sexta-feira, 12 de abril de 2013

[Mad Men] 6x01-02 The Doorway

"I'm just acknowledging that life, unlike this analysis, will eventually end and somebody else will get the bill."

E a morte continua rondando a vida destes personagens. Passados pouco mais de 6 meses em suas vidas, períodos que parecem estar encurtando a cada nova temporada, Mad Men retorna para seu penúltimo ano na televisão, ainda marcado por essa fatalidade latente. Não haveria situação melhor para revelar a profunda mudança da sociedade em um intervalo tão curto de tempo quanto nos eventos sociais de final de ano. O que antes se traduziam em festas inesquecíveis, agora parecem suprimidas diante de tantos outros acontecimento, ou até simplesmente esquecidas, como na celebração de ano novo particular no apartamento dos Drapers. Se comparada à festa neste mesmo apartamento na premiere anterior então, parece até que estamos diante de um outro casal. Mas se considerarmos a dinâmica entre eles, de fato estamos. É interessante também estabelecer um paralelo com o piloto da série, quando nos é revelado apenas nos últimos minutos que Don Draper tem uma família no subúrbio. Dessa vez, pelo contrário, é guardado para o final que Don está realmente traindo Megan com a mulher do Dr. Rosen, em resposta ao cliffhanger que encerrava a temporada passada, a garota no bar perguntando se Don estava sozinho. No entanto, pela primeira vez, essa situação parece estar incomodando Don Draper. "Quero parar de fazer isso" é uma de suas únicas resoluções para o novo ano. Mas ele sabe que não seria capaz de parar, e pela reação de sua amante (a maravilhosa Linda Cardellini), ela também sabe disso. Durante o episódio, o que me incomodou foi essa camaradagem excessiva de Don com o médico, que não me parecia apenas mera curiosidade pela sua profissão ou por lidar frequentemente com a vida e a morte, mas uma relação próxima a ponto de dar até presentes fora de época. Com essa revelação final, tudo parece mais claro, Don tenta compensar um homem que consegue ser mais digno do que ele em todos os aspectos da vida.

O episódio começa sob o ponto de vista de alguém sofrendo um ataque cardíaco, para depois embarcar na jornada de Don pelo "paraíso", no clima e nas cores quente do Havaí, enquanto lê um trecho do Inferno de Dante Alighieri na praia. Sua atitude diante deste cenário é de completo torpor, como se não estivesse presente ali, passando quase dez minutos em silêncio. A palavra a quebrar esse silêncio é "army" diante de um jovem militar, bêbado no balcão do bar, que passa a relatar as atrocidades vividas no Vietnã, enquanto Don relembra seus velhos tempos de guerra na Coreia. Ele retorna à fria Nova York dizendo que viveu uma verdadeira experiência, impossível de colocar em palavras. Na agência, percebemos que apesar disso, apenas Don Draper continua exatamente o mesmo; barbas, bigodes e costeletas crescem em profusão no rosto desses personagens. Como se ainda estivessem aproveitando a brisa de mudança trazida pelo verão do amor, enquanto Don continua rejeitando a mera utilização do termo em uma de suas campanhas publicitárias. Então, quando sua viagem pelo Havaí também precisa virar propaganda, Don é o único incapaz de perceber a interpretação mórbida de sua experiência -- Stan chega inclusive a pensar que essa era justamente a "graça" do anúncio. Estaria Don também querendo se suicidar?

