamento com a mãe parece boa para um filme, mas insustentável para uma série, que pode durar temporadas. Mas é só começar a ver o que fizeram aqui para mudar de opinião: direção de arte e atmosfera de um velho filme de terror B pra nos dar uma cidadezinha de habitantes misteriosos e excêntricos, e um Motel em que muitas coisas estranhas já aconteceram antes de Norma Bates decidir compra-lo e batizá-lo com seu nome. Infelizmente é uma ideia subaproveitada, e a série falha em criar algo interessante. A plantação de maconha e tudo que envolve o outro filho de Norma (um personagem necessário para equilibrar a relação de Norma e Norman) é risível, o segredo em torno do “Homem do Número 9” é frustrante e é inacreditável a forma como resolvem a subtrama da jovem aprisionada que vemos no piloto. Exceto pela simpática Olivia Cook, nenhum coadjuvante consegue manter nossa atenção. Do lado positivo, a série faz maravilhas com o principal, que é o relacionamento doentio entre os protagonistas. Podemos ver os estragos que Norma faz no já emocionalmente instável Norman, e tudo é bem balanceado entre o afeto e a obsessão, que se alternam de forma que possa perdurar por ainda muito mais tempo. O cliffhanger do episódio final deixa preocupações de como pretendem levar adiante o destino do jovem protagonista, mas ainda há pontas soltas envolvendo personagens da cidade e que, esperemos, criem situações bem mais empolgantes do que vistas neste primeiro ano tão irregular.

Chances no Emmy: Apesar de uma das séries mais comentadas do ano (devido a sua relação com um dos maiores clássicos do cinema), é difícil imaginar “Bates Motel” tendo grande reconhecimento. Mas votantes adoram atores indicados a Oscar, e Vera Farmiga está mesmo excelente, demonstrando várias facetas da que talvez seja a mais famosa personagem do cinema e que nunca existiu. A concorrência na categoria de Atriz é grande, mas não veria como total surpresa se seu nome fosse anunciado, mesmo que consiga visualizar oito ou nove nomes em sua frente. Freddie Highmore, como Norman Bates, é uma revelação, e consegue pegar os trejeitos mais marcantes de Anthony Perkins, sem perder sua própria identidade. Apesar de claramente protagonista, Highmore se submeteu na categoria de Coadjuvante, o que lhe dá mais chances, já que esta será ocupada por novos nomes. Qualquer outra indicação me surpreenderia.





6º - Longmire (A&E)

Walt Longmire é o xerife de um pequeno município de Wyoming. Viúvo há pouco tempo, resistente a tecnologia (não tem nem mesmo um aparelho celular), tem a seu serviço apenas uma secretária (a saudosa Mrs. Saracen!) e três policiais, sendo que um deles o considera obsoleto e se lança como candidato para ocupar seu posto na próxima eleição. A série começa com um crime, e é engraçado que os personagens encaram isto como uma benvinda quebra da rotina tediosa em que nada de excitante acontece, quando na verdade o que temos é um crime por episódio, e sem nenhuma ligação entre si. Em estrutura, “Longmire” não difere, portanto, de qualquer outra série investigativa e serializada que tem aos montes. Talvez apenas o método do protagonista, que prefere a dedução lógica, o apego a detalhes e fazer as coisas por ele mesmo, com bastante conhecimento geral, vindo da experiência e de muita leitura. Os casos não são fantásticos, as resoluções não são surpreendentes, não há nada de espetacular. E é este o charme da série: a simplicidade de tudo deixa os personagens mais em evidência e aos poucos começamos a ter prazer em acompanhá-los nas conversas mais triviais, a ponto de que quando um segredo vem à tona no season finale, é surpreendentemente emocionante, mesmo que não seja uma grande revelação, e que ainda permite uma bela cena final, concluindo bem alguns temas da série. Ajuda que Robert Taylor é um bom ator pouco conhecido, além das presenças sempre marcantes de Katee Sackhoff (como uma policial) e Lou Diamond Phillips (como o melhor amigo de Walt). Há também interesse pelo fato do município ser vizinho de uma reserva Cheyenne, e muitos dos casos envolvem a tensão racial desta convivência semi pacífica.

Chances no Emmy: Zero. Também pouco vista e comentada, “Longmire” já caminha para a reta final da segunda temporada e tem recebido elogios (ainda não tive tempo de conferir), embora nada muito entusiasmante ou que leve mais pessoas a conhecê-la. É mais provável que se torne uma dessas boas séries que quase ninguém fala a respeito (como “Southland”).


(continua...)




 

Hélio Flores
 

terça-feira, 16 de julho de 2013

[Emmy 2013] Melhores Séries - Drama (Veteranas - Parte 2)

Continuando o post anterior, mas antes algo que esqueci de dizer: os comentários sobre as séries evitam ao máximo spoilers sobre elas.

Completando, então, a lista das melhores séries veteranas concorrentes ao Emmy:





6º - Justified – 4ª Temporada

Vendo em retrospecto, talvez “Justified” nem merecesse uma posição tão boa: após uma temporada divertida, mas problemática, pelo excesso de vilões, a opção para este ano foi um “whodunnit” não muito interessante, que demora a engrenar, e com subtramas que parecem que resultarão em algo maior, mas que ficam pelo caminho (o ex-marido lutador da namorada de Raylan; o fugitivo interpretado por Chris Chalk; o pastor e sua irmã). Mas o fato é que ainda que os problemas superassem em quantidade as qualidades, estas são tão incríveis que tudo é perdoado. Poucas séries são tão prazerosas em se ouvir diálogos, com caracterizações tão divertidas de personagens e do ambiente caipira em que convivem. Troco qualquer “relevância narrativa” e mesmo séries inteiras pelo prazer de acompanhar Raylan Givens entrando na sala de Art, fazendo uma visita ao bar de Boyd, interrogando bandidos idiotas ou supostamente ameaçadores, fazendo parceria com Rachel ou Tim, ou ainda as reações de Wynn Duffy ao que acontece em sua volta, Boyd intimidando alguém, ou uma visita rápida de quem quer que seja ao território de Limehouse. Ainda poderia falar de Arlo, mas sua participação nesta temporada talvez tenha sido o maior tiro no pé que a série já deu, impedindo que temas e relações mais complexas pudessem se manter por mais tempo. Também não gosto do caminho moralizante trilhado por Boyd e Ava, mas terminam a temporada com novas e estimulantes possibilidades para o ano que vem. Fora isso, o mistério se resolve de forma satisfatória e a tempo de nos proporcionar episódios extraordinários lidando com as consequências da revelação (“Decoy” e “Peace of Mind”), uma feliz junção de grandes diálogos, humor, tensão e sequências marcantes (em que participam novos e ótimos personagens vividos por Patton Oswalt e Mike O’Malley).

Chances no Emmy: O melhor momento da série, a 2ª temporada, rendeu indicações para Timothy Olyphant, Walton Goggins e a vitória para Margo Martindale. Provavelmente esteve muito próxima de uma indicação a Melhor Série, mas com competição cada vez maior surgindo e sem alcançar seu ápice, dificilmente veremos um ano tão rico de indicações como o de dois anos atrás. Pelo número de vagas abertas para Ator Coadjuvante, Goggins ainda é uma possibilidade, mas Olyphant teria que desbancar um dos seis indicados do ano passado (todos retornam), além de novos candidatos que atendem por nomes como Kevin Spacey e Jeff Daniels. Jeremy Davies ganhou ano passado como Ator Coadjuvante, mas não retorna este ano. Se votantes quiserem manter alguém do elenco, bons nomes não faltam: Patton Oswalt, Mike O’Malley e Jim Beaver são todos nomes respeitáveis e com grandes momentos na série. Mas nenhuma indicação entre os convidados me deixaria mais feliz que a de Abby Miller. Ellen May deve ser a personagem mais pateticamente trágica e triste da TV, e há momentos realmente especiais da atriz, tanto com Joelle Carter como com Beaver. No mais, seria mais do que justo ver “Decoy” indicado para Melhor Roteiro, mas votantes gostam muito de pilotos e finais de temporada de suas séries prediletas, então não deve acontecer.




