segunda-feira, 12 de maio de 2014

[Mad Men] 7x04 The Monolith

"It's not symbolic"
"No, it's quite literal"

Ainda bem que tiveram a decência e nos pouparam de qualquer tentativa de fazer este episódio parecer mais sutil. Já fico com certo pé atrás sempre que Matthew Weiner não assina um dos roteiros da série, achando que não teria aprovado ou por receio de envolver seu nome. Além disso, acompanhando as opiniões durante a semana, pareceu consenso também que este foi o episódio mais fraco da temporada até agora. Até concordo, mas não acho que essa falta de sutileza tenha sido o maior problema, pelo contrário, acho até que Erin Levy utiliza isso muito bem a favor de seu roteiro. Como Don mesmo acaba constatando, fica bem explícito que colocar um computador no lugar da sala que antes era ocupada pela criação significa um triunfo da mediocridade que Cutler prega como nova estratégia para a empresa. É um pensamento que se reflete também em toda sociedade, nesta busca incansável pelo "futuro", que na época era simbolizado pelas viagens à Lua. A consequência disso é o que vemos nas décadas seguintes nas grandes empresas, a competitividade vindo à tona, sempre tentando superar e ser maior que a concorrência, esquecendo de valorizar os talentos individuais. Entre os muitos embates neste episódio, o mais interessante se dá entre Don Draper e Lloyd Hawley, o sócio da empresa encarregada de montar o computador na SC&P. Não apenas seu sobrenome lembra muito o computador HAL do filme 2001 Uma Odisséia no Espaço, como suas conversas são cheias de referências ao filme. Além de temer o computador desde o início, como se fosse uma ameaça para o emprego de todos ali, Don ironiza que Hawley não consegue sequer produzir fogo, e ele atribui isso a um "erro humano". Há outros exemplos, a começar pelo próprio título, mas o importante é como isso funciona de comentário da própria época, um filme tão popular que chegava a ser incorporado nas próprias conversas do cotidiano.

Outro embate, este já bastante esperado, era em relação à volta de Don e sua nova posição na agência, agora tendo de se reportar a Lou. Mas é óbvio que ele não encararia este risco logo de frente, se poderia escolher Peggy para servir como seu escudo enquanto comanda o trabalho de Don. Claro que a posição de Peggy é ainda mais delicada, além de lidar com a desobediência de Don, precisa manter o pulso firme e não deixar que sua criatividade se sobressaia à dela. Mas ainda assim é desastroso como ela lida com toda a situação, mostrando novamente uma certa arrogância que remete cada vez mais aos piores momentos de seu ex-chefe. Quando a aprendiz assume o comando, ela apenas reflete os erros de seu mentor, algo parecido com o que vemos na relação de Roger e sua filha Margaret, que deixou o filho para trás e decidiu aderir a uma comunidade hippie. Ao contrário de Mona, que logo desiste de entender esses lunáticos, Roger até tenta se juntar provisoriamente para conhecer os ideais que regem a comunidade, que contrastam com tudo aquilo que vemos na agência. Mas Roger também se irrita quando vê Marigold fugindo à noite para se encontrar com outro membro hippie, e percebe que esse amor livre não é nada diferente de suas próprias experiências sexuais recente. O final não poderia ser mais literal (e talvez melodramático): Roger tentando obrigar sua filha a voltar e ambos caindo numa poça de lama. Margaret acaba apenas revelando a verdade engasgada por tanto tempo, repetindo os erros de seus pais, agora em um novo contexto.

Na verdade, o que mais me incomoda neste episódio é essa estrutura toda esquemática, uma sucessão de fatos que levam a uma conclusão determinada. Pete, por exemplo, aparece brevemente no começo apenas para conquistar um novo cliente durante o jantar, e a partir daí, em mais uma falta de precisão da comunicação à distância, permitir que Lou envolvesse Don neste trabalho de forma indireta. Já Roger é obrigado a se ausentar da agência justamente para que não tomasse conta de Don e ele chegasse mais uma vez ao limite, quando já bêbado termina aos cuidados de Freddy. Até Cooper tem um comportamento um pouco forçado quando rejeita um potencial cliente que seria trazido por Don, embora isso sirva principalmente para estabelecer essa sensação de indiferença dos outros sócios em relação a Don. Afinal, o fato de ocupar a antiga sala de Lane não é mera coincidência: mostra como seu trabalho e sua criatividade são cada vez mais subestimados por todos e que colocar fim à própria vida certamente seria a solução para grande parte dos problemas. A tal resiliência que Hawley tanto espera dos computadores que instala é a que também se espera de Don, que aliás, não por acaso, passa a maior parte do episódio anterior justamente abandonado na sala agora perdida pela criação. Se já não fossem sinais suficientes, o episódio encerra com a música "On a Carousel", lembrando um dos mais brilhantes momentos da carreira de Don (a apresentação para a Kodak), assim como uma metáfora precisa das inúmeras voltas que sua vida deu, sem nunca sair do lugar. Como Freddie ordena, falando por experiência própria, só resta a Don fazer seu trabalho, se pretende mesmo reconquistar seu valor dentro da agência.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
twitter.com/efuzii

segunda-feira, 5 de maio de 2014

[Mad Men] 7x03 Field Trip

"I wish it was yesterday."

Dentre todos os mistérios guardados a sete chaves por Matthew Weiner e sua equipe neste início de temporada, aquele que mais vinha me incomodando era a maneira como Joan e Peggy se portavam em relação a Lou. Porque era tão evidente para mim que ambas não haviam simpatizado com ele, que estava convencido que era questão de tempo até que elas promovessem o retorno triunfal de Don à SC&P. Mas o que vemos neste episódio é justamente o contrário, por pior que Lou possa parecer, a lembrança da última passagem de Don pela agência ainda parece ser traumática demais para as duas. Peggy ainda enxerga no antigo mentor a razão da maioria de seus problemas, não apenas por Ted ter se transferido para a Califórnia, como pela sua própria mudança de comportamento nos últimos meses, quando essa rivalidade na agência se acirrou e deixava Peggy sempre em situações delicadas. Já Joan não nutre a mesma admiração por Don desde que ele dispensou a conta da Jaguar e traiu sua confiança, assim como por manter sempre seu ego à frente de todas as decisões da agência, principalmente na fusão com a CGC. Além disso, Joan é ambiciosa demais para deixar a instabilidade de Don colocar tudo a perder. Na opinião dela, que expõe na sala de reunião junto dos outros sócios, a agência está bem melhor sem ele. Apenas Roger, talvez consciente das vezes que também vacilou, oferece uma nova chance ao seu antigo colega. É interessante como a agência perdeu nesses últimos meses seu diferencial criativo e mudou seu foco para uma área mais estratégica, principalmente por conta de Cutler, que está disposto até mesmo a investir em um computador para aprimorar as pesquisas de mercado de Harry. Devido a sua posição como sócio da agência, a única forma de fazer Don recuar seria através de um contrato de risco com cláusulas exigentes, desde colocá-lo subordinado a Lou até ocupando a sala "mal assombrada" de Lane Pryce. Don aceitar tudo isso prontamente, sem hesitar ou mesmo negociar, deixou muitos se perguntando o porquê dessa decisão, sendo que ele tinha outra boa proposta para escolher. Mas apesar de esperar pelos corredores da agência como se fosse uma visita estranha, parece evidente o quanto Don ainda consegue se impor com sua figura imponente. Por isso, sinto que Don agiu principalmente motivado pela sua autoconfiança, até porque esse tema foi também explorado nas outras duas tramas deste episódio.

Don decide viajar para Los Angeles no meio da semana para fazer uma surpresa para Megan, mas sua intenção na verdade é oferecer seus conselhos e tentar salvar sua carreira, que parece estar por um fio. Ela, com sua confiança abalada, tem se sujeitado a todo tipo de humilhação para conseguir trabalho. Porém, o que parece terminar mesmo por um fio é seu casamento, depois de Don escolher novamente o momento errado para ser sincero com sua mulher. Don definitivamente não venceria uma eleição dos mais populares da semana na opinião das mulheres. Megan tem certa razão em ficar irritada, principalmente pela postura paternal de Don, tentando tratá-la como se fosse criança em todos os momentos. Para servir de contraponto a isso, temos a primeira aparição de Betty na temporada, sua ex-mulher mostrando como ainda não amadureceu nada. Ela tenta colocar à prova sua teoria de que a recompensa está no ato de criar os filhos, como afirma a Francine logo de início, e decide acompanhar Bobby numa excursão pelo campo. O que parecia ser uma oportunidade para aproximar os dois, torna-se um pesadelo para Bobby, que oferece um de seus sanduíches para uma garota (que por sinal, não tinha) em troca de suas jujubas. Provavelmente ainda confuso sobre as dietas de sua mãe, Bobby acaba punido tendo de comer os doces à força. Se restava alguma dúvida de que Betty era capaz de traumatizar ainda mais seus filhos, acho que podemos considerar superadas.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
twitter.com/efuzii