segunda-feira, 13 de agosto de 2012

[Breaking Bad] 5x03, 5x04 - Hazard Pay, Fifty-One


 

 
“Just because you shot Jesse James, don't make you Jesse James” – Mike

“What are you waiting for?” – Walt
“For the cancer to come back” - Skyler


Uma das coisas mais fascinantes em Breaking Bad, e que a diferencia de toda e qualquer série atual que tem o suspense como gênero, é como os roteiristas se preocupam mais em dar uma continuidade natural e realista à trama do que gerar o suspense propriamente dito. Não há elementos novos (como uma nova ameaça a cada temporada de Dexter) que não sejam consequência dos atos dos personagens, não há mistérios que precisam ser mantidos por um tempo (como em The Killing), não há ambiguidade de personagens (Homeland), e mesmo um recurso como o flashforward não é desculpa para gerar interesse na série, fazendo dele um fim em si mesmo (como a esquizofrenia porca de Damages). Na verdade, em relação à cena que abriu a temporada, é incrível que metade desta primeira parte já se foi e nada parece nos levar a ela, e apenas somos lembrados pela tradição do bacon no aniversário de Walt e o relógio com seu tenso tic tac anunciando dias piores.


Não, o grande trabalho da equipe de Vince Gilligan é priorizar uma certa ordem “natural” das coisas e pensando como essa verossimilhança pode ter uma boa dose de tensão e suspense. E, claro, com bastante imaginação. Se Walt e Jesse precisam voltar aos negócios, não dá pra simplesmente escolher um novo local de trabalho. É mais “realista” mostrar a dificuldade de se achar um lugar ideal (não sem humor, com Saul tentando empurrar o laser tag abandonado que já havia tentado antes e que serviu de abrigo pra Jesse no fim da 3ª temporada) e terminar na brilhante ideia do “laboratório intinerante”. Da mesma forma que manter um negócio desses passa por uma série de dificuldades e pagamentos, algo inesperado para o arrogante Walt, o que acaba servindo de conflito entre ele e Mike.


E assim a série segue a passos lentos, dando importância aos detalhes, mas fazendo de cada cena um momento dramático intenso, sempre focando nas exigências da trama, sem sentir a necessidade de dar destaque a um ou outro personagem: se Skyler é o centro das atenções agora, é porque o momento exige; assim como Mike protagonizou um episódio quando era necessário mostrar as investigações que levaram a Madrigal, e Jesse pouco tem a fazer, mesmo sendo um protagonista da temporada anterior.


Tudo isso, claro, com Walter White como centro gravitacional. O que importa é sua derrocada e como ele leva a todos para o inferno. Nisto, “Hazard Pay” e “Fifty-One” são exemplares. Nos atos maiores, fingindo se importar com Jesse, mas envenenando seu relacionamento com Andrea (ele nem se importa quando o “amigo” diz que terminou com ela) ao menor dos atos (observem como ele abre a gaveta e joga as roupas de Skyler pra um canto, pra colocar as suas próprias), Walt acua, manipula e aterroriza seus próximos, simplesmente porque pode, já engolido por seu ego e orgulho. “Nada vai parar este trem”, ele diz. Sua família ainda importa, óbvio, mas tem que ser nos seus termos. A emblemática sequência em que ele recorda todo o ano vivido, enquanto está de costas para Skyler (e ela para ele) é a metáfora perfeita para seu relacionamento, que chega aqui no momento mais insustentável: a esposa que vê como única saída a espera pelo câncer (e fumar excessivamente não atrapalha seus planos) e o marido que quer uma aproximação distorcendo verdades de acordo com sua conveniência (a história sobre Ted para Marie ou dizer a Skyler como Jesse supostamente mudou de opinião sobre ele).





Os episódios não se resumiram a Skyler e Walt, mas é como ficarão marcados, dado a excelência do texto e dos atores. É como uma versão hardcore do início da terceira temporada, quando Walt força sua presença em casa, fazendo da esposa a vilã da situação. Mas tivemos também:


- Mike lidando com seus homens que tiveram o dinheiro confiscado. Engraçado quando Walt diz a Saul que ameaçar é o que ele faz, e provavelmente já ameaçou alguém antes do café da manhã, quando realmente Mike esteve cedo negociando o silêncio de quem estava preso;


- Novos personagens da empresa “Vamonos Pest”, responsáveis pela dedetização das casas que serão usadas como laboratório. Certamente terão impacto na trama, já que um deles é vivido por Jesse Plemons, o eterno Landry de Friday Night Lights. No papel de Todd, já mostrou esperteza (e desobediência) ao avisar Walt de uma câmera que ele desligou;


- Um episódio tão coeso e bem executado como “Hazard Pay”, é inacreditável que tenha sido tão povoado: teve não só Mike e os novos personagens, mas Marie, Andrea e Brock, Skinny Pete e Badger. E como sempre tem um jeito de toda cena ter uma informação nova, descobrimos que Skinny Pete tem uma grande habilidade musical, provavelmente destruída pelas drogas;


- Como já dito, Jesse terminando com Andrea. Acho uma pena que tenha sido fora da tela, já que esse relacionamento teve enorme importância na série (catalizador do clímax, tanto do final da terceira quanto da quarta temporada), mas com tantos eventos, é um pecado que estou disposto a perdoar. Outra elipse estranha é a de Skyler (já no episódio seguinte) saber que está sendo vista pela irmã e cunhado como infiel. Em que momento se deu isso?


- Falando em momentos fora da tela, ficamos sem saber qual a opinião do Walt sobre o que Mike deveria fazer com Lydia, exceto que Jesse acha a ideia ótima. Provavelmente é o que moverá o próximo episódio. Lydia, aliás, é assustadora de uma maneira bem peculiar. Atrapalhada, assustada, capaz de fazer uma loucura no desespero. Mike está certo em querer matá-la, mas parece que não é o que vai acontecer;


- Walter Junior sempre comendo. Já virou piada entre os fãs, especialmente no que diz respeito ao café da manhã. E acredito que os próprios realizadores adotaram como humor. Basta ver que mesmo na cena em que Skyler e Marie comem no lava-a-jato, lá está uma foto do rapaz fazendo parte da cena;


- Hank promovido. Não parece ser o que ele quer, e é uma forma breve e eficaz de mostrar que sua obsessão por Heisenberg continua, e desenvolver o personagem, colocando-o em outra posição;


No mais, grande momento de Anna Gunn na série. Do explosivo “Shut up!” ao confronto com Walt, não duvido que isto tenha lhe conseguido alguns votos no Emmy, mesmo que não seja por esta temporada que ela concorre. Será uma favorita para o ano que vem. No que diz respeito à direção, “Hazard Pay” parece bem mais comportado e sutil, enquanto “Fifty-One”, dirigido pelo cineasta Rian Johnson (que também dirigiu “Fly”), pode facilmente ser chamado de “metido a besta”, mas gostei bastante, especialmente das composições de Skyler no fundo da piscina (com resgate que corta no momento em que Walt aparece no quadro, dando a impressão de ser um agressor) e Skyler fumando ao final usando a caneca de aniversário como cinzeiro. 


Chama a atenção também as duas aberturas (Mike na prisão; Walt e filho com novos carros) que, ao contrário da especialidade da série, não impressionam ou são pomposas, mostrando que Gilligan não sente a necessidade de causar impacto o tempo todo. Às vezes menos é mais, principalmente quando o que se conta é tão bom.



 
Hélio Flores

3 comentários:

Lee disse...

Bela crítica do episódio, demorou mas valeu pelo prazer de ler(saboreando cada palavra escrita). Para um fã de BB é um prazer imenso. Parabéns.

Hélio Flores disse...

Valeu, Lee! Sempre bom ler elogios :)

Abços!

Beth disse...

Walt detestável faz o diabo parecer um ser patético. Nos extras do dvd dessa temporada, há uma cena estendida de 51, aquela em que Walt aborda Skyler na cama,insinuando estuprá-la. A cena estendida mostra de maneira quase explícita a agressão e foi uma pena ter sido cortada, apesar que eu acho que essa 5a temporada nos deu muitos socos no estômago. Mas só pela expressão de terror da Anna Gunn, valia ter sido inclusa no episódio (e tem gente que acha a Skyler uma puta que atrapalha o Walter...). Ótimas reviews aqui, entre as melhores que eu li.