quinta-feira, 30 de junho de 2011

[The Killing] Final da Primeira Temporada

Quem acompanha este blog (ainda?) deve ter percebido que interrompi as análises que vinha fazendo de The Killing. Não foi por preguiça, juro. Mas a parte central da temporada, aquela que aprofundava a investigação em Bennet Ahmed e parecia cada vez mais infundada, cheia de furos e bastante clichê (que parte de muçulmano terrorista você não entendeu?), não me motivava a escrever um parágrafo sequer. Na reta final a série deu uma melhorada e terminou a temporada de uma forma até satisfatória, ao menos na minha opinião. Porém, não foi o que percebemos na semana passada, já nas primeiras reações dos críticos americanos durante a madrugada de domingo para segunda-feira. Revolta, indignação, muitos virando as costas e cogitando abandonar a série. Alguns chegaram a dizer que com este finale o próprio canal AMC perderia sua credibilidade com os espectadores. Ou seja, queriam a cabeça de Veena Sud a todo custo.

Confesso que quando fui assistir já esperava pelo pior -- e claro que essa baixa expectativa acaba te fazendo relevar várias coisas --, mas juro que não entendi a razão para tanta decepção. No meu último texto destaquei que o fato de menor relevância para os produtores era resolver o mistério de quem matou Rosie Larsen. E justamente por esse final deixar ainda em aberto essa questão, muitos encararam isso como uma traição de sua confiança. Como se saber finalmente a identidade do assassino redimisse a série de tantos tropeços, e da falta de desenvolvimento de seus personagens. Ou que teríamos de volta o tempo perdido acompanhando os investigadores batendo cabeça por quase quatro dias atrás de um suspeito, com base em provas completamente circunstanciais. Talvez tentar fugir do formato da série não tenha sido a decisão mais brilhante de Sud e sua equipe, mas não podemos desvalorizar essa tentativa. A única forma de realmente causar surpresa seria retardando essa reviravolta da trama até o finale, quando seria esperada a tal revelação. Antes disso seria considerado pela maioria como outra pista falsa, e posso garantir isso porque mesmo depois de deixar escancarada a identidade do Orpheus no episódio anterior, muita gente apostava que ainda não seria Richmond. Quer dizer, onde muitos enxergaram uma trapaça de Veena Sud e até certa arrogância, vejo como uma decisão autoral coerente. Apesar disso, de arriscar quando a série já estava renovada para uma nova temporada, não dá para ignorar também o roteiro imaturo desse episódio final, com tantos diálogos terríveis, e essa trilha sonora fora de tom, que se esforça para estragar qualquer clima. Holder parece terminar como o grande vilão da temporada, algo que decepcionou muita gente, mas acho interessante esperar pelos motivos que fizeram ele incriminar Richmond e colocar sua própria carreira em cheque. Holder também pareceu admirado ao descobrir a provável identidade do assassino, o que garante que ele não estava mancomunado desde o começo e torna sua traição um ato até cínico por parte dos roteiristas, principalmente ao forjar as fotos do pedágio. Afinal, quantas vezes esse roteiro não pareceu manipulado, revelando novas evidências, assim fazendo a série tomar outro rumo e colocar na mira novos suspeitos?
Quem leu até aqui provavelmente deve estar se perguntando por que continuava assistindo mesmo detectando todos esses problemas. Não só porque a série original era aclamada, mas também porque sinto que esse tema central, que liga todos esses personagens, é bastante interessante. Isso ficou mais evidente pra mim no episódio "Stonewalled", o oitavo da temporada, que por sinal também foi massacrado pela maioria dos críticos americanos. Naquela época já queria ter escrito em "defesa" da série, mas me faltou tempo e acabei perdendo a oportunidade. Enfim, a grande questão é que o assassinato de Rosie Larsen foi o motivo para desestabilizar sua família, principalmente seus pais, que viviam o dilema de continuar lamentando a morte da filha ou seguir em frente na vida, sabendo que ainda teriam dois filhos para cuidar. Da mesma forma, a dupla de investigadores ainda enfrentava os fantasmas de seu passado, com Holder tentando livrar-se de sua dependência na última oportunidade de sua carreira, e Linden ainda dividida entre seu trabalho e uma chance de estabelecer uma relação melhor com seu filho. Já a candidatura de Richmond corria sério risco assim que surgiram as primeiras fotos ao lado de Bennet, colocando o candidato na difícil posição de ir contra seus princípios e se precipitar em acusá-lo. O que se vê no final é exatamente todos esses personagens sendo condenados pelo próprio passado, impossibilitados de tomar um passo a frente. Richmond termina injustamente acusado e correndo risco de vida, Linden mais uma vez não consegue deixar Seattle com seu filho, Holder continua devendo favores a um sujeito misterioso, Mitch decide abandonar a família por não suportar a culpa, Stan ainda não é capaz de controlar sua própria fúria.

Portanto, coerência com o restante da série não faltou, então não adianta reclamar achando que a série tinha obrigação de já prestar qualquer esclarecimento. Além do mais, ainda que muitas vezes essas investigações tenham beirado o amadorismo, a conclusão que se chega é que nestes casos a precipitação nunca leva a resultados favoráveis. Talvez seja isso que Sud se refira quando diz que a intenção da série é ser um anti-cop cop show. Então resta saber se Sud e sua equipe podem aprender com seus próprios erros e voltar para uma segunda temporada mais enxuta, não sem antes de passar por vários ajustes, principalmente no desenvolvimento de suas tramas e elaborando melhor os "ganchos" deixados por cada episódio. The Killing está longe de figurar entre os 10 melhores dramas da atualidade, mas não deixa por isso de ser uma ideia interessante. Afinal, experimentos mesmo quando não dão certo, sempre levam a algum tipo de discussão, muito diferente de toda essa onda de revolta que acompanhamos.


Fotos: Divulgação/AMC.

e.fuzii
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