quinta-feira, 5 de abril de 2012

[Mad Men] 5x03 Tea Leaves

Não tem sido tarefa fácil escolher uma foto para ilustrar meus textos nesta temporada de Mad Men. Afinal todo episódio temos algum fato surpreendente que deve ser preservado daqueles que entram aqui por acaso. Na semana passada, era o novo casamento de Don Draper, dessa vez é a aparente obesidade de Betty, que nem com a ajuda dos filhos consegue entrar em seu antigo guarda-roupas -- ironia cruel rebater essa cena com Don facilmente fechando o vestido de sua esbelta mulher logo em seguida. Para incorporar (literalmente) a gravidez de January Jones à série, os roteiristas tiveram de recorrer a essa trama, já que seria pouco provável que Betty engravidasse tão cedo de Henry. É algo que me agrada, principalmente pelo modo como evoluiu ao longo do episódio. Não chega a ser novidade para ninguém acompanhar um personagem encarando a morte através de um diagnóstico de câncer -- já acompanhamos esse tema inclusive na temporada passada com Anna Draper --, mas com Betty isso me parece diferente. Além desta mudança física já ser um golpe na auto-estima de qualquer um, principalmente para quem sempre foi reconhecida pela beleza, a própria ingenuidade e suas tendências infantis colaboram para criar certa simpatia pela personagem. Interessante notar que mesmo Henry sendo um marido mais paciente e atencioso, Betty prefere ser consolada por Don logo que recebe as primeiras notícias. Já é padrão os produtores adotarem algum tipo de metáfora quando retratam o estado psicológico de Betty (o pássaro preso na gaiola, o souvenir) e dessa vez não foi diferente: as folhas de chá do título, que sobram no fundo da xícara após perderem sua função. Enquanto Betty apavora-se com o relato de sua antiga amiga sobre o duro tratamento que está sendo submetida e a má sensação que isso traz, uma vidente aparece propondo-se a ler seu futuro. E sua previsão não poderia soar mais cruel, com palavras de conforto como aquelas que dedicamos a família de alguém que acaba de falecer. Mas tudo não passa de um susto, e o alívio dela está justamente em poder continuar criando os filhos, sem precisar depender de Don (e Megan) ou de sua sogra. A última cena talvez justifique o ganho de peso de Betty ao longo desse período, além de denunciar que Sally está atenta -- e reprova -- a obesidade da mãe, quando rejeita o resto do sorvete. Não à toa, no sonho de Betty em estilo Sopranos, é Sally quem faz questão de virar a cadeira da mãe na mesa de jantar.

Essa relação entre pais e filhos permeia ainda o restante do episódio, desde o orgulho do pai de Michael Ginsberg pela sua contratação até Roger sentindo-se traído pelas molecagens de Pete no caso Mohawk. É o constante conflito entre gerações que essa temporada vem anunciando, e que apareceu bem claramente na visita de Don e Harry aos bastidores do show dos Stones. Se Roger espera no conforto de sua ampla sala que as coisas voltem a ser como antes, Don ao menos tenta se mexer fazendo uma "pesquisa de campo". Porém, ainda que curioso com a garota que lhe dá um mínimo de atenção, Don parece estar sempre fazendo as perguntas erradas, numa atitude quase paternal. Impossível também que não passe pela sua cabeça que Sally também faz parte dessa geração -- ao menos beatlemaníaca já sabemos que ela é --, o que gera um desconforto não só em relação ao consumo de drogas como por ela em breve se tornar uma jovem tão indecifrável quanto estas. Quem também passa a se sentir ameaçada é Peggy com a chegada de Michael à agência, um sujeito excêntrico que parece tão talentoso e socialmente privado quanto ela. Sua contratação surge primeiramente como uma exigência de Roger, que enxerga nele uma oportunidade de "modernizar" a agência com a presença de um judeu (embora nem ele entenda exatamente o porquê), mas passa depois também pelo aval de Don Draper, para decepção de Peggy. Apesar do medo de ser substituída, por enquanto ainda não fica muito claro qual postura ela espera de seu chefe-mentor, mas desde já é o confronto que mais estou ansioso para ver nesta temporada. Por outro lado, Don ainda conta com o otimismo de Megan ao seu lado, que é capaz até mesmo de convencê-lo a viajar para esquecer os problemas de Betty (uma pena aliás, não mostrarem sequer um trecho dessa viagem a Fire Island). O amplo contexto histórico presente em Mad Men, que nos permite antecipar as mudanças que estão prestes a ocorrer, é intrigante justamente por servir como ameaça ao futuro desses personagens, que lutam a todo custo para se adaptar antes de serem deixados para trás. E esse parece ser o momento mais crítico até então. Afinal, ao contrário de Megan, são poucos aqueles que ainda podem se gabar por ter o tempo a seu favor, infelizmente.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

3 comentários:

Taissa disse...

Também estou aguardando bastante o confronto futuro entre Don e Peggy, assim como o entre sally e betty.
Ótima review!
Acabando de assistir o episódio já venho aqui ver ser tem review \^^/

blackstar disse...

realmente, bela metáfora a do título do episódio.

e espero que o funcionário novo sacuda um pouco a peggy, que está meio inerte

rgfdesign disse...

legal