domingo, 13 de junho de 2010

[Breaking Bad] 3x12 - Half Measures



A melhor fala deste sensacional "Half Measures" veio de Walt: "Jesse, suas ações afetam outras pessoas". Em tom paternal e de repreensão, é incrível como Walter White consegue negar, para si e para os outros, todas as suas ações que afetaram tragicamente a vida de inúmeras pessoas. Ele começa o episódio dizendo que não é um assassino, obviamente não pensando em Emilio, Krazy 8, Jane e as centenas de pessoas no desastre aéreo - e nem estou considerando todas as mortes que ocorrem no tráfico e no uso da melhor metanfetamina da região (e do país?). Com a morte dos dois traficantes, ao final do episódio, não tenho dúvidas que Walt consegue perfeitamente racionalizar o que ocorreu. Ou estaria pronto para finalmente assumir que é um "bad guy", ao contrário do início da temporada?


Esta fala do Walt é importante por mostrar que Vince Gilligan não ignora o elemento humano da série, mesmo quando esta apresenta seus momentos mais insanos de ação e violência. Continua a gradual transformação dos personagens, com Walt fazendo o que tem que ser feito (sempre preocupado com Jesse) e Jesse sendo inconsequente com a melhor das intenções. Porque, ao contrário do que se pensava com o episódio anterior, não é apenas a vingança que motiva Jesse.


Parece que neste mundo dos personagens (que inclui alguns espectadores da série que em alguns fóruns virtuais comentavam como Jesse é burro e até mesmo Walt, por ir ajudá-lo), apenas ele se incomoda com o fato de uma criança ser usada para matar e vender drogas. Esse sentimento de Jesse e sua relação com crianças já haviam sido perfeitamente construídos pela série, tanto quando assume para si a culpa de seu irmão mais novo pela maconha encontrada por seus pais, mas principalmente em "Peekaboo" (2x06), experiência que marca o personagem ao ver os danos que pais drogados causavam em uma criança. Ao contrário de Walt, Jesse assumiu ser um "bad guy" no início da temporada, mas ainda preserva este "ponto fraco" (que o fez, aliás, desistir de vender droga para Andrea, ao conhecer o filho desta).


Seu valor ainda pode ser visto na tensa sequência em que desafia Gus com um categórico e firme "Não" e, se ficamos tão assustados e surpresos como Walt, Mike e o próprio Gus, o mérito é exclusivo dos atores, com Esposito brilhando novamente, desta vez com um lado mais ameaçador do "Chicken Man" que ainda não conhecíamos; e Aaron Paul, em mais um momento genial, mostrando a perplexidade e o sentimento de traição que Jesse sente ao ver Walt ali, sentado sem fazer nada.



Esta cena, aliás, é mais um exemplo da imprevisibilidade de Breaking Bad. A cada episódio, as coisas se desenvolvem da forma que menos esperamos. Desta vez, se tudo indicava que Jesse iria causar uma guerra desastrosa, logo estão todos reunidos para um acerto pacífico (não antes de Jesse tentar botar em prática um ótimo plano, usando a mesma substância que Walt quase utilizou para matar Tuco). Claro que as coisas não poderiam dar certo.


Não duvido que a morte de Tomás pode ter sido por ordem de Gus, em um movimento para matar Jesse semelhante à sua estratégia para matar os Primos. Ou os traficantes teriam matado por conta própria, uma vez que Gus só ordenou que não utilizassem mais crianças para a venda. Mas não sei se isso importará. Ou, em se tratando desta série, talvez a verdade venha na abertura de algum episódio da próxima temporada. O que fica é uma expectativa monstruosa, não só criada em termos de roteiro, por tudo que conseguiram brilhantemente escrever, fazendo com que soasse crível e tenso todo o caminho percorrido até aqui. Mas colocar isto em cena tem sido tão genial quanto a escrita, e a sequência final é um primor no uso da fotografia, do som e da trilha sonora, desde aquele corte seco que mostra Walt saindo da mesa de jantar, ao suspense que antecipa a saída de Jesse do carro, e finalizando com aquele movimento de câmera que enquadra Walt de baixo para cima, dizendo "Run" como um verdadeiro bad guy, no silêncio dos créditos finais.


Tudo funciona em dobro neste final, especialmente pelo fato de que toda a temporada foi construída de forma que nos faça pensar que Jesse não duraria muito. É fato que nos planos originais de Gilligan, Jesse seria morto no fim da 1ª temporada, algo que não ocorreu por conta da greve dos roteiristas, mas também por ter se impressionado com Aaron Paul. E hoje não dá pra imaginar a série sem o personagem. Mas como ela avança por caminhos inimagináveis, muito se comenta sobre o futuro de Jesse. Esperemos que algo realmente incrível aconteça para que ele continue como protagonista (e, de fato, acredito nisto).



Com tamanha intensidade do final, tudo o mais que acontece no episódio fica (injustamente) eclipsado. Mas mais uma vez temos um episódio impecável, do início ao fim, a começar pela abertura (mais uma!), com a rotina de Wendy, outra personagem a retornar para o eixo da série (para quem não se lembra, Wendy é a prostituta que Hank tentou arranjar para Walter Jr. e que depois serviu de álibi para Jesse após seu carro ser encontrado com Tuco). Eu não costumo gostar de montagens aceleradas, mas aqui, ao som de "Windy" (música do The Association), funciona pra caramba.


Também tivemos mais um pouco do envolvimento de Skyler com os negócios de Walt, que obviamente se recusa em tê-la participando disto. Skyler consegue negociando a aproximação com a família que Walt deseja, e já começa a ler sobre lavagem de dinheiro no Wikipedia, mostrando que sua suposta eficiência e conhecimento do assunto não é tão vasto assim. Enquanto isso, Hank volta para casa numa divertida aposta entre ele e Marie, que serve como alívio cômico para a tensão e drama do restante do episódio. Certamente que Hank começará a ligar os fatos a Walt quando descobrir que é ele quem está pagando suas contas, mas coerentemente Marie se esquiva das perguntas do marido quando este pergunta para Walt Jr. como seus pais estão se virando, já que agora nenhum dos dois trabalha. A ideia do lava-carro, de Skyler, dará uma base sólida para a mentira.


Por fim, é preciso exaltar mais um monólogo da série, desta vez proferido por Mike e que justifica o título do episódio (algo como "medidas provisórias" ou paliativas) numa história que remete à lição que o Gus quis dar a Walt no episódio anterior, sobre nunca cometer o mesmo erro. Breaking Bad é bastante generosa com seus atores, e ainda faltava dar espaço para Jonathan Banks brilhar, com um ótimo texto.



Falta um episódio para o fim da temporada.




Hélio Flores
twitter.com/helioflores

3 comentários:

e.fuzii disse...

Achei curioso que muita gente tenha associado Gus à morte de Tomas. Eu imediatamente achei que fosse a única forma que os dois poderiam "liberar" o garoto, já que ele sabia demais. Prática mais do que comum no tráfico de drogas. E Gus nem teria razão para dar algum exemplo ou provocar Walt e Jesse a essa altura.

Acho que o final desse episódio marca de vez a preocupação quase paternal de Walt por Jesse. Claro que no final da temporada anterior ele assiste Jane morrer para também libertar Jesse. Mas de jeito nenhum que ele colocaria seu bem estar em risco se não fosse pela família. Outro ponto que pouca gente notou é o teste de volante de Walter Jr, em que ele faz questão de fazer no carro do pai. Se ele precisar se livrar da prova do crime...

A cold open foi mesmo genial. Até por todas as associações feitas entre boca e Wendy durante todo o episódio.

Hélio Flores disse...

Realmente, a morte de Tomás parece algo mais simples do que andam especulando. Mas Gus ja havia alertado Walt da necessidade de nao cometer mesmo erro (e ele nao está onde está permitindo que pessoas como Jesse continuem vivas) e mandou novo recado via Mike. Apaziguando as coisas ganha a confiança de Walt, e se Jesse morre ao querer vingar Tomás, paciencia. Ele tinha alertado Walt e fez o que podia fazer.

Sobre Walter Jr. é interessante, e só notei quando revi uns trechos do ep. para escrever o texto. Claro que Walt sempre pode inventar um acidente de carro, mas queria ver uma participaçao maior do filho na proxima temporada, com algum conflito interessante.

Abços!

Unknown disse...

O Vince Gilligan escrevia Arquivo X, sem mais, verei essa série :)