domingo, 10 de abril de 2011

[The Killing] 1x01 Pilot - 1x02 Cage

Em mais uma aposta do canal AMC para diversificar sua programação, The Killing é a adaptação de uma série dinamarquesa de bastante sucesso, que já chega portanto, trazendo um clima de poucas novidades. A criadora da série original alia-se com produtores conhecidos por Cold Case, por exemplo, para trazer um drama que reúne a tradicional investigação de um assassinato em que todos passam a ser suspeitos, com a repercussão dessa tragédia na vida dessas pessoas. Embora já se saiba que o desfecho será diferente do original, inclusive com um outro assassino, a redução de 20 episódios para 13 pode ser a garantia de que a série será capaz de manter esse suspense enquanto investe na profundidade dos personagens. Talvez fosse exatamente enxergando a possibilidade de agradar dois tipos distintos de público que os executivos da AMC decidiram bancar a produção. Mas já no seu episódio piloto essas diferenças chegam a causar contradições que podem vir a ser motivo para certa preocupação.

Até agora o grande destaque pra mim em The Killing parece ser o elenco, fundamental por exemplo, para sensibilizar o espectador com o drama vivido pela família Larsen. O casal é interpretado com muita competência por Brent Sexton e pela sempre formidável Michelle Forbes, que logo de início estão sufocados pelo desaparecimento de sua filha e depois são obrigados a enfrentar todas as consequências de sua morte. Porém, enquanto essa relação pede por um senso de imersão do espectador, exigindo ao menos um mínimo de compaixão pela família, por outro lado cenas inteiras chegam a ser armadas pelos roteiristas apenas para confundir e enganar o espectador, dando falsas pistas do paradeiro da garota. Tudo isso tentando armar um clímax para o final da primeira hora, quando Rosie Larsen é finalmente encontrada morta no porta-malas de um carro, ao som de uma trilha de extremo mau gosto, quase que glorificando esse acontecimento. Já na segunda hora, esses problemas parecem minimizados e pode-se enfim investir no drama do casal, como na tocante cena em que são obrigados a revelar aos filhos o destino de sua irmã mais velha.

A dupla de investigadores pode não ser das mais atraentes ou mesmo carismática, mas mostra uma tendência a se complementarem, mesmo não apresentando qualquer novidade: Linden faz o estilo disciplinado, disposta até mesmo a atrasar sua mudança para San Diego para concluir este caso, enquanto Holder é o novato imprevisível, que por alguns momentos chega a abandonar o protocolo. Quando Holder, por exemplo, parece querer tirar proveito das garotas do colégio, flertando e oferecendo maconha a elas, mostra-se na verdade interessado em extrair informações que acabam levando à tal jaula escondida no porão. Todas essas investigações criminais retratadas na televisão, principalmente nos procedurais que assolam a televisão aberta americana, trafegam sempre numa fina linha que separa o implausível através de soluções forçadas e a própria perspicácia de seus personagens. Mas por enquanto, a dupla de investigadores de The Killing tem conseguido sair ileso neste quesito, como no caso de Linden, demonstrando toda sua sagacidade ao fazer rápidas associações, como a bicicleta na casa dos Larsen, ou até se antecipando aos planos de Richmond.
Embora fosse difícil evitar qualquer comparação com Twin Peaks, não só pela trama envolvendo a morte da jovem, como por todo clima soturno da região noroeste dos EUA (a série é ambientada em Seattle), o próprio poster de divulgação já aproveita para sanar essa dúvida de um espectador mais experiente. Não que isso fosse um problema, até porque a série de Lynch tinha peculiaridades muito mais interessantes do que a estrutura whodunnit que lhe envolvia. Mas assim como toda história envolvendo um assassinato, todos os personagens tem algum segredo que tentam esconder: o casal Larsen acampava incomunicável durante o final de semana, a melhor amiga de Rosie tem um pavor fora do normal pelos policiais, seu ex-namorado é por si só uma encrenca, etc. A única trama que desvia um pouco dos principais clichês neste tipo de produção, sendo por isso a menos previsível até então, é a que envolve a campanha para prefeito de Darren Richmond. Além de ter um carro de sua campanha ligado ao assassinato, ele ainda conta com um misterioso passado envolvendo a morte de sua mulher, aparentemente de um modo bem parecido ao da jovem. Os bastidores de corridas eleitorais normalmente rendem histórias interessantes, mas ainda fico curioso para saber como isso poderá ser utilizado para beneficiar a investigação do assassinato, além do fato dos próprios assessores de Richmond serem também suspeitos do crime. Ainda parece cedo para dizer por quanto tempo a série poderá prender a atenção de seu espectador com esse mistério principal, mesmo que a série seja mais enxuta em relação à versão original, mas só pelas amplas possibilidades deixadas pelos seus personagens já neste início, acho que é merecido dar um voto de confiança a The Killing por enquanto.

Fotos: Divulgação.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

Um comentário:

Celia Kfouri disse...

Eis uma série que me enchi de coragem para assistir. Baixando! E depois eu volto.