sexta-feira, 19 de março de 2010

[LOST] 6x08 Recon

por e.fuzii
Assim que soube que Sawyer teria um episódio como personagem principal, fiquei curioso para saber como encaixariam sua história nesse conceito de realidades "paralelas". Isso porque LaFleur já havia sido, na minha opinião, a mais perfeita forma de redimir um personagem na série e até alcançar sua redenção. Por sorte, foram sensatos em nem tentar por um momento usar dessa carta novamente. Como essa realidade alternativa sempre deixou claro com as constantes referências ao espelho, estamos basicamente diante de um reconhecimento (assim como também sugere esse título), ou seja, tentando perceber aquilo que mudou na vida desses personagens na ausência da Ilha e, muito provavelmente, de Jacob. Não é qualquer série que pode se dar ao luxo de, após cinco temporadas, decidir jogar seus principais personagens nas situações mais inusitadas sem cair numa paródia de si própria e, acima de tudo, não perder a essência de cada um deles. Por isso, não posso deixar de reconhecer os méritos de Lost, em pelo menos arriscar-se a propor uma outra forma de investigar seus personagens, ainda mais tão perto de sua conclusão. Essa semana, acompanhamos um outro James Ford, ainda atormentado pela morte dos pais após o golpe aplicado por Anthony Cooper -- o que só me deixou mais intrigado com sua relação com Locke --, mas que decidiu seguir a carreira de policial para canalizar esse seu desejo de justiça. Mais uma vez uma decisão que muda os rumos de seu destino. Se no passado James chegou a garantir a Charlie que nunca havia feito algo de bom em sua vida, nesse cenário ele não é capaz de sequer encarar sua imperfeita imagem refletida no espelho, carregada pela culpa de ter mentido ao seu parceiro Miles. Confesso que essa trama só ficou mesmo interessante por investir nessa dinâmica dos tempos áureos de Iniciativa Dharma. Desde sua primeira cena, quando James prende uma criminosa num quarto de hotel, acompanhamos intensos jogos psicológicos e de confiança, tanto na Ilha quanto em Los Angeles, como já era esperado num episódio centrado em Sawyer. No entanto, não posso deixar de reconhecer que essa aparição de Charlotte pareceu também outro golpe aplicado nos espectadores. Além da condição absurda de encontrar a pasta com informações confidenciais acidentalmente numa gaveta de James (o último lugar que ele deixaria alguém mexer), sua participação terminou sem propósito algum. Desconfio até que ela estivesse substituindo Cassidy, já que a atriz Kim Dickens está comprometida com as filmagens da aguardada série 'Treme', de David Simmons. Mas a maior frustração foi que, ao contrário da maioria dessas histórias de 2004, essa não me pareceu ter um sentido de conclusão. Podemos até especular que esse encontro final com Kate seja o pontapé inicial para que a conexão entre essas duas linhas do tempo comece a ser revelada, já que quando Sawyer facilita sua fuga no aeroporto, fica a impressão de que os dois possam ter lembranças além daquela realidade. Mas para desespero de alguns esse final talvez seja indício de mais um episódio focado em Kate pela frente…
Porém, enquanto James relutava em contar a verdade para seu parceiro em 2004, Sawyer abusou exatamente de sua sinceridade para ganhar a confiança tanto do UnLocke quanto de Widmore. E nesse caso, mesmo cumprindo seu desejo de matar Anthony Cooper, sabemos que ele nunca alcançou a paz por conta disso. Muito pelo contrário aliás, já que tentam manipulá-lo de todos os lados agora. Enviado numa missão de reconhecimento na ilha onde se localizava a Hydra, Sawyer se depara com a jaula onde ficou preso frente a frente com Kate, com o vestido dela ainda ali pendurado. Não acredito que essas memórias trouxessem de volta toda aquela paixão, mas talvez fossem a certeza de que ele não precisaria terminar (ou "morrer") sozinho nessa realidade. Ao contrário dos outros sobreviventes, que escolheram um dos lados para praticamente apostarem suas vidas, Sawyer prefere jogar esses oponentes um contra o outro para buscar seu próprio objetivo: partir da Ilha levando aqueles com quem ele realmente se importa. Resta saber quanto tempo ele conseguirá permanecer neutro nessa disputa. Com a chegada de Charles Widmore, mais dúvidas também surgem, principalmente quando lamenta que Sawyer saiba tão pouco sobre ele. Mas chega mesma a ser bastante confuso que após toda aquela disputa com Ben pelo controle da Ilha no passado, ele volte justamente para atrair o UnLocke para uma armadilha. Tudo leva a crer também que Desmond (sozinho ou acompanhado) esteja preso com os cadeados naquele compartimento secreto do submarino, embora minha torcida por isso provavelmente prevaleça sobre uma análise mais sensata.
Já a relação entre Kate e Claire, que vinha a cada semana ficando mais tensa, pode ser resumida para mim na confusa direção (assinada pelo competente Jack Bender, diga-se) de uma cena envolvendo o grupo liderado pelo UnLocke. Quando ele revela àqueles que "resgatou" no Templo que o restante morreu vítima do monstro de fumaça, sua primeira reação é acalmar as crianças, quase como num instinto paterno. Mas nesse momento, a câmera perde totalmente o sentido e decide focar na estranha tentativa de Claire em pegar na mão de Kate. Apesar de achar engraçado o fato de Sayid nem reagir quando Kate estava em perigo, o que me preocupa é essa situação de loucura ser confortável demais para explicar qualquer reação de Claire ou Sayid -- como já aconteceu com ele anteriormente, aliás. E principalmente pelas duas mulheres estarem riscadas na lista de candidatos, essa disputa pela guarda de Aaron acaba sendo um tanto quanto dispensável no contexto geral. Vale a pena talvez pela tentativa do UnLocke de acalmar os ânimos das duas e mostrar até certa humanidade ao revelar a Kate que também sofreu com uma mãe perturbada, ainda que suas lembranças pudessem se confundir com as do próprio Locke. Mesmo suas razões para canalizar o desespero de Claire para fazer o seu bem, deixando-a procurar seu filho inutilmente com os Outros, me pareceram bastante dignas. Mas nada mais interessante do que a forma como ele descreve os problemas que enfrentou durante a vida e que ainda não conseguiu superar, mas poderiam ter sido evitados numa situação diferente. Não são afinal, esses tipos de problemas que todos esses personagens tiveram de lidar durante o decorrer da série? E não é nessa realidade alternativa que muitos deles encontram enfim uma nova chance?

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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