quarta-feira, 31 de agosto de 2011

[Breaking Bad] 4x07 - Problem Dog


“How close were you to him?” – Walt

“Close… closer than you and me right now.” - Jesse


- Nós temos Walter White. Que, como já vimos antes, vem tendo as atitudes mais imaturas e irresponsáveis, ao sentir a pressão em não saber o que Gus lhe reserva, em ter Skyler no seu pé controlando seus comportamentos, em ver Jesse se aproximar cada vez mais de seus inimigos. Nada mais típico, então, que vê-lo extravasando com o carro (talvez se tivesse feito isso antes no kart com Jesse as coisas estivessem um pouco diferentes), torrando dinheiro de forma que nem esposa e o filho saibam. Cena engraçada: imaginamos que o carro explodirá enquanto Walt dá as costas para ele (afinal, "cool guys don't look at explosions"); mas Heisenberg está longe de ser perigoso como os primos de Tuco, que tiveram cena semelhante na temporada passada, e o que vemos é um homem em atitude infantil, sentado, olhando seu brinquedo indesejável ser destruído. Puro capricho. Walt também insiste com seu plano em eliminar Gus e mais uma vez temos a ricina como meio. Fico curioso pra saber se alguém na série um dia morrerá envenenado desta forma, algo que Walt nunca conseguiu concretizar.


- Nós temos Jesse Pinkman. Que já teve que lidar com a morte de Jane, com a morte do irmão de Andrea e não consegue superar a morte de Gale por suas próprias mãos. Claro, as coisas estão melhores desde que Mike e Gus o fizeram se sentir útil. Antes disso o personagem estava à beira do QUIT, mas agora é possível clicar em RESTART. Mas isso não o impede de ainda se questionar e se julgar pelo que fez, principalmente depois que mais uma vez Walt lhe pede para matar. Sua lealdade está abalada (não a ponto de se virar contra Walt, isso ainda demoraria bastante; talvez apenas se soubesse sobre Jane) e se vê completamente perdido. A ordem do dia é "olhos abertos e boca fechada" e o que Jesse veste é uma camiseta em que o rosto não tem nem olhos nem boca. Questão de tempo, então, que voltasse ao grupo de ajuda, numa dessas sequências de monólogo em que Aaron Paul sempre impressiona, aqui presenteado por um roteiro de diálogo forte transformando a história de Gale na história de um cachorro que fora abatido. A perplexidade e a dor de Jesse são perfeitamente sentidas à medida em que as pessoas do grupo começam a questionar qual era o problema do cachorro, e não há resposta pra isso. A cena é intensa, comove pela atuação (Paul pode perfeitamente enviar este episódio para o Emmy) e impressiona na composição realista de como um grupo desses se comporta, dos questionamentos e comentários dos usuários, passando pela forma como age o coordenador.


- Nós temos Hank Schrader. Que começou a série quase como um bobo da corte e foi ganhando importância e nossa simpatia. Porque apesar de bobalhão, Hank sempre se mostrou capaz e perspicaz, a um passo de descobrir a verdade sobre Walt. E quando se pergunta o que um vegetariano como Gale faria num lugar como Los Pollos Hermanos no final de "Shotgun", lamentamos que ele não apareça no episódio seguinte. Só para nos surpreender aqui: aparentemente uma missão de reconhecimento com Walter Junior, até soa falso ele suspeitar tão rapidamente de Gus (e observem como Hank bebe seu refrigerante tendo o cuidado de segurar o copo apenas pela tampa), para no final o personagem nos jogar na cara que apesar de ausente no episódio passado, sua investigação não parou. É só mais um fator incrível deste excepcional time de roteiristas: estar ausente da trama não significa que um personagem está estagnado, esperando cumprir um papel quando for conveniente. É curioso também notar o paralelo com o episódio 7 da temporada anterior, o já clássico "One Minute", que também trouxe Jesse e Hank como protagonistas, o primeiro em outro grande monólogo, o segundo passando por seu pior momento e aqui dando a volta por cima, inclusive mais capaz de se locomover.


- Nós temos Gustavo Fring. Que nos foi apresentado como um modesto gerente de filial do Los Pollos Hermanos e que aos poucos se mostrou um poderoso, inteligente e implacável chefão do crime. Sempre admiramos - e comentei isto no texto anterior - a discrição de Gus, atendendo clientes do Los Pollos, um escritório simples, o lixo que ele mesmo retira. Doce ironia: não fosse tamanho disfarce, talvez Hank não conseguiria tão facilmente suas digitais. E a investigação se fecha sobre ele exatamente quando o Cartel recusa uma negociação (esnobando os 50 milhões de dólares oferecidos) e ainda com Walt e um vacilante Jesse em seu encalço. O Cartel quer apenas um "sim" ou "não" como resposta para algo que causa desconforto em Gus. Enquanto via o episódio, eu não tinha dúvidas que se tratava de Heisenberg morto, o que daria peso ainda maior à decisão de Jesse - se ele tivesse seguido a orientação de Walt (e Gus bebe o café), não haveria mais quem os protegessem do Cartel. Mas a verdade é que não fica claro e com uma série tão surpreendente como Breaking Bad, pode ser algo completamente diferente.


- Nós temos Skyler White. Que passa a temporada entrando aos poucos no mundo de Walt, e agora com o lava-a-jato já comprado, é hora de colocar a mão no dinheiro. Há quem critique o tempo que a série tem levado para desenvolver toda esta trama, mas é o cuidado necessário para que a transição da personagem seja o mais realista possível. E nada contra estas pequenas cenas, tão bem construídas - do beijo desajeitado em Walt na frente de Marie à sua preocupação coerente com o tanto que seu marido fatura, não duvido que ainda veremos minuciosamente todo o processo de lavagem de dinheiro.


- Nós temos Walter Junior. Que esperávamos alguma cena dramática envolvendo a devolução do carro, mas o que temos é apenas a sua aceitação a contragosto, conversando com Hank. E é uma conversa importante, pois graças a intervenção de Skyler, a história do carro comprado mas que teve que ser devolvido pois foi um capricho de pai que teve compaixão pelo filho, acaba sendo perfeitamente plausível para Hank, que se não afasta suspeitas de Walt, também não as acumula. Outro ponto interessante envolvendo Walter Jr. é o convite que Gus faz para que ele trabalhe no Los Pollos. Talvez rendesse algo, com um conflito entre pai e filho, mas com Hank na cola de Gus, somente uma incrível rebeldia de Jr. para que isso acontecesse. Mais um golpe esperto do "chicken man".


- Nós temos Mike. Que continua se aproximando de Jesse, confiando-o uma arma durante momento tão importante como o encontro com o Cartel e se disponibilizando para ensiná-lo a atirar. Ainda assim, é sempre com cuidado, sabendo o quanto Jesse é ligado a Walt, mas não resta dúvidas de que sua simpatia só aumenta e que isso terá um peso maior no futuro.


- Nós temos Saul Goodman. Que tem aparecido pouco, mas sempre de forma essencial e engraçada ("epic fail!"), servindo como conselheiro e suporte para Walt, tanto na resolução de seus caprichos quanto para desabafo. É através dele que Walt fica sabendo do encontro que seu parceiro teve com Gus e apenas porque Saul ainda sente medo de Mike e está sempre questionando Jesse. E é curioso termos uma visão do cofre dele, onde há mais gravações do que dinheiro. Qual trunfo Saul teria nas mangas?


- Nós temos Marie Schrader. Que depois de um maior destaque nos primeiros episódios da temporada, não tem aparecido com frequência. Mas aqui tivemos um breve momento com seu marido que mostra como anda a dinâmica entre os dois, não muito diferente, embora melhorando aos poucos: Hank sendo grosseiro pela milionésima vez e ela retribuindo com um beijo e desejo de boa sorte. O suficiente para deixá-lo desconcertado. Importante também notar sua cena com Skyler, quando por muito pouco Marie não comentou sobre o que mais tem deixado Hank animado (talvez se Walt não tivesse interrompido). Imagino que chegará o momento em que Skyler atrapalhará a investigação do cunhado.


Um episódio como este “Problem Dog” impressiona, dentre muitos outros motivos, por mostrar todos os personagens importantes da série (além do Cartel, também tivemos o retorno de Gomez e do chefe de Hank, que podem ou não ter envolvimento com Gus) e como as relações entre eles estão cada vez mais estreitas e problemáticas. Fascinante (e triste) pensar que da forma como as coisas estão se desenvolvendo, parece impossível que todos eles sobrevivam para a quinta temporada.


Porque não há dúvidas que a partir de agora tudo ficará muito, muito feio.



Hélio Flores
twitter.com/helioflores


Um comentário:

Agatha disse...

Belíssimo texto! bravo!