domingo, 15 de setembro de 2013

[Breaking Bad] 5x13 - To'hajiilee



  

“Walter White, you have the right to remain silent. Anything you say can and will be used against you in a court of law. You have the right to speak to an attorney and have an attorney present during any questioning. If you cannot afford an attorney, one will be provided for you at the government's expense. Do you understand these rights as I have just recited them to you?” – Hank Schrader




Eu poderia começar o post com outras tantas citações marcantes, como algum trecho da conversa entre Walt e Jesse pelo telefone (o desabafo irritado de Walt, a provocação de Jesse – “Fire in the hole, bitch! Oh, nice orange flames!”), ou a ênfase do Walt em dizer que Jesse não é um rato delator, ou ainda a outra importante conversa telefônica do episódio, entre Hank e Marie.


Mas eu tinha que deixar apenas esta aí em cima, o momento que a gente não sabia se aconteceria, mas suspeitava que pudesse ser um final possível para a série. Um momento preparado com todo o tempo e o peso necessários. A demora pra Walt se entregar, o tempo que leva pra ser algemado, a breve discussão com Jesse, o telefonema pra Marie. Tudo apropriadamente longo, parecia mesmo o fim. E para os personagens, era mesmo. Um fim com a ironia que já conhecemos, encerrando onde tudo começou (e os dois primeiros planos do último bloco do episódio, aos 36min, são semelhantes a dois dos três primeiros planos do piloto da série).


Mas como tudo em “Breaking Bad” tem dois ou mais sentidos, a duração da sequência também se justifica pela conveniência, pois é preciso de tempo pra “cavalaria” chegar. Não me canso de admirar o que os roteiristas fazem: é conveniente, mas sabemos o quanto Hank está aliviado e orgulhoso, o quanto é importante para ambos, ele e Marie, aquele telefonema; e porque não há pressa nenhuma em sair dali, pois Jesse se assegurou de manter Walt ocupado na linha até chegar no meio do nada, onde não poderia pedir ajuda (pra qual endereço?). Hank só não contava com aquele bilhete de loteria, o bilhete de Chekhov.


E aí os roteiristas, com a preciosa ajuda da diretora Michelle MacLaren, capricham no sadismo. Imagino que a maioria das pessoas esperou pelo pior quando Hank soltou um “eu te amo” ao telefone. Imaginei um tiro na cabeça a qualquer momento, um desses choques que nos habituamos a ver em tantas séries e filmes. Mas eis que os carros surgem lentamente, a trilha sonora crescente, o desespero de Walt, tudo prolongando nosso sofrimento e aumentando a taquicardia. Claro, talvez o choque de uma morte inesperada não veio porque não haja a intenção de matar Hank, mas não deixa de ser uma solução muito mais eficiente que deveria servir de lição pra tanta gente da área. Hitchcock manda lembranças.


É engraçado, aliás, ter lido tantas pessoas com a mesma opinião de que se Hank não morre, é covardia da série. Mas me pareceu que terminar um episódio no meio de um tiroteio é dizer “preparem-se porque há uma solução para o impossível”. E nesta solução, o que mais me deixa curioso é o destino de Jesse, porque a vida de Hank interessa a Walt, é negociável. Mas Pinkman certamente deixou de ter uma morte rápida e indolor, para uma lenta e extremamente dolorosa nos planos de Heisenberg.


Essa decepção de Walt com Jesse é o fim definitivo de qualquer laço afetivo que o primeiro poderia ter pelo segundo. Sim, Walt já havia encomendado sua morte, mas havia uma racionalização por trás, de autodefesa, da impossibilidade de parar seu pupilo por qualquer outro meio. Aliar-se à polícia é tanto um golpe para o pai Mr. White quanto para Heisenberg – entre criminosos, poucas coisas são tão detestáveis quanto o “dedo-duro”, algo que já vimos na figura de Hector Salamanca, tanto na sua recusa em colaborar com Hank na 2ª temporada como ao fingir colaboração na 4ª temporada para atrair a fúria de Gus.


A mudança na dinâmica e relação entre os personagens também é admirável nessa reta final. Vince Gilligan disse uma vez que chegaria o momento que não sentiríamos mais nenhuma simpatia pelo protagonista, mas felizmente ainda não chegamos a este ponto. É importante para uma experiência mais complexa do espectador com a série (ficamos felizes por Hank e lamentamos por Walt; queremos que Walt saia dessa, mas não queremos que Hank morra; não gostamos que Jesse seja um delator, mas entendemos seu lado), mas não só. Transformar Walter White no demônio (como Marie e Jesse se referiram a ele nesta temporada) exigiria uma perda total de valores, algo sem coerência alguma.


Não significa que houve uma suavização do personagem. Todos os momentos “honrados” de Walt nos últimos episódios se tratam apenas da preservação da família. Algo tão importante que ele prefere se entregar e perder todo o dinheiro a fazer algum mal a um ente querido, ainda que este seja “apenas” o marido de sua cunhada (o legal é relembrar toda a série e perceber que desde sempre os casais White e Schrader são muito unidos e particularmente me lembro de “4 Days Out”, quando todos entram com Walt no consultório para receberem juntos a notícia sobre seus exames). E não é por acaso que neste mesmo episódio temos a volta de Andrea e Brock, que serve para nos lembrar de como nosso protagonista também sabe ser desprezível. Aliás, é o tipo de situação que em termos narrativos poderia ser considerada gratuita (já que não leva a lugar algum), mas é tanto uma ação óbvia de Walt para aquele momento, quanto uma forma de enriquecer o personagem.



Mais algumas coisas:


- Quando achava que a despedida de MacLaren era com “Buried”, eu disse que era apropriado ser dela a direção de um episódio em que brilham as mulheres. E o seu adeus na verdade é justo com muita tensão, adrenalina e tiroteio. Veremos mais de seu trabalho na próxima temporada de Game of Thrones;


- Eu já havia dito que é uma pena não termos chance de conhecer Lydia um pouco mais e o mesmo vale pra Todd. Pouco tempo de cena e sempre conseguem deixa-lo assustador. Seu jeito de mostrar interesse em Lydia, a falta de reação ao saber quem é o alvo de Walt, mantendo o olhar nela enquanto bebe do chá próximo à marca de batom, além daquela luz vermelha sobre ele, quando está devidamente enquadrado acima do ombro de Walt. É o tipo de coisa que faz pensar se ele ainda terá uma participação fundamental ou se é apenas a excelência da série em construir personagens periféricos;


- Não sei se há uma boa vontade de fã ao aceitar que todo o plano de Hank envolvendo duas fotos montadas funcione tão bem, ou se realmente há problemas em como Huell e Walt são enganados. Como defesa, acho que Hank desarma Huell ao falar de Brock, enquanto Walt realmente nunca soube lidar com o inesperado sem ter tempo necessário para pensar a respeito. De qualquer forma, nice poker face, Huell!


- Betsy Brandt aproveitando cada momento que tem nestes últimos episódios. Grande atuação com Dean Norris (mesmo sem dividir a cena). Claro que só pude perceber a emoção dos dois quando revi o episódio, já que naquele momento do episódio estava difícil até pra respirar...


- Aaron Paul não teve muito o que fazer, além de reagir, mas que impagável sua expressão de medo, alívio, incredulidade e sei lá mais o que quando Walt está sendo preso. Já sua breve ânsia de vômito com o “cérebro” e sangue que Hank despeja no chão é engraçada pra alguém que já dissolveu mais de um cadáver;


- Obviamente veremos muito mais brilhantismo de Bryan Cranston nos próximos três episódios, mas os últimos 20 minutos de “To’hajiilee” têm material suficiente pra ganhar qualquer prêmio de qualquer ano que concorresse. Desespero, irritação, perplexidade, medo, surpresa, ódio, impotência e a combinação de um ou mais desses sentimentos, por mais de uma vez.


- Toda semana há muita discussão sobre a existência do flashforward ser algo bom ou ruim. Só poderemos afirmar com certeza após o final, mas ao contrário de algumas pessoas, tenho achado bastante positiva, principalmente por se passar meses após o que estamos vendo e a cada fim de episódio conseguimos especular muito pouco sobre a relação que tem com este futuro próximo. No caso aqui, é provável que o dinheiro continue onde está. Ou de que forma Walt poderia comprar uma arma tão pesada?







Hélio Flores

Nenhum comentário: