quarta-feira, 12 de outubro de 2011

[Breaking Bad] 4x13 - Face Off

"I won." - Walt


E chegamos ao final da temporada.


Havia uma tensão e expectativas um pouco diferentes para este “Face Off”, graças ao polêmico episódio anterior. Em Breaking Bad nossa curiosidade é sempre com “Como Walt e Jesse vão escapar de determinada situação?”. Mas o inesperado envenenamento de Brock fez com que surgissem muitas especulações durante a semana (muitas nos comentários em nosso post anterior) e mudamos a pergunta para “O que aconteceu, afinal?”. Pra piorar, nenhuma resposta parecia ser livre de falhas. Foi algo inédito na série: ao mesmo tempo em que escondia informações dos telespectadores, tudo indicava que os roteiristas pesaram a mão e boa coisa não sairia dali.


É então que o episódio começa com uma seqüência tensa, nervosa e muito engraçada, com Walt levando uma bomba para dentro de um hospital. E não para de se desenvolver rumo ao que realmente importa, que é o conflito entre Walt e Gus, que chegou a um ponto insustentável, onde um finalmente teria que eliminar o outro. O envenenamento foi o que chamou nossa atenção (cheguei a imaginar o episódio começando por um flashback explicando o que aconteceu), mas felizmente Vince Gilligan, que assumiu a direção e o roteiro deste finale, manteve o foco e nos deu mais uma incrível e surpreendente hora, encerrando com chave de ouro outra fantástica temporada.


Algo que sempre admiro é como o roteiro não deixa pontas soltas e impede que questionemos a verossimilhança do que acontece (exceção clara ao caso Brock, que discuto mais abaixo): após “End Times”, alguns comentaram que médicos costumam procurar a polícia quando aparecem vítimas de envenenamento, e já no início de “Face Off” temos Jesse sendo levado para interrogatório (cena engraçada de Walt ficando quieto quando o policial pergunta seu nome); muitos outros questionaram a desconfiança de Gus no estacionamento, e lá está Walt também se perguntando o mesmo (inclusive usando o termo tão usado “sexto sentido” – Walter nunca usaria “sentido Aranha”). Neste caso, fica claro que Gus pressente algo errado simplesmente por não ter culpa do que houve com Brock e percebe que Jesse insinuou o contrário. Nada mais natural um homem que já vimos ser tão cuidadoso e metódico, imaginar que Walt está planejando algo.


E aí chegamos ao grande problema do nosso protagonista, objetivo maior desde o início da temporada quando já estava desesperado a ponto de pedir ajuda ao próprio Mike (no 4x02, “Thrity-Eight Snub”): como matar um homem como Gustavo Fring? O mais incrível é que a cada episódio víamos um Walter White mais e mais patético, frágil e desprezível ao mesmo tempo, enquanto Gus se tornava ainda mais mítico, saindo-se perfeitamente bem de um interrogatório do DEA (imaginem Walt nesta situação, depois de tantas vezes trêmulo diante de Hank), andando em direção a balas atiradas sobre ele, eliminando de uma só vez todos os principais nomes do Cartel e, por fim, ameaçando matar toda a família de Walt. Eliminar Gus parece impossível, no entanto é a única certeza deste fim de temporada, afinal nosso protagonista tem mais 16 episódios pela frente.


A forma como isso vem é um grande achado, intensificando e dando novo sentido ao flashback que mostra o passado de Gus em 4x08, “Hermanos”. Normalmente, revelar aspectos e investir em um personagem é dar importância o suficiente para que ele permaneça (e cresça) numa série, cada vez mais. Com Gus, o efeito é contrário. O que era impossível torna-se possível, pois sabemos que ele tem um ponto fraco, mesmo que na ocasião não pareça que seja isto. A solução que Gilligan encontra é incrivelmente simples e até óbvia: Walter consegue matar Gus porque este não esquece o “sangre por sangre” e sua vontade de torturar Hector Salamanca faz com que Jesse descubra a relação existente entre os dois.


É fascinante como nada está fora do lugar para esta conclusão, a partir daquele flashback: Jesse tem que ir ao México porque o Cartel força Gus a isto; o Cartel é eliminado por sua própria ganância e porque Gus deseja sua vingança e tem a ajuda de Jesse; Jesse conhece o asilo graças à própria arrogância e sadismo de Gus, que não esquece o passado e insiste em torturar Hector. Ações e reações perfeitas que já vimos tantas vezes na série – basta nos lembrarmos de Jane e sua ganância em chantagear Walt, o próprio Walt sendo punido com fogo direto dos céus, os Primos e a “magic bullet” que salvou Hank, Gale no início da temporada fazendo com que Gus contrate Walt, Ted e sua ganância em querer ficar com o dinheiro de Skyler.


Mas além desta estrutura muito bem montada, é preciso uma execução à altura. Como dar um fim digno a este que foi um dos grandes vilões da TV recente? Todo o trajeto é incrível, com o plano de Walter sendo desvendado aos poucos, a começar pela comunicação de Hector, longa e demorada, sendo decifrada literalmente letra por letra. O que ele vai pedir à enfermeira? E depois, exatamente o quê ele vai revelar a Hank? Walt vai esperar no banheiro e sair atirando quando Gus entrar? É tenso, como não poderia deixar de ser, ao mesmo tempo com doses cavalares de humor – “Termine a palavra, Sr. Salamanca? DEAR?”, os xingamentos a Hank, a velhinha que paquera com Walt enquanto se esconde de Tyrus. E, no fim, temos a explosão com a memorável saída de Gus do quarto, ajeitando a gravata, para só depois cair, não antes de termos uma visão frontal de Gus Terminator (Jesse não usou este termo para apenas uma ocasião, afinal), mais do que justificando o título “Face Off”, que também no filme de John Woo havia duplo sentido (há de se lembrar também do apelido “chicken man” – não são as galinhas que perdem a cabeça e ainda dão alguns bons passos antes de caírem mortas?)


Um final mais do que apropriado, com um Walt estranhamente vitorioso, vestindo camisa verde de mesmo tom daquela que ele começa a série, mas desta vez com calças. Depois de uma temporada em que foi tão desagradável, alcançando algum tipo de recorde com este finale, não só com a revelação do que fez a Brock, mas repetindo a dose com a pobre vizinha (mãe do Vince Gilligan, a propósito), friamente jogada aos leões. “Oh, you are a life saver”... que macabro, Mr. White (por outro lado, seria muito bom se tivesse arrancado informação da secretária de Saul da forma que ela merecia, mas a violência que Walt comete é sempre de forma passiva e covarde – aliás, mais uma gargalhada aqui: “estão em perigo? Que novidade!”).


E o que temos para a 5ª temporada? “Face Off” funciona tão bem como um final para a série que será muito mais fácil esperar a próxima temporada por mais um ano, se pensarmos na forma como a 3ª encerrou. Walter eliminou Gus, destruiu o laboratório, fez as pazes com Jesse (que pela primeira vez termina uma temporada em situação confortável) e tem um lava-a-jato que, segundo sua esposa, é lucrativo. Mas felizmente temos mais 16 episódios pela frente e são tantas as formas que Gilligan e seus roteiristas podem dar continuidade, que podemos especular sobre algumas delas:


