Após
passar pelas séries veteranas, hora de falar sobre as produções que concorrem
pela primeira vez ao Emmy. Foi um ano forte de estreias para a TV, tanto que foi possível
fazer um top 10. Em 2012, não só “Homeland” foi a única novidade do Emmy, mas
também a única estreia digna de ser vista (na categoria Drama, ao menos).
Mas
antes, algumas considerações:
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As chances ao Emmy são “achismos” baseados na repercussão das séries entre
crítica e público e mais um ou dois critérios duvidosos: historicamente, a
premiação é conhecida por manter os mesmos indicados o máximo possível, sendo
forçada nos últimos anos a uma mudança graças ao número cada vez maior de
concorrentes de qualidade. Por outro lado, sempre há uma novidade que cai no
gosto dos votantes, a ponto de estar presente nas categorias até de forma
excessiva (caso do elenco de “Downton Abbey” ano passado). Se há uma série este
ano assim... bom, há dois ou três candidatos fortes;
-
Abandonei duas séries após três episódios: “The Newsroom” e “Vikings”. A
primeira, por não suportar o estilo Aaron Sorkin, provavelmente com o pé no
acelerador por estar na HBO. Personagens idealistas vomitando 320 palavras por
minuto apenas pra expressar o que Sorkin pensa do universo, da vida e tudo
mais, anulando qualquer possibilidade de interesse que se tenha por eles e seus
relacionamentos? Não, obrigado. Já “Vikings” me incomodou com a pobreza da
produção (que nada tem a ver com gastos, que devem ter sido razoáveis), com
mais cenas ruins do que promissoras: o plano absurdo do personagem de Gabriel
Byrne e sua esposa pra mostrar que um empregado é traidor deve ser a pior
sequência do ano – aliás, Byrne está constrangedor (que raios de cabelo é
aquele?!) e Jessalyn Gilsig deve ser a maior rival de Morgan Saylor como pior
atriz; o protagonista sorridente também já estava me irritando e nem mesmo a
bela Katheryn Winnick me deu estímulo pra continuar; Chances no Emmy: a série de Sorkin tem “pedigree”, mas foi muito
criticada. O que não a impediu de substituir “Mad Men” no Globo de Ouro. Mas
são dois grupos que às vezes pensam muito diferente. Jeff Daniels como Ator, e
Sorkin como Roteirista são possibilidades razoáveis. Já “Vikings” é a tentativa
do History Channel em emplacar uma série, como “Hatfields & McCoys”
emplacou em Minissérie/Telefilme ano passado (16 indicações, 5 vitórias), mas é algo
muito mais difícil. Seria uma total surpresa conseguir algo além de um par de
indicações técnicas;
-
Entre as muitas novidades que não vi, estão alguns destaques da tv aberta, como
“The Following”, “Elementary” e “Nashville”. Motivo maior foi minha decisão em não
mais acompanhar séries com vinte e poucos episódios. Chances no Emmy: à exceção de Connie Britton como forte candidata a
Melhor Atriz (em especial porque enfim foi descoberta pela premiação, sendo indicada
nos últimos 3 anos), quase nenhuma, a não ser que uma dessas séries tenha feito a
cabeça de muita gente e/ou o prestígio de Kevin Bacon e Lucy Liu seja forte o
suficiente para uma indicação como a que Simon Baker conseguiu alguns anos atrás;
Vamos,
então, à primeira parte do top 10. Da pior para a melhor, e sem spoilers:
10º - House of Cards (Netflix)
A
série de prestígio por excelência: um cineasta respeitado na produção (David
Fincher), um ator consagrado como protagonista (Kevin Spacey) e o espinhoso
tema (os bastidores da política americana). No fim, um fracasso total: direção
burocrática e fria (pra combinar com o Congresso?), cinismo de boutique,
superficialidade de personagens e discussões. A temporada pretende ser uma
fascinante escalada do congressista vivido por Spacey, cujas pretensões miram a
Casa Branca. É através de seus olhos que vemos os jogos políticos (muitas vezes
sujos, claro) e acompanhamos suas estratégias para subir cada vez mais na
hierarquia de poder. Um dos maiores problemas é a falta de obstáculos, já que
todos os políticos precisam ser imbecis e ingênuos para caírem na lábia de
Spacey. Depois, há o cinismo e esperteza dos diálogos que dão a impressão de
que os roteiristas acreditam mesmo que os comentários depreciativos sobre como políticos
pensam e agem são novidades ou polêmicas. É de revirar os olhos quando Spacey
vira para a câmera e conversa com o espectador: se ele faz um discurso
emocionante (e obviamente politiqueiro) em uma igreja, é preciso mesmo que ele
nos diga que o que disse é tudo mentira? Dava pra entender... a quebra da “quarta
parede” ou é para um comentário sarcástico e engraçadinho (algo em que o ator
virou referência nos anos 90) ou é para nos explicar situações e motivações dos
personagens, o que por si só já é uma muleta narrativa das piores. “House of
Cards” também não consegue dar peso aos coadjuvantes, meros acessórios da
trama, seja a ambiciosa jornalista vivida por Kate Mara, seja o deputado de
Corey Stoll, um personagem que pede por uma série melhor. A curiosidade é Robin
Wright: sua personagem é explorada de forma totalmente diferente dos demais,
com muitas cenas de suposta profundidade psicológica, em que Wright reage em
silêncio ou com comportamentos ambíguos. É como se Claire Underwood tivesse
saído de “Mad Men” ou “Boardwalk Empire” e caído naquela zona.
Chances no Emmy: apesar do meu desgosto, o verniz da
série seria suficiente para garanti-la entre os principais indicados. Mas “House
of Cards” terá que passar por um teste inédito: é a primeira grande série a
estrear no formato da Netflix, com toda a temporada lançada de uma vez. Não é
possível medir sua audiência, a impressão é de modo geral, e as pessoas podem
assistir de uma só vez ou aos poucos, o que inviabiliza a série de ter seus
melhores ou piores episódios e acontecimentos discutidos e repercutidos na
crítica e pelo público nas redes sociais. O quanto isso pode afetar suas
chances no Emmy, só o anúncio de quinta-feira irá dizer. Kevin Spacey como
Melhor Ator e David Fincher na categoria de Direção pelo piloto são, no mínimo,
indicações aguardadas. Melhor Série e Ator Coadjuvante (Corey Stoll) são as
possibilidades seguintes, caso o formato da Netflix não atrapalhe, com Robin
Wright (Atriz) e Kate Mara (Atriz Coadjuvante) logo depois, caso a série se
torne um fenômeno.
9º - Copper (BBC
America)
“House
of Cards” e “Copper” são as únicas series desta lista que pensei em desistir de
ver, durante a temporada. Mas se a primeira fui até o fim como uma obrigação,
esta me fez seguir na esperança de que as coisas melhorassem. O potencial está
todo lá: a época é a Nova York do século XIX, mais especificamente Five Points,
no ano da reeleição de Lincoln, em que a cidade vive em ebulição racial, com
negros e irlandeses negociando espaços. O protagonista é um policial que
retornou da Guerra Civil e descobre que sua filha pequena foi assassinada e sua
esposa desapareceu. Enquanto tenta resolver o mistério desta tragédia,
investiga casos cotidianos buscando auxílio de um brilhante médico negro, junto
com amigos tem um relacionamento quase romântico com prostitutas, e se envolve
em uma trama política que inclui uma socialite misteriosa e uma criança que já
viveu o inferno na prostituição. Ao fim da primeira temporada, é possível ver
que toda a estrutura e acontecimentos resultariam numa grande série, mas
infelizmente tudo é muito mal filmado: não há ritmo, há desleixo na direção do
elenco, muitas vezes não nos sentimos naquela época, seja por incompetência
técnica ou pelos modos de falar e se comportar dos atores, e há muitas
sequências em que a impressão é de que escolheram o pior ângulo e local para a
câmera, o pior momento para cortar a cena. A resolução do principal mistério,
na reta final da temporada, é muito boa e dá pra sentir o quanto de impacto
emocional deveria ter e que infelizmente não sentimos. O mesmo vale para o
clímax do season finale. A série já começou sua segunda temporada, e
infelizmente não estou empolgado para retornar.
Chances no Emmy: Nenhuma. Pouca repercussão de uma
produção de canal sem histórico de prêmios. E realmente nada merece.
8º - Da Vinci’s
Demons (Starz)
A
Starz traz uma série que se passa num período propício para algo da Showtime (a
Florença renascentista dos Medici no século XV), com uma história fantasiosa
protagonizada por Leonardo Da Vinci digna da CW, numa produção cara com padrão
HBO. Um monstrengo curioso e por vezes divertido, faz de Da Vinci um heroi perfeito:
bonitão, galanteador, grande pintor, engenheiro, cientista, gênio, que se
envolve no conflito de Lorenzo Medici e o Vaticano, e busca a verdade sobre um livro
que pode revelar grandes segredos do universo (guardado nos últimos milênios
por uma misteriosa Seita, claro) e que pode estar ligado ao desaparecimento de sua
mãe, quando ainda era um bebê. Muita ação (algumas de boa qualidade), vilões
detestáveis, belas mulheres e muita nudez (inclusive bundas e pênis flácidos de
velhos senhores, como nunca se viu na tv) em longos episódios (abusivos 58
minutos) que sempre trazem Da Vinci e seus amigos diante de enigmas que o jovem
e brilhante protagonista resolverá de formas incríveis. Ao longo da temporada,
Da Vinci inventa armamentos e equipamentos que só irão surgir séculos depois e
há momentos que só resta esperar até onde vai a cara de pau dos roteiristas com
aquela história. Tom Riley tem carisma e energia o suficiente pra sustentar o
todo e o final explosivo garante a vontade de, pelo menos, ver como vão
resolver a enrascada que o heroi se meteu. Está aí uma série que merece bem
mais o rótulo de “guilty pleasure” do que “Scandal”.
Chances no Emmy: Talvez algumas indicações técnicas,
e só. O gênero passa longe de qualquer consideração dos votantes.
7º - Bates Motel
(A&E)
A
ideia de imaginar a adolescência de Norman Bates e seu relacionamento com a mãe
parece boa para um filme, mas insustentável para uma série, que pode durar
temporadas. Mas é só começar a ver o que fizeram aqui para mudar de opinião: direção
de arte e atmosfera de um velho filme de terror B pra nos dar uma cidadezinha
de habitantes misteriosos e excêntricos, e um Motel em que muitas coisas
estranhas já aconteceram antes de Norma Bates decidir compra-lo e batizá-lo com
seu nome. Infelizmente é uma ideia subaproveitada, e a série falha em criar
algo interessante. A plantação de maconha e tudo que envolve o outro filho de
Norma (um personagem necessário para equilibrar a relação de Norma e Norman) é
risível, o segredo em torno do “Homem do Número 9” é frustrante e é
inacreditável a forma como resolvem a subtrama da jovem aprisionada que vemos
no piloto. Exceto pela simpática Olivia Cook, nenhum coadjuvante consegue
manter nossa atenção. Do lado positivo, a série faz maravilhas com o principal,
que é o relacionamento doentio entre os protagonistas. Podemos ver os estragos
que Norma faz no já emocionalmente instável Norman, e tudo é bem balanceado
entre o afeto e a obsessão, que se alternam de forma que possa perdurar por
ainda muito mais tempo. O cliffhanger do episódio final deixa preocupações de
como pretendem levar adiante o destino do jovem protagonista, mas ainda há
pontas soltas envolvendo personagens da cidade e que, esperemos, criem
situações bem mais empolgantes do que vistas neste primeiro ano tão irregular.
Chances no Emmy: Apesar de uma das séries mais
comentadas do ano (devido a sua relação com um dos maiores clássicos do
cinema), é difícil imaginar “Bates Motel” tendo grande reconhecimento. Mas
votantes adoram atores indicados a Oscar, e Vera Farmiga está mesmo excelente,
demonstrando várias facetas da que talvez seja a mais famosa personagem do
cinema e que nunca existiu. A concorrência na categoria de Atriz é grande, mas não
veria como total surpresa se seu nome fosse anunciado, mesmo que consiga
visualizar oito ou nove nomes em sua frente. Freddie Highmore, como Norman
Bates, é uma revelação, e consegue pegar os trejeitos mais marcantes de Anthony
Perkins, sem perder sua própria identidade. Apesar de claramente protagonista,
Highmore se submeteu na categoria de Coadjuvante, o que lhe dá mais chances, já
que esta será ocupada por novos nomes. Qualquer outra indicação me surpreenderia.
6º - Longmire
(A&E)
Walt
Longmire é o xerife de um pequeno município de Wyoming. Viúvo há pouco tempo,
resistente a tecnologia (não tem nem mesmo um aparelho celular), tem a seu
serviço apenas uma secretária (a saudosa Mrs. Saracen!) e três policiais, sendo
que um deles o considera obsoleto e se lança como candidato para ocupar seu
posto na próxima eleição. A série começa com um crime, e é engraçado que os
personagens encaram isto como uma benvinda quebra da rotina tediosa em que nada
de excitante acontece, quando na verdade o que temos é um crime por episódio, e
sem nenhuma ligação entre si. Em estrutura, “Longmire” não difere, portanto, de
qualquer outra série investigativa e serializada que tem aos montes. Talvez
apenas o método do protagonista, que prefere a dedução lógica, o apego a
detalhes e fazer as coisas por ele mesmo, com bastante conhecimento geral,
vindo da experiência e de muita leitura. Os casos não são fantásticos, as
resoluções não são surpreendentes, não há nada de espetacular. E é este o
charme da série: a simplicidade de tudo deixa os personagens mais em evidência
e aos poucos começamos a ter prazer em acompanhá-los nas conversas mais
triviais, a ponto de que quando um segredo vem à tona no season finale, é
surpreendentemente emocionante, mesmo que não seja uma grande revelação, e que
ainda permite uma bela cena final, concluindo bem alguns temas da série. Ajuda
que Robert Taylor é um bom ator pouco conhecido, além das presenças sempre
marcantes de Katee Sackhoff (como uma policial) e Lou Diamond Phillips (como o
melhor amigo de Walt). Há também interesse pelo fato do município ser vizinho
de uma reserva Cheyenne, e muitos dos casos envolvem a tensão racial desta
convivência semi pacífica.
Chances no Emmy: Zero. Também pouco vista e
comentada, “Longmire” já caminha para a reta final da segunda temporada e tem
recebido elogios (ainda não tive tempo de conferir), embora nada muito
entusiasmante ou que leve mais pessoas a conhecê-la. É mais provável que se
torne uma dessas boas séries que quase ninguém fala a respeito (como “Southland”).
(continua...)
Hélio Flores
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