quinta-feira, 10 de maio de 2012

[Mad Men] 5x08 Lady Lazarus

"Surrender to the void."

Depois de cinco temporadas acompanhando Don Draper em Mad Men, era possível que qualquer espectador antecipasse sua reação quando colocasse para ouvir a última canção do revolucionário disco dos Beatles, Revolver. Sozinho em seu apartamento, confortavelmente reclinado em sua poltrona, entre o som de cítaras, cantos de pássaros e vozes distorcidas, Don certamente iria preferir o barulho da cidade entrando por suas janelas. Ele chega a confessar pouco antes para Megan que não entende o apelo da música pop na publicidade da época, e sente que está ficando ultrapassado. Pode parecer uma constatação explícita demais, indo direto naquilo que temos acompanhado, mas essa temporada tem apresentado cada vez mais esse tipo de discurso, como por exemplo, Roger analisando seu casamento com Mona no episódio anterior. Os tempos são outros e todas as mudanças tornam-se mais evidentes, fica impossível tentar contornar. O episódio piloto mostrava Don revertendo os malefícios do cigarro criando uma campanha em que provocava e confundia seu consumidor, mas nos últimos tempos ele mesmo teve de se render aos apelos da sociedade do câncer e publicar sua famosa carta anti-tabaco. O cliente, já seduzido pelas comerciais de televisão, não se contenta mais apenas com uma ideia, ele quer também entender a execução. Ginsberg chega a arrancar aplausos de seu cliente pela performance do clipe dos Beatles. Novos negócios chegam à empresa pela promessa de uma atuação convincente do casal do momento, Don e Megan. Mas Megan, como vinha demonstrando nos episódios anteriores, não está satisfeita com esse sucesso.

Era previsível que ela abandonasse a carreira publicitária, mas não deixa de ser uma decisão corajosa por parte dos roteiristas, principalmente pela comodidade de ter Megan sempre presente, convivendo com Don e os outros funcionários da SCDP. Embora não houvesse necessidade de prolongar tanto sua "despedida", o mais interessante foi a reação dos outros personagens diante dessa decisão, cada um refletindo sua própria condição na agência. Stan, que tem aparecido como coadjuvantes em todas as apresentações para clientes, culpa a profissão pela sua desistência, por não valer a pena se preocupar por tão pouco. Peggy acredita que tenha sido dura demais, mas também não enxerga outro modo de lidar com essa situação que Don lhe colocou. Para Joan, Megan está apenas aproveitando as boas condições que seu casamento oferece, algo que ela também procurava quando se uniu a Greg -- caso ele fosse bem sucedido em sua carreira. Já Don vive durante o episódio um longo processo de aceitação. Em um momento de fúria, após o fracasso da apresentação ao lado de Peggy, ele chega a culpar a pressão dos colegas na agência, lembrando que Megan havia reclamado deles no início da temporada, certamente transparecendo sua própria insatisfação com o trabalho.

Megan vinha sendo nesta temporada uma forma de desviar a atenção de Don dos assuntos da agência, e os poucos momentos que ele se sentia motivado eram justamente ao lado de sua mulher. Mais do que isso, Megan era sua passagem para essa nova geração. Na simbólica despedida do casal, isso não poderia fazer mais sentido: enquanto Megan embarca no elevador em busca de novos desafios, Don termina encarando um fosso vazio. Poderia ser apenas obra do acaso, um destino irrevogável. Mas não foi o próprio Don Draper quem escolheu por esse destino? Joan estava certa em prever que Megan se tornaria uma nova Betty? Roger sugere que ele tente estabelecer uma rotina para esse relacionamento funcionar, mas bastam duas noites para Don perceber que isso não depende só dele. Na primeira, ele parece satisfeito em encontrá-la em casa preparando seu jantar, mas na segunda, o encontro é breve até que ela tenha de sair para sua aula de interpretação. Megan diz que era assim que imaginava que ele seria como marido, mas pela reação de Don, ele não parece ter essa mesma convicção.

Pete volta neste episódio, depois daquele nocaute sofrido, para ser confundido novamente pelas suas fantasias. Dessa vez elas surgem ao encontrar Beth (interpretada por Alexis Bledel, que me isento de comentar por Gilmore Girls ser uma de minhas séries favoritas), a mulher de Howard, seu companheiro de trem a caminho da cidade. Pete parece chocado com a indiscrição dele, que é capaz de alugar um apartamento na cidade para manter uma de suas amantes. Depois de uma carona e sexo casual na própria sala de Beth, Pete enxerga neste relacionamento a maneira ideal de solucionar os problemas dos dois. Afinal, ele assume que ambos estão infelizes em seus respectivos casamentos. Sua obsessão é tanta que até se arrisca ao demonstrar interesse pela oferta de Howard, só para ter poucos minutos com Beth, roubar-lhe um beijo, mandar um recado. Como um adolescente sufocado por uma paixão juvenil. Mas seus sonhos são dissipados como o coração desenhados por Beth no vidro embaçado. Durante toda a temporada um aspecto sombrio parece envolver Pete, nos seus pertences, suas conversas, seus desejos. Pelas constantes decepções, não seria demais esperar pelo pior. O próprio título do episódio é baseado em um poema de Sylvia Plath contemplando o suicídio. Por mais que alguns até torçam por isso, acho que a série só tem a perder com a saída dele, principalmente agora que a dinâmica na SCDP com Megan ficou para trás. Mas como Mad Men nunca se baseou em grandes acontecimentos dramáticos, deve ser apenas um mau presságio, como no caso do falso alarme com o câncer de Betty.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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