- O envenenamento de Brock: como já dissemos antes, é preciso alguma boa vontade para aceitar que Walt foi o culpado. Certamente Gilligan está vendo as reações dos fãs e que muitos querem saber como Walt usou a flor venenosa no garoto. É o primeiro problema que terá que se confrontar: mostrar os detalhes do que aconteceu ou seguir em frente sem maiores explicações? Não me parece ser muito importante os detalhes. O fato é que Huell tirou a ricina de Jesse, Walt teve tempo para envenenar Brock e saberia onde ele mora, tanto através de Saul quanto até mesmo do próprio rastreador que colocou no carro de Jesse. Mostrar como aconteceu é uma criação até razoavelmente fácil (Huell troca o maço, ou retira e devolve depois; Saul, que conhece Brock, faz uma visita e aproveita que o menino está comendo algo, etc) e seria perda de tempo. Alguns se incomodam com a atuação de Walt diante de Jesse quando este vai confrontá-lo, só que sabemos que Walt é péssimo quando pego de surpresa, mas com preparação Heisenberg se sai muito bem. O segundo problema que Gilligan terá que se confrontar com esta história é: Jesse descobrirá o que Walt fez? Já comentei em “Fly” que acho provável que a verdade sobre Jane nunca venha à tona, mas sobre Brock é algo muito mais fácil de Jesse descobrir, especialmente se voltarem ao assunto para explicá-lo no início da temporada.


- Mike: curioso tirarem o personagem dos últimos episódios. Se Mike estivesse presente, talvez Gus não tivesse morrido (certamente mais competente que Tyrus e poderia descobrir sobre a bomba), o que facilitou para o roteiro de Gilligan. Mais curioso ainda é que na primeira metade da temporada tudo apontava para que Mike se tornasse inimigo de Gus, desde que viu Victor sendo morto. Isto não se concretizou, mas pode perfeitamente moldar a forma como reagirá quando voltar do México. O que fará? E sua relação com Jesse? Jonathan Banks é um ator bom demais para não retornar com participação importante nos rumos da série.


- Hank: desde sempre um confronto que vem sendo adiado (na verdade, construído), entre ele e Walt. Não é difícil imaginar que Hank continuará as investigações, mesmo que tenha saído vitorioso desta temporada, ao mostrar que estava certo sobre Gus. Simplesmente porque há algo de muito estranho na explosão no asilo. O próprio Gomez disse que Hector não tinha mais ninguém, então quem explodiu seu quarto? E quem destruiu o super laboratório?


- Câmeras de vigilância: uma constante na 4ª temporada, sabemos que Gus monitorava tudo de seu escritório no Pollos Hermanos. Com sua morte, obviamente que a polícia investigará seus pertences. E até me parece óbvio que Walt pensará nisto também. É perfeitamente possível que no asilo também tenha câmeras e não podemos esquecer que Jesse foi filmado no laboratório do México, ensinando aos químicos como cozinhar a droga.


- Skyler e Walter Jr.: depois de se impressionar com o “I am the one who knocks”, qual será a reação de Skyler ao “I won”? O que me lembra de uma questão interessante para Gilligan: continuar a 5ª temporada exatamente de onde parou e acompanhar os personagens ainda no calor dos eventos, ou dar um salto no tempo, uma vez que aparentemente as coisas podem ficar tranqüilas por alguns dias ou semanas? Caso seja a segunda opção e virmos Skyler e Walt felizes com o lava-a-jato, significa que ela está disposta a esquecer qualquer crime que o marido tenha cometido. Sobre Ted, não acho que é preciso voltar a ele. Pelos eventos ocorridos desde o episódio 4x11 “Crawl Space”, Saul não teve tempo de dizer a ela o que aconteceu, mas basta informar que o problema foi resolvido e talvez Skyler nem ouça mais o nome de Ted Beneke. Já Walter Jr. tem uma questão em aberto: ter ouvido seu pai lhe chamar de Jesse teria alguma conseqüência futura? Muitos esperam que ele comente isto com Hank, mas é possível também o contrário. Hank comenta sobre suas investigações, fala sobre Jesse, e Walt Jr. começa sua própria investigação. Seria interessante que toda a família soubesse sobre Heisenberg, antes do próprio Hank.


Há, enfim, vários aspectos para serem abordados pelos roteiristas que, segundo Gilligan, começam a pensar a 5ª temporada já a partir de Novembro. A única certeza é que, depois de quatro temporadas impressionantes, podemos aguardar um final não menos que espetacular para esta série que já deixou sua marca na história.



5 comentários:

Lee disse...

Belo texto.Mas para fechar com chave de ouro a cobertura de Breakig Bad, sugiro que os comentaristas do site, façam novamente o que fizeram no ano passado com o belíssimo podcast sobre a temporada anterior.Foi ótimo.

Lee disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lukas Hot disse...

Parabéns pela review, parabéns a Vince gilligan, parabéns a Walter White ou devo dizer Heisenberg mais temido do que nunca, Falaram que Gus foi um ótimo vilão é porque ainda não viram o poder de Heisenberg.

Acho que Bryan Cranston vem com tudo na próxima temporada, estou esperando ansiosamente a quinta e tenho certeza que será inesquecível assim como essa temporada foi.

Essa serie me tomou de uma forma que eu não consigo descrever, vejo e revejo as cenas varias vezes, a indico a todos que conheço.É breaking bad arrebatando o mundo.

A morte de gus apesar de ser uma morte foi linda

gustavo fring adiós, la bienvenida a Heisenberg

Frostbr disse...

Concordo. Pra fechar essa belíssima temporada nada melhor que um podcast.

Curioso pra saber a opinião do e.fuzii

e.fuzii disse...

Detesto decepcionar vocês, mas infelizmente acho difícil acontecer esse podcast de Breaking Bad, por uma série de incompatibilidade de agendas... espero que entendam.

De minha parte, posso dizer que adorei o finale, obviamente. Além disso, tenho a certeza de que com essa temporada Breaking Bad conquistou um espaço importante na história da televisão, provavelmente a melhor coisa a passar desde o final de The Wire (mas que claro, qualquer comparação entre estas seria injusta). Digo isso porque é uma das poucas séries nos últimos anos que sabe explorar cliffhangers e essa estrutura serial.

Mas sobre o episódio final, digamos que o que mais me surpreendeu logo de início foi a forma como nós e os protagonistas passamos parte do tempo com figurantes, até quase os 15 minutos quando Saul entra na sala que Jesse está sendo interrogado. E essa cena é o que representa aquilo que mais valorizo em roteiro, quando os roteiristas conseguem prever as dúvidas do espectador e transformam em possibilidades para suas histórias (o que já havia acontecido também nesta temporada com o recado deixado por Walt na secretária eletrônica). Esse é um dos momentos que funcionam, assim como Walt fazendo sua vizinha de cobaia, mas ainda acho meio desnecessária a cena com a secretária extorquindo Walt.

De resto, realmente tudo incrível. O único ponto implausível pra mim nesse esquema todo é a atuação de Walt diante de Jesse, mas consigo deixar passar por fazer parte de sua transformação em Heisenberg. Mais uma vez ele atingiu o fundo do poço, e fica cada vez mais difícil imaginar até onde ele será capaz de chegar (sacrificar um membro da própria família, talvez?). Por mais que esses dois últimos episódios -- que deveriam ter sido exibidos em sequência -- tenham fugido um pouco da estrutura da série, deixando dúvidas no ar até esclarecer no final, duvido que também tenha uma passagem de tempo para o início da próxima temporada. Provavelmente o foco ficará nas investigações de Hank e do DEA, enquanto Jesse continua sendo manipulado por Walt. Assim, tudo leva a crer que Heisenberg será o grande vilão daqui em diante (por mais que acreditem num financiador maior de Gus, não acho que serão por aí os conflitos), e se pra muitos foi intragável aguentar Walt nessa temporada, fico imaginando como será no final. A grande dúvida ainda está na forma como Skyler, agora cúmplice direta do marido, vai lidar com sua "vitória".

E é isso, das melhores temporadas que já vi de uma série e ficamos agora "na ponta dos pés" esperando pela próxima.