domingo, 23 de junho de 2013

[Mad Men] 6x12 The Quality of Mercy

Previously on Mad Men: infelizmente, por conta de algumas questões pessoais, acabei não conseguindo comentar os dois episódios anteriores aqui no blog. Como eu acho que já não vale a pena elaborar textos muito detalhados com tanto atraso, principalmente sabendo o que acontece nos episódios seguintes, decidi concentrar no episódio da semana e relacionar com alguns acontecimentos pontuais das semanas anteriores. O texto será um pouco mais longo, espero que entendam.
Nesses três últimos episódios antes do season finale, Mad Men deixou de lado os simbolismos e variações de estrutura que vinha apresentando até então, para assim concentrar-se numa abordagem mais direta, principalmente em relação à nova dinâmica da Sterling Cooper & Partners. Aproveitando a onda de protestos contra a guerra do Vietnã, "A Tale of Two Cities" também mostra atos de rebeldia contra a tradicional hierarquia da agência. O fato de Mad Men acompanhar o que acontece em uma agência de publicidade não é simplesmente por retratar a mudança da sociedade através da influência em suas campanhas. É antes uma forma de retratar essas mudanças se refletindo dentro de seus domínios. Por vezes isso aparece até forçado, como a contratação de Dawn, servindo de símbolo das lutas raciais, ou mesmo Ginsberg, chamando atenção para a forte presença judia. Mas o mais notável é que apesar de manter as regras de uma empresa comum, a publicidade apresenta seu diferencial neste constante choque entre a equipe de gerentes de conta e o setor criativo. Jim Cutler, por exemplo, precisa engolir a insubordinação de Ginsberg porque sabe da importância dele na satisfação de seus clientes. Já Joan, que há alguns episódios condenava as secretárias que burlavam o sistema de ponto, dessa vez decide quebrar ela mesma essa hierarquia, desrespeitando a ordem de deixar Pete conduzir as negociações com um potencial novo cliente da Avon. Se existe uma forma de mostrar os direitos das mulheres sendo enfim reconhecidos, talvez a gerência de contas em publicidade seja o maior exemplo, e claro, Joan seria o símbolo ideal para indicar essa mudança. Peggy, que foi a primeira a conquistar seu merecido espaço na agência, aparece então para salvar Joan de uma situação tensa na sala de reunião. Até por conhecer Ted a mais tempo, Peggy sabe que jogar a isca de um novo negócio concretizado já é suficiente para acalmar seu chefe. A ironia é que Ted, mais tarde, tem de engolir seu próprio orgulho com uma proposta irrecusável vinda da Sunkist.

Essa eterna disputa entre Sunkist e Ocean Spray também motiva nesses episódios diversos conflitos que são resolvidos na base de acordos. Ted pede trégua para Don e concordam em colaborar; Don e Sally chegam a um acordo oculto atrás de uma porta fechada; Pete e Bob Benson após idas e vindas também chegam a um entendimento. Bob Benson vinha sendo o grande mistério da temporada, com aparições pontuais mas cada vez mais frequentes, até que tem sua importância reconhecida quando Cutler confia a ele uma tarefa de Roger e ele é capaz de manter esse cliente ao menos satisfeito. E nesse últimos episódios, Bob mostra atributos que seriam altamente valiosos em qualquer cargo: solícito e ao mesmo tempo ambicioso, um otimista irrefreável, sempre buscando melhorar. Ele consegue até mesmo arrumar uma situação adversa e entender a necessidade de atenção de Ginsberg, oferecendo seu discurso de estar sempre pronto. Este permanente estado de atenção, aprendido através de seus áudios motivacionais, é o que faz Bob procurar estar sempre no lugar certo atrás de uma oportunidade e o que faria ele atingir certamente sucesso em sua carreira. Ou pelo menos seria, até cruzar com o caminho de Pete Campbell. Na semana passada, seu toque de pernas e a revelação de seus sentimentos por Pete motivou diversas interpretações. Mas até por essa semana Bob retratar-se dizendo que sente apenas imensa admiração pelo colega, leva a crer que sua cena era muito mais uma busca por respeito, após Pete considerar a conduta de Manolo como nojenta. Entre as diversas especulações sobre Bob, havia a aposta de alguns de que ele seria na verdade gay, outros tantos apontavam uma semelhança de personalidade com Don Draper, mas acho que poucos imaginavam que Bob Benson também seria uma identidade forjada. E por um momento, Pete considerou levar esse confronto até o fim, mas parece que finalmente conseguiu controlar seus impulsos. Bob declarava sua derrota, já até considerava sair de cena furtivamente, apenas pedia um tempo para preparar seu próximo passo. Aprendendo com seu erro anterior, quando não se conteve e decidiu usar a informação da identidade secreta de Don para conseguir prestígio com seus chefes, Pete parece enfim saber como usar esse segredo a seu favor. Pelo seu pedido de desculpas, não fica claro se Pete deseja apenas fazer uso dessa boa vontade de Bob ou se ainda pretende chantageá-lo mais pra frente.

Apesar disso, os problemas de Bob Benson não parecem ser tão preocupantes, ao menos quando comparados à situação de Sally. Para piorar o flagrante de seu pai e Sylvia -- e ela realmente tem azar de aparecer sempre nas horas erradas, já que havia presenciado outra cena assim envolvendo Roger e a mãe de Megan -- Don Draper tenta distorcer os fatos, minimizá-los e tentar manter seu mundo imerso em fantasia. Depois de tantos flashbacks na temporada revelando o ambiente que Don cresceu, aquilo que presenciou quando adolescente, realmente esperava uma reação mais madura por saber que seria um trauma na vida da menina. Ainda assim, Sally reage bem ao escolher voluntariamente se matricular em um internato. Ela não suporta mais ver seu pai, nem é capaz de tolerar sua mãe em casa, e Sally não faz o tipo que fugiria de seus problemas como sua amiga violinista. Então ela escolhe o internato buscando algum sentido de ordem, um ambiente que tenha algum significado. Suas colegas certamente serão um teste constante, a presença de garotos quebrando as regras também. O que importa então é como Sally irá reagir a partir disso, e esse episódio mostra que ela está no caminho certo. Não apenas ela se manteve sóbria como conseguiu reverter as atitudes do amigo de Glen, impressionando sua colega de quarto.

Já Don Draper, pelo contrário, continua decepcionando todos ao seu redor e caminhando em direção à solidão. Nem mesmo sua queda na piscina, um evento de quase morte, durante uma festa na Califórnia foi suficiente para pará-lo. Ele não suporta sequer ver Megan na televisão e "envenena" o próprio suco de laranja que a mulher faz com carinho. Seu favor ao jovem Mitchell, arriscando o relacionamento da agência com a Chevy e disposto a pedir um favor a Ted, é sua tentativa de fazer enfim alguma coisa certa. Seus motivos podem ser nobres, nem que seja motivado ainda pela paixão por Sylvia, ou por ter experimentado o terror da guerra, ou até sentindo culpa por trair seu amigo Arnold. Mas reparar essa situação cria outra ainda mais desastrosa. E essa decepção leva Don ao seu pior momento na série, talvez pior até do que quando sua identidade era investigada pelo governo. Nesta semana, apesar de toda a agência perceber que esse clima afetuoso entre Peggy e Ted está prejudicando os negócios, Don faz questão de colocá-los em um situação embaraçosa diante do cliente para servir como lição. Claro que existe uma dose de ciúme por parte de Don, ele certamente sente falta daquela antiga conexão com sua jovem aprendiz. Mas essa atitude apenas afasta Peggy ainda mais, a ponto de chamá-lo de monstro. Don começa e termina o episódio em posição fetal, primeiro acuado em seu apartamento, depois em sua própria sala.

Há outras referências a fertilidade ao longo do episódio, e não apenas pelo encontro casual dos dois casais numa sessão de 'O Bebê de Rosemary'. Há toda a encenação na sala de reunião para o comercial de aspirinas, quando Don imita uma criança chorando. Ou mesmo Ken, depois de enfrentar todo tipo de exigência maluca dos clientes da Chevy, decidindo largar a conta porque sua mulher está grávida. E temos Peggy, alguém que recusou o papel de mãe, envolvida neste comercial de aspirinas, e que na semana passada é abordada pela mãe de Pete, que a confunde com Trudy. Em um jantar repleto de bebida e algumas confissões, esse segredo ressurge em uma conversa deliciosa entre Pete e Peggy, quando ambos tem um momento de cumplicidade diante de um surpreso Ted. Apesar de tudo isso, esses três episódios não apresentam nenhum tipo de evento marcante como nas temporadas anteriores, por isso torna-se ainda mais difícil prever qualquer surpresa reservada para esse finale. Aliás, apesar dessa temporada manter sempre um tom "mais baixo" em relação às outras, me parece indicar uma certa maturidade da série, que consegue mesmo sem apresentar grandes arcos ao longo de seus episódios, criar diversos momentos memoráveis para seus personagens. E isso ocorre apenas quando uma série já conhece seu próprio potencial e é capaz de ser relevante dentro de suas limitações.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
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