quarta-feira, 17 de julho de 2013

[Emmy 2013] Melhores Séries - Drama (Novatas - Parte 1)


Após passar pelas séries veteranas, hora de falar sobre as produções que concorrem pela primeira vez ao Emmy. Foi um ano forte de estreias para a TV, tanto que foi possível fazer um top 10. Em 2012, não só “Homeland” foi a única novidade do Emmy, mas também a única estreia digna de ser vista (na categoria Drama, ao menos).


Mas antes, algumas considerações:


- As chances ao Emmy são “achismos” baseados na repercussão das séries entre crítica e público e mais um ou dois critérios duvidosos: historicamente, a premiação é conhecida por manter os mesmos indicados o máximo possível, sendo forçada nos últimos anos a uma mudança graças ao número cada vez maior de concorrentes de qualidade. Por outro lado, sempre há uma novidade que cai no gosto dos votantes, a ponto de estar presente nas categorias até de forma excessiva (caso do elenco de “Downton Abbey” ano passado). Se há uma série este ano assim... bom, há dois ou três candidatos fortes;


- Abandonei duas séries após três episódios: “The Newsroom” e “Vikings”. A primeira, por não suportar o estilo Aaron Sorkin, provavelmente com o pé no acelerador por estar na HBO. Personagens idealistas vomitando 320 palavras por minuto apenas pra expressar o que Sorkin pensa do universo, da vida e tudo mais, anulando qualquer possibilidade de interesse que se tenha por eles e seus relacionamentos? Não, obrigado. Já “Vikings” me incomodou com a pobreza da produção (que nada tem a ver com gastos, que devem ter sido razoáveis), com mais cenas ruins do que promissoras: o plano absurdo do personagem de Gabriel Byrne e sua esposa pra mostrar que um empregado é traidor deve ser a pior sequência do ano – aliás, Byrne está constrangedor (que raios de cabelo é aquele?!) e Jessalyn Gilsig deve ser a maior rival de Morgan Saylor como pior atriz; o protagonista sorridente também já estava me irritando e nem mesmo a bela Katheryn Winnick me deu estímulo pra continuar; Chances no Emmy: a série de Sorkin tem “pedigree”, mas foi muito criticada. O que não a impediu de substituir “Mad Men” no Globo de Ouro. Mas são dois grupos que às vezes pensam muito diferente. Jeff Daniels como Ator, e Sorkin como Roteirista são possibilidades razoáveis. Já “Vikings” é a tentativa do History Channel em emplacar uma série, como “Hatfields & McCoys” emplacou em Minissérie/Telefilme ano passado (16 indicações, 5 vitórias), mas é algo muito mais difícil. Seria uma total surpresa conseguir algo além de um par de indicações técnicas;


- Entre as muitas novidades que não vi, estão alguns destaques da tv aberta, como “The Following”, “Elementary” e “Nashville”. Motivo maior foi minha decisão em não mais acompanhar séries com vinte e poucos episódios. Chances no Emmy: à exceção de Connie Britton como forte candidata a Melhor Atriz (em especial porque enfim foi descoberta pela premiação, sendo indicada nos últimos 3 anos), quase nenhuma, a não ser que uma dessas séries tenha feito a cabeça de muita gente e/ou o prestígio de Kevin Bacon e Lucy Liu seja forte o suficiente para uma indicação como a que Simon Baker conseguiu alguns anos atrás;



Vamos, então, à primeira parte do top 10. Da pior para a melhor, e sem spoilers:



10º - House of Cards (Netflix)

A série de prestígio por excelência: um cineasta respeitado na produção (David Fincher), um ator consagrado como protagonista (Kevin Spacey) e o espinhoso tema (os bastidores da política americana). No fim, um fracasso total: direção burocrática e fria (pra combinar com o Congresso?), cinismo de boutique, superficialidade de personagens e discussões. A temporada pretende ser uma fascinante escalada do congressista vivido por Spacey, cujas pretensões miram a Casa Branca. É através de seus olhos que vemos os jogos políticos (muitas vezes sujos, claro) e acompanhamos suas estratégias para subir cada vez mais na hierarquia de poder. Um dos maiores problemas é a falta de obstáculos, já que todos os políticos precisam ser imbecis e ingênuos para caírem na lábia de Spacey. Depois, há o cinismo e esperteza dos diálogos que dão a impressão de que os roteiristas acreditam mesmo que os comentários depreciativos sobre como políticos pensam e agem são novidades ou polêmicas. É de revirar os olhos quando Spacey vira para a câmera e conversa com o espectador: se ele faz um discurso emocionante (e obviamente politiqueiro) em uma igreja, é preciso mesmo que ele nos diga que o que disse é tudo mentira? Dava pra entender... a quebra da “quarta parede” ou é para um comentário sarcástico e engraçadinho (algo em que o ator virou referência nos anos 90) ou é para nos explicar situações e motivações dos personagens, o que por si só já é uma muleta narrativa das piores. “House of Cards” também não consegue dar peso aos coadjuvantes, meros acessórios da trama, seja a ambiciosa jornalista vivida por Kate Mara, seja o deputado de Corey Stoll, um personagem que pede por uma série melhor. A curiosidade é Robin Wright: sua personagem é explorada de forma totalmente diferente dos demais, com muitas cenas de suposta profundidade psicológica, em que Wright reage em silêncio ou com comportamentos ambíguos. É como se Claire Underwood tivesse saído de “Mad Men” ou “Boardwalk Empire” e caído naquela zona.

Chances no Emmy: apesar do meu desgosto, o verniz da série seria suficiente para garanti-la entre os principais indicados. Mas “House of Cards” terá que passar por um teste inédito: é a primeira grande série a estrear no formato da Netflix, com toda a temporada lançada de uma vez. Não é possível medir sua audiência, a impressão é de modo geral, e as pessoas podem assistir de uma só vez ou aos poucos, o que inviabiliza a série de ter seus melhores ou piores episódios e acontecimentos discutidos e repercutidos na crítica e pelo público nas redes sociais. O quanto isso pode afetar suas chances no Emmy, só o anúncio de quinta-feira irá dizer. Kevin Spacey como Melhor Ator e David Fincher na categoria de Direção pelo piloto são, no mínimo, indicações aguardadas. Melhor Série e Ator Coadjuvante (Corey Stoll) são as possibilidades seguintes, caso o formato da Netflix não atrapalhe, com Robin Wright (Atriz) e Kate Mara (Atriz Coadjuvante) logo depois, caso a série se torne um fenômeno.




9º - Copper (BBC America)

“House of Cards” e “Copper” são as únicas series desta lista que pensei em desistir de ver, durante a temporada. Mas se a primeira fui até o fim como uma obrigação, esta me fez seguir na esperança de que as coisas melhorassem. O potencial está todo lá: a época é a Nova York do século XIX, mais especificamente Five Points, no ano da reeleição de Lincoln, em que a cidade vive em ebulição racial, com negros e irlandeses negociando espaços. O protagonista é um policial que retornou da Guerra Civil e descobre que sua filha pequena foi assassinada e sua esposa desapareceu. Enquanto tenta resolver o mistério desta tragédia, investiga casos cotidianos buscando auxílio de um brilhante médico negro, junto com amigos tem um relacionamento quase romântico com prostitutas, e se envolve em uma trama política que inclui uma socialite misteriosa e uma criança que já viveu o inferno na prostituição. Ao fim da primeira temporada, é possível ver que toda a estrutura e acontecimentos resultariam numa grande série, mas infelizmente tudo é muito mal filmado: não há ritmo, há desleixo na direção do elenco, muitas vezes não nos sentimos naquela época, seja por incompetência técnica ou pelos modos de falar e se comportar dos atores, e há muitas sequências em que a impressão é de que escolheram o pior ângulo e local para a câmera, o pior momento para cortar a cena. A resolução do principal mistério, na reta final da temporada, é muito boa e dá pra sentir o quanto de impacto emocional deveria ter e que infelizmente não sentimos. O mesmo vale para o clímax do season finale. A série já começou sua segunda temporada, e infelizmente não estou empolgado para retornar.

Chances no Emmy: Nenhuma. Pouca repercussão de uma produção de canal sem histórico de prêmios. E realmente nada merece.





8º - Da Vinci’s Demons (Starz)

A Starz traz uma série que se passa num período propício para algo da Showtime (a Florença renascentista dos Medici no século XV), com uma história fantasiosa protagonizada por Leonardo Da Vinci digna da CW, numa produção cara com padrão HBO. Um monstrengo curioso e por vezes divertido, faz de Da Vinci um heroi perfeito: bonitão, galanteador, grande pintor, engenheiro, cientista, gênio, que se envolve no conflito de Lorenzo Medici e o Vaticano, e busca a verdade sobre um livro que pode revelar grandes segredos do universo (guardado nos últimos milênios por uma misteriosa Seita, claro) e que pode estar ligado ao desaparecimento de sua mãe, quando ainda era um bebê. Muita ação (algumas de boa qualidade), vilões detestáveis, belas mulheres e muita nudez (inclusive bundas e pênis flácidos de velhos senhores, como nunca se viu na tv) em longos episódios (abusivos 58 minutos) que sempre trazem Da Vinci e seus amigos diante de enigmas que o jovem e brilhante protagonista resolverá de formas incríveis. Ao longo da temporada, Da Vinci inventa armamentos e equipamentos que só irão surgir séculos depois e há momentos que só resta esperar até onde vai a cara de pau dos roteiristas com aquela história. Tom Riley tem carisma e energia o suficiente pra sustentar o todo e o final explosivo garante a vontade de, pelo menos, ver como vão resolver a enrascada que o heroi se meteu. Está aí uma série que merece bem mais o rótulo de “guilty pleasure” do que “Scandal”.

Chances no Emmy: Talvez algumas indicações técnicas, e só. O gênero passa longe de qualquer consideração dos votantes.





7º - Bates Motel (A&E)

A ideia de imaginar a adolescência de Norman Bates e seu relacionamento com a mãe parece boa para um filme, mas insustentável para uma série, que pode durar temporadas. Mas é só começar a ver o que fizeram aqui para mudar de opinião: direção de arte e atmosfera de um velho filme de terror B pra nos dar uma cidadezinha de habitantes misteriosos e excêntricos, e um Motel em que muitas coisas estranhas já aconteceram antes de Norma Bates decidir compra-lo e batizá-lo com seu nome. Infelizmente é uma ideia subaproveitada, e a série falha em criar algo interessante. A plantação de maconha e tudo que envolve o outro filho de Norma (um personagem necessário para equilibrar a relação de Norma e Norman) é risível, o segredo em torno do “Homem do Número 9” é frustrante e é inacreditável a forma como resolvem a subtrama da jovem aprisionada que vemos no piloto. Exceto pela simpática Olivia Cook, nenhum coadjuvante consegue manter nossa atenção. Do lado positivo, a série faz maravilhas com o principal, que é o relacionamento doentio entre os protagonistas. Podemos ver os estragos que Norma faz no já emocionalmente instável Norman, e tudo é bem balanceado entre o afeto e a obsessão, que se alternam de forma que possa perdurar por ainda muito mais tempo. O cliffhanger do episódio final deixa preocupações de como pretendem levar adiante o destino do jovem protagonista, mas ainda há pontas soltas envolvendo personagens da cidade e que, esperemos, criem situações bem mais empolgantes do que vistas neste primeiro ano tão irregular.

Chances no Emmy: Apesar de uma das séries mais comentadas do ano (devido a sua relação com um dos maiores clássicos do cinema), é difícil imaginar “Bates Motel” tendo grande reconhecimento. Mas votantes adoram atores indicados a Oscar, e Vera Farmiga está mesmo excelente, demonstrando várias facetas da que talvez seja a mais famosa personagem do cinema e que nunca existiu. A concorrência na categoria de Atriz é grande, mas não veria como total surpresa se seu nome fosse anunciado, mesmo que consiga visualizar oito ou nove nomes em sua frente. Freddie Highmore, como Norman Bates, é uma revelação, e consegue pegar os trejeitos mais marcantes de Anthony Perkins, sem perder sua própria identidade. Apesar de claramente protagonista, Highmore se submeteu na categoria de Coadjuvante, o que lhe dá mais chances, já que esta será ocupada por novos nomes. Qualquer outra indicação me surpreenderia.





6º - Longmire (A&E)

Walt Longmire é o xerife de um pequeno município de Wyoming. Viúvo há pouco tempo, resistente a tecnologia (não tem nem mesmo um aparelho celular), tem a seu serviço apenas uma secretária (a saudosa Mrs. Saracen!) e três policiais, sendo que um deles o considera obsoleto e se lança como candidato para ocupar seu posto na próxima eleição. A série começa com um crime, e é engraçado que os personagens encaram isto como uma benvinda quebra da rotina tediosa em que nada de excitante acontece, quando na verdade o que temos é um crime por episódio, e sem nenhuma ligação entre si. Em estrutura, “Longmire” não difere, portanto, de qualquer outra série investigativa e serializada que tem aos montes. Talvez apenas o método do protagonista, que prefere a dedução lógica, o apego a detalhes e fazer as coisas por ele mesmo, com bastante conhecimento geral, vindo da experiência e de muita leitura. Os casos não são fantásticos, as resoluções não são surpreendentes, não há nada de espetacular. E é este o charme da série: a simplicidade de tudo deixa os personagens mais em evidência e aos poucos começamos a ter prazer em acompanhá-los nas conversas mais triviais, a ponto de que quando um segredo vem à tona no season finale, é surpreendentemente emocionante, mesmo que não seja uma grande revelação, e que ainda permite uma bela cena final, concluindo bem alguns temas da série. Ajuda que Robert Taylor é um bom ator pouco conhecido, além das presenças sempre marcantes de Katee Sackhoff (como uma policial) e Lou Diamond Phillips (como o melhor amigo de Walt). Há também interesse pelo fato do município ser vizinho de uma reserva Cheyenne, e muitos dos casos envolvem a tensão racial desta convivência semi pacífica.

Chances no Emmy: Zero. Também pouco vista e comentada, “Longmire” já caminha para a reta final da segunda temporada e tem recebido elogios (ainda não tive tempo de conferir), embora nada muito entusiasmante ou que leve mais pessoas a conhecê-la. É mais provável que se torne uma dessas boas séries que quase ninguém fala a respeito (como “Southland”).


(continua...)




 

Hélio Flores
 

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