sábado, 4 de maio de 2013

[Mad Men] 6x05 The Flood

"This is an opportunity. The heavens are telling us to change."

Mad Men já mostrou inúmeras vezes que não tem a pretensão de tratar dos fatos e ocorrências dos anos 60 como uma série histórica. É antes um drama de época, focado em personagens que vivem neste período de profundas mudanças. Porém, alguns eventos tornam-se tão marcantes para a sociedade americana que é impossível ignorar o impacto que também causariam nesses personagens. O assassinato de Martin Luther King certamente é um desses casos e, por chegar também agregado a toda luta pelos direitos dos negros, já era antecipado por muitos como um ponto importante na história. Assim, a introdução de alguns personagens negros, até em posição de destaque como no caso de Dawn, contribuíram para aumentar ainda mais a expectativa por esse momento. Mas Mad Men não perde sua essência, e apenas reforça que esse grupo de personagens, em sua maioria brancos, não estavam prontos para lidar com uma tragédia como essa. Podemos resumir nesse abraço de Joan em Dawn no dia seguinte, envolvendo toda uma constrangedora "culpa branca". Por isso, com temas tão diferentes, em períodos tão distintos, não parece muito justo estabelecer qualquer paralelo com The Grown-ups, o episódio que tratava da morte de Kennedy, a não ser pelo cuidado ao revelar essa tragédia ao público. Durante uma premiação de publicidade, nada menos do que Paul Newman acaba sendo o porta-voz da notícia na cerimônia, pegando todos de surpresa, dando início à tensão e a uma busca frenética por maiores informações. Outro fato curioso é que naquela ocasião Peggy prefere trabalhar no dia seguinte para evitar o clima de luto em sua casa, assim como Dawn provavelmente prefere passar o dia na SCDP, mas dessa vez consola sua secretária dizendo que ninguém deveria estar trabalhando neste dia. Mas as comparações terminam aí, já que o sentimento é outro, não existe um desejo de superação, um amadurecimento da sociedade, os personagens simplesmente parecem perdidos tentando entender o significado dessa tragédia.

Se na semana passada reclamava da falta de Ginsberg na série, esse episódio retoma sua história através de um encontro arranjado pelo seu pai, com uma professora judia. Durante o encontro a notícia surge, e eles acabam cancelando o jantar, Ginsberg volta para casa e seu pai cita a passagem da Arca de Noé, a inundação que dá título ao episódio, dizendo que em momentos assim as pessoas tem de escolher alguém para se apegar. Ou a alguma coisa, como é o caso de Harry, que lamenta os programas e horários comerciais perdidos na televisão por conta da cobertura dessa tragédia. Pete se revolta com essa postura do colega e chega a chamá-lo de racista, para logo revelar quanto é hipócrita, pouco se importanto com os direitos dos negros, mas por tratar-se de um homem de família assassinado. Da mesma forma, Pete tenta aproveitar a delicada situação para voltar para casa e consolar sua família, mas Trudy continua irredutível. Henry Francis vê uma chance aparecer para tentar a candidatura ao Senado por reprovar a postura de seu prefeito, tentando acalmar os ânimos em meio ao caos na cidade. Já Peggy, que abre o episódio de costas num radiante vestido amarelo, naquele famoso ângulo usado para retratar Don (e é cada vez mais interessante o quanto tentam fazer paralelos com ele durante essa sua ascensão), para depois ampliar o foco para o apartamento de seus sonhos e seu futuro com Abe. Aproveitando o momento turbulento, sua corretora tenta especular mais do que devia e acaba perdendo na negociação. Mas isso parece até providencial, já que dá a chance de Abe opinar sobre essa mudança de vizinhança, revelar seus projetos para o futuro e encher Peggy de esperança. Talvez minhas suspeitas de que esse relacionamento tivesse vida curta estavam equivocadas.

Na SCDP há ainda a visita de Randy, um estranho agente de seguros (tão estranho que não consegui deixar de lembrar de Ethan e a iniciativa Dharma), tirando proveito dessa tragédia para sugerir uma mudança nos negócios. Nada de muito substancial por enquanto, mas pela sua relação próxima a Roger, deve ser alguém importante nos próximos episódios. E Don Draper? Seu monólogo sentado na cama para Megan foi certamente bastante emocionante, embora fosse um daqueles momentos que Mad Men parece se render às palavras óbvias demais. No entanto, não sei exatamente relacionar com o tema do episódio, a não ser pela sua visita ao cinema com Bobby, assistindo ao mundo chegar ao fim na versão original de Planeta dos Macacos. Charlton Heston vagando pela Terra vazia no final parece um sinal do caminho de solidão que Don está se destinando. Embora não houvesse qualquer implicação da briga da semana passada com Megan, sabemos que o casamento continua passando por problemas. Sua maior preocupação é com Sylvia em Washington, e ele tenta fazer contato de todas as maneiras possíveis, mas sem qualquer sucesso. Agora quando ele revela finalmente conseguir estabelecer algum vínculo afetivo com seu filho, a preocupação dele em meio a seus pesadelos é pela sobrevivência de seu padrasto. De repente, a suspeita de que Don Draper precisaria de mudanças de postura e pensamento para acompanhar o ritmo frenético desse período já não parecem ser mais suficientes. Ele e tantos outros personagens que desfilam sua insensibilidade ao longo do episódio, precisam de mudanças bem mais profundas em seu próprio caráter.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
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