sexta-feira, 1 de junho de 2012

[Mad Men] 5x10 Christmas Waltz | 5x11 The Other Woman

"Money solves today, not tomorrow."

Antes de começar o texto, acho que preciso me desculpar pela ausência na última semana. Até imaginava que conseguiria dar meu parecer sobre o episódio (nem que fosse de forma resumida), mas infelizmente, em meio a correria de uma viagem, não tive tempo. Por outro lado, estes dois últimos episódios parecem estar intimamente ligados, o da semana passada servindo como preparação para o marcante episódio dessa semana. Por isso, vou aproveitar a "valsa natalina" para servir de introdução ao texto, com seus principais destaques, para depois me concentrar em "The Other Woman". Qualquer observação, favor usar os comentários do texto, para podermos assim nos aprofundar em um ou outro ponto que deixei passar.

Há alguns episódios, quando Megan decidiu abandonar a carreira promissora na criação publicitária para perseguir seu sonho de se tornar atriz, destaquei o quanto essa também era uma decisão corajosa dos roteiristas, já que tirava a personagem da zona de conforto que é a SCDP. Muitos outros personagens simplesmente desapareceram assim que foram demitidos ou deixados para trás em meio às mudanças da agência. Paul Kinsey, que retorna em "Christmas Waltz", foi um desses casos. Sempre levado a tomar decisões motivado muito mais pela emoção -- basta lembrar seu envolvimento com os Direitos Civis por conta de sua namorada negra --, sua incursão no movimento Hare Krishna não foi exceção. E após tantas atitudes desagradáveis nos últimos episódios, chega a surpreender a discrição de Harry em relação ao amigo, estendo ainda a mão para lhe oferecer ajuda. Paul percebe que não existe estado de espírito capaz de livrá-lo de uma verdadeira crise financeira e acaba rendendo-se a essa chance de tentar recomeçar a vida do outro lado do país. É interessante como essas ofertas de dinheiro ligam os dois episódios, assim como é um tema recorrente ao longo de toda a temporada, já virando piada pelas inúmeras vezes que Roger é extorquido, ou quando Lane Pryce sempre aparece para evitar alguma crise na SCDP. Mas dessa vez são os próprios problemas financeiros de Lane que lhe obrigam a cometer graves delitos para conseguir se livrar das dívidas pessoais, colocando o futuro da empresa em risco. A dificuldade sempre esteve em encontrar um ponto de equilíbrio entre os assuntos pessoais e os profissionais, sem que um interferisse no outro. Joan também sofre quando é desafiada por Greg, mandando os papéis do divórcio para dentro da SCDP, lugar onde até então ela se sentia intocável. Esse breve momento de fraqueza permite um passeio com Don Draper fora da agência, fingindo ser até um casal para testar o carro da Jaguar (test-drive "comprado" por Don), e uma animada conversa sobre as alegrias e decepções no casamento. Mas obviamente Don preferia estar acompanhado de Megan.

Don não é apenas o centro da série, no qual todos os outros personagens são obrigados a circular, como também seus valores pessoais e profissionais moldam seu status quo. Mad Men é acima de tudo a televisão como publicidade (assim como Breaking Bad é a televisão como droga). Por isso, a partir da saída de Megan os conflitos passaram a ser cada vez mais frequentes. Don não sente apenas que ela rejeitou uma carreira, mas sim uma parte importante de sua identidade. E isso culmina no seu discurso final, motivando os funcionários a vencer a qualquer custo a concorrência da Jaguar, se comprometendo a passar até mesmo os finais de semana e feriados na agência. Don mostra que está de volta aos negócios, e isso significa uma tendência cada vez maior do casal viver em mundos separados. Em "The Other Woman", essa crise chega a agravar-se quando Don descobre que um dos papéis de Megan exigiria que ela ficasse três meses em Boston, colocando distância literalmente nesta relação. O casal consegue eventualmente chegar a um acordo, mas pela persistência que Megan demonstra, superando até uma audição em que é tratada como um mero pedaço de carne, será questão de tempo para que ela consiga enfim sua primeira chance. Mas essa trama passa até despercebida perto das outras duas grandes mulheres que dominam o episódio: Joan e Peggy. Ambas enfrentaram tantos desafios dentro da agência para chegar onde chegaram, para serem principalmente respeitadas pelos colegas, e tiveram de quebrar tantas regras de conduta pregadas pela sociedade, que não pode ser considerado menos do que memorável um episódio em que as duas tem de encarar os maiores dilemas de suas vidas.
Joan é a mais afetada desde o começo do episódio, quando um dos membros do conselho na campanha da Jaguar sugere uma proposta indecente a Ken e Pete para assim não desfavorecer a agência na concorrência. Justamente quando Joan parecia enfim ter se livrado do fantasma do estupro que lhe perseguia por tanto tempo, aparece outro tema polêmico para aborrecê-la. Muitos parecem ter caído num dogmatismo para criticar a decisão de Joan, outros devem achar sua decisão incoerente por ela ter categorizado esse tipo de serviço como prostituição logo de início. Mas não quero propor esse tipo de discussão, até porque isso só tende a diminuir o valor do episódio e da própria série em si. O que realmente merece ser analisado é a forma como ela chegou a essa conclusão, como Pete teve papel fundamental (e Vincent Kartheiser teve uma de suas mais brilhantes performances) não apenas para convencê-la, como também "envenenando" aos poucos os outros sócios. Repare como ele distorce as palavras dela quando se reúne com os chefes, omitindo que ela teria ficado chocada, que apenas não esperava que eles fossem capazes de chegar a um valor condinzente. O resultado de tudo isso é uma corrente de mal entendidos, até Lane aconselhando que ela deveria reconsiderar uma proposta (e assim livrá-lo de pedir outra extensão de crédito), deixando Joan acossada a ponto de ceder. Claro que essa aparente decisão unânime dos sócios seria difícil de ser mudada, tanto se ela aceitasse ou não, e reflete uma opinião pública da própria sociedade. Salvatore foi demitido (e desapareceu da série) justamente por não ter cedido a uma proposta parecida. Além disso, era uma proposta capaz de solucionar todos os seus problemas financeiros e garantir ainda um futuro estável para seu filho. A postura passiva de Roger também me parece bastante coerente, tanto por ele oferecer apenas uma ajuda financeira para criar o filho, quanto por não se irritar com um possível admirador secreto de Joan. Roger não é capaz de amar ninguém. A montagem final, da apresentação aos executivos enquanto Joan se submete a um deles, parece extremamente óbvia ao tratar a mulher como o carro que está sendo anunciado, mas não vejo possibilidade de ocultar uma cena tão trágica como essa. Até porque ela ainda aparece usando o casaco que ganhou de Roger em "Waldorf Stories" para proteger seu corpo. O que mais me incomoda é a repetição do encontro com Don para enfatizar que ele chegou tarde demais, porque me parece um excesso de complacência com o protagonista, mesmo que sua origem desse motivos suficientes para condenar tal conduta. Além do mais, deixa em aberto se Joan poderia ter desistido por isso. Mas é brilhante a conclusão, a troca de olhares quando Don percebe que ela havia cedido mesmo, e que vão dando lugar a uma decepção pela campanha assinada por ele não ter sido aprovada por si só.
Do outro lado da moeda está Peggy, claramente insatisfeita por ter sido colocada em segundo plano na agência e não ter seus esforços reconhecidos. Ainda acho interessante que em nenhum momento ela tenha disputado com Ginsberg pela preferência do chefe, ela apenas não quer ser considerada inferior a ele, o que é bastante compreensível. Já que Don está ocupado demais para sequer perceber o nível de desgaste que se encontra essa relação -- a ponto de jogar dinheiro em seu rosto --, cabe a Peggy encontrar seu próprio caminho e enfim se libertar de seu mentor. Ela aceita a oportunidade na CGC depois dos conselhos de Freddy, outro antigo personagem que volta a aparecer nesses episódios. Não que essa despedida fosse inesperada, a série preparou terreno durante toda a temporada para isso, mas até pela importância da trama de Joan, não imaginava que seria também neste episódio. Porque sua demissão é um fato tão marcante na série, até pelo piloto mostrar o primeiro dia de trabalho de Peggy e seu primeiro encontro com Don, que achei que seria guardado para o finale. Mas claro, como previsto, é uma cena magnífica mostrando Don passar por todas as fases antes da aceitação, dando um beijo na mão (onde mais?) de sua pupila até enfim soltá-la livre. Se os dois haviam atingido um estado de admiração mútua em "The Suitcase", agora chegou a vez de Don demonstrar um profundo sentimento de respeito pela decisão de Peggy. E acho que essa relação chegou em um nível que merecia passar por tal provação. Antes de sair ela ainda troca olhares com Joan, e embora ambas não façam ideia do que acabou de ocorrer, suas escolhas não poderiam ser mais opostas. Enquanto uma praticamente sacrificou seus valores morais para garantir o futuro na agência, a outra sai pela porta da frente, de cabeça erguida e um sorriso triunfal. E ao contrário de tantos outros personagens que passaram por Mad Men, Peggy é a única profissional com a certeza de que acumulou valores suficientes para "sobreviver" na série mesmo que longe de Don Draper e da SCDP.

Confira também o texto do Hélio Flores sobre "The Other Woman".

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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