Provavelmente não, mas é muito forte sua curiosidade em saber o que este momento lhe reserva, abandonar sua existência física, com certeza ainda influenciado pelo suicídio de seu sócio, Lane Pryce, que continua in memoriam batizando a agência. Roger também se mostra perturbado neste sentido em suas sessões de terapia, cansado de buscar algum sentido para a vida. Sua análise que inclusive dá título ao episódio, diz que a vida é uma sucessão de portas, pontes e janelas que abrem e fecham todas da mesma maneira e levam fatalmente sempre a um mesmo caminho definido. Claro que não se deve levar a sério um personagem que conta piadas para si mesmo na terapia. Mas não à toa, posteriormente é revelado que a vítima do ataque cardíaco na primeira cena é Jonesy, o porteiro do prédio de Don, que ocupa esse piso térreo onde abre e fecha a porta para os moradores, convida-os a subir ou descer de elevador. Além disso, Roger enfrenta outros dois anúncios de morte no episódio: sua mãe, a única pessoa ainda capaz de lhe amar, e seu engraxate, que não é lembrado por nenhum outro de seus clientes. Talvez esse fosse um dos maiores receios de Roger, razão para ele finalmente desabar a chorar em sua sala. Assim como acompanhamos desde a temporada anterior, a sociedade vive o ápice do consumismo, os prazeres momentâneos nunca estiveram ao alcance de tanta gente, os relatos de guerra e violência na cidade chegam com uma facilidade incrível e o uso deliberado de alucinógenos faz com que esses personagens procurem sempre por uma nova experiência, inédita, transcendental. Roger não contenta-se com a chegada de um novo ano porque a promessa de um novo ciclo é na verdade apenas mais uma repetição.

Embora com uma atuação ainda discreta neste primeiro episódio, Peggy já mostra um pouco do progresso que teve nos últimos meses trabalhando na CGC. Superando a adversidade em uma campanha também prejudicada pela brutalidade do Vietnã e pelo sarcasmo da época, Peggy consegue impressionar seu chefe com uma ideia ainda mais brilhante para a propaganda de fones de ouvido. Porém, seu relacionamento com Abe ainda me parece um pouco turbulento, como se vivessem em mundos diferentes, e certamente teremos desenvolvimento durante a temporada. Mas o que me pareceu mais marcante foi a presença de Peggy na agência, sua autoridade diante dos outros funcionários, lembrando muito a confiança de Don Draper em seus tempos áureos. Ainda tivemos uma trama envolvendo Betty, que aparece com peso reduzido e tentando mantê-lo sob controle. Sua "descida" a um Village congelante (lembrando que o Inferno descrito por Dante é gelado) não deixa de ser também uma experiência inusitada, visitando um cortiço e entrando em contato com alguns jovens adeptos da contracultura. Obviamente sua tenacidade para resgatar a garota daquele lugar, como se fosse protagonista de um conto de fadas, deve-se principalmente pela história ser muito similar à dela. Porém, por mais que ela tentasse se apegar ao violino, a "identidade" da garota destinada a estudar em Juilliard, sua decisão de largá-lo naquele lugar mostra algum progresso. Betty pode não ser um ser humano exemplar (longe disso, aliás), mas já é recorrente desde a temporada anterior Betty ter alguns lampejos de maturidade e para representar isso nada melhor do que uma mudança na cor dos cabelos. Sally também apareceu pouco, mas já deu mostras de estar mais independente e menos reprimida na mansão dos Francis. Seu conflito com Betty, com os dois personagens em desenvolvimento paralelo, tem tudo para ser um dos destaques dessa temporada. É cedo ainda para dizer o que esperar do ano de 1968 na série, a única certeza é que esse estado de emergência e preocupação dos personagens está longe de chegar ao fim.

Foto: Divulgação.


e.fuzii
twitter.com/efuzii

2 comentários:

João Strume disse...

Cara, que bom que vcs voltaram.

Melhor blog de comentários!

Ótima análise do episódio. Não tinha ligado a ida de Beth com a obra de Dante.

Achei interessante o simbolismo das cores nesse episódio.

Abraços

Unknown disse...

Desde que eu vi pela primeira vez eu gostava de Mad Men é uma série grande e agora é trasmitiéndose o sétimo e última temporada não vai me perder por nada. A propósito aqui http://www.hbomax.tv/mad-men-7 encontrar vezes para vê-lo.