domingo, 24 de outubro de 2010

[Mad Men] 4x13 Tomorrowland

Betty – "Things aren't perfect."
Don – "So you'll move again."

As pessoas não mudam, já dizia Don Draper em mais de uma ocasião. Em diversas entrevistas, Matthew Weiner também confessa acreditar que seus personagens podem até se adaptar a novas convenções de uma época, mas seus ideais permanecem imutáveis. Don e Betty somente buscam por uma existência ideal. Chega a ser irônico fechar a temporada em uma conversa íntima após tantos conflitos entre os dois, com Betty armando um encontro surpresa antes que o ex-marido colocasse a antiga casa à venda. Mas quem acaba surpreendida é Betty, que ao receber o anúncio do noivado de Don cita prontamente o nome de Bethany, como se aquilo ainda estivesse engasgado em sua garganta. O único conselho que Don deixa para sua ex-mulher quando admite estar passando por tantas dificuldades quanto antes, é que se nada desse certo bastava mudar-se e procurar por um novo lugar. A mudança de ares sempre teve uma influência positiva para esses dois, tanto é que a viagem à Itália na temporada passada representou quase que um último fôlego para esse casamento. A promessa de um recomeço, com Don literalmente reconquistando sua mulher, parecia irresistível para o casal, que poderia viver ali eternamente. Não ficam claras as intenções de Betty em cena -- se há algo perfeito aqui é January Jones transmitindo toda a instabilidade mental da personagem --, mas se aquela cozinha vazia foi o palco onde eles constituíram uma família há até alguns dias, este encontro serve apenas para concluir seu fracasso. Seria ainda uma forma dela não assumir toda culpa sozinha. Não cabe aqui julgar a decisão dos dois, seja por Betty agir com sua imaturidade para resolver tudo do seu jeito ou Don escolhendo uma pretendente que fosse menos desafiadora. Mas não é interessante que esse quarto ano, que apresentou uma série buscando caminhos mais introspectivos, investigando seus personagens e apresentando até em alguns casos um crescimento notável, termine assim num verdadeiro anticlímax. Se para mim a temporada já vinha sendo a mais irregular até aqui, com vários momentos brilhantes e alguns um tanto óbvios e até enfadonhos, esse foi definitivamente o pior season finale apresentado pela série.
Muita gente condenou dizendo que a história foi basicamente uma preparação para um final de novela: um casamento, uma gravidez. Mas esta não é a questão, porque de forma alguma é antecipado um final feliz. E muito menos me pareceu forçado. Numa de suas primeiras reuniões com Don Draper, Faye Miller alerta reconhecer o tipo de homem que está lidando, aquele que estaria casado novamente em menos de um ano. Sinto até certa tristeza por ela não ter conseguido traduzir suas previsões em pressentimento a tempo, assim evitando seguir adiante com esse relacionamento. Terminou decepcionada como já esperava porque tentou levar Don a tomar um passo adiante, fazer as pazes com seu passado. Porém, assim como seu filho Bobby que prefere a atração da Disneyland que dá nome a esse episódio, Don não quer se manter preso ao elefante em sua consciência, mas sim desfrutar das alturas alcançadas por um foguete. Ele sabe também o quanto suas visitas à Califórnia, seu refúgio até poucos meses atrás, renovam seu espírito. Por isso, Megan é a menos culpada neste caso, sendo vítima deste repentino pedido de casamento. Acho que essa decisão só funciona porque é muito bem fundamenta, tanto por estar relacionada ao momento de inspiração para escrever a carta aberta no episódio anterior, quanto por Don ser retratado mais de uma vez ponderando antes de tomar a decisão. Era como se ele estivesse realmente analisando toda esta conspiração, tentando aceitar esse deus ex machina preparado pelo roteiro desde que o anel de Anna chega às suas mãos. E se ainda tivesse de avaliar, Megan seria perfeita para assumir o cargo tanto de esposa quanto de madrasta de seus filhos. Ela se apaixonou pelo bom coração de um Don Draper idealizado, enquanto toda família fica admirada pela sua capacidade de minimizar qualquer acidente e oferecer apoio, desde aquele tombo de Sally nos corredores da SCDP. Já a situação de Joan me pareceu bem mais complicada, principalmente por ser um segredo com data de validade para ser revelado. Ainda que soe piegas até demais, é possível relevar porque sua vontade de tornar-se mãe antecedia essa gravidez indesejada. Não posso negar que era um truque manjado, mas que acaba deixando o futuro totalmente incerto, sem saber se o marido assumiria o filho mesmo sabendo que não é dele, ou se Roger surpreenderia no final das contas. A única certeza é que mesmo cercado por uma guerra, Greg continua sendo o mesmo idiota, preocupado apenas com a fartura dos seios de sua mulher.
Se tivesse de resumir, minha maior decepção com esse final foi exatamente essa falta de perspectivas para o futuro. Em temporadas anteriores era tomada por uma ansiedade que me consumia pelo resto do ano, mas confesso que agora tudo que sinto é uma leve preocupação. Embora ainda deposite total confiança que serei surpreendido, essa saída encontrada para o dilema de Don me pareceu bastante cômoda, quase que restabelecendo o status quo. Estaria Don condenado a repetir seus mesmos erros para sempre? Claro que não se sabe ao certo quanto tempo pode se passar entre temporadas ou mesmo se ele estaria casado com Megan até lá. Porque apesar dela não exigir nenhum tipo de garantia para aceitar seu pedido de casamento, Megan entra neste relacionamento já sabendo da fama de infiel de seu parceiro. Chegou a me surpreender durante a conversa de Joan e Peggy -- achei que ali até perderam a oportunidade de constatar a repetição do tema da gravidez -- quando elas temem que Megan seja promovida a redatora, já que não imagino Don suportando ver sua mulher em ação pelos corredores da SCDP. E falando na empresa, se existia crise, esta já parece ter sido contornada agora que Don causou boa impressão aos membros da Sociedade do Câncer e Peggy conseguiu finalmente quebrar o jejum de quase 10 meses sem novos clientes. Mas uma pena que seu triunfo não poderia ter vindo numa hora mais inoportuna, ficando totalmente ofuscado pelo anúncio do casamento de Don e Megan. Apesar de Roger ser o protagonista das piadas sobre o evento, é impossível não rir pela expressão de surpresa de Pete, que era o único a saber do segredo envolvendo Faye. Assim, toda a crise parece minimizada por esse sentimento agradável, reforçando o grande tema dessa temporada, o eterno conflito entre os negócios e a vida pessoal. É dessa forma que Don tenta explicar a Peggy seu amor por Megan, comparando o futuro promissor das duas e revelando uma profunda admiração por parte dela. Se Megan serviria como a ponte para ligar esses dois universos, Peggy nem precisaria dizer que isso é uma enorme bobagem. Mas será difícil ocorrer qualquer mudança porque já virou convicção para a maioria deles, como fica claro na cena em que os sócios tentam forçar Ken a fazer uso da influência de seu sogro com um dos clientes, e ele responde que não é igual Pete, que recebe o comentário como se fosse um elogio. Com certeza, eles não tem a mais vaga ideia do que ele quis dizer com "vida real".

Apesar desta frustração momentânea e de uma repetição de temas que podem se tornar a longo prazo um problema, Mad Men continua sendo de longe a melhor série da atualidade. Mas nem sempre ela pode agradar a todo mundo. Talvez fosse isso que Matt Weiner queria dizer quando declarou que o finale confundiria as expectativas de muita gente. Ou talvez seja apenas mais uma vez o conflito entre aquilo que a série propõe e tudo o que esperamos dela. Certamente sentirei sua falta e de escrever esses textos semanais. A quem acompanhou essa jornada por mais um ano, muito obrigado. Agradeço também a todas as mensagens de apoio recebidas por blog, twitter ou e-mail. Até a próxima temporada.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

4 comentários:

Diego disse...

Adoro a série e acho ainda melhor rever os episódios após seus comentários pois sempre acabo vendo coisas que acabavam passando despercebidas. Acho que essa temporada foi boa, com altos e baixos, mas em compensação, teve o melhor episódio da série pra mim (4x07 - The Suitcase).

e.fuzii disse...

Muito obrigado, Diego.
Não é exatamente meu episódio favorito, mas entendo todo o apelo que esse episódio tem. Muito bom mesmo.

Abraços.

Gustavo disse...

Realmente, o pior season finale até agora. Se nessa temporada vimos um progresso em Don, tudo foi por água abaixo com esse episodio. O personagem segue como uma figura impulsiva e carente num nível que chega a ser doentio. Naquele sentimento de vazio deixado por Anna, ele preenche pela momentânea atração por Megan (vamos ver quanto tempo isso dura). De fato, como vc bem apontou, Don e os demais personagens se adaptam às mudanças, mas não mudam. Talvez seja essa a ideia da série mesmo, mas senti esse final um tanto forçado, como se o roteiro só enrolasse para poder ter mais historia pra contar e prolongar a serie. Justo quando seu relacionamento com Miller estava desabrochando em algo muito belo. Pobre Faye, quase chorei junto com ela no momento em que Dom fala pelo telefone. Vontade de estar lá para dar um abraço nela. A melhor das mulheres dessa serie ate agora: independente, preocupada, carinhosa, parceira, empoderada (muito para a época, inclusive) e, como Peggy bem apontou no episódio anterior, faz seu trabalho com presteza e nunca jogou sujo para chegar onde está. Talvez seu único defeito tenha sido se dedicar a quem não merece nada dela. Uma personagem que me fará falta na série.
Muito bom seus textos, parabéns. Faço questão de lê-los após cada episódio.

P.S. Será que teremos a volta de Kinsley na próxima temporada? Sei que nada indica isso, mas senti falta do seu personagem. E será que teremos alguma aparição do Salvatore? Até hoje não me conformei com sua saída.

Luisa Sonsin disse...

The suitease é bom. Mas temos 04, 08, 09, 10 que fazem essa temporada ser uma das melhores.