5º - Boardwalk Empire – 3ª Temporada

Se “Homeland” não consegue lidar com coadjuvantes, “Boardwalk Empire” tira isso de letra. Pense em Chalky White lidando com seu futuro genro nos primeiros episódios desta temporada: ainda que pudesse ser visto apenas como uma forma da série continuar com ator e personagem por perto, já que não se conectava a nenhuma das outras tramas, é tão bem executado (em termos de performance, dramatização e comentário sócio-político da época) que passa longe do desleixo e desinteresse da subtrama de Dana Brody na série da Showtime. O que dizer, então, quando na reta final da temporada vemos que se encaixa perfeitamente com o que os roteiristas prepararam para a série? Não só esta, mas todas as subtramas tornam-se importantes para o todo, no que é, sem dúvida, a mais redonda temporada da série e, talvez, de qualquer série vista este ano. Se havia preocupações após o destino de Jimmy Darmody na temporada anterior, Terence Winter mostra um controle absoluto de tudo, com cada uma das situações vistas nos primeiros episódios sendo potencializadas ao final. Nos dá um grande oponente para Nucky, estreita, modifica e desestabiliza alianças entre os “chefões”, continua o crescimento de Margaret como personagem (sem esquecer do quanto é insustentável o seu casamento), além do sempre forte e impactante material para Richard e Gillian. E tudo com um olhar afiado sobre politicagem e moralidade. Com o top 3 desta lista dando adeus até o fim do ano que vem, “Boardwalk Empire” será o que de mais refinado nos restará. Que tenha uma longa vida.

Chances no Emmy: com novas e fortes candidatas ao prêmio principal, parece ser consenso que as séries da HBO são as que correm mais risco em não retornarem este ano. É interessante que “Boardwalk” sempre é vista como a mais frágil da categoria, por ser a série que menos se discute e que menos tem fãs ardorosos, além de ter sido exibida há tanto tempo que é possível que muitos a esqueçam. Mas o fato é que a série continua sendo indicada para premiações similares (Globo de Ouro e SAG) e, contra todas as expectativas, o final da temporada anterior venceu o prêmio de Direção no Emmy 2012, vencendo “Homeland”, “Downton Abbey”, “Mad Men” e “Breaking Bad”. Steve Buscemi também pode ficar de fora da congestionada categoria Melhor Ator, até porque muitas vezes a impressão é de que Nucky Thompson é coadjuvante de sua própria história. Mas se votantes lembrarem-se de um episódio como “The Milkmaid's Lot”, é impossível não indicá-lo. E apesar do fantástico elenco continuar sendo ignorado (Kelly Macdonald conseguiu uma vez pelo primeiro ano), Bobby Cannavale tem boas chances como Ator Coadjuvante (mesmo que fosse esperado concorrer na categoria Ator Convidado) pelo marcante Gyp Rosetti. Mas o ator já é bem conhecido dos votantes (duas vezes já indicado, a última foi ano passado por “Nurse Jackie”, e novamente é candidato – Ator Convidado Comédia).




4º - Game of Thrones – 3ª Temporada

 






















Comparando friamente, esta colocação deveria ser de “Boardwalk Empire”. Mas o aspecto viciante de “Game of Thrones” acabou sendo um critério decisivo: a série de Terence Winter é como um bom vinho a ser degustado calmamente; já a fantasia épica de Benioff/Weiss nos deixa querendo mais, curiosos com o destino dos personagens, torcendo para que certas coisas aconteçam, e mais empolgados em discutir numa mesa de bar ou no twitter (com o perigoso risco de ouvir/ler algum spoiler dos leitores da obra de Martin). E seus problemas são defensáveis: pela ambição do projeto, é impossível que todas as tramas e personagens consigam ser interessantes o tempo todo. Assim, para cada minuto perdido com Theon Greyjoy, somos recompensados em dobro com uma visita a King’s Landing (qualquer personagem interagindo com quem quer que seja serve); para cada momento que vemos pouco acontecer com Bran, há um onde muito acontece com Jaime e Brienne; e personagens importantes como Daenerys e Snow que tiveram uma fraca segunda temporada, tiveram muito mais o que fazer este ano. A estrutura narrativa e a montagem também se aprimoraram, com transições mais elegantes e funcionais entre as tramas, muitas vezes também ligadas tematicamente, além de fazer com que cada episódio pudesse terminar com uma sequência de maior impacto. Os que não gostam da série, aliás, costumam dizer que nada acontece por 55 minutos. Até tento compreender essa frustração, já que temos uma quantidade gigantesca de personagens prontos para a guerra e, portanto, a ação é esperada o tempo todo. Mas as melhores batalhas de “Game of Thrones” são verbais, o jogo é de xadrez (e não poderia ser diferente, pois os conflitos mais aguardados envolvem a chegada de personagens a King’s Landing e que estão muito distantes – Daenerys, Stannis, os mortos-vivos), e pra manter o interesse é preciso grandes personagens, grandes atores e inteligência na encenação. E há tudo isto, tanto no desenvolvimento de personagens e seus dramas (o maior deles sendo Jaime Lannister, e se muitos se surpreendem como ele se tornou um dos mais carismáticos este ano, basta retornar a alguns momentos-chave de temporadas anteriores pra perceber que a série já tinha isto bem estabelecido), quanto em pequenas pérolas espalhadas por todos os episódios - lembro, por exemplo, de Tywin Lannister se projetando sobre o Rei Joffrey, deixando claro, em silêncio, uma relação de poder que, com palavras, poderia não existir. É uma de muitas cenas que se resolvem lindamente graças à perfeita união de atores, posicionamento de câmera, luz e edição. E com tudo isto, nem precisei falar de “Dracarys!” e “Casamento Vermelho”. Pra que a covardia?

Chances no Emmy: Enquanto “Game of Thrones” não vencer a categoria principal, sempre haverá espaço para o argumento “o Emmy não gosta de séries do gênero fantasia/fantástico” e a possibilidade de não indicação. Mas esta é a sua temporada mais elogiada, e se isto não for o suficiente, o perfeitamente sádico “The Rains of Castamere” foi o episódio mais comentado dos últimos anos. A não ser que muitos votantes reajam como vários fãs raivosos que juraram em redes sociais que nunca mais voltariam a ver a série. “Castamere” ser indicado nas categorias Direção/Roteiro é mais complicado, apenas porque o excelente “Blackwater” da temporada anterior foi estranhamente ignorado. Além das óbvias indicações técnicas, Peter Dinklage continua sendo obrigatório na categoria Ator Coadjuvante. Nikolaj Coster-Waldau talvez tenha a melhor atuação da temporada (Charles Dance não se submeteu), e o efeito “Castamere” pode beneficiar Michelle Fairley, mas será uma (agradável) surpresa se houver reconhecimento para além de Dinklage. O mais perto disto é Diana Rigg, a excelente vovó Tyrell, como Atriz Convidada.




3º - Treme – 3ª Temporada

Não concordo com algumas críticas que consideram esta a melhor temporada de “Treme”. Sim, a série aproximou muitos dos personagens, como nunca antes (o que resultou em coisas adoráveis, como LaDonna e Albert), e não só dividindo os mesmos espaços físicos, como também os mesmos temas. Mas isto é necessário numa série como “Game of Thrones”. Aqui, a ambição de se narrar a reconstrução (e manutenção) de uma cidade e sua cultura acaba correndo o risco de se tornar didática e pedagógica: quanto mais direcionada por um roteiro, por personagens com dramas convencionais e similares, mais chances de termos uma série “com mensagens”. Quase podemos ver isto com o excesso de selvageria capitalista presente no chefe de Janette ou no projeto do centro cultural em que Delmond se envolve, na falência da instituição educacional (via Antoine e seus alunos), da polícia (via Toni e Terry) e da justiça (LaDonna). É tudo muito “in your face”. Felizmente, David Simon continua um dos grandes nomes da TV americana e as qualidades superlativas de “Treme” se sobressaem: o respeito e a admiração pela cultura local, sequências musicais deliciosas, sensibilidade para pequenos e preciosos momentos entre personagens, e uma capacidade singular de criar atmosfera e ambientação que nos coloca respirando e vivendo New Orleans. Há algo de épico em “Treme”, que infelizmente será encerrada após uma reduzida quarta temporada. Mas ficará como um documento histórico dos mais prazerosos de se ver e ouvir já realizados pela TV.

Chances no Emmy: Nenhuma. A série passa longe do radar do Emmy, ainda que tenha conseguido duas indicações pela primeira temporada (Direção e Canção). E mesmo no incrível elenco, fica difícil votar em grandes atores como Clarke Peters e Wendell Pierce, quando concorrem na categoria principal, sendo claramente coadjuvantes.




2º - Breaking Bad – 5ª Temporada (Parte 1)

O que tinha a dizer já foi dito neste blog durante sua exibição. Quase um ano depois a impressão geral é a mesma: prejudicada levemente pela decisão da AMC em dividir a temporada, o que fez com que certos elementos fossem apressados. Continuo não tendo problemas com o último episódio, seja a passagem de tempo e as decisões de Walt, ou a cena final e a forma como foi representado um dos momentos mais aguardados de toda a série. Mas em menos de um mês saberemos como isso continuou.

Chances no Emmy: Na história da premiação há muitas séries (e atores/atrizes) que receberam indicações ao longo dos anos e que nunca venceram. “Breaking Bad” não me parece ser uma delas e talvez este seja o ano de reconhecimento na categoria principal: “Mad Men” perdeu a invencibilidade e “Homeland” não conseguiu sustentar a qualidade de sua temporada vencedora. Seria o momento ideal pra uma série que não só mantêm sua excelência, mas que a cada ano torna-se mais cultuada e comentada (é bom lembrar que ela veio do nada e que a própria premiação pode se orgulhar de revela-la ao mundo, quando deu o prêmio a Bryan Cranston por uma primeira temporada que pouca gente viu). Especialmente porque o Emmy 2014 terá que lidar com o fim da série de Vince Gilligan, mas também com o fim de “Mad Men”. Num mundo perfeito, um empate para se despedir de duas das mais marcantes séries da história seria ideal. Mas por que não começar a resolver o problema este ano? Portanto, já nem falo de chances de indicação, mas sim de vitória. O mesmo vale para Bryan Cranston e Aaron Paul, também favoritos para vencer em suas categorias. Anna Gunn conseguiu sua primeira indicação ano passado e deve se manter na categoria: com cenas muito mais intensas este ano (Skyler na piscina!), arriscaria dizer que é a atriz com mais chances de vencer Maggie Smith. A expectativa, então, é só se Jonathan Banks conseguirá ser indicado como Melhor Ator Coadjuvante. Com a vaga deixada por Giancarlo Esposito, seria uma escolha óbvia. E além das justas indicações técnicas (a série não vence aí desde a segunda temporada, quando o season finale levou um prêmio de Edição), é de esperar que algum episódio marque presença na categoria de Direção. Sempre uma escolha difícil quando se trata de “Breaking Bad”, mas “Fifty-One” já ganhou um prêmio do Sindicato dos Diretores (talvez por Rian Johnson ter dirigido o cult movie “Looper” no mesmo ano), embora eu consiga imaginar vários votantes pensando “naquele do roubo do trem” (“Dead Freight”).




1º - Mad Men – 6ª Temporada

A mim parece desnecessário discutir se esta temporada de “Mad Men” é melhor ou pior que as anteriores. Porque não cabe na série o uso de alguns clichês que permitam comparações, como “a série amadureceu” ou “Matthew Weiner perdeu a mão”. A excelência e consistência me parecem evidentes, mudando apenas o tom que muitas vezes é dado pelo recorte que Weiner faz do espírito da época, do ano em questão. Como a série tem a pretensão de abordar toda uma década, os personagens inevitavelmente sofrem as consequências das mudanças e transformações dos costumes, cultura e valores que os EUA vivem nos anos 60: se 1968 é um ano de grandes tragédias nacionais (as mortes de Bobby Kennedy e Martin Luther King Jr.) e manifestações e atos violentos (Direitos Civis, Vietnã, criminalidade em alta em Nova York), temos Peggy sofrendo com a vizinhança, sirenes de polícia como som ambiente na casa dos Draper, um estranho roubo promovido por uma senhora negra; se a época é tomada cada vez mais por drogas que alteram os estados da consciência (seja para ter novas experiências, ou para aumentar a produtividade no trabalho), temos episódios que colocam os personagens (e a narrativa) neste estado de euforia e alucinação; se o mercado de trabalho aponta para a necessidade de novas configurações das empresas, temos mudanças inesperadas no status quo da série; e se é mais ou menos nesta época que Los Angeles começa a ser uma atraente opção ao caos nova-iorquino, temos aquele season finale. E no meio de tudo isso, Don Draper. Tão fascinante quanto sempre foi, mais perdido do que nunca. Os grandes diálogos, o fino humor, a elegância narrativa, a viagem no tempo que nos proporciona por meio da direção de arte e figurinos (aqui é preciso chamar a atenção para as brilhantes e imperdíveis análises de Tom e Lorenzo, na seção Mad Style), tudo continua intacto. Dizer que a quinta temporada é superior à sexta, pra mim, é como dizer que 67 foi um ano melhor que 68. E pararei por aqui, porque é impossível dar conta da quantidade de maravilhas que a série mais uma vez nos trouxe. O Eric Fuzii já fez um trabalho precioso aqui mesmo no blog.

Chances no Emmy: Após um recorde de quatro vitórias consecutivas na categoria principal, “Mad Men” conseguiu ano passado uma outra marca histórica, mas bem infeliz: a de maior derrotado do Emmy, perdendo em todas as 17 categorias em que foi indicado. A série manteve um domínio tão grande por tanto tempo, que a exaustão chegou com força total. Poderia ser pior este ano ou o prestígio é suficiente pra continuar forte ao menos nas indicações? O Globo de Ouro conseguiu esnobá-la na última edição e, apesar de sempre surgir grandes surpresas no anúncio dos indicados ao Emmy, poucas seriam tão desagradáveis. Talvez os votantes estejam apenas procurando novos vencedores, então esperem as mesmas indicações de sempre: além das técnicas, Melhor Série, Ator (Jon Hamm), Atriz (Elisabeth Moss), Atriz Coadjuvante (Christina Hendricks) e, no mínimo, Roteiro (onde a série costuma dominar, às vezes até com mais da metade das vagas). John Slattery perdeu seu lugar ano passado para Jared Harris e é improvável que retorne (Roger tem até alguns grandes momentos, mas no Emmy quando você é esnobado uma vez, é difícil ser lembrado de novo). Eu já perdi as esperanças de ver Vincent Kartheiser indicado, então seria uma boa surpresa ver Kevin Rahm assegurando a vaga da série na categoria de Ator Coadjuvante. Já January Jones (que tem sua melhor temporada em anos) e Jessica Paré (que desta vez tenta como Coadjuvante) correm muito por fora. Ben Feldman e Julia Ormond foram indicados ano passado nas categorias de Ator e Atriz Convidados, mas Feldman se submeteu como Coadjuvante este ano (curiosamente quando fez bem menos que na temporada passada) e Ormond pouco faz, sendo mais provável que seja substituída na categoria por Linda Cardellini. Curiosamente, James Wolk não concorre pela série pelo personagem mais comentado da temporada, Bob Benson (Wolk se submeteu apenas como Ator Coadjuvante em Minissérie/Telefilme, por “Political Animals”). E com elenco tão incrível, mais uma triste curiosidade: nestes cinco anos, “Mad Men” também detêm o recorde de 25 indicações para atuações (nas categorias de principal, coadjuvantes e convidados) e nenhuma vitória. Este recorde, lamentavelmente, parece que tende a aumentar este ano.


A seguir: As novas séries que concorrem ao Emmy 2013.






Hélio Flores