quinta-feira, 19 de abril de 2012

[Mad Men] 5x05 Signal 30

"We're supposed to be friends!"

Por mais que fossem duros os golpes sofridos por Pete Campbell ao longo desse episódio, nada soa tão triste quanto esse seu lamento final. Ainda mais vindo de alguém que no decorrer da carreira nunca hesitou em passar a perna em quem fosse preciso para levar vantagem. Já no episódio piloto, Don é categórico ao afirmar que ele nunca seria capaz de substituí-lo porque ninguém simpatizava por ele. Pouco tempo depois, ele tenta chantagear Don com a carta de seu irmão e corre sério risco de ser demitido, só se salvando pela influência de sua família. Nesta temporada, suas atitudes na SCDP também não podem ser consideradas das mais nobres, principalmente em relação a Roger. Joan, enquanto consola Lane e tenta evitar maiores constrangimentos, diz que todos naquela agência já tiveram vontade de socar Pete uma ou outra vez. Por isso, tanto essa ideia de que os sócios da empresa deveriam compartilhar sentimentos de camaradagem, quanto suas investidas na garota que faz aulas de direção junto com ele, mostram uma pessoa ainda tão inocente e frágil, que só poderia resultar na mais profunda desilusão com sua pacata vida no subúrbio. Pete pode ter atingido a idade adulta mas ainda não sabe se portar como gente grande.

Aproveitando a chegada no mercado americano dos carros da Jaguar, um símbolo de virilidade por si só, o episódio reúne seus personagens em ambientes e situações tipicamente masculinas: o jantar de família entre colegas de trabalho, a torcida em um pub assistindo à final da Copa, uma noite de diversão no bordel e, claro, a épica luta travada na sala de reuniões. Tudo isso coloca em discussão o compromisso nas relações dentro e fora do trabalho. É exatamente desse assunto também que trata um dos contos de ficção científica (nada mais que os contos de fada do episódio anterior mas direcionados aos garotos) de Ken Cosgrove: um robô dedicado a manutenção de uma ponte que liga dois planetas. E isso aparece inclusive no pacto secreto firmado entre Ken e Peggy, assim como na relação entre Lane e seu companheiro britânico. Lane enxerga em seu compatriota a chance de conquistar uma conta milionária, tentando assim se livrar do rótulo de avarento da agência. Para isso, ele conta com os conselhos de Roger, que se mostra realmente competente ao tratar do assunto. Porém, por mais que se esforce e procure diversos ângulo para estabelecer uma relação com seu cliente, Lane falha em todas as tentativas. Roger define essa "amizade" como uma maneira estratégica para atrair seus clientes e chega a dizer para Ken que quando seu trabalho é bom, ele satisfaz toda as suas necessidades. Mas a SCDP não vive um grande momento há algum tempo e por isso, aqueles que ainda vivem vinculados a ela tendem a afundar junto, como é o caso de Pete e Roger.

Pete Campbell passa por um verdadeiro inferno astral neste episódio. Sua única intenção com o jantar de casais era receber a visita de Don em sua casa, mas por mais que tivesse insistido, somente Trudy foi capaz de realmente convencê-lo a comparecer. Pete experimenta uma espécie de crise de meia idade precoce, quando percebe que já não tem mais a mesma juventude de um "Handsome", que acaba por confundí-lo com o instrutor do curso antes de conquistar sua garota, nem nunca terá a mesma destreza de Don Draper, que conserta com extrema facilidade a torneira enquanto ele se perde dentro de sua caixa de ferramentas. Até mesmo nos negócios ele não é capaz de corresponder às expectativas do cliente, que busca um tipo de entretenimento que só Roger guarda na manga. Trudy não permite nem que ele tenha um rifle em casa. E para todos aqueles que reclamaram dos sonhos serem óbvios demais nas últimas semanas, dessa vez foi através da intimidade com uma prostituta que Pete revela seu desejo de ser tratado como rei, posto que provavelmente havia sido preparado para assumir desde a infância. Já que não consegue se garantir sozinho, tudo que lhe resta então, é procurar desesperadamente pela aprovação de Don. Mas nem isso ele consegue, já que Don critica sua infidelidade ao saírem da noitada no bordel. Para completar, sua derrota mais dolorosa ainda estava por vir. Dolorosa não apenas pela surra em si, nem pela vergonha diante dos colegas, mas porque ele acreditava que estaria seguro na agência, nunca seria atingido daquela forma. Quando ele diz que os sócios deveriam ser amigos, é porque esperava que eles tomassem alguma atitude e não ficassem apenas assistindo a briga, como se estivessem no pátio do colégio.

Há alguns episódios, Trudy diz que a insatisfação de Pete pode ser revertida a seu favor quando serve de ambição. Mas esse foco exagerado no trabalho significa uma queda ainda mais cruel diante de qualquer revés. A presença de Ken não é a toa, serve como paralelo perfeito de como encarar essa desilusão. Por mais que sua carreira como escritor tenha sido reprovada por Roger, basta certa cautela e adotar um novo heterônimo para manter esse segredo rolando. Ken nunca foi de misturar trabalho com a vida pessoal (no final da temporada passada, ele se recusa a envolver o pai de Cynthia nos negócios), e parece muito confortável assim. Don Draper -- quem diria? -- também serve como exemplo. Nesta sua nova postura despreocupada de encarar o trabalho, ele parece ter feito as pazes não só com seu presente mas também com seu passado, até pela forma como corrige num impulso o sobrenome do assassino do Texas durante o jantar, ou como fala tranquilamente sobre sua infância numa fazenda. A verdade é que quanto mais investem no trabalho, mais insatisfeitos eles se tornam. Resta saber como Pete irá se portar diante disso, já que esses personagens nunca foram adeptos de mudanças bruscas.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

Nenhum comentário: