quarta-feira, 18 de julho de 2012

[Breaking Bad] 5x01 - Live Free or Die



“Happy Birthday, Mr. Lambert!” - Lucy

Já se tornou um marco da história recente da TV o último episódio da terceira temporada de Lost, “Through the Looking Glass”, em que o aspecto físico de determinado personagem (incluindo uma barba) causa um estranhamento que só será entendido pela revelação na cena final, surpreendendo pela reviravolta e mudança de perspectiva e rumos da série. Breaking Bad também começa sua quinta temporada com personagem fisicamente mudado (incluindo uma barba), mas imediatamente nos situa o momento em que se passa, e tem apenas a duração de um prólogo. E, ao contrário de Lost, em que ao menos sabíamos que certa tripulação não deveria chegar na Ilha, aqui ficamos sem a menor ideia do que aconteceu de tão grave.


Ainda é cedo para saber que tipo de abordagem Vince Gilligan e seu time de roteiristas pretendem dar ao que vemos neste início: flashforwards em pequenas doses, como vistos na excelente 2ª temporada? Um acompanhamento paralelo aos eventos “atuais”? Ou não retornaremos mais a isto por um bom tempo? O fato é que tivemos informações suficientes para criar uma enorme expectativa e muitas dúvidas.


Primeiro fato relevante: o prólogo se passa dois anos após o piloto da série, tempo demais na cronologia de Breaking Bad, considerando que apenas metade deste tempo se passou em quatro temporadas (estimativa aproximada, baseando-me que Skyler já estava grávida quando a série começa e sua filha ainda é um bebê de colo). O Walt de barba, cabelo e aspecto cansado em nada se parece com o Walt que vemos pelo restante do episódio, autoconfiante, arrogante e cheio de si; não usa a aliança que ostenta no ferro-velho, dizendo ser de ouro; tosse e toma comprimidos; mas tem dinheiro (além do pesado armamento que compra, deixa 100 dólares de gorjeta), quando no momento atual precisa pedir emprestado a Jesse.


É interessante que até o final do episódio, nada aponta para aquele momento. Pelo contrário, “Live Free or Die” resolve, de uma maneira até apressada, as pontas soltas que ainda existiam: as filmagens do laboratório são destruídas, Walt se livra da planta usada como veneno, rapidamente acerta as contas com Mike (que só é algo verossímil graças ao cuidado na construção de um relacionamento entre Mike e Jesse na temporada anterior). Walter White não tem inimigos, Hank está longe de qualquer coisa que possa levantar suspeita sobre ele, não tem sequer como recomeçar a produção de metanfetamina para ganhar dinheiro. É como se a série recomeçasse do zero, com a enorme diferença de que os personagens estão longe de serem como eram no início - e o plano inicial e final do episódio falam isso de forma maravilhosa: o bacon gorduroso contrastando com o bacon vegetariano do piloto, que o protagonista come por imposição de uma esposa autoritária que agora é “perdoada” por um marido assustador.


Curioso também que a única ponta solta que fica do ano anterior nem sabíamos que seria uma ponta solta: Ted não está morto. Mas acredito que não veremos mais o personagem, que deve mesmo manter o segredo pelo resto de sua vida. Se seu retorno na temporada passada serviu para culminar no épico final de “Crawl Space”, aqui tem uma única função: em Breaking Bad as pessoas são (e vêm a ser) aquilo que elas fazem e, ao substituir o choque e o lamento por uma fingida ameaça (“Good.” Grande momento de Anna Gunn), Skyler vê um pouco mais do inferno em que está e ganha novas camadas.


Mas como uma coisa leva a outra nesta série, uma conta bancária de Gus Fring é descoberta, apenas graças ao magnético plano de Walt e Jesse. Dificilmente será algo que leva a nossos protagonistas, mas que logo os atingirá de alguma forma – o próximo episódio se chama “Madrigal”, nome da multinacional alemã que Hank descobre estar ligada ao Pollos Hermanos.


Outras considerações:

- “Live Free or Die”, na placa do carro de Walt, é o slogan do Estado de New Hampshire, de onde supostamente vem o “Mr. Lambert”. É também o nome do episódio de Sopranos em que o personagem Vito Spatafore foge para esse Estado (se não viu a série, não se preocupe, os motivos da fuga nada têm a ver com Breaking Bad);

- Por um lado, é realmente divertido ter de volta a velha dinâmica entre Walt e Jesse tentando se livrar de uma enrascada, algo perdido na temporada anterior; Por outro, é o terceiro mirabolante e bem sucedido plano de Walt num curto espaço de tempo. Espero que as coisas se “normalizem” um pouco;

- “Yeah, bitches! Magnets!” consegue ser ainda melhor que “Yeah Mr. White! Yeah Science!”;

- Trabalho técnico sempre incrível. Destaques: a trilha sonora que dá ritmo à destruição da sala de evidências; a visita de Hank ao laboratório queimado no melhor estilo “Alien” (reparem nos cones); e os planos com a câmera dentro do porta-malas de carro, um dos mais usados por Tarantino;

- “Estamos em uma época de partículas de Deus” – imagino que a cena tenha sido refilmada para manter a atualidade?

- Como imaginado, Saul ajudou Walt no seu plano para envenenar Brock e Huell quem roubou o cigarro (ou carteira inteira) de Jesse. Não acho que a série dará mais explicações que esta;

- "O que há entre vocês?" Mike, devidamente irritado com o "Se você matá-lo, vai ter que me matar" de Jesse, algo que os dois protagonistas se revezaram em dizer um bom número de vezes na quarta temporada;

- Falando em Mike... Mike e as galinhas. Existe alguma parceria que não seja boa com esse cara?



Hélio Flores
twitter.com/helioflores

5 comentários:

Felipe disse...

Excelente texto! Eu também não curti mais um plano mirabolante do Walt dando certo assim de novo, mas fazer o que né.

PS: Pensei que eu era o único que havia lembrado do episódio 6x6 de Sopranos.

e.fuzii disse...

Realmente as possibilidades desse flashforward são imensas, mas ainda acredito que será o início da segunda parte, já que há muito a ser contado a partir daí. Claro que não dá para descartar que teremos teasers durante a temporada, como já aconteceu antes. Aliás, por falar em edição, gostei muito de quando Walt levanta de repente em seu quarto e aparece Hank investigando o laboratório destruído até desconfiar das câmeras.

Outro ponto foi a importância de Jesse nesse episódio depois de fazer as pazes com Walt. Não apenas sugerindo a ideia para o plano mirabolante (o que tira um pouco do "peso das costas" de Walt), como se colocando na frente da arma de Mike e oferecendo seu dinheiro. Não sei se deve ser a tendência desta temporada, chegando ao ponto de estabelecê-los como rivais, mas me surpreendeu porque esperava um Jesse ainda mais submisso.

Laura. disse...

Já estava ansiosa pelos seus comentários. :)

Conforme foi chegando mais perto de começar essa temporada, comecei a pensar se não estava exagerando na expectativa por essa série. É muito bom não me decepcionar; a série é realmente isso tudo e eu tenho certeza de que qualquer coisa que seja apresentada será resolvida e qualquer ponta solta terá uma resolução mais pra frente. Ótimo episódio de início (ainda que não tão marcante quanto o Box Cutter do ano passado) e prólogo instigante. Imagino que vá ser algo como o ursinho da segunda temporada ou os gêmeos se rastejando na terceira, e que a gente só vá descobrir (ou ter pistas reais) do que se trata no fim da primeira parte da temporada. Não imagino Breaking Bad fazendo algo tipo "um ano depois", acho apenas que eles tornarão a trama um pouco mais acelerada. Se bem que, confio tanto nesses roteiristas que, se houver algo como "um ano depois", tenho certeza de que será bem justificado e executado.

A única coisa que me deixou menos que empolgada nesse episódio foi a primeira aparição do Jesse. Tive a sensação de que todos os outros personagens foram sendo apresentados, um a um, conforme a trama ia se reconstruindo a partir do que ficou da temporada passada. E o Jesse, que é tão importante, surgiu de plano de fundo, já ao lado do Walt. Esperava uma introdução mais significativa pra ele. Mas acho que, no fim das contas, faz sentido: o Jesse é duplinha do Walt e não é à toa que, justo nessa cena, o Mike pergunta qual é a deles dois.

Cantadas disse...

Mad Men merece a posição que está. Uma ótima serie. Ficou muito tempo fora do ar, mas voltou com tudo.

Parabéns pelo post.

sergio disse...

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