sexta-feira, 4 de maio de 2012

[Mad Men] 5x07 At the Codfish Ball

"Dirty."

Talvez seja cedo demais para garantir isso, só agora atingimos a metade da temporada, mas tudo leva a crer que Sally Draper será a principal voz desse ano. Afinal mesmo com curtas participações (no episódio anterior ela apareceu em uma única cena de flashback) Sally, em sua inocência ainda infantil, consegue sempre expor aquilo que todos parecem querer esconder ao seu redor. Ela lembra até um narrador-personagem, através de um ou outro recurso narrativo, comentando as mudanças acontecendo em seu mundo. Muitos espectadores ainda temem seu futuro, mas para mim, já que sua maturidade confunde-se com as próprias transformações dos anos 60, Sally é quem mostra maior capacidade de se adaptar enquanto cresce, ao contrário de quem precisa abandonar tantos vícios. Sua constatação final, sobre a condição suja da cidade, é algo aparente para todos os outros personagens mas que nenhum deles tem coragem de dizer, ou mesmo vontade de ver. Sally está cada vez mais solitária, com a mãe ausente (os roteiristas estão prestes a esgotar todas as desculpas possíveis para manter Betty fora da série) e seu pai mais preocupado com sua nova vida na cidade. Além disso, essa idade de transição é bastante delicada, tanto por suas fantasias serem desmanchadas pouco a pouco (a entrada triunfal no baile por uma escada enorme, por exemplo) como por ainda não poder se portar como adulta. Na festa em que Don recebe um prêmio pela sua carta anti-tabaco, ela termina esquecida na mesa, tendo de se contentar com o peixe que despejam em seu prato, e até uma simples ida ao banheiro representa o perigo de se deparar com a promiscuidade escondida por trás da primeira porta que se abre. Por mais traumático que isso possa ser, Sally ainda tem todo tempo para superar, ao contrário das outras filhas a aparecerem no episódio: Megan e Peggy.

Megan finalmente recebe a visita de seus pais, que parecem viver um relacionamento bastante turbulento. Emile é o típico escritor decadente, que provavelmente escreveu uma grande obra na carreira e nunca mais fez sombra a esse sucesso em suas publicações seguintes. Já Marie aparenta uma constante frustração. Dá para entender por que ela se casaria com Emile, mas o tempo parece ter desgastado a relação a ponto dela não aguentar a implicância do marido com tudo. Mesmo que estivesse o tempo inteiro nesse fogo cruzado dos pais, Megan ainda arranja tempo neste episódio para se destacar em seu trabalho, ao sugerir uma nova abordagem para o comercial da Heinz, baseado no jantar em família da noite anterior. Impressionante não apenas pela ideia, mas também na apresentação improvisada frente ao cliente em um jantar informal, quando Megan percebe que a SCDP está prestes a ser dispensada. A virada de jogo é incrível, principalmente pela sintonia com Don -- num apelo nostálgico que é o estilo dele -- como se tivessem ensaiado por semanas, cada palavra, cada gesto, cada interação com o cliente. Eles chegam até a induzí-lo a pensar que a ideia de colocar os mesmos atores para interpretar mãe e filho em todas as cenas fosse inteiramente dele. Mas apesar de acender uma chama de amor nos Draper enquanto retornam para casa, o entusiasmo de Megan parece desaparecer aos poucos na manhã seguinte. Por um lado, mesmo que seja reconhecida pelos demais funcionários da agência, Megan teve de abrir mão da total autoria do comercial frente ao cliente, principalmente porque Don (ou outro homem qualquer, Peggy que o diga) certamente seria mais convincente para ganhar sua confiança. Por outro lado, Emile se mostra extremamente decepcionado na festa pela filha ter abandonado seus sonhos para escolher o caminho mais fácil, a vida de luxo que Don pode proporcionar. Em outras ocasiões Megan já havia hesitado quando ganhava espaço na agência, e agora entendemos o porquê: ela ficava cada vez mais distante da carreira de atriz.

Peggy também se mostra confusa quando Abe propõe que passem a morar debaixo do mesmo teto. Afinal, por mais moderna que possa ser, Peggy ainda não sabe lidar prontamente quando sente seu conservadorismo sendo ameaçado. A mensagem contida na tal campanha da Heinz, certos costumes que são passados de geração em geração, funciona como um excelente paralelo para a postura de Megan e Peggy em relação aos seus pais. São aquelas rígidas estruturas que regem nossa sociedade, que por mais que sejam chacoalhadas, sempre permanecem intactas. Peggy desafia um destes tabus quando convida sua mãe num jantar em seu apartamento, a fim de contar a novidade. Com certeza ela já era capaz de prever a reação de sua mãe, só não esperava que fosse além da questão da união pecaminosa vista aos seus olhos, mas uma preocupação pela filha não estar sendo valorizada como merece. Joan, agora a mulher madura da SCDP, tem papel fundamental para ajudar Peggy a entender seus sentimentos, tanto convencendo que o jantar especial com Abe é sinal de boas notícias, quanto provando depois que um documento assinado pode não ter valor algum. Peggy também oferece seu apoio a Megan na manhã seguinte ao triunfal jantar. Embora com um texto óbvio demais -- Peggy se esforçando para explicar que não deveria sentir inveja --, ela aconselha que Megan aproveite o máximo de prazer que esse trabalho poderia lhe proporcionar. Há um tempo atrás era Don quem dava esse conselho para sua aprendiz. Acho realmente admirável essa união feminina durante o episódio, porque mesmo em um contexto mais moderno, não deixa de representar esses ideais já sendo passados entre diferentes gerações. Afinal, entre tradições antigas e tentações modernas, somente unidas essas personagens serão capazes de atravessar essa época, saindo da penumbra dos bastidores ("Go get 'em, Tiger!") para finalmente abrir suas asas e voar livremente.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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