sexta-feira, 12 de março de 2010

[LOST] 6x07 Dr Linus

por e.fuzii
Para todos aqueles que pediram por mais tempo acompanhando o professor Benjamin Linus em The Substitute -- ou até sugeriram um spin-off dessa premissa -- esse episódio não poderia ter começado mais promissor. Logo de início, Ben narra a seus alunos o exílio de Napoleão Bonaparte na ilha de Elba, privado de seus poderes mas mantendo o cargo de Imperador, que é uma situação bastante semelhante com a que ele viveu durante toda a série, sendo respeitado como líder mas sem poder tomar nem um passo a frente por conta própria. Ou pior, sem entender com precisão toda dinâmica que envolvia cada ordem que recebia para proteger a Ilha. O próprio Benjamin já havia sido condenado ao exílio antes, quando expulso da Ilha ao girar a roda de burro por conta própria. Mas apesar de encontrar uma forma de retornar, ainda que contrariando todas as regras vigentes, seu período de domínio havia chegado ao fim. Enfrentando a mais profunda frustração, Ben atingiu o limite de seu desespero quando assassinou Jacob, aquele que resolveu seguir cegamente em busca de poder, mas em troca perdeu seu único elo com a humanidade: a filha Alex. Afinal, como já estamos cansados de saber, para caminhar ao lado de Jacob é preciso ter fé. E nada mais significativo do que ver Richard Alpert disposto a abrir mão de sua própria vida após ser abandonado pelo seu líder, percebendo que esse caminho havia chegado ao fim inutilmente.
Já no 2004-alternativo, Dr Linus mostra-se incomodado com a postura do diretor Reynolds em administrar a escola. Mesmo assim ele precisa de um empurrãozinho do professor substituto John Locke para decidir fazer alguma coisa. A verdade é que esse Ben Linus apresenta-se como um professor contido e até conformado com sua vida, sendo alvo até das brincadeira de Arzt -- que volta a aparecer justamente num episódio que relembra os explosivos do Black Rock. Podemos perceber sua postura ao cuidar de seu pai, trocando seu tubo de oxigênio e ouvindo suas lamentações por um dia ter deixado a Ilha. É a primeira vez que alguém menciona a Ilha nessa realidade alternativa, provando que ainda não havia submergido pelo menos até a Iniciativa Dharma se estabelecer. Roger até pondera sobre como seria a vida deles caso tivessem permanecido lá, indício de que eles nunca foram forçados a sair -- no caso do Incidente, por exemplo --, mas que foi sim tomada essa decisão. Ben ouve tudo isso em silêncio, talvez tendo até noção exata das consequências dessa escolha. Diante das coincidências inusitadas que cercam essa linha do tempo, a começar pela presença de Alex como aluna do colégio (alguém consegue explicar como Rousseau foi também parar em Los Angeles?), Ben baseia-se numa denúncia de escândalo envolvendo Reynolds e uma enfermeira para tomar o cargo do diretor. O que ele não esperava era ser surpreendido por uma ameaça ao futuro de Alex caso levasse adiante seu plano de chantagem. Talvez por todo seu retraimento, Ben não tivesse coragem de enfrentar essas ameaças, ainda que todas aquelas informações lhe deixassem numa vantagem confortável, podendo exigir o que quisesse do diretor. Porém, entendo que esse dilema era necessário como paralelo para aquilo que acontecia e já aconteceu com Ben na Ilha. Como na maioria das outras tramas dessa realidade alternativa, essa situação serviu como uma segunda chance de Ben em relação a Alex, escolhendo garantir o futuro da garota ao invés de seguir sua ambição de tornar-se diretor.
Enquanto isso na Ilha, acompanhamos o grupo liderado por Ilana chegando novamente à praia, numa trama bastante enxuta dessa vez. Intercalada com todo o plano de chantagem do Dr Linus em 2004, houve uma prolongada sequência de Ilana mantendo Ben como refém, fazendo com que ele cavasse literalmente sua própria cova. Talvez fosse uma lição óbvia demais, mas para mim funciona exatamente por colocar Ben em controle de sua morte, em contraste com a condição de Richard Alpert, dependente da boa vontade de Jack e Hurley para morrer. No Black Rock, lugar onde Alpert diz estar retornando, Jack deixa para trás todo seu ceticismo e finalmente aceita que seu destino não depende apenas dele. Com base na informação de que os candidatos não poderiam morrer, ele decide testar aquilo que viu no farol, que tinha um propósito para chegar à Ilha, e assim reacende também a crença de Alpert, disposto agora a também se unir ao grupo na praia. Parece ter ficado claro que Jacob age aplicando testes em seus seguidores, e apesar de ter demorado a fazer sentido para Ben Linus, seu caso não foi diferente. Ele precisava passar por todas essas provações, de modo que segundo a leitura de Miles, Jacob confiava na retidão de Ben até os últimos momentos. Mas abandonado como estava, Ben resolveu agarrar-se à sedutora chance oferecida pelo UnLocke, ao menos até que fosse impedido por Ilana.
Acho que nem preciso destacar a atuação de Michael Emerson, mais uma vez transmitindo em cada palavra o desamparo de seu personagem, fazendo com que sentisse até pena de sua condição. Se quisesse, Emerson teria amplas chances de ganhar mais um Emmy através dessa cena com Ilana (*). Afinal, nesse dilema o episódio se resolveu, com Ilana perdoando-o pela morte de Jacob aquele que ela considerava como pai, enquanto Ben desiste de sua ambição pelo poder e decide encarar as consequências. Para alguns talvez seja fácil demais escrever uma série baseada na fé, já que hoje podemos considerar até que a morte de Jacob serviu como sacrifício para tirar Ben do caminho da auto-destruição. Mas inevitável dizer que está funcionando. No final, temos mais uma daquelas saudosas montagens dos personagens se reencontrando na praia com a bela trilha de Giacchino ao fundo. Até que Widmore aparece num submarino, pronto para mais uma vez invadir a Ilha. Provavelmente era aquele que Jacob já esperava, mas por qual razão nem imagino. É preciso lembrar que foi Widmore quem instruiu Locke a retornar para a Ilha, achando que a tal guerra estava para acontecer e o lado errado sairia vencedor. Talvez nem fosse a hora certa dele aparecer, já que só agora as duas equipes rivais parecem bem definidas. Mas será curioso, e até irônico, se ele tiver de caminhar ao lado de Benjamin nessa reta final de Lost.

(*) Após vencer o Emmy no ano de 2007, Terry O'Quinn decidiu se retirar da disputa do prêmio para dar maior chance aos seus colegas serem indicados. Imagino que essa será a postura seguida por Michael Emerson também. A não ser que todos decidam se inscrever por ser a última temporada da série.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

4 comentários:

Hélio Flores disse...

O mais incrivel em Lost é que a gente pode dizer coisas como "expulso da ilha apos girar a roda de burro" e ainda continuarmos assistindo a serie.

O que me incomodou ja coloquei no twitter, e acho que a serie está dependendo muito mais de seus atores do que das coisas que andam escrevendo pra eles.

A realidade alternativa continua sendo um enigma, pq nao serve como redenção (pq os personagens com quem nos importamos estao 3 anos no futuro de outra realidade) e nem temos ideia de qual relação terá com o que está acontecendo na ilha. Aí o que acontece perde força dramática e interesse.

É ate legal ver Ben dando um gás pro seu pai que seja vital (qndo em outra ocasiao o gás que ele deu foi mortal), ou entender que o plano é estabelecer nova relação com Alex; mas a coisa toda ta muito porcamente escrita (cartinha de recomendação? sério?).

Na ilha, tb nao me convenceu nem a historinha do "cave sua propria cova", nem a aparição do nada do Locke falso, rompendo algemas com piscar de olhos. Salvam-se momentos como a ja citada cena de Ben e Ilana ao final, ou Alpert e Jack na Black Rock (alias, ja esperavamos que o episodio tivesse um show de Emmerson, mas nao dá pra ignorar a excelente atuação de Matthew Fox). Sao sequencias em que dá pra perceber que os caras sabem o rumo que querem dar aos personagens, mas nao estao acertando ou convencendo quando se trata em desenvolver uma trama pra 42 minutos de episodio.

E o que foi aquela aparição do periscopio no final? Juro que me veio ULTRAJE A RIGOR na cabeça. Nós vamos invadir sua praia...


Abços!

danielle disse...

Lembrei de Coldplay, com The scientist. Um episódio incrível, gosto do caminho da fé.

e.fuzii disse...

Sabia Hélio, que não demoraria até você vir aqui se manifestar.
Concordo que o roteiro é o que também tem mais me incomodado nessa temporada. Foi como eu disse há algumas semanas atrás: eles tem boas ideias mas não conseguem executá-las a altura. Ainda assim, acho melhor pecar se arriscando do que manter a série no piloto automático como nas últimas temporadas. Pelo menos tem todo um sentido na atenção dada a cada personagem. Se vai fazer sentido também com o contexto da série no final, eu não sei, mas vou dizer que essa ideia de duas realidades foi muito bem sacada pelos produtores. É um bom atalho para desenvolver personagens numa trama enquanto se dedica aos mistérios e mitologia na outra.

Claro que não tivemos ainda nenhum episódio espetacular, todos ficando numa mesma média. Quem tem a capacidade de eleger qualquer um deles como um dos melhores da série, definitivamente não prestou atenção nas primeiras temporadas. Mas sinceramente, diante de todas as tentativas frustradas que vimos surgindo no ano passado na tv aberta, seja FlashForward ou V, não há nem como comparar com Lost.

Também li bastante gente elogiando a atuação de Matthew Fox, mas não me impressionou. Só acho que deram um texto melhor pra ele, deixando o personagem mais ambíguo e até desafiador.


Dani,
não sei se entendi o sentido da comparação com The Scientist. Talvez seja a questão de "voltar ao início", mas estou cada vez me inclinando menos para essa teoria de que a realidade alternativa vai servir de conclusão para quem seguir o UnLocke. Pode até ser algum tipo de alívio, ou uma opção, mas não que descartariam os acontecimentos desses 3 anos.

Amanda Aouad disse...

É, essa realidade alternativa está sem sentido mesmo, será que serve para dar a mesma conclusão que o "advogado do diabo"? "Não importa o que acontece, nem o quanto você sabe, sempre tenderá a cometer os mesmos erros?" A mim, incomoda bastante essa solução que estão encontrando para continuar com as narrativas duplas.