sexta-feira, 8 de junho de 2012

[Mad Men] 5x12 Commissions and Fees

"What is happiness? It's a moment before you need more happiness."

Em seu discurso inflamado para os executivos da Dow Chemical, Don Draper declara que o sucesso é apenas temporário, que essa busca pela felicidade é como a fome que não pode ser saciada. Certamente é impossível ouví-lo e não relacionar com sua própria trajetória ao longo de cinco temporadas. Ou antes, durante toda sua vida. Porque esse espírito inquieto de Don é o que impulsiona novas conquistas, cada hora focado em aspectos diferentes de sua vida. Neste momento, o objetivo principal é ampliar os negócios, porque apesar do reconhecimento com a Jaguar, a SCDP ainda é considerada uma pequena agência brigando contra a concorrência. Seu casamento, que era até pouco tempo atrás sua única prioridade, deixou de ser seu motivo de felicidade e passou a ser uma preocupação. Chegar em casa é um cansativo exercício de reconhecimento, de colocar a mulher a par de sua vida. Pela segunda vez Megan reclama que ele não dá notícias durante o dia inteiro. Não parece ser a toa que ele prefira uma longa viagem imprevista, uma fuga como tantas outras, a ter que encarar sua nova rotina. Ficar confinado em seu apartamento passou a ser razão de aflição para Don Draper.

Esse conceito de felicidade não deixa de ser aplicado também à publicidade, que nesta década propõe uma verdadeira revolução nos costumes das pessoas, que passam a ser adotadas como consumidoras. A própria série retrata essa busca incessante por prazeres passageiros, que sempre terminam em revés, conforme resumiu Glen de uma forma um tanto quanto óbvia no elevador. Mas é curioso como na cena seguinte Don pode facilmente satisfazer a vontade do garoto e fazê-lo esquecer de qualquer outro problema. A trama de Sally e Glen se aventurando pela cidade pode ficar esquecida diante dos outros acontecimentos do episódio, mas não deixa de reforçar o tema quando ambos exploram a fascinante vida selvagem no Museu de História Natural. A visita de Sally, depois de rebelar-se contra os planos de viagem de Betty, lembra uma fábula infantil em que ela se sente crescida acompanhando as conversas com Megan e a amiga, desafia ordens (usando até as botas que seu pai proibiu), se achando auto-suficiente até se deparar com as responsabilidades de um adulto, com a chance de humilhação, e volta correndo para debaixo da saia da mãe. Betty ainda tem chance de mostrar um lado pouco visto na temporada, agindo com maturidade ao assumir o papel de mãe e, claro, aproveitar para se vangloriar frente a Megan.

Mas enfim, acho que já evitei demais tratar da morte mais impactante da série até aqui. E não foi por falta de aviso. Durante toda a temporada, em meio a vídeos de acidente de carro, menções a apólices de seguro de vida e elevadores que se tornam armadilhas do destino, dava para prever que algum personagem talvez pudesse sucumbir a esse mau presságio. Mesmo quando parecia óbvio que Lane Pryce optaria pelo suicídio, o roteiro ainda joga com nossas expectativas e aproveita o fato do Jaguar ser tratado como um carro indomável pelos americanos para falhar ironicamente com a primeira tentativa dele. Depois disso, são mais de dez minutos até que Joan finalmente encontre a porta de sua sala obstruída. Não vejo necessidade do roteiro explicar uma decisão dessas (na vida já é algo tantas vezes inexplicável) mas é bastante triste pensar que Lane foi derrotado pelo próprio orgulho, por se negar a pedir ajuda. Ao contrário do suicídio de seu irmão -- e é interessante como o corpo é mostrado de modo explícito dessa vez --, não vejo a culpa caindo sobre os ombros de Don. Quando ele sugere que Lane faça uma saída elegante, me parece a melhor forma de lidar com a situação, evitando um escândalo tanto para a empresa quanto para o sócio. Afinal, quem poderia confiar novamente as finanças de sua empresa a alguém que forja uma assinatura em benefício próprio? É uma cena magnífica, que Jared Harris merecia para deixar a série com louvor, mostrando mais uma vez toda sua versatilidade. Aquele descontrole que parecia crescer pouco a pouco no personagem ao longo da temporada, atinge o limite e vemos sentimentos conflitantes de revolta, vergonha, medo, resignação, tomando conta de cada gesto, cada expressão facial. O que Don nem suspeitava ao encorajá-lo a recomeçar a vida na Inglaterra é que Lane veio disposto a abandonar seus costumes britânicos para se dedicar até as última consequências ao sonho americano. Essa já era sua última chance e a possibilidade de perder seu visto chega a ser desperador. Lane volta a sua sala, suspira, e enxerga ao seu redor todos aqueles objetos que adotou em terra estrangeira: a flâmula dos Mets na parede, a estátua da liberdade, o Empire State Building em miniatura. O céu caindo do lado de fora como se estivesse preso em um grande globo de neve. Revendo o episódio, já sabendo como tudo isso irá terminar, quando Lane diz sentir a cabeça mais leve, não é um sinal de alívio ou mesmo de angústia, mas uma sensação de plenitude, de que tentou viver o sonho até o final. Fazendo uma retrospectiva da temporada, em A Little Kiss, Lane se entrega às fantasias quando encontra a foto de uma bela moça, e garante a ela que sempre poderá ser encontrado em sua sala. Acho que um paralelo óbvio a se fazer é com a condição de Pete, até porque muitos apostavam que seria ele a morrer nessa temporada. Certamente o fato de ter sido o primeiro a ver o corpo pendurado deve afetá-lo a ponto de reconsiderar algumas de suas atitudes. Mas isso já parece ser assunto para o finale, que pelo rumo das coisas, promete altas emoções.

Resta prestar uma última homenagem a Lane, resgatando um vídeo que havia colocado há algum tempo no youtube. No final do ano de 1964, sozinho na América, Lane Pryce tem um singelo encontro com Don Draper em sua sala. Sem ele a SCDP não passaria de um sonho distante. Então, proponho um brinde a esse magnífico personagem: chin-chin!

P.S.: Em uma entrevista essa semana, Jared Harris deixou escapar que Elisabeth Moss teria se despedido da produção no episódio anterior. Acontece que ela já havia se comprometido com as filmagens de Top of the Lake, minissérie para TV da Jane Campion, por isso teve sua participação reduzida na temporada. Claro que isso não significa que ela estará ausente do finale (ela pode ter gravado uma ou outra cena antes) e acho praticamente impossível que aquela tenha sido sua última participação na série